The Little Girl escrita por Swimmer


Capítulo 1
Surprise!




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Faltavam alguns minutos para fecharem o metrô. O garoto se apressou até o banheiro, será que ainda podia se chamar de garoto? Bom, tinha vinte e cinco anos, mas não se sentia um adulto.

Abriu a porta do banheiro e abriu uma das torneiras. Ele tinha acabado de matar um monstro que por algum motivo expelira uma gosma verde nojenta em seu braço antes de sumir.

Lavou as mãos e estava se preparando pra ir embora quando uma voz familiar o impediu.

-Nico! – chamou Hazel – Onde esteve? Por que não me deu notícias? Eu fiquei tão preocupada...

-Por que foi mesmo que eu te ensinei a mandar Mensagem de Íris?

-Você não respondeu minha pergunta.

A versão adulta da garota que ele tirara do mundo inferior era impressionante. Hazel tinha se mudado para um apartamento em Manhattan com Frank a apenas um ano e ele havia de fato ignorado as ligações, mensagens, o semideus que ela havia mandado e até o fantasma. Não fizera por mal, a irmã deveria aprender a não se preocupar tanto. Nico tinha avisado que iria ajudar no acampamento.

-Vamos lá, mana, como estão as coisas? – ele disse sorrindo.

A morena fez esforço para parecer irritada mas sorriu de volta, estava claramente animada. Alguém bateu na porta e ela foi atender. Ela estava descalça, usava uma calça jeans e uma blusa roxa de manga longa.

Quem tinha batido na porta era Frank, trazia um pano de prato nos ombros – devia estar fazendo o jantar – e uma faca numa das mãos, olhou dentro do cômodo como se esperasse encontrar alguém. Quando viu Nico a expressão suavizou e ele guardou a faca no cinto.

-Hey, cara! – disse e se virou para Hazel. – Está falando com seu irmão no banheiro?

-Não é como se desse pra fazer um arco-íris na sala – ela riu. – Eu já vou, tudo bem?

-Na verdade pode demorar... bastante – ele fechou a porta.

Nico ergueu uma das sobrancelhas para a garota.

-Ele provavelmente deixou nosso jantar queima.

-E então, pode me dizer o motivo de estar gastando seu tempo me mandando mensagens enquanto deveria estar lá com seu namorado?

Ela prendeu o cabelo pro alto antes de continuar.

-Será que pode dar uma passada aqui? Tipo hoje? Perdeu muita coisa me ignorando nesse tempo, seu idiota!

Ele não a ignorara, não de fato. Haviam se falado por telefone, mas ele evitara encontrar a irmã.

-Ok, ok. Vou ignorar o fato de ser oito da noite e eu estar cheio de poeira de monstro. Estou aí em meia hora.

Hazel sorriu pra ele e começou a dizer um “vejo você” quando ele passou a mão pelo arco-íris e o mesmo sumiu.

O apartamento continuava como ele tinha deixado. O que significava uma bagunça. Não queria aceitar a oferta de Hades no começo mas ele insistiu tanto que Nico deixou que comprasse logo o apartamento. De onde o dinheiro vinha, preferia não saber.

Perséfone tinha decorado o lugar. Ainda que nenhum dos dois admitisse, o relacionamento dele com a madrasta havia melhorado muito nos últimos anos.

A decoração era bem minimalista, as paredes brancas e os objetos pretos e vermelhos. Sem falar das flores, elas estavam por todo lado, e não importava o que fizesse ou o quanto tentasse, aparentemente seu poder sobre a morte não era páreo para a magia de Perséfone, aquelas flores estavam lá há anos e continuavam lindas. Ele perdera a conta de quantas vezes jogara os vasos no lixo para se virar e vê-los lá novamente.

A sala de estar estava até limpa em relação ao resto da casa. As almofadas estavam no chão e havia pratos na mesa de centro, mas quando chegou à cozinha encontrou uma caixa de pizza que fedia a animal morto. Ignorou a imensa pilha de louça e foi para o quarto.

-Eu definitivamente preciso de uma faxineira – falou para si mesmo.

Colocou uma música alta e caminhou entre as peças de roupa e embalagens de salgadinho até a cama. Vasculhou a pilha de roupas – ele realmente não sabia se estavam limpas ou sujas – até encontrar uma toalha e foi para o banheiro.

Não aparecia no apartamento há um mês. Nico lembrou que deveria ter entrado pela portaria para manter as aparências de alguém realmente morava ali.

Secou o cabelo com a toalha e voltou para o quarto. Encontrou uma calça jeans e uma camiseta verde que não estavam fedendo e as vestiu. Passou uns dez minutos procurando um par de sapatos e quando finalmente achou, se lembrou que nem ao menos sabia onde Hazel morava.

Nico fechou os olhos e se concentrou. Quando abriu novamente a forma translúcida de uma mulher o encarava de braços cruzados com expressão irritada. O garoto sorriu ao vê-la.

-Como vão as coisas, Catarina? – perguntou sorrindo.

-Bem mortas, por sinal. Sempre que me chama quer alguma coisa – ela o fitou e ele não pode deixar de sorrir. – O que quer dessa vez?

Outros não poderiam ver fantasmas com clareza. Por ser filho de Hades ele podia vê-la muito bem. Ela usava um vestido branco e tinha os cabelos enrolados presos pra trás.

-Fale logo, menino – disse ela, o sotaque espanhol transparecendo na voz.

Ele havia conhecido a mulher – ou pelo menos o fantasma dela – numa das vezes que fugia de Deméter. Tinha ido dar uma volta para passar pelo menos alguns minutos sem ouvir alguém dizer que deveria comer mais.

