Pan-demonio escrita por GreeneMoon


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!
Demorei a postar, porém, to aqui e não vou desistir dessa fanfic, mesmo que o tempo esteja curtinho pra mim.

Espero que vocês curtam muito esse capítulo, porque eu curti e MUITO escrevê-lo. Pra mim é uma das partes mais importantes pra Wendy e pro Peter. Fora que vocês começam a descobrir os mistérios que rondam essa mudança do nosso menino-perdido.

Espero que gostem e não deixem de me falar o que acharam, hein?! :D



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Wendy Darling

“Eu ficarei com cada parte da culpa se você quiser
Mas você sabe que não tem nenhum inocente
Nesse jogo pra dois
Eu vou, eu vou e você vai, vai lá e vai dizer toda a verdade
Nós dois podemos dizer as palavras e esquecer isso?”
[Justin Bieber – Sorry]

As folhas secas, que caiam da árvore que se erguia acima de sua cabeça, machucavam seus pés. Ela estava caminhando por aquela trilha já tinha um bom tempo, procurando algo que nunca encontrava. Em sua mente, ela também tentava desvendar o mistério que rondava aquela caminhada incessante, mas não lhe vinha nenhum informativo, muito menos uma pista.

Apenas andava, andava e andava, mas nunca chegava a destino algum. Tampouco, sabia o propósito daquilo. Estava cansada, com sede e confusa, mas seu corpo parecia determinado a continuar sem pausas e sem desistências. Seus pés seguiam sempre em frente, mergulhando no caminho cheio de pedras e folhas cortantes que machucavam sua sola, afetando sua carne. Podia sentir a dor latejando, mas nem ela era o suficiente para que seu consciente parasse.

Começou a pensar que aquilo poderia ser obra de Peter, mais um de seus castigos ou um novo meio que encontrou de atormentá-la, porém, alguma coisa dentro de si dizia que tudo aquilo tinha a ver com seu menino-perdido, mas, ele não era o responsável por nada. Tentou culpar outra pessoa, Sininho, os guardas, mas a medida que ia adentrando a deserta floresta, seu coração pulava dentro do peito. Os sentimentos se tornavam confusos e intensos, eliminando qualquer culpado.

Estava com medo, mas também se sentia feliz. A sensação de estar prestes a encontrar alguém muito importante tomava conta de todo o seu interior, fazendo-a encarar toda a escuridão e as formas grotescas que as sombras das árvores lançavam sobre ela. Não se lembrava de sentir-se tão determinada em toda a sua vida, e nem de desbravar algo com tanta confiança como estava fazendo agora. Ela tinha tudo e permanecia querendo tudo, sem se importar com o que encontraria no final. Ou, até mesmo, se haveria um final.

Fora assim que a mente de Wendy Darling mergulhou tão profundamente em seu sonho que ele tornou-se real. Ela seguiu pelo caminho que lhe mostravam, sem sentir um pingo de desconfiança, nem pavor. Os pés machucados mantinham-na de pé e seus olhos atentos capturavam tudo que se revelava à sua frente.

O bosque estava imerso na escuridão, as árvores pareciam vivas e o caminho era cheio de espinhos que se grudavam no vestido que usava. O branco do tecido já havia se tornado marrom devido à poeira que o vento forte levantava e seus cabelos loiros já eram um emaranhado de fios embolados. Mas, ela não se importava. Nada importava naquele momento. Seu coração mantinha sua frequência cardíaca acelerada, mostrando que aquele era o destino certo a ser seguido e que algo de muito valor lhe esperava no final.

No entanto, quando sentiu seus pés afundarem em um chão instável, o pavor veio como um raio.

Seus olhos, antes petrificados em linha reta, saíram do seu estado de torpor e moveram-se por todas as direções. Observaram com afinco tudo que compunha o cenário e enviaram tão rapidamente a informação para seu cérebro que o mesmo acordou em um sobressalto. Estava presa em um sonho, caminhando por um bosque horripilante e tinha acabado de cair em uma grande poça de areia movediça.

