A Guardian's Diary 4 - Of Dark and Cold escrita por Lino Linadoon


Capítulo 2
Capítulo 1 - Numa noite escura em Londres


Notas iniciais do capítulo

Ola de novo, minha gente!
Estou de volta com mais um capítulo para vocês!
Espero realmente que gostem, porque eu gostei. ^^
E olhe! Um pouco de Jackrabbit aqui! :D



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“Foi uma coisa bem estranha…” Domenicha contou, embora prestasse mais atenção na cenoura que comia lentamente do que em suas palavras. “De repente estava lá e de repente sumiu!”

“Como você disse que se pareciam, Domenicha?” Jack perguntou rapidamente, terminando seu prato. “Dunas de areia?”

“Dunas de areia cinza... Bem escura...” Ela pensou um pouco, se lembrando do tempo estranho que havia visto acima do Polo Norte. “Quase preta... Só que não era preta... Era cinza bem escura...” E deu de ombros, mascando um pedaço grande da cenoura.

“Era só o que faltava...” Coelhão balançou a cabeça, bufando em tom irritado. “Só se passaram alguns anos e Breu já está decidindo voltar?” Ele pensou um pouco, andando para lá e para cá. “Você contou isso para Norte?”

“E ele contou pra Tooth.” Domenicha completou. “E Tooth contou pro Sandy. Todo mundo já sabe.” Perdida em pensamentos, ela começou a brincar com um filete de madeira que saia da beirada da mesa, havia marcas de arranhões ali – arranhões que Domenicha não queria saber o porquê de estarem ali, mesmo já tendo uma ideia... “Mas, diz aí... O Breu, tipo, não demorou anos e anos para conseguir ficar forte pra lutar com vocês? Como ele pode ter ficado tão forte de novo em tão pouco tempo? Tipo...” Ela contou silenciosamente. “Só se passaram uns vinte anos, ou sei lá...”

Jack simplesmente deu de ombros como resposta.

“Tínhamos um palpite, mas o Homem da Lua logo contou que não era possível.” Coelhão comentou, enfim se sentando em uma das cadeiras da cozinha.

“Vocês achavam que alguém estivesse ajudando ele?” Domenicha logo adivinhou, recebendo um aceno positivo de seus pais. “Mas quem então?”

Os dois Guardiões hesitaram antes de falar; ainda não se sentiam confortáveis falando o nome daquela criatura, principalmente perto de sua filha; mas aquela coisa já estava aprisionada à muitos palmos em baixo da terra, que não era realmente preciso temer ela, nem seu nome.

“Sheila, a Peste Negra.” Coelhão enfim disse e não pôde deixar de notar quando as orelhas de sua filha tremeram levemente, seu corpo ficando tenso de repente; Jack também pareceu tremer, e ele estendeu a pata para o garoto, afagando a perna desse. “Ela já ajudou Breu duas vezes, aposto que não hesitaria em ajudar de novo. Acho que aquela coisa é obsecada por ele...” E riu cinicamente. “Eles se merecem, aqueles demônios...”

Domenicha permaneceu calada, aos poucos voltando a mascar sua cenoura, quase sem notar que já não sobrava nada dela em sua mão.

“Como assim a peste negra?” Ela perguntou enfim, levantando os olhos, curiosa como uma criança.

“Ela é o demônio da peste negra, ou algo assim.” Jack deu de ombros como se não fosse importante.

“Um demônio?” As orelhas da garota tremeram ao ouvir aquelas palavras. “Tipo, um de verdade? Eu não sabia que vocês tinham se encontrado com um demônio!” Ela jogou o ultimo pedaço de cenoura na boca e apoiou a cabeça nas mãos, os cotovelos em cima da mesa. “Vocês raramente contam sobre as coisas que aconteceram depois que vocês derrotaram o Bicho Papão...”

Jack riu com aquelas palavras, seu rosto ficando levemente azulado.

“Não falamos?” Murmurou como uma questão para seu companheiro, o fitando pelo canto do olho. “Talvez por uma boa causa...”

Domenicha revirou os olhos enquanto Coelhão dava uma cotovelada em Jack que retribuiu mostrando a língua como um pirralho.

“Ugh, sério? Só isso?” Ela grunhiu com cara de nojo.

“Pare com isso, Domenicha.” Jack riu da expressão da filha e depois suspirou, terminando de vez com sua comida. “Umas coisas malucas aconteceram antes de você nascer.” E deu de ombros novamente, levando a mão para a barriga quase sem notar. “Se bem que quando Sheila me possuiu eu já estava grávido de você e nem sabia...”

