Pan-demonio escrita por GreeneMoon


Capítulo 9
Capitulo 9


Notas iniciais do capítulo

Não vou tentar justificar a ausência, ela sempre vai ser imperdoavel. Só peço desculpas e que aproveitem o capitulo ♥



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— Wendy 

Não saia do quarto já havia algum tempo. Depois de explorar todas as partes do castelo, participar de muitos chás com damas da sociedade, fazer seu papel de boa rainha e esposa em eventos que Peter se dava o trabalho de ir, ela decidira que sua rotina já estava maçante demais pra sua sanidade. 

Tentara falar sobre o assunto com seu marido, mesmo que aquilo ferisse seu orgulho, mas o rei era irredutível e não confiava nela para permitir que conhecesse nada além das paredes de pedra que os cercavam.

Paredes essas que ela já havia decorado todas as imperfeições. 

Fechou os olhos pra visão do céu acizentado. Olhar para a mesma paisagem todos os dias estava deixando seu interior doente. Tudo naquela vida a deixava com a sensação constante de estar sendo sugada para um poço escuro e sem fundo — e não havia nada que ela pudesse fazer contra aquilo. 

Uma batida suave a despertou dos seus devaneios. 

— Entre. — até mesmo sua voz soava diferente, quase como se ainda estivesse sentada nas masmorras, envenenada dia a dia pelo solo pútrido. 

Lily apareceu com um sorriso triste e caminhou até ela com passos contidos. Seus olhos passaram por cada centímetro do seu rosto, mas Wendy quase podia sentir que eles avaliavam muito além do que só sua aparência. A princesa sempre teve o dom de saber o que se passava em sua alma. 

— Pensei que gostaria de companhia para um passeio. 

Wendy limitou-se a uma negativa rápida com a cabeça e voltou a olhar para as sombras no céu. Tigrinha suspirou e terminou com o espaço entre elas, sentando a sua frente na janela. As duas ficaram em silêncio por alguns minutos antes dela tentar de novo: 

— Nunca consigo me acostumar com esse céu, parece errado de inúmeras maneiras. 

A doutora arrastou seus olhos para a amiga e sustentou o olhar preocupado. Lily sabia que ela não tinha a menor vontade de conversar, assim como todos os outros que tentaram antes. Estava cansada de fingir que tudo estava bem quando as grades invisíveis de sua cela a apertavam e sufocavam sem parar. 

— Não quero, Lily. 

Ela assentiu com a cabeça apenas uma vez e suspirou. Wendy observou a princesa revirar os dedos uns nos outros em nervosismo. Sabia que ela estava se culpando por tudo, desde o dia em que a tirou de seu apartamento, sua vida. Não que a doutora a culpasse também, mas naqueles momentos ininterruptos de solidão, ela só queria poder ir visitar seus pais, seus irmãos ou estar no hospital cumprindo plantões atrás de plantões. Ficar parada sempre foi o ponto fraco de Wendy e ela tinha consciência disso. Ela afundava demais nos próprios pensamentos para ser seguro, principalmente quando eles eram tão sombrios. 

— Nesse momento Deleve está em reunião com Peter pra barganhar sua saída, mesmo que seja com escolta. — Lily suspirou em frustração. — Se eu soubesse que seria assim, que ele esmagaria você dessa maneira, eu nunca a teria tirado do seu apartamento. 

— Era apenas outra existência miserável. 

A princesa jogou seus olhos para os de Wendy e a determinação fria contida ali, foi como um balde de água congelada em seus nervos. 

— Pode até ter sido uma existência miserável, mas você era a senhora dos seus passos, as escolhas eram suas. Era assim que tinha que ser. — Ela fechou os olhos por um momento, antes de completar: — É assim que tem que ser. 

Sem muitas palavras para revidar aquilo, a doutora apenas quebrou o olhar e voltou a assistir o céu. Sem dúvidas ela pensou que aquilo seria diferente. Não que esperasse flores e chocolates de Peter, mas ao menos um pouco de compaixão. Era certo que ela merecia toda aquela raiva e distanciamento, havia o abandonado quando jurou que não faria. Mas quanto mais pagaria pelos seus erros? O que mais teria que fazer para ser absolvida dos seus pecados? 