O pânico gritou em sua cabeça, correndo por todos os cantos, apertando os botões de emergência para que soassem o alarme. Sirenes vermelhas começaram a zumbir em seus ouvidos, enquanto seus pés e seus braços começavam a se debater sem controle. Seu corpo estava reagindo para sair daquela situação, mas, quanto mais tentava sobreviver, mais sentia afundar-se na morte.

O chão a sugava para baixo, fazendo-a engolir grandes quantidades de areia molhada quando tentava gritar. Respirou fundo repetidas vezes, tentando capturar todo o ar que pudesse antes que afundasse por completo. Bateu mais os braços, tentando agarrar a borda que parecia tão longe, mas tudo que conseguiu foi soterrá-los. Suas pernas pareciam travadas, até que só lhe sobrou seu nariz, olhos e testa para fora. Chorou, fechando os olhos, sentindo o pânico tomar proporções enormes. Quis gritar mais uma vez, mas sabia que sufocaria se tentasse. Então, deixou que as lágrimas rolassem de seus olhos, mesclando-se com a poça que seria sua futura cova.

Pensou em seu fim. Ali, sozinha, em um mundo paralelo que não lhe era nem um pouco familiar, sentindo seu sistema nervoso implorar por um socorro que ela não podia lhe dar. Desesperada. Aflita. Nervosa. Ansiosa. E com a certeza de que se morresse agora, tudo estaria perdido. Existiam pessoas que dependiam dela, que depositavam sua esperança na pessoa que ela era. Não podia decepcioná-los, mesmo sabendo que eles não tinham a mínima noção do quanto ela se importava com aquilo. Tinha vivido muito tempo nas masmorras para sentir a fé deles. Fora aquilo que a tinha mantido lúcida durante todos os minutos torturantes.

Apertou os olhos quando a lama a sugou mais um pouco, até que seu nariz estivesse completamente imerso. Não conseguia respirar. Estava sufocando tão rápido quanto seu nervosismo crescia. Soltou um murmúrio sofrido, contentando-se com aquele mísero barulho. Queria gritar, mas não podia. Não conseguia. Queria Peter, mas ele não estava em lugar algum. Queria sua mãe, seus irmãos, seu pai. Mas, nunca mais voltaria a vê-los. Queria seus filhos, seus pequenos filhos que pareciam tão perdidos sem ela, mas, eles também não estavam por perto. Estava sozinha e completamente perdida na imensidão de sua mente, afundando para o seu destino final.

Ali, seu corpo descansaria enquanto sua alma se perderia, vagando pelos bosques, sem conhecer a paz eterna de que todos falavam.

“Wendy...”, escutou a voz na escuridão, abrindo os olhos imediatamente. “Wendy...”, aquela voz lhe parecia familiar. Ela era familiar. Porém, não conseguia processar de onde a conhecia. “Estou aqui em baixo.” Em baixo? O que havia em baixo? Não queria saber o que havia ali lhe esperando. A loira sentiu o pânico cravar as unhas em seu sistema nervoso fazendo todo o seu corpo sacudir em um espasmo. Aquilo fora a péssima decisão de toda a sua vida quando o chão lhe engoliu mais um pouco. “Não tenha medo, sou eu.”

Não sabia quem era. Não queria saber quem era. Estava apavorada com a possibilidade de haver alguém ou algo ali. Queria fugir. Queria correr. Não aguentava mais ter seu corpo imobilizado daquela forma não lhe dando a chance de lutar por sua vida. “Tenha calma. Você não vai afundar para a morte. Confie em mim.” Confiar em quem? De quem era a voz que sussurrava em sua mente? Por que ela lhe parecia tão familiar? Tão certa?

“Vamos Wendy, sou eu. Procure em seu coração e saberá”, ela não estava com tempo para aquilo. Não conseguia procurar nada em seu coração ensandecido. Estava completamente desesperada com as mil possibilidades que lhe passavam pela cabeça. “Feche os olhos e reconheça”, só então percebeu que estava com os olhos completamente esbugalhados. O pavor era tão grande que tinha desligado todas as funções básicas de seu corpo como piscar. Fora então que tentou concentrar-se em outro sentimento além do medo. Tentou reconhecer, como a voz havia lhe pedido.

