A Guardian's Diary 4 - Of Dark and Cold escrita por Lino Linadoon


Capítulo 15
Capítulo 14 - Novidades e problemas


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por esperarem! Esse capítulo demorou um bom tempo para ser feito!



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  Depois do começo com o pé esquerdo, o grupo começou a gostar do novo integrante. Era engraçado conversar com ele, Celennis tinha um monte de histórias para contar sobre a Lua, e ao mesmo tempo em que parecia conhecer muito bem o planeta Terra, ele parecia não saber de nada. Os três amigos sentiam como se estivessem falando com alguém que era ao mesmo tempo bem mais novo e bem mais velho que eles próprios. Era um tanto estranho.

  Honestamente, Celennis parecia ser a essência da mais pura inocência em uma forma humana, e, sem a sabedoria dos outros, cada um dos jovens guardiões prometeu para si mesmo que iriam proteger aquele rapaz pálido e cintilante com suas vidas.

  “Nossa, se essa é sua primeira vez na Terra, então você tem muuuito que ver…” Wonder sorriu, batendo palmas. “A gente pode te mostrar os lugares mais incríveis do planeta!”

  “Como o Parque Zhangye Danxia!” Nick rapidamente entrou na conversa. “Ou Pamukkale!”

  “Ou, é claro, Punjam Hy Loo e o Pólo Norte!” A fada sorriu.

  “Eu adoraria conhecer todos esses lugares.” Celennis sorriu. “Se não for um incomodo, é claro…”

  “Mas é claro que não!” Domenicha cruzou os braços com uma risada. “Nós viajamos o mundo inteiro! Seja por túnel, globo de neve, ou voando! A gente pode ir pra onde quisermos, quando quisermos!”

  “Isso se nossos pais deixarem, né?” Nick interveio.

  “Ah, Nick, não estrague o momento…” Wonder reclamou, empurrando o irmão levemente. “Mas, vamos lá, nos conte um pouco mais sobre o Homem da Lua! A gente sempre ouviu sobre ele, a gente sempre viu o sorriso na Lua, mas nunca realmente conhecemos ele!”

  Celennis riu com a animação da nova amiga, mas começou a contar. Falou da aparência de seu pai, do corpo rechonchudo, a cabeça careca com apenas um longo fio de cabelo branco se esticando para cima contra a gravidade. Contou como ele tinha o rosto e a voz mais suave e mais amigável do mundo, e também como o Homem da Lua foi quem incentivou o garoto estrela a descer para o Planeta Terra.

  Logo os quatro decidiram os planos para os próximos dias, para levar o pequeno Celennis para todos os lugares que eles achavam incríveis no planeta.

—o—

  “Acho que saiu tudo certo então?” Celennis sorriu para a albina quando estavam só os dois de novo.

  “Melhor do que certo!” Ela exclamou, dando um rodopio no topo da casa. “Foi perfeito! Eu disse que eles iam gostar de você!”

  “Isso é bom.” Celennis riu levemente, quase sem jeito.

  “Eles não aceitavam um amigo novo no nosso grupo desde…” Domenicha se calou.

  “Desde…?” Celennis perguntou, tentativamente.

  Domenicha deu um suspiro e se sentou ao lado do garoto.

  “Karol.” Mesmo assim, ela sorriu levemente.

  “Oh…” O garoto estrela disse simplesmente. Era como se ele estivesse pensando no que falar, desviando os olhos para a rua movimentada, mesmo com a quantidade de neve. Até que ele finalmente ergueu os olhos negros como a noite. “Quem era?”

  “Uma amiga de muito tempo atrás…” Domenicha respondeu apenas. Ao mesmo tempo em que desejava não tocar naquele assunto, ela queria falar, ela queria contar sobre Karol, queria dividir com o garoto todas as alegrias que aquela garota um dia lhe ofereceu.

  “Conte-me um pouco sobre ela.” Celennis falou, baixinho, como se não confiasse em sua própria voz. “Por favor.”

  Domenicha sorriu com a delicadeza do amigo. Ela sabia que lembrar de Karol lhe dava vontade de chorar, mas ao mesmo tempo, a enchia de alegria.

  “Bem…” Ela riu, se lembrando. “Karol foi uma das minhas melhoras amigas… Mesmo sendo bem mais velha do que eu. Tipo, eu tinha quatro anos e ela tinha dezesseis quando a gente se conheceu. Mas, ainda assim, ela parecia ter mais paciência comigo do que todos os Guardiões juntos. Sim, até meus pais!”

  Domenicha riu alto, sendo acompanhada por Celennis. A risada do garoto soava como sinos de vento.