“Isso soa tão estranho...” Domenicha murmurou com uma expressão estranha, processando as palavras do espírito do inverno. “Opa! Ela possuiu você? Possessão de verdade?”

“Sim, só que eu não fiquei todo desconjuntado como aquela garota do exorcista.” Jack riu e procedeu em fazer sua melhor imitação da personagem, arrancando risadas de sua filha e algumas reclamações de Coelhão enquanto esse tentava afastar o garoto que viera em sua direção.

“E como vocês se livraram dela?” Domenicha perguntou, ainda curiosa.

“Diminuindo a história...” Jack começou, mesmo tendo notado que Coelhão já abria a boca para contar a história por si mesmo. “Ela se revelou, lutou com todo mundo, eu quase morri e um anjo a prendeu no Quinto dos Infernos.” E deu de ombros, como se não fosse uma coisa tão importante. “O que?” Ele revirou os olhos com a expressão de seu marido.

Domenicha processou aquelas palavras.

“Quinto dos Infernos?” Perguntou segurando uma risadinha. “E anjos sequer existem?”

“Porque não existiriam?” Coelhão perguntou, tomando um gole da bebida que havia deixado em cima da mesa, puxando-a para longe antes que Jack esticasse a mão até essa.

A garota concordou com a cabeça, sentindo uma leve pontada de culpa ao repensar sua pergunta. Ela ficou em silêncio enquanto seus pais conversavam sobre alguma coisa, ou começavam uma discussão, ela nem sequer prestou atenção nisso.

Era estranho para Domenicha ouvir qualquer coisa sobre aquela mulher, aquela Sheila. Elas nunca haviam se conhecido – graças! – e a garota nem sabia como aquela mulher era, nem do que ela capaz – embora tivesse uma ideia, já que ela parecia ser tão próxima de Breu.

Aliás, Domenicha nem sequer conhecia o Bicho Papão.

Por um momento a hibrida fez uma careta, se perguntando quando iria se ver frente a Breu pela primeira vez e também o que faria. Talvez fosse irritá-lo como ela tipicamente fazia com as pessoas – “meus pais realmente chutaram a sua bunda, não é? Você ainda tem a marca aí pra provar?”. Ela riu, sim, era possível que ela fizesse isso.

Aliás, já era tarde.

“Maneiro!” Domenicha disse de repente para seus pais, interrompendo qualquer conversa – ou discussão – que eles estavam tendo, e se levantando com os braços esticados, como se estivesse se espreguiçando – de fato havia passado quase o dia inteiro dormindo antes que seu pai praticamente a lançasse para fora da cama. “Então eu me vou!”

“Você está bem?” Coelhão perguntou.

“Uhum, de boa.” A jovem Pooka moveu os ombros e sorriu para o casal. “Eu vou me encontrar com Wonder e Nick. Lá em Londres, você já sabe onde, pai.” Ela complementou antes que o Guardião da Esperança perguntasse; ela riu junto com Jack e bateu o pé no chão duas vezes. “Vou voltar tarde!”

“Divirta-se!” O Guardião da Diversão disse com um sorriso.

“Não ouse ficar fora até de madrugada!” Coelhão falou seriamente, mas a garota já havia sumido túnel abaixo. “Você ainda não tem idade pra isso...” Resmungou para si mesmo.

“Não tem idade pra isso?” Jack repetiu, surpreso pelas palavras. “Ela tem quase a minha idade, canguru. Deixa a garota viver!” E se levantou, pegando o cajado que deixara contra a parede e saindo da cozinha.

“Problema em dobro assim... Eh?” O Pooka parou quando voltou a levar o copo cheio até a boca, notando que não havia mais líquido dentro dele, mas sim uma pedra de gelo. “JACK!”

–G–

Domenicha pulou habilmente de telhado em telhado pela nublada cidade de Londres, o lugar já estava bem frio, mesmo não sendo inverno ainda.

As luzes da cidade iluminavam tudo ao redor, o céu já estava escurecido e nem a lua, nem nenhuma estrela aparecia no céu, quase completamente encoberto pelas nuvens acinzentadas. Vendo aquilo, Domenicha não pôde deixar de se lembrar do que vira alguns dias atrás, mas deixou aquilo para lá.