Fechou os olhos, esperando outro sussurro ecoar em sua cabeça. “Wendy, estou aqui em baixo, preciso de você”. Preciso de você... Preciso de você... Preciso de você... A frase retumbou por seus ouvidos, inundando sua mente, fazendo-a lembrar de onde conhecia aquele timbre doce. Ela não havia associado à voz à figura, pois ele havia mudado muito. Tudo que ela conhecia daquele garoto não existia mais, e fora por isso que não o reconheceu imediatamente.

Era Peter. Peter estava soterrado pela lama, abaixo dela, implorando para que ela se acalmasse e se juntasse a ele. Quis sorrir quando seu coração voltou a bater regularmente, em paz ao saber que seu menino-perdido estava ao alcance de suas mãos. “Deixe que venha, Wendy, estou aqui te esperando”. Foi o suficiente para a doutora Darling amolecer seus músculos rígidos e deixar com que todo o seu corpo afundasse para dentro da lama escura.

Dois braços fortes abraçaram sua cintura, colando seu corpo ao dele, dando-lhe um conforto que nunca esperava sentir a beira de sua morte. “Lembre-se desse bosque, Wendy. Lembre-se do caminho, das folhas, das pedras, dos detalhes. Lembre-se que nada é o que parece e que abaixo da areia movediça existe algo lhe esperando.”, Wendy não entendeu o que Peter quis lhe dizer naquele momento, mas permaneceu em seu silêncio, sem nem mesmo pensar. “Estou aqui, preciso de você. Preciso que você me salve. Preciso que você me leve de volta para o Peter.”

O que? O que ele queria dizer com aquilo? Ele era o Peter, não era? Seu Peter doce e gentil, que sussurrava em seu ouvido com carinho e segurava sua cintura com delicadeza. Ele era o seu menino-perdido. Por que então dizia que precisava ser levado de volta?

“Você sabe quem eu sou. Sabe que o Peter que está te observando dormir nesse exato momento não está inteiro. Procure, Wendy. Nos procure e você o terá de volta.”

E sem que ela esperasse ou pudesse fazer qualquer pergunta, seus olhos abriram-se para o mundo.

Peter Pan

Estava ali fazia horas. Não conseguia despregar os olhos da imagem dela. Estava completamente imerso na beleza estonteante que ela exalava de todos os seus poros. Era bonita demais para ser real, perfeita demais para não ser perigosa.

Seus cabelos loiros estavam mais claros do que se lembrava, mas pareciam combinar perfeitamente com ela. Sua pele clara estava castigada pelos maus-tratos, mas ainda assim permanecia com a mesma doçura. Seu corpo inteiro parecia cansado, enquanto sua mente tentava curar-se da melhor maneira, descansando por tempo indeterminado.

Tinha sentido vontade de acordá-la inúmeras vezes naqueles dias. Queria ver seus olhos azuis grudarem-se nos dele, esperando uma brecha para se infiltrarem em sua alma. Queria ver sua expressão de deboche, ironia, raiva, amor. Queria ouvir sua voz, mesmo que ela só a usasse para lhe irritar mais ainda. Queria ver suas vontades espelhadas em suas íris, seus desejos tomarem posse de seu corpo. Queria brigar com ela, jogar palavras duras em sua direção só para vê-la transformá-las em poeira sobre seus pés. Queria odiá-la. Queria amá-la. Queria beijar sua boca até que ambos não conseguissem mais respirar.

Queria tanta coisa dela. Sentiu tanto medo de perdê-la uma segunda vez que não aguentava mais a espera. Estava completamente desesperado por uma migalha de sua atenção, de seu amor, de sua luxúria, de seu cuidado. Ele precisava de Wendy como um cego precisava de luz. Não importava tudo que o que tinham vivido no passado, nada daquilo parecia ter valor naquele momento. Tudo que ele queria estava deitada em sua cama, onde sempre deveria ter sido seu lugar. Tudo que ele precisava estava ali em cada centímetro daquele corpo.

Ele a amava e sempre soube daquilo. Até mesmo sua alma negra sabia que não podia renegar aquele amor. Ele era maior que tudo, mais poderoso que tudo, mais obstinado que tudo. E Peter não podia perdê-lo novamente. Não agora, não depois que tinha tido o gosto de estar com ela novamente. Ele não podia suportar o fato de deixá-la ir para qualquer lugar sem ele. Nunca mais.

