Amélie se foi em uma noite vazia de quinta feira. O estéreo reproduzia uma música qualquer quando explodiu seus miolos, deixando-os para todo o sempre. Todavia, ninguém importou-se com isso ao perscrutar sua carta de suicídio de apenas duas palavras rabiscadas em uma caligrafia infantil. Um par de óculos em formato de coração poderiam ser observados em seus olhos opacos que nunca mais voltariam a ver o mundo uma outra vez. As palavras que para sempre corroeriam as mentes de sua família foram encontradas no bolso de seu casaco, escritas com canetinhas coloridas em momentos de completo desespero. Elas apenas continuariam ali, eternizadas para todo o sempre com a menina das madeixas douradas e seu sorriso camuflado. Ela estaria a esperá-los em algum lugar do tempo enquanto cantarolava alguma música do Bowie e sussurrava os nomes dos seus vinis furtados de uma lojinha para o garoto do posto de gasolina na esquina. Ela estaria falando com o menino dos cabelos da cor de limões sicilianos ao observar-lhe contando algumas dezenas de piadas sem graça alguma. Talvez o amor fosse mesmo isso, porém nada realmente lhe importou. Mas não foi sua culpa, nunca é. A culpa foi apenas dela. Tudo bem.