Não sabia. Provavelmente a vida inteira, se sobrevivesse aquele confinamento. 

A dor que sentia não era por estar trancada em seu próprio reino, mas por Peter saber que aquilo a quebraria, que sua liberdade era a única coisa que ela se recusava a perder. Ser livre era tudo que definia quem ela era e ele sabia. Ele sempre soube. Arrancar aquilo era apenas mais um dos seus castigos maldosos. Mais uma forma de mostrar que ele estava no comando e ela não podia fazer nada além de sentar e esperar. 

O que ela estava fazendo por semanas que nunca pareciam ter fim e eram sempre da mesma maneira. A mesma rotina — sempre e sempre e sempre. 

— Não sei o que ele espera. — resolveu desabafar — Não sei o que ele quer de mim além de me transformar em um acessório de decoração. Ele entra e sai desse quarto como se não me enxergasse, mas a noite, quando pensa que estou dormindo, ele se arrasta pela cama e cheira meu cabelo. — um som estranho saiu de seu peito em uma mistura de risada e dor. — Não consigo entender, Lily, não sei que jogo é esse onde ele quer ser meu marido, mas o perfume de Sininho está impregnado em quase todas as suas roupas, até mesmo a farda que ele usa diariamente. 

A doutora registrou a queimação nos olhos só depois das lágrimas já estarem rolando por suas bochechas. Não tinha falado sobre aquilo com ninguém, apenas guardado e remoído dentro de si como uma bola de angustia e tristeza que só crescia. Não podia se livrar da sensação de estar sendo traída tão descaradamente que até mesmo um cego poderia ver. Não importava se não tinha direito de se sentir assim depois de todo sofrimento que causou... Ela não podia parar de se levar pra baixo, como se um enorme bloco de pedra estivesse amarrado em seus tornozelos e afundasse e afundasse e afundasse e afundasse. Nunca tinha um fim, sempre havia mais níveis para descer. 

— Eu não sei o que te dizer sobre isso Wendy, apenas que se você deixá-los te enterrar dessa maneira não haverá nada que eu ou seus filhos possamos fazer. — Lily se aproximou, pegando suas mãos. A pele da rainha parecia gelada demais em comparação a da princesa. Como se seu corpo fosse apenas uma casca fria. — Entendo pelo que você está passando, acredite em mim. Ele me quebrou o suficiente desde que cheguei nesse castelo. — seus olhos encheram de água, antes dela engolir em seco e continuar: — Ele mandou que executassem meu pai na minha frente, como se não fosse nada além de uma apresentação em um circo. Meu pai... Aquele que se orgulhava de contar as histórias do menino-que-sabia-voar. — Tigrinha balançou a cabeça como se o gesto pudesse espantar as lembranças daquele dia horrível. — Eu entendo agora o que aquele último olhar do meu pai significou, Wendy. Ele queria me dizer que aquele Peter sentado naquele trono não era o mesmo que conhecemos. Esse Peter Pan não é nada além de uma jaula sombria que foi criada para sufocar quem ele é de verdade. 

Wendy refletiu por um momento, deixando o peso das palavras de Lily alcançarem seus ombros e se instalarem lá. Em alguns momentos, tudo parecia difícil demais de suportar, entender e principalmente colocar em prática. 

— Acha que ele ainda me ama? — não sabia por que havia pergutado aquilo, apenas sentia a necessidade de que alguém além dela enxergasse alguma verdade nos sentimentos de seu marido. 

— Você sabe que sim. 

Foi tudo que Lily respondeu e foi tudo que aquela conversa rendeu. Wendy não estava disposta a continuar naquele caminho, de qualquer forma. Sentia-se cansada demais até mesmo para voltar a sua contemplação do céu enfermo. Ela só queria voltar pra cama, se enrolar em uma bola e dormir até ter que se arrumar para o jantar. 

Deixou algum tempo passar, esperando que a princesa levantasse de sua vígilia e tomasse qualquer rumo que pretendesse para aquele dia. No entanto, ela permaneceu aonde estava. E continuou assim até que Wendy decidisse se enroscar no meio das almofadas do divã na janela e adormecesse, ainda com lágrimas silenciosas escorrendo de seus olhos sem que ela sentisse. 