Ela seria dele para sempre, querendo ou não.

O resfolegar assustado que veio da direção de Wendy o assustou por um momento. Ele observou calado enquanto ela levantava-se com rapidez, como se estivesse fugindo de um sonho ruim. Colocou a mão trêmula na cabeça, fechando os olhos, respirando fundo. Estava fraca e provavelmente zonza depois de acordar tão sobressaltada. Peter ergueu a sobrancelha, se perguntando o que poderia ter assustado tão profundamente sua mulher. Ela não era conhecida por ser a mais fácil para se colocar medo, ao contrário, ela era tão corajosa que o irritava. No entanto, naquele momento, ela estava ainda mais pálida do que antes. Aquilo o preocupou, e não podendo segurar a vontade de saber se ela estava bem, perguntou acidamente:

– Sonho ruim, querida?

Ela não lhe respondeu de imediato. Seus olhos percorreram lentamente todo o quarto, absorvendo todos os detalhes, antes de cravarem-se nele. A explosão de sentimentos que Peter viu desenrolar-se naquelas poças azuis o fez bambear por alguns instantes. Dor. Decepção. Raiva. Tristeza. Dúvida. Amor. Desejo. Vontade. Paixão. Tudo de uma vez só. Era impossível distinguir qual era mais forte e mais predominante ali.

Tentou sugar um pouco de ar para seus pulmões vazios da maneira mais discreta que conseguiu. Não podia deixar transparecer o quanto estava fraco diante daquele olhar. Apesar de ter decidido dar uma trégua na guerra que travavam desde o dia em que Wendy colocou os pés novamente na Terra do Nunca, ele sentia que demonstrar a fraqueza que ela lhe provocava, seria entregar o jogo de bandeja.

Fora por isso que ele se manteve calado, enquanto ela analisava todos os recantos de seus aposentos.

– Então este é o seu quarto? – sua voz fraca soou pelo ambiente, despertando as melhores e piores sensações dentro de Peter. Ele lutou bravamente para não fechar os olhos e apreciar os leves tremores que transpassavam seu corpo. – Majestoso como você, meu rei.

A ironia era explícita na voz de Wendy. Peter desejou envolver suas mãos no pescoço dela e sufocá-la um pouco só pelo prazer de ver seus olhos esbugalharem pela falta de ar. Ela lhe despertava as vontades mais sombrias e os desejos mais carnais. E, ao mesmo tempo, fazia com que seu coração despejasse uma ternura tão grande que tinha raiva de si mesmo por isso.

– Preferia as masmorras? – a ameaça saiu naturalmente. Ele não tinha a intenção de fazê-la pensar que poderia voltar para lá a qualquer momento, mas, a mulher tinha a capacidade de lhe tirar do sério apenas com algumas palavras inocentes.

– Apesar de ter adorado a minha estadia por lá, eu gosto mais dos lençóis de seda e da certeza de que não vou morrer a qualquer momento. – um sorriso lento cresceu pelo canto dos lábios dela, deixando-a ainda mais bonita. O coração de Peter Pan falhou duas batidas quando seus olhos azuis espelharam o mesmo sorriso travesso. Ela podia não estar nos seus melhores dias, mas, Deus! Ela conseguia levá-lo a loucura da mesma maneira.

– Eu poderia dizer que fico feliz por se sentir segura, mas acho que você já sabe que posso ser milhões de vezes mais perigoso que seus antigos carcereiros. – deixou que seu corpo fizesse o trajeto que ansiava desde o primeiro momento. Quando chegou a beirada da cama, ergueu os dedos, acariciando levemente o pé de Wendy. Sentiu que ela estremecia com seu toque, enquanto fechava os olhos em apreciação.

– Situações diferentes, Peter. – disse, abrindo os olhos para encará-lo novamente. O desafio que ela lhe lançava apenas com o olhar era tão irritante quanto excitante. – Com você eu sei lidar.

O sorriso que desabrochou nos lábios de Peter Pan foi involuntário. Ele nem ao menos soube reconhecer o que aquele mecanismo significava naquela altura de sua vida até que os olhos de Wendy Darling brilharam em sua direção. Não soube como parar aquilo que crescia dentro dele, e nem ao menos sentiu a fagulha negra eriçar seus pelos. Sua sombra estava tão afastada dele naquele momento que tudo que lhe restara era aquele sentimento bom de estar se sentindo completo.