  “Ela foi que nem o Jamie! Oh… Ah, é, você não conhece o Jamie. A gente tem que ir visitá-lo um dia! Ele tem uns 37 anos e ainda acredita nos Guardiões!” Ela exclamou, agitada, Celennis sorriu apenas, assentindo a cabeça. “Karol… Ela continuava acreditando até os 22 anos de idade…”

  “Isso é algo raro, não é?” Celennis perguntou, notando como a garota estava novamente se calando.

  “Uou! Você nem sabe!” Domenicha estava sorrindo de novo. “E tipo… Karol era super legal, ela gostava de fazer bolinhos, e ela sempre me deixava ajudar! Mesmo que eu não conseguisse fazer mais do que um monte de sujeira… Ora, eu era uma criança!” Ela riu. “E ela jogava futebol! As vezes eu ia assistir os jogos dela!”

  Domenicha riu alto dessa vez, surpreendendo o garoto estrela, que quase caiu pra trás.

  “Eu lembro que foi por causa dela que eu e os gêmeos decidimos fazer uma coisa idiota e bem perigosa pela primeira vez! A primeira de muitas!” Ela contou. “Sabe, a Karol não tinha nenhuma lembrança de quando ela era pequena! E, com as memórias da infância ficam dentro dos dentes, eu notei que tinha algo errado. Eu descobri que alguém tinha roubado os dentes da Karol das mãos da tia Tooth! Então nós três decidimos ir pegar os dentes nós mesmos! Imagine! Três criancinhas de seis anos viajando para um fim de mundo para enfrentar uma criatura tão poderosa quanto a Fada do Dente!”

  “Mas pelo jeito tudo deu certo, sim?” Celennis perguntou, delicado, a voz fraca, como se fosse difícil falar. “Você ainda está aqui, não?”

  “Sim! Nós conseguimos sair de lá sem um arranhão! Bem, os gêmeos pelo menos… Eu perdi um dos meus dentes de leite, mas nada demais.” Domenicha deu de ombros. E então, parou mais uma vez, os olhos multicoloridos se perdendo no nada. Celennis se manteve calado, esperando. “Mas… A alegria meio que durou pouco… Quando eu levei os dentes pra Karol, ela…” Ela respirou fundo.

  Celennis continuava quieto.

  “Karol… Eu não entendi bem quando era criança…” Domenicha disse finalmente e as lágrimas começaram a se formar em seus olhos. “Ela contou para minha mãe, eu me lembro… Karol tinha câncer.” Silêncio. Domenicha sentiu uma lágrima descendo por sua bochecha. “Ela tinha fazia um tempo, mas não era nada muito preocupante, eles tentaram cuidar dele… Mas então ele se espalhou, foi pro pulmão dela… Karol teve de fazer quimioterapia… Eu lembro… Ela ficou no hospital até o fim… Q-quando ela tinha 22 anos ela…”

  Domenicha engoliu um soluço, mas foi difícil. Ela rapidamente afastou as lágrimas que começavam a marcar suas bochechas.

  “Mas Karol nunca mudou!” A garota se fez sorrir. “Mesmo sofrendo ela sempre estava sorrindo e brincando… Eu era pequena, eu não entendia bem o que ela tinha, e eu também não entendia sobre ‘mortalidade’. Então eu só pensava que ela estava bem doente.” Ela suspirou. “Karol fazia de tudo pra me alegrar. Dizia que, já que ela não tinha mais cabelo, ela ia fazer uma tatuagem na cabeça quando saísse do hospital! A gente brincava de contar as estrelas da janela do quarto dela e sempre dávamos boa noite para o Homem da Lua.” Ela sorriu, olhando de soslaio para o garoto estrela. “Me pergunto se seu pai ouvia.”

  “Talvez…” Celennis murmurou, a voz embargada, assim como o da garota.

  “Eu lembro que eu dei um lenço de presente pra ela, perto do último aniversário dela.” Domenicha riu levemente, embora as lágrimas ainda estivessem ali. “Era o lenço mais bonito que eu tinha encontrado. Ele era cheio de detalhes, e tinha duas cores--”

  “Azul e amarelo.” Celennis interrompeu.

  “Como…?” A garota começou, mas não terminou.

  Celennis estava chorando também, como ele tinha feito várias vezes antes, mas dessa vez ele deixou as lágrimas caírem. E aqueles olhos negros, cor da noite, por um momento brilharam marrons, cor de chocolate.

  “E você dizia que os detalhes pareciam elefantes alados…” O rapaz continuou, sorrindo em meio às lágrimas. “Era o meu lenço favorito…”

  Domenicha piscou, as lágrimas deixavam sua visão turva e um soluço saltou por sua garganta.