 

Wendy acordou na cama com seu corpo aquecido e braços fortes envolvendo sua cintura. Em um momento de confusão, ela se virou rapidamente esperando encontratar qualquer pessoa menos Peter adormecido no meio da tarde. Seu rosto estava sereno, como não via há muito tempo, quase como se ainda fosse aquele menino perdido que adorava voar pelo mar. 

A doutora puxou uma respiração, afetada com aquela cena. Por que ele tinha deitado ao seu lado e estava a segurando daquela forma, ela não sabia. Não fazia questão de saber, de qualquer forma. Sabia que no momento que ele abrisse os olhos, aquela pequena paz não existiria mais. Tudo voltaria a ser tão frio e distante entre eles, como todos os outros dias, mas nada estava impedindo que ela aproveitasse aquela segurança e calor até o últimi segundo.

Suavemente e com movimentos mínimos, Wendy se aconchegou mais um pouco nos braços de seu marido e respirou cada ar que ele soltava pelo nariz. O hálito doce de hortelã que ele soltava pela boca a atingiu em cheio despertando cada pedaço de seu corpo adormecido naquelas semanas. Depois do beijo que compartilharam antes do baile, eles só haviam trocado olhares gelados e palavras duras, sem contato ou sentimento igual ao que ela sentiu naquela noite. Essa era a primeira vez em muito tempo que sentia o calor da pele dele aquecendo a sua. 

Sentiu vontade de chorar. Por tudo que tinham sido um dia e por tudo que perderam, sim, mas especialmente por tudo que eles poderiam ter reconstruído aos poucos até agora, no entanto, nenhum dos dois se dispusera a isso. Pelo contrário, a única coisa na qual concordavam era a distância que queriam ficar um do outro. 

Wendy ergueu seu olhar para o teto cheio de imagens pintadas a ouro, de um céu repleto de estrelas douradas e prateadas, e as nuvens que um dia Peter havia apresentado a ela. Ainda lembrava da textura daquelas grandes almofadas brancas feitas de água e vapor, de se esconder entre elas para observar as frotas do Capitão Gancho e cair de lá depois de levar uma flechada em seu dedal. 

Dedal esse que ainda estava pendurado em seu pescoço em uma corrente de prata. 

A doutora puxou a corrente para fora da camisola e analisou o pequelo dedal e a futinha que ainda estava em perfeito estado, devido a mágica que Peter havia colocado ali para preservar. O buraco da flecha ainda permanecia como uma lembrança desesperadora de quando ela conheceu a gentileza de seus filhos. A primeira lágrima rolou tão silenciosa como as outras, em sua conversa com Lily. Sabia que se não recuperasse o controle agora não pararia de chorar tão cedo, e com Peter ali isso seria constrangedor o suficiente pra eles terem que iniciar uma conversa que ela não estava afim de ter. 

Com cuidado, Wendy deslizou sua mão pelo braço forte de Peter e tirar seu corpo da cama. Ela precisava de um banho quente pra curar toda a sua choradeira do dia. Um movimento e o braço de seu marido se apertou em sua cintura e seu hálitou soprou em seu ouvido: 

— Não. 

Ela virou o rosto na direção dele e o encontrou a observando com seus olhos de gato. Ainda estava sonolento, mas desperto o suficiente pra ela se perguntar a quanto tempo ele estava acordado. 

— Preciso de um banho. — foi tudo o que conseguiu dizer enquanto seus olhares ainda estavam presos um no outro. 

Peter assentiu rapidamente, mas não fez nenhum movimento para soltá-la. Só continuou encarando e encarando e encarando até que a doutora não soubesse mais onde estava além de dentro dos olhares verde folha dele. Um suspiro escapou de seus lábios e ele o tomou quase completamente antes de avançar em sua boca sem nenhum aviso prévio. Wendy apertou o musculo do braço dele em surpresa enquanto Peter passava a lingua suavemente em seus dentes pedindo espaço pra explorar completamente sua boca. Ela permitiu e rapidamente a lingua dele esrava sobre a sua, dançando e se enrolando, sem tempo para folegos ou exitação. 

