28 de Janeiro

Cemitério de Ferncliff

11h57min Da manhã

Eu já não conseguia mais chorar, não tinha mais forças para falar, para fazer nada, a única coisa que sentia é a dor, a dor de saber que eu nunca mais vou ver Nico, a dor de nunca mais sentir seu abraço, seu beijo, de ver seu sorriso, de ouvir sua voz, de saber que é minha culpa por ele estar morto.

Minha estupidez.

Meu erro.

Minha culpa.

Eu causei sofrimento de Hazel e o meu, causei a morte do meu namorado, causei a morte de Nico.

Agora, aqui no funeral dele, eu não consigo me livrar da sensação de vazio, de querer voltar no tempo e consertar meu erro, mas isso nunca vai acontecer, o tempo nunca volta mesmo nós quando queremos muito que isso aconteça.

Todos estavam ali, para nós despedimos dele, mas isso nem é um funeral correto, já que a única coisa que ia ser enterrada é um caixão, um caixão vazio.

O corpo de Nico não fora encontrado, mas a policia nos falou que o tamanho da batida e o tanto de sangue no local, era impossível ele estar vivo.

Impossível ele estar vivo.... impossível ele estar vivo... eu sei que ele não vai voltar, mas lá no fundo eu ainda tinha esperança,

Como dizem, a esperançaé a última a morrer, e não podiam estar mais certos, o ser humano sempre vai ter esperança, de algo mudar para melhor, mesmo sendo impossível que aconteça.

Passei os olhos pelas pessoas ali presentes, os pais de Nico, Hades e Maria, ela estava chorando muito enquanto seu marido a abraça tentando a conforta, mas se via em seus olhos um imenso sofrimento, mais uma porção de pessoas, parentes, amigos e muitos outros que eu nem sabia o nome, até que parei em Hazel, elanão estava com os pais, mas sim com Piper e Annabeth, Hazel chorava enquanto elas tentavam acalma-la.

Era duro para ela, já que era o segundo irmão que ela enterrava, me pergunto se um dia ela vai me perduar.

Senti algo bater na minha perna, quando abaxei o olhar vi um pequeno aviãozinho caido no chão, pequei-o na mão com um movimento rápido.

Ele foi dobrado cuidadosamente em sua lateral estava escrito;

Abra.

Em um impulso fiz o que foi mandado, mesmo sem saber o porquê de obedece-lo.

Ao abri-lo me surpreendi vendo que invés de ser um papel em branco, havia uma mensagem impressa.

Sabe eu sempre gostei da família Di Angelo, mas nunca dos filhos; Nico, Bianca, Hazel, pelo menos dois já se foram.

Ps. Formamos uma boa dupla, mas da próxima vez você corta os freios.

–A

Uma raiva explodiu em meu peito, e como consequência acabei por rasgar o papel, quanto mais rasgava mais a raiva aumentava, até sobrar apenas migalhas na minha mão.

Minha visão embaçou com as lágrimas que queriam cair, mas não deixei caírem, pois sabia que se começasse a chorar não pararia mais.

–Fatality liquefatto– Sussurrou uma voz a minha direita que como o lugar estava silencioso, escutei perfeitamente.

Me virei me deparando com Malcolm, ele e eu fazíamos duas aulas juntos, português e química juntos, pelo que sabia ele e Nico não eram amigos, mas muitos alunos do Colégio estava ali nem chegavam a serem colegas.

Malcolm estava com os olhos vidrados no caixão, ele não estava lá antes devia ter chegado a pouco tempo, pisquei para fazer as lagrimas sumirem eguardei rapidamente os papeis no bolso esperando que ele não tenha visto nada.

– O que disse? – perguntei, sem ter entendido o que ele falava.

– Fatality liquefatto– ele disse, mesmo assim não me olhava, continuava com seu olhar recaído no caixão com uma expressão vazia no rosto.

– O que é isso? – Falei mesmo não estando interessada no que ele dizia, mas preferia me concentrar em outras coisas em vez de pensar em quanto erros cometi ou pensar no papel que -A tinha me mandado.

– É italiano, significa fatalidade liquefeita- ele parou por um minuto, parecia perdido com uma lembrança - é um ditado antigo da minha família, meu irmão ditava muito ele, como meu pai, principalmente em momentos de dificuldade, mas isso foi antes que eles... – sua voz morreu e finalmente ele acordou do seu transe e me olhou, reparando no que falava.

– O que aconteceu com eles? – perguntei e ele abriu um pequeno sorriso melancólico.

– Bom... – ele se deteve em segundo se perguntando se me contava ou não -eles morreram... por isso não gosto de cemitérios, me fazem lembrar deles...

– Sinto muito... – falei, mesmo sabendo que “sinto muito” é algo muito vazio de se falar, já na maioria das vezes a pessoa não sentia de verdade, mas não sabia o que responder – de verdade.

– Tudo bem, foi há muito tempo – ele disse e voltou novamente a sua atenção para o caixão de Nico - sei como é perder alguém Thalia, e por isso saiba que vou achar quem o motorista e o farei pagar perante a lei, prometo a você.

– Obrigada... - falei grata a ele, mesmo sabendo que o verdadeiro assassino ainda estaria por ai.

Não falei com ele o resto do enterro, nem ele disse uma única palavra, o que me fez voltar a refletir.

Ver como provoquei tanta desgraça em tanta gente, o papel de -A parecia pesar no meu bolso, me sentia despedaçada de acordo enquanto a dor por ele só aumentava.

Não me lembro de nada depois, entorpecida pela dor e pelas lembranças que imundavam meus pensamentos.

Devia ter chovido, pois quando cheguei em casa minha roupa e meu cabelo estava molhados, mas nem fiz questão de me trocar.

Me tranquei no quarto e fiz a única coisa não me permiti o dia todo, chorei por horas, ou a noite toda, não sei, mas enquanto chorava fiz um juramento a mim mesma que ia fazer vingança, não contra o motorista do ônibus como Malcolm disse que faria, mas sim uma vingança a –A, ou mascarado ou demônio vermelho, tanto faz, o faria sofrer quem quer que ele fosse, nem que fosse a altima coisa que eu faça.

Continua...