  “Karol…?”

  “Sim…” Celennis soluçou também, abrindo os braços. “Eu voltei, coelhinha.”

  Domenicha não pensou duas vezes, apenas se lançou nos braços da amiga, não, do amigo. E quando aqueles braços, agora pálidos e brilhantes a envolveram, era o mesmo sentimento, aquele mesmo aconchego, aquele mesmo calor que ela sentia quando Karol a abraçava. Era quase como se não fosse de verdade…

  A albina apertou o rosto contra o pescoço da estrela. Ela se lembrava que Sandy, que também era uma estrela, tinha um cheiro peculiar, um cheiro que só podia ser definido como sono e brilho - coisas que normalmente não podiam ser associadas à cheiros, mas eram as únicas palavras que lhe vinham à mente. Ela conseguia sentir o cheiro de “brilho” em Celennis, mas não apenas isso.

  Karol cheirava a limão, terra e outono. Domenicha nunca, jamais, esqueceria aquilo. E Celennis… Celennis cheirava à tudo isso.

  “É você… K-Karol…!” Domenicha sussurrou, antes de se afastar, agarrando as bochechas douradas de Celennis assim como fazia quando elas eram avermelhadas. “É… Você mesmo? Você voltou?”

  “Eu voltei…” Celennis sorriu em meio as lágrimas. “Desculpe a demora…”

  “Quê ‘desculpa a demora’ o quê?!” A garota riu. “Mas… Mas como…? Espere… O Homem da Lua…?”

  “Sim…” Celennis assentiu. “Ele me trouxe de volta assim como fez com Jack Frost…” Ele sorriu. “E… Dessa vez, ele me deu aquilo que eu queria…”

  “Ser você mesmo…” Domenicha terminou antes dele. Ela se lembrava das palavras de Karol, mesmo tendo sido uma criaturinha miúda naquela época - ela ainda dava algumas olhadas no seu passado, quando Toothiana deixava.

  “Isso mesmo.” A estrela sorriu, segurando as mãos da Pooka nas suas. Domenicha as encarou por um tempo, se lembrando de como suas mãos ficavam pequenas nas de Karol antigamente. “E ele me deu a chance de voltar… E te encontrar de novo. Assim como todos os outros.”

  O sorriso de Domenicha se esticou ainda mais, tanto que chegava a doer, mas ela não conseguia evitar. Karol estava ali de volta. Não, não “Karol”, era Celennis. Domenicha tinha tanto para contar, e tanto para perguntar - com algumas perguntas porém, ela sabia que era melhor tomar um pouco de cuidado.

  Mas, antes que ela sequer pudesse abrir a boca, ela sentiu alguma coisa. Alguma coisa ruim… Como uma nuvem de fumaça opressora tivesse começado a pairar acima deles dois, fazendo sumir o ar frio e leve da noite.

  E então, de repente, alguma coisa se lançou entre eles, empurrando Celennis para um lado e Domenicha para o outro.

  Domenicha se sentiu caindo, mas, com seus reflexos rápidos, ela conseguiu se segurar no lado do prédio, ignorando o gemido alto da calha em que se apoiou.

  “Celennis!” Ela gritou, se lembrando que o garoto não era como ela. Mas ele podia flutuar, talvez estivesse bem…

  Ela virou o olhar na direção em que Celennis foi lançado. Ele não estava flutuando, mas também não estava no chão. Estava sendo apertado contra a parede do prédio por uma forma escura.

  E Domenicha reconheceria aqueles longos cabelos marrons em qualquer lugar.

  “Demetria!” A garota não a ouviu, talvez focada demais em apertar seus dedos em volta do pescoço pálido de Celennis.

  “Então é você…” Demetria murmurou, e Domenicha teria ouvido caso o bater acelerado de seu coração não ressoasse tão alto em seus ouvidos.

  “P-por favor…” Celennis

  Ver seu amigo - seu querido amigo que ela tinha acabado de descobrir era uma das pessoas mais importantes em sua vida - se contorcendo daquele jeito, fez a garota ver vermelho.

  Sua forma Pookana apareceu com violência, fazendo suas roupas rasgarem em milhares de fiapos com a forma maior, mais musculosa e peluda. E ela pulou do prédio, se lançando na direção de Demetria.

  A garota das sombras não notou até que era tarde demais, e a forma grande de Domenicha bateu contra ela com força o bastante para lançá-la ao chão.

  “D-Domenicha…!” Demetria exclamou, e sua voz soava tão assustada e patética, que os lábios da Pooka quase se esticaram em um sorriso de dentes afiados. “Solte-me!” Demetria disse, séria, como em um comando.