Wendy escorregou sua mão do braço de Peter até seu cabelo e envolveu seus dedos fios sedosos, acariciando o couro cabeludo com a ponta das unhas. Ele rosnou em sua boca, alto, forte e tão masculo que todo o corpo da doutora tremeu em resposta, calor se concentrando em seu núcleo em espasmos necessitados. 

Era tão fácil se perder nele, esquecer tudo que os separava, as ofensas, os castigos, a mulher com quem ele dividia a cama quando não chegava cedo no quarto...

Todo o corpo de Wendy paralisou com aquele pensamento. 

Peter estava dividindo a cama com Sininho e o cheiro dela em suas roupas era o suficiente para lhe confirmar aquilo. Ele podia não estar com o cheiro dela agora, mas sabia que na noite passada o perfume da fada era tão forte que Wendy não conseguiu continuar dormindo no mesmo espaço que ele. 

Ela retirou sua boca da dele em um estalo, mas mesmo assim ele não soltou sua cintura, nem afrouxou seu aperto. A mão da doutora ainda continuava em seu cabelo, repousando ali como se parte dela se recusasse a quebrar o contato, mesmo com seu coração quebrado. 

— Fica. — Peter pediu, seus olhos voltando a prender os dela naquele aperto firme e irredutível. Por um momento, Wendy só o olhou, tentando entender o que aconteceu com o homem frio que ele havia sido durante todo esse tempo, mas tudo que a doutora conseguia ver era seu marido na cama da sua pior inimiga. 

— Solte. — não conseguia ficar mais nenhum minuto ali, não quando sabia que ele procurava outra boca para se deliciar ao invés da sua. Não conseguia lidar com aquilo, nunca conseguiria. 

— Isso não era o que você queria, Wendy? Trégua? 

— Eu queria isso semanas atrás quando você não chegava com o cheiro de Sininho todas as noites. 

Se o rosto de Peter não fosse feito de pedra, Wendy poderia jurar que choque e arrependimento passaram por suas feições em um lampejo rápido. Ela sustentou seu olhar dessa vez com mais determinação que sentia ter e esperou que ele falasse algo. Nada foi dito, por longos minutos até que ele virou seus corpos tão rapido que ela mal pode se desvenciliar. 

Peter a pressionou com suavidade na cama enquanto descia sua boca pro seu pescoço em uma caricia suave até a parte de trás da sua orelha. Wendy sentiu seu corpo tremer com aquilo. Não podia se entregar, não quando sabia que aquela era só mais uma forma dele manipular sua vida da forma que quisesse. Não quando sabia que dividia aquele homem com outra mulher. Não quando suas vidas andavam juntas, mas completamente separadas. 

— Pare. 

Como se fosse congelado, ele parou. Ergueu os olhos pra ela e uma careta transformou seu rosto bonito. 

— O que quer que eu diga? — Peter continuou a encarando como se nada chamasse mais sua atenção além dela. — Quer que eu peça desculpas por um hábito que eu criei quando você me abandonou? 

O golpe daquela pergunta foi tão brutal quanto todos os outros que ele insistia em lhe dar diariamente. A doutora balançou a cabeça em negativa e mexeu seu corpo para que ele saisse de cima dela. Só queria ir para sua banheira e ficar de molho o máximo de tempo que conseguisse. Não queria mais nenhum segundo da tortura que era ter o homem que amava, mas ao mesmo tempo não o ter, de qualquer maneira. 

— Não foi isso que eu quis dizer. — ele suspirou acima dela, mas Wendy não se atreveu a encontrar seu olhar novamente. Já era o suficiente para ela, por aquele dia. — Wendy... O que você quer? 

O que ela queria? Não fazia ideia, não mais. 

— Quero ir pra minha banheira e ficar lá por um tempo. É isso que eu quero. 

Outro silêncio e nenhum movimento dele. Aquilo estava ficando mais complicado do que ela esperava. Se fosse em uma situação normal, ele já estaria muito longe do corpo dela, indo pra qualquer lugar menos aqui. Então resolveu ela mesma perguntar: 

— O que você quer, Peter? 