“Aí está você, ‘Nicha!” Uma voz chamou não muito longe.

Domenicha sorriu ao ver os jovens gêmeos São Norte sentados no alto do teto do salão central do Museu de História Natural de Londres; aquele já era um ponto de encontro há muito usado por eles, principalmente durante o outono e a primavera.

“Porque a demora?” Wonder questionou com as mãos na cintura.

“Eu literalmente dei de cara com o Breeze no caminho e ele quase virou um vendaval, mas estou bem. Eu sobrevivi.” Domenicha contou com o típico sorriso torto de sempre, se sentando entre os irmãos. “E aí? Novidades?” Ela recebeu um olhar desaprovador de Nick e bufou com uma risada, dando uma cotovelada brincalhona no amigo. “Qual é? É claro que me lembro do porque de a gente estar aqui, Nick!”

O jovem São Norte revirou os olhos.

“‘Nicha, se lembra daquilo que aconteceu lá no Polo Norte?” Ele perguntou mesmo assim, recebendo um aceno concordante da amiga. “Bem, coisas estranhas tem acontecido desde aquele dia na fabrica do papai.”

“Que tipo de coisa?” Domenicha se ajeitou no lugar, mais interessada.

“As vezes a oficina parece escura, como se tivesse uma sombra cobrindo tudo.” Nick contou seriamente, fitando nada especificamente enquanto se lembrava. “E as vezes eu me sinto sendo observado, como se tivesse alguém sempre atrás de mim, seguindo meus movimentos. E não, não é nenhum Yeti, nem um elfo. Isso quase sempre acontece quando eu estou sozinho em algum lugar.”

Domenicha ergueu uma sobrancelha ao ouvir aquilo; haveria um fantasma ou algo assim na oficina do Papai Noel?

“E não é só na oficina que acontece isso.” Wonder enfim se pronunciou, se virando completamente para os outros dois. “Em Punjam Hy Loo também tem essa áurea estranha. E por algum motivo as fadinhas parecem estar se confundindo demais hoje em dia, como se algo chamasse demais a atenção delas, as impedindo de fazer as coisas direito.”

“Que algo?” A Pooka perguntou sem pestanejar, notando o quão sério era tudo aquilo.

“Eu sei lá.” A fada deu de ombros, suas asas tremendo um pouco. “Mas aqui fora também acontecem coisas estranhas. Nas ultimas noites, sempre quando saio para buscar os dentes por mim mesma, eu também sinto alguém me observando; me observando das partes escuras dos quartos, sabe, aqueles cantos escuros atrás de portas ou ao lado de guarda-roupas. Já faz uns dias que isso vem acontecendo, mas eu nunca contei para mamãe ou para o papai.”

As longas orelhas de Domenicha se mexeram levemente.

“O Bicho Papão voltou, por acaso?” Murmurou como se pensasse no caso.

“Não é por nada, mas se ele estivesse voltando, ou já tivesse voltado, tenho certeza que o Homem da Lua teria avisado.” Wonder logo interrompeu.

“Mas então quem pode ser?” Foi Nick quem perguntou isso, recebendo outro rolar de ombros de sua irmã.

Domenicha pensou em silêncio, erguendo o olhar para o céu. As nuvens ainda encobriam tudo, impedindo que qualquer raio de luz lunar iluminasse Londres, ou então que qualquer estrala piscasse para a Terra; as nuvens eram densas e pareciam prestes a trazer chuva.

“Aliás...” A Pooka falou de repente, chamando a atenção dos amigos. “Vocês notaram como as noites estão ficando um pouco mais escuras?”

Os gêmeos ergueram os olhos, fitando o mesmo cinza obscuro da noite.

“Tem razão...” Wonder murmurou. “E não é só por aqui em Londres, que é sempre nublado, mas já faz uns dias que eu não vejo a lua aparecer muito, só uma mostradinha aqui ou ali...”

Os três ficaram em silêncio, pensando sobre aquilo. As coisas estavam realmente estranhas e aos poucos eles estavam ficando mais e mais apreensivos. Nenhum deles estivera lá quando Breu assombrava a Terra na Idade das Trevas, nem estiveram lá quando ele se reerguera e quase conseguira derrotar os Guardiões de uma vez; mas ainda assim eles sabiam que não era bom subestimar o Bicho Papão.

Um clarão repentino no céu praticamente fez os três amigos pularem.

“Ah, ótimo.” Wonder resmungou. “Mais uma noite chuvosa em Londres...”