  E de repente Domenicha parou.

  Celennis respirou fundo, se levantando e tentando recuperar o fôlego que as mãos de Demetria tinham tirado dele. Ele se virou para as duas garotas, como se tentando processar o que estava acontecendo entre elas, que impasse elas tinham chegado para ficarem ambas paradas como estátuas.

  Até que Domenicha pulou para longe de Demetria, balançando a cabeça violentamente.

  “Isso mesmo…” Demetria se ergueu de pé sem dificuldade, como uma sombra faria ao escalar uma parede com a mudança da luz. E ela sorria.

  Celennis piscou uma ou duas vezes, sem entender.

  “Domenicha…?”

  A Pooka rosnou alto fazendo o corpo pálido da estrela tremer com as vibrações. Domenicha ainda balançava a cabeça, batendo nas orelhas com as patas como faria um cachorro que estava com orelhas molhadas.

  “Pare de ficar lutando, sua boba.” Demetria continuou falando. “Venha comigo.”
  Domenicha gemeu baixo, mas parou de se debater, se colocando nas quatro patas com movimentos lentos e rígidos, como se tentasse se impedir de mover, mas sem sucesso. Era como se ela não tivesse controle sobre seu próprio corpo! Como se estivesse sendo controlada por Demetria!

  “Domenicha! Não! Não a ouça!” Celennis gritou.

  A Pooka soltou um som estranho, mas seu corpo continuou se movendo como antes. O modo como ela se movia, era mais como um animal selvagem do que qualquer outra coisa, era até assustador.

  O garoto estrela pensou no que podia fazer. Ele olhou em volta. Os gêmeos tinham ido embora, os Guardiões não estavam por ali. Só havia ele.

  Celennis se lançou para cima, batendo o pé no chão para se impulsionar para cima, deixando que seu poder de flutuar lentamente o levasse até o chão novamente. Ele desceu entre Demetria e Domenicha.

  “Vamos, coelhinha! Não ouça o que ela tem a dizer!”

  Domenicha parou. Seus olhos azul e verdes se focaram no garoto pálido, as pupilas estavam dilatadas, mas aos poucos elas diminuíram levemente, mostrando que a Pooka estava voltando a ter controle sobre si mesma. Celennis sorriu, respirando fundo, aliviado. Ele estendeu as mãos pálidas e delicadas para a amiga, que levantou uma pata, como um cachorrinho obediente.

  Mas, de repente, algo agarrou Celennis, o lançando para o lado com violência. O garoto soltou um exclamar alto quando seu corpo bateu com força na parede do prédio.

  Domenicha desviou os olhos do amigo caído no chão para a garota das trevas. E seus olhos voltaram àquele mesmo brilho animalístico de antes. Ela rugiu, pulando em cima de Demetria que rapidamente se esquivou. A Pooka continuou atacando com suas patas grandes e peludas, agora com garras pontiagudas à mostra.

  “Domenicha!” Demetria gritou, seria, irritada, enquanto desviava de outro ataque. “Pare com isso!”

  A Pooka novamente hesitou, a pata no ar para mais um ataque. Ela tentou atacar, mas não conseguia se mover.

  Demetria sorriu, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, algo bateu contra sua cabeça com violência e ela caiu na neve.

  “Você fique longe da minha filha!” Era a voz conhecida do Guardião da Diversão, descendo do céu com seu cajado pronto para uma luta.

  Demetria sibilou como um animal machucado. E Domenicha se lançou em sua direção, passando por Jack Frost como se não tivesse o visto.

  “Mas o que…?” Jack piscou uma ou duas vezes, surpreso com a imagem. Domenicha se colocou frente à Demetria, os dentes agora estranhamente pontiagudos, à mostra enquanto ela rosnava. Era como se estivesse protegendo a garota obscura. “Domenicha, saía da frente!”

  A Pooka apenas rosnou mais alto. Jack viu Demetria lhe lançar um sorriso estranho por trás de Domenicha, antes de desaparecer nas sombras.

  “Domenicha! Saia! Ela está escapando!” O Guardião tentou passar pela filha, mas essa apenas se lançou na direção dele, como um tigre dando o bote.

  Mas antes que a garota pudesse atingir sua própria mãe, ela caiu de cara na neve.

  Jack piscou vez ou outra, tentando decifrar o que tinha acontecido. Até que ele notou Coelhão parado ao lado de sua filha, um bumerangue em sua mão.

  O casal se entreolhou.

  “Acredite Jack, eu estou tão feliz em fazer isso com nossa filha quanto você estaria…” O Guardião da Esperança disse simplesmente.

 A noite continuava fria e escura.


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