Aquilo só lhe deu mais certeza de que Wendy nunca mais poderia deixá-lo. Se, por um acaso do destino, ela resolvesse que Peter não era indispensável em sua vida e partisse, ele sentia que não lhe sobraria mais nada. Ele não sentiria mais nada. Nem uma pontinha de vontade de permanecer vivo.

Aquele era o problema do amor. Quando o conhece, ele se torna tão importante que sem ele nada tem o mesmo sabor. Nem mesmo a vida.

– Tenho algumas regras para você. – sua voz saiu firme e madura. Um tremor gelado percorreu seu corpo, inundando suas veias de gelo. Sabia que sua sombra estava mais perto agora, transformando-o no que ele estava acostumado a ser: impenetrável. – E você vai ter que obedecê-las, Wendy.

Os olhos azuis dela semicerraram-se em sua direção lhe dizendo que ela não estava feliz por escutar aquilo. E que, definitivamente, ela não iria cooperar com nada que ele estava disposto a lhe impor.

No entanto, aquilo não era novidade para Peter. Wendy nunca teve aptidão para seguir regras, muito menos aquelas que ele sabia que ela não iria gostar.

– E que regras seriam essas? – perguntou. Sua voz doce fazendo cócegas nos ouvidos carentes dele. Ajeitou o corpo de forma confortável, recostando-se sobre os enormes travesseiros, assumindo um ar despreocupado.

– A partir de hoje você fica aqui, no meu quarto. Você comerá como uma rainha, se vestirá como uma rainha, descansará como uma rainha e assumirá todos os deveres que uma rainha tem que ter. – as sobrancelhas dela ergueram-se imediatamente à medida que ele recitava seus pontos. Sabia o quanto ela estava achando complexo todo àquela situação. Ele mesmo estava pensando exatamente aquilo. – Você assumirá seu lugar de direito ao meu lado.

Um sorriso pequeno adornou os lábios pálidos dela. Sabia o que ela estava pensando naquele momento, mas preferia não se concentrar naquilo. Ele provavelmente se irritaria com ela antes mesmo de terminar o que tinha a dizer. Por isso, tornou a falar:

– Você participará dos bailes, dos jantares e de todo evento social que for feito dentro e fora desse castelo. – ele ajeitou a camisa de linho puro que estava usando, antes de terminar seu discurso. Sabia que a pior parte estava por vir e não queria estar ali quando a loira surtasse. – Você assumirá o seu papel de minha mulher. No entanto, nunca mais poderá voltar ao seu mundo. Nem mesmo uma visita. Qualquer tentativa que fizer para tentar burlar essa lei terá preços altos. Pessoas sofrerão por consequência as suas negligencias, Wendy, assim como também morrerão caso você tente fugir. – podia sentir a tensão que assolou todos os músculos da doutora Darling de longe. Sua boca estava ligeiramente aberta e seus olhos saltavam para fora. Ela não acreditava no que estava ouvindo. – Nunca mais deixará a Terra do Nunca, nem seus filhos e muito menos seu marido. Diga adeus em pensamento para todos aqueles que ficaram, pois essa agora é a sua realidade.

Com isso, ele virou-se para a grande porta dupla de marfim maciço e caminhou lentamente, deixando a imagem de sua mulher para trás. Abriu a porta, dando passagem para o elfo-enfermeiro passar e deixou os aposentos sabendo que quando voltasse encontraria uma Wendy tão possessa quanto o próprio demônio.

Sininho

Estava preocupada. Desde o incidente com Wendy nas masmorras, Peter havia se trancado em seu mundo, sem lhe dar nem uma ligeira atenção. Todas as suas tentativas e investidas foram descartadas com um simples olhar.

Seu coração estava partido em diversas partes minúsculas e continuava se partindo todas as vezes que o encontrava absorto na imagem adormecida de sua inimiga. Ele parecia ver algo tão extraordinário nela que era impossível competir até mesmo quando ela não estava consciente. Não entendia como aquilo poderia ser possível. Como, mesmo depois de tudo, Peter ainda continuava tão irremediavelmente apaixonado por Wendy. Ela havia o deixado, estraçalhado seu coração e, ainda sim, ele a queria com todas as suas forças.