“E bem quando a gente marca pra se encontrar.” Domenicha riu do tom de voz da amiga. “Eu adoraria ter uma conversa com o Amber sobre isso...”

“É melhor a gente ir logo, Wonder.” Nick foi o primeiro a se levantar, arrumando de modo sem jeito as poucas penas que formavam a sua cauda – eram penas pequenas, nem passavam de seus joelhos. “Sabe como é difícil voltar para casa na chuva.”

“Só para você, Nick.” Wonder deu um sorriso torto, batendo as asas e flutuando alguns centímetros acima do telhado onde estava sentada.

“Se mandem logo daqui então.” Domenicha bufou com um sorriso enquanto os irmãos se encaravam com caretas. “Eu vou dar uma passeada por aí.” Ela colocou as mãos na cintura, olhando de cima do museu como se apreciasse a vista, mas logo ela se voltou para os outros dois. “Ah, aliás, sobre o que a gente estava falando, eu acho que é melhor vocês contarem pros seus pais. Eu vou contar para os meus.”

“Mas é claro.” Nick concordou rapidamente, sendo interrompido por outro relâmpago, seguido pelo estrondo de um trovão. “A gente vai indo então. Tchau, ‘Nicha.” Ele sorriu docemente para a Pooka antes de alçar voo para longe do museu londrino.

“Até mais, ‘Nicha!” Wonder acenou para a amiga enquanto apressava para alcançar o irmão, brincando com ele e pedindo pela aposta de uma corrida.

Domenicha riu com os amigos, mas tão logo eles sumiram ao longe, ela deixou sua mente desviar para longe. Com passos rápidos e alguns pulos violentos, ela desceu do prédio, se lançando para cima de uma árvore; ela era tão graciosa quanto Jack Frost, então não se preocupava muito com aquilo. E rapidamente, ela atravessou a rua, subindo para o telhado de outra coisa do mesmo modo que aprendera com sua mãe.

Mas ela não sorriu com seus movimentos rápidos.

Durante toda a conversa com os dois São Norte, Domenicha não pode evitar de se sentir estranha. Quando Nick falou pela primeira vez que se sentia observado, ela começou a sentir-se desconfortável, e tão logo Wonder falou a mesma coisa, ela começou a sentir como se algo a rodeasse.

Aquele tempo todo ela sentiu um formigamento estranho na parte detrás da nuca, aquele mesmo tipo de formigamento que se sente quando alguém está te observando pelas costas.

Mas, por algum motivo, o desconforto estranho de Domenicha estava ao seu redor e a cada passo que ela dava, de telhado em telhado, ele ficava mais forte.

E de repente ela estava ao lado da Praça Onslow, frente a um dos jardins restritos; árvores erguiam-se ao redor do jardim, seguindo a cerca e incapacitando qualquer um de ver o que havia lá dentro – a não ser que ele estivesse em um lugar mais alto. Não havia luz alguma lá dentro, apenas a pequena campina artificial.

O desconforto de Domenicha ficava muito mais forte ali.

Sem pensar duas vezes, e ignorando as placas nas cercas que pediam para que as pessoas ficassem longe, ela pulou para dentro da cerca, caindo em uma árvore e se lançando na grama rala e de um verde levemente opaco – embora não desse para ver muito bem durante a noite, até mesmo para uma garota metade Pooka.

E tão logo ela chegou no centro do jardim, aquele mesmo formigamento de antes a atiçou. Mas não havia ninguém ali, a não ser ela e a escuridão.

“Quem está aí?” Domenicha perguntou mesmo assim, já que sabia que as vezes não dava para confiar nos olhos.

Um movimento em uma das moitas chamou sua atenção, fazendo suas orelhas levantarem rapidamente, os pelos cinza e brancos se arrepiando com o som repentino do farfalhar de folhas.

Foi então que, no escuro ao lado de uma árvore, Domenicha pôde ver alguma coisa, uma forma, sendo iluminada muito de leve pela luz da rua.

“Domenicha Frost Pascoal.” Uma voz chamou suavemente e soava quase surpresa, como se a pessoa que falara suspirasse de alivio. “Finalmente nos encontramos!”

E o desconhecido saiu de seu esconderijo.


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Notas finais do capítulo

HA! Um cliffhanger repentino para vocês logo no primeiro capítulo! Porque eu sou má! >:)
Bem, a gente se vê no próximo capítulo. Até lá! ^^



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