Ele piscou, se por confusão ou intensidade da pergunta, Wendy não sabia. Esperou que ele respondesse, mas também não o fez. Só ficou parado a encarando como se o mundo todo estivesse dentro dos olhos azul-mar da doutora, como se todas as respostas se acumulassem ali. 

— Eu quero você. — ele respondeu, finalmente, e Wendy precisou de um minuto pra recuperar a consciencia diante da veracidade que espelhava nos olhos de seu marido.— Eu quero você, mas não faço ideia de como começar. — Peter puxou uma lufada de ar, como se travasse uma batalha interna e tentasse ganhar. — Você me abandonou quando sabia que eu não sobreviveria, quando jurou que nunca faria isso. E agora estamos aqui, vivendo esse inferno na terra porque não sou capaz de me permitir amar você. Então não sei o que eu posso querer mais nesse mundo além de você. 

O silêncio que recaiu sobre eles foi o mais intenso que Wendy já presenciou em toda a sua vida. Mesmo quando perdeu pacientes na mesa de cirurgia ou se preparava para operar, nenhum desses silêncios foi capaz de comprimir tanto seu coração como aquele. Não havia palavras pra o que foi exposto diante dela. Não havia o que fazer além de continuar tentando e tentando e tentando, até que não houvesse mais forças pra nada a não ser contemplar seu fracasso. E mesmo sabendo de tudo aquilo, Wendy se viu na mesma situação que acabara de se desenrolar em sua mente. 

Ela já tinha tentado tudo aquilo. Por toda a sua vida desde que deixou a Terra do Nunca, ela havia tentado achar um caminho de volta e consertar as coisas. Estando aqui agora, tendo a chance em suas mãos, nada que tinha feito mudou o fato de que as coisas estavam quebradas entre ela e Peter Pan, e ninguém sabia se tinha conserto. 

Sabendo de tudo aquilo, ela simplesmente resolveu responder de coração aberto. 

— Você me tem, mas não me quer. — e demorou muito pra Wendy entender aquilo, mas era a verdade. — Não importa quantas vezes eu tente, nada nunca vai ser suficiente pra você, nem fará você se aproximar de mim de novo. — ela fixou seus olhos nos dele e abriu todas as suas feridas emocionais, toda a dor e tristeza que lhe faziam companhia. — O Peter que me amava não existe mais e eu demorei pra entender isso, pra entender o que você queria me dizer todo esse tempo... Mas agora eu sei e entendo. Minhas escolhas tiveram consequencias e eu entendo. Eu sou sua rainha, sou sua esposa, mas não sou sua mulher. E eu entendo. 

Novamente silêncio. Olho no olho, eles se encararam até que Wendy precisou desviar o olhar da afirmação refletida ali. Até que as lagrimas estivessem caindo de novo e ela podia sentir os soluços abrindo seu caminho pra fora. Até que doesse demais ter que aceitar a perda do homem que ela amava e aceitar que este era ele agora. Este era Peter Pan, o rei sombrio que nunca precisou de um vilão pra sua história, ele fazia esse papel por si mesmo. 

— Você vê agora que eu cresci, o que me tornei, o que sou... Mas não vê que não importa o tipo de criatura em que me transforme Wendy, você sempre terá tudo de mim. — ele voltou a esconder o rosto na curva de seu pescoço, arrastando os lábios pela pele de marfim, subindo até sua orelha, sua voz não era nada além de um sussurro quando completou: — Não há quase nada de bom sobrando, mas céus, você voltou pra mim e trouxe de volta uma coisa que eu não esperava ver nunca mais. 

— O que? — a pergunta saiu como um folego.

Peter subiu sua mão da sua cintura pela sua barriga, adentrando sua camisola, pele contra pele, até que pousou nos dois objetos que pendiam da corrente de prata em seu pescoço. Ele voltou seus olhos pra seu peito enquanto sua outra mão subia o resto de sua roupa e tirou por cima de sua cabeça, jogando em algum canto do quarto. Nua, com apenas a parte de baixo coberta por sua roupa intima, ela ofegou olhando pro seu marido com todas as dúvidas do mundo rodando em sua mente. Peter só a encarou de volta, seus dedos segurando o dedal e respondeu: 

— Meu coração. 