Era como o inseto que sabia que morreria se chegasse perto de mais da luz, mas, mesmo assim, insistia em provar daquele caminho.

A raiva que consumia a alma de Sininho era tão negra quanto seus pensamentos destinados a Wendy. Ela já tinha feito de tudo para eliminar aquela pedra em seu sapato, mas nada havia resolvido. Nem mesmo o veneno que inundou o sangue da doutora quando era mais nova, tinha a levado para longe de sua vida com seu amado. Peter era de Sininho por direito. Ela tinha chegado primeiro, ela tinha estado com ele nos altos e nos baixos. Como ele poderia não ver que ela era o seu encaixe perfeito? Como ele não enxergava que foram feitos um para o outro? Quantos sacrifícios a mais Sininho teria que fazer para que ele fosse dela?

Já tinha feito de tudo. Tinha até mesmo procurado ajuda na magia negra, obrigada a exterminar toda e qualquer fada que se opusesse aquilo, só para tê-lo. Tinha desfragmentado suas almas prepotentes, trancafiando cada uma delas em lugares específicos, apenas para ficar com a alma de Peter que sabia que ela era a mulher perfeita para ele. Então, o que havia dado errado? Por que a alma negra dele não expulsava Wendy Darling daqui ou simplesmente não a matava? Por que, novamente, ela não era a escolhida?

Odiava ser rebaixada toda vez que a maldita bucaneira estava presente. Odiava não ser páreo para a maldita mulher. A odiava com todas as suas forças a ponto de criar uma nova guerra só para vê-la sendo exterminada junto com seus filhos idiotas.

Fora ali que a ideia lhe ocorreu. Guerra. Mortes. Desesperança. Wendy eliminada para sempre. Tudo aquilo lhe remetia a uma equação fácil e simples, onde o resultado era agradável aos seus olhos. Onde ele tinha um nome e um sobrenome: James P. Hook, mais conhecido como Capitão Gancho.

O sorriso lento e perverso desabrochou nos lábios de Sininho ao constatar que ninguém havia feito às honras de avisar ao famoso Capitão que sua doce bucaneira Dill estava de volta. Conhecendo-o como conhecia, sabia que ele desbravaria mares e terras apenas para vê-la. Não sabia por que, mas Wendy Darling despertava nos homens importantes a sua volta uma paixão irremediável, e com o Capitão Gancho não fora diferente.

Quando ele colocou os olhos na pequena garota que acompanhava Peter Pan em suas viagens pelo céu, caiu de joelhos como um prisioneiro diante de seu julgamento. Ao passar dos anos, vendo Wendy amadurecer e crescer cada vez mais, desafiando-o de maneiras incontáveis, James não pode segurar seu amor. Sabia que era errado, sabia que era obsessivo, mas ele queria aquela garota para si, para lhe contar histórias sobre princesas e piratas, assim como ela fazia com Peter Pan.

Sininho sabia que Gancho viria de onde fosse se o nome de Wendy fosse citado. A obsessão dele pela mulher era tão grande quanto à obsessão de Peter. Fora por isso que a guerra entre eles se tornou tão pessoal. Wendy sempre fora o motivo, apesar de Sininho saber toda a verdade que rondava a relação de ódio do Capitão e do menino-que-sabia-voar.

Não que ela fosse contar a eles, o que era óbvio. Era tão mais divertido saber que tentavam se matar por uma mulher que havia os abandonado sem nem pestanejar, que estragar aquilo parecia injusto.

Caminhou até sua cama e jogou seu corpo no colchão fofo. O sorriso malicioso ainda brincava em seus lábios quando um último pensamento lhe ocorreu: se Peter não seria dela por bem, ela o teria por mal.


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Notas finais do capítulo

E é isso!

Super beijo em todos e até a próxima :D

Temos um grupo no facebook onde eu posto alguns spoilers (SIM, SPOILERS!) e informações sobre a fic: https://www.facebook.com/groups/1663278313918672/ Entrem lá! ;)