Tinha encontrado ela colhendo algumas plantas fantasmagóricas nos Campos Asfódelos, ele nem sabia que haviam plantas lá, com exceção das árvores sem vida. Hades tinha jurado que não sabia de nada, que não havia a menor possibilidade de Catarina ser filha dele. Provavelmente mentira, a mulher havia morrido logo após o fim da Primeira Guerra Mundial.

-Preciso achar um cartão roxo com o endereço da minha irmã, mas não faço ideia de onde possa estar – ele disse.

-Sabia. Como consegue viver aqui, menino? Posso sentir o cheiro de suas meias sujas e olhe que eu nem consigo sentir cheiros! – a mulher começou a andar pelo quarto, era estranho já que não dava pra ver os pés dela.

Ele não morava ali o tempo todo, mas não disse isso porque nunca encontraria o cartão sozinho. Catarina conseguia mover objetos mesmo estando morta. É, isso apontava para Hades com um sinalizador.

Nico sorriu e começou a jogar as coisas de um lado pro outro em busca do pequeno cartão. Ele jurava que não era possível deixar o quarto mais bagunçado do que já estava e ficou surpreso a constatar que estava bem pior antes de ir para sala. Encarou o próprio reflexo no espelho, a barba por fazer e olheiras começando a aparecer. O maldito papel também não estava nos vasos de plantas.

Estava quase desistindo e ligando para Hazel quando Catarina surgiu do seu lado com um papel dobrado na mão.

-Onde estava? – ele perguntou.

-Dentro de uma calça na lavanderia – a mulher disse entregando o papel amassado.

Ele nem lembrava que tinha uma lavanderia. Realmente deveria passar mais tempo no apartamento. Pegou o papel e leu o endereço, não fazia a mínima ideia de onde ficava, teria que pegar um táxi.

-Obrigado, Catarina.

Ele pegou a carteira de cima do sofá e saiu correndo para o elevador.

No caminho até o apartamento de Hazel e Frank ele ficou impressionado com o fato de nenhum monstro ter aparecido. Com o passar dos anos os monstros começaram a aparecer cada vez mais, tinha ficado muito chato vê-los toda vez que deixava o mundo inferior.

Quem abriu a porta do apartamento foi Frank, que sorriu e o cumprimentou. Logo depois Hazel apareceu e correu para abraçá-lo.

-Se sumir assim de novo mando você para Plutão e vou me garantir que não volte – disse ela dando um tapa no braço dele.

Ele se sentou no sofá e esperou que o casal voltasse, Frank trouxe três garrafas de cerveja, entregou uma para ele, outra para Hazel e ficou com a última.

Ficaram um bom tempo conversando, mas pelos movimentos das mãos de Hazel, e Frank, que ficava passando as mãos no cabelo, Nico sabia que estavam escondendo algo.

-Então, o que temos pro jantar? – perguntou ele numa tentativa fazê-los começar a falar logo.

-Mc Lanche Feliz - Hazel sorriu. Ela gargalhou quando Nico ergueu a cabeça rapidamente. – Brincadeira. Fiz lasanha.

Isso era definitivamente estranho, a irmã sabia que ele se lembrava de quando a mãe cozinhava isso para ele e Bianca, mas jantaram normalmente. Hazel estava tralhando numa joalheria – muita ironia – e Frank ensinava artes marciais numa academia – mais ironia ainda.

Ah, e, claro, eles eram responsáveis por ficar de olho em alguns campistas de ambos os acampamentos que moravam no andar de baixo. Quando ele tentou dizer algo sobre isso Frank garantiu que eles estavam no Acampamento Meio-Sangue no momento.

-Hazel, me desculpe por ter evitado vocês... e todo mundo, por tanto tempo. Eu só – ele parou para ouvir – Isso foi um choro de bebê?

Hazel e Frank se entreolharam. Frank levantou uma sobrancelha, deu um meio sorriso, um tapinha na perna da namorada e saiu em direção ao barulho.

Nico devia estar com uma expressão muito surpresa, porque a tensão da irmã até diminuiu um pouco quando ela riu.

-Calma, Nico, não é um ataque ou uma exibição das suas fotos de bebê.

A irmã o tinha acompanhado numa busca por qualquer coisa sobre a mãe logo após a guerra contra Gaia. Encontraram uma antiga amiga que tinha uma caixa com fotos. Entre elas fotos que realmente valiam a pena o esforço e fotos que ele não gostaria de compartilhar com ninguém, era vergonhoso. E Hazel fazia questão de rir dele.

-Okay. No seu “tempo sozinho” muitas coisas aconteceram. E entre elas... bom, Frank e eu nos casamos, mas só no papel e... – ela sorriu.

Frank voltou carregando uma mini versão de Hazel nos braços. Sério, a menina devia ter uns dois anos, mas era uma versão compacta da mãe. Pelo menos era o que supunha. Pensar na garotinha que conhecera sendo mãe só serviu para fazê-lo abrir ainda mais a boca, incapaz de falar.

-Mama! – gritou a menininha, feliz, estendendo os bracinhos vestidos de rosa claro para Hazel.

Hazel pegou-a no colo e beijou a testa da garotinha.

-Nico, essa é Marie. Marie, diga oi pro titio Nico.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar e dizer o que acharam.
A ideia veio da imagem da capa.
Se for bem aceita, pretendo postar a história uma vez por semana, provavelmente no fim de semana.
Bjs ♥