Ele não deu tempo a ela de respirar, apenas voltou sua boca pra dela tomando-a em um beijo feroz, selvagem. Suas mãos subiram pros seus seios e massagearam ali, apertando, reconhecendo, brincando e sabendo exatamente o que fazer pra deixá-la tão necessitada que um gemido alto escapou de suas bocas conectadas. Peter desceu suas mãos novamente pelas suas costelas e Wendy só pode erguer o corpo para que ele terminasse de tirar sua única peça de roupa, sem se importar com mais nada além daquele momento. Aquele precioso instante onde ambos encontrariam de novo pelo que estavam lutando, pelo tipo de amor que queriam reconstruir. Carne na carne, pele na pele, corações batendo juntos em um propósito. 

Seu mão desceu pelo caminho de sua barriga e seus dedos encontraram seu núcleo sedento por contato, circulando e pressionando, levando Wendy pras alturas, suas mãos enrolando-se nos cabelos dele enquanto suas bocas sugavam tudo um do outro. Ela não pode nem se preparar quando seu folego foi puxado bruscamente pelos dedos dele se enterrando tão profudamente que ela viu estrelas explodirem em suas pálpebras fechadas. 

— Tão linda. — ele sussurrou em sua orelha enquanto seus dedos trabalhavam empurrando e empurrando e empurrando até que ela se contorcesse de baixo dele. 

Peter segurou uma de suas coxas, abrindo mais suas pernas quando passou pela sua cintura e continuou seu trabalhando com os dedos. Wendy sentia todo prazer do mundo se acumular no seu ventre tentando achar uma brecha pra sair. Uma brecha que Peter Pan estava mais que satisfeito a dar. Seus dedos deixaram seu corpo e a doutora sentiu como se o vazio fosse grande demais pra suportar. Ela abriu os olhos, ofegando, só pra assistir o rei de joelhos na cama já sem sua calça conhecida de dormir. 

Por um segundo Wendy só o admirou em todo o seu poder, seus olhos verdes mais iluminados do que já estiveram desde que ela chegou, seu rosto sereno e um sorriso sacana pendurado ali, seu corpo nu trabalhado sem dúvidas pra guerra e seu membro pulsando livre, maior do que ela lembrava. Céus. 

Ela estava tão ferrada. 

Como um gato, ele voltou pra cima de seu corpo tão lentamente quanto podia, deixando sua rainha se contorcer em espera o máximo que conseguia. Peter voltou a olha-la nos olhos e sua expressão ficou tão séria quanto antes quando seus olhos repousaram no que ela carregava em seu pescoço, perto do coração. 

— A única mulher que eu quero é você, Wendy. — ele desceu sua boca pelo caminho da corrente de prata até o dedal, onde depositou um beijo suave. — Mais nenhum cheiro a não ser o seu. 

Peter segurou suas pernas enquanto descia sua boca na dela em mais um beijo que tomou tudo por onde passava. Seus dedos apertaram a carne das suas coxas e em um segundo ele se enterrou com força dentro dela, fazendo com que Wendy agarrasse suas costas e arranhasse com força o suficiente pra marcar. Os dois gemeram com a fusão não só de seus corpos, mas de suas almas que se reencontraram mesmo diante de todas as probabilidades contra. 

Seus corpos se moveram em sincronia, sempre sabendo como funcionavam juntos, mas nunca separados, chegando a libertação com a força de um raio. Forte e sem freio, derubando e queimando tudo em seu caminho. 

Naquela tarde cinzenta e melancólica, eles não sairam nem por um momento da cama. Continuaram e continuaram e continuaram a aprender de novo como poderiam achar o caminho de volta um pro outro, sem mais perdas, sem mais mentiras ou juramentos quebrados. 

E quando a noite chegou, Wendy conseguiu seu banho quente. Peter a carregou pra banheira e a tomou sobre o mármore, mal sentindo o frio da pedra. O jantar no salão reservado a familia e o ciclo intimo de Vossa Majestade aconteceu sem que o rei e a rainha estivessem presentes pelo simples fato de que Peter ainda estava longe de terminar seus assuntos com sua mulher. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ainda estarem aqui. Um chêro e até a próxima!



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