Por que logo Grantaire?

Pergunta recorrente para Enjolras.

O elemento dissonante dos Amigos do ABC; o cético em meio a jovens sonhadores.

A princípio, mal o reconhecia como integrante do grupo, e a sua presença representava um fardo. Perfeitamente inofensivo, se ignorado.

Não tinham nada em comum.

A sua manobra de ignorar Grantaire falhou, assim que o mesmo se pôs a importunar-lhe. Compreendia as intenções do boêmio de atrair atenção para si, entretanto, quando em sua companhia, a paciência lhe esgotava.

Censurava cada passo de Grantaire, ralhava a respeito de suas atitudes, se punha a admoestar direta e indiretamente.

Estava ciente do quão debalde eram as suas investidas; e do quão infantil era a sua postura diante das provocações do alcoólatra.

Todavia, nenhuma de suas repreensões eram em vão. Pronunciava cada palavra sinceramente.

Algo dentro de si contraía ao ver Grantaire bater na porta de seu apartamento na alta madrugada, quase capotando de bêbado; ou ao escutar seus monólogos despidos de esperança, como se nada mais estivesse a prendê-lo a esta vida.

A fúria de Enjolras se alastrava quando, sendo impetuosa a crítica, o boêmio ainda lhe correspondia com olhar meigo e palavras aveludadas.

Tamanho desaforo, jamais.

Grantaire era exceção.