Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 30
Vinte e nove – Novembro.


Notas iniciais do capítulo

Hey, galera!!
Eu não morri, tá. To aqui kkkk e sei que dei uma sumida, mas culpem a faculdade, minha preguiça... rsrs... MASSSSS to aqui, e vim postar os dois últimos capítulos. :D :D
Boa leitura.
Bem vindos pessoal novo!!!



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Vinte e nove – Novembro.

Noah

Abri os olhos devagar quando escutei a porta se abrir, o barulho dos passos dele se aproximando e o maldito perfume me deixando enjoado. Me abracei, achando que assim poderia me proteger dele.

— Trouxe o café da manhã. – falou com um sorriso, mas me limitei a encostar minha cabeça na parede.

Estava sentado no fundo do quarto, no chão, com o frio se infiltrando nos meus ossos fazendo meu corpo tremer e minhas juntas latejar.

O homem colocou a bandeja com comida a minha frente, observei de canto de olho o que ele havia trazido. Uma maçã, pão e suco. Uma parte minha quis comer aquilo ao passo que a outra apenas me empertigou para frente, me fazendo vomitar. Segurei minha barriga enquanto vomitava e o homem afastava a bandeja para que ela não fosse atingida.

— Oh. O que há de errado com você? – e colocou a mão na minha costa, mas eu me afastei.

Fechei os olhos e voltei a me encostar na parede e como não respondi, ele voltou a falar:

— Está doente? – não parecia realmente preocupado, era como se ele já esperasse por isso, estava apenas decepcionado por meu tempo estar acabando. Ele se aproximou de novo e tocou minha testa. – Está com febre. – constatou e abri meus olhos parcialmente.

Seus olhos avelã estavam pensativos, como se estivesse ponderando sobre o que poderia estar me deixando desse jeito.

— Deixe-me ver... – ele se aproximou de novo e puxou minha camisa para cima.

No meu delírio de febre, achei que ele tentaria abusar de mim por isso tentei o afastar, mas ele segurou minhas mãos e observou minha barriga.

— É uma pena, – falou e soltou minhas mãos. – mas você vai morrer. – então se afastou. – A ferida na sua barriga está infeccionada. – explicou. – e não há nada que eu possa fazer.

Não há nada que você queira fazer, corrigi mentalmente.

Então ele sorriu pra mim.

— Temos que fazer uma despedida, não é? – se aproximou de novo, segurou meu queixo e me beijou. Depois me soltou e vi quando ele enfiou a mão no bolso da sua calça e retirou dali uma seringa. – Trouxe um presentinho para você. – ele puxou meu braço e enfiou a agulha na minha veia e tudo a minha volta não fez mais sentido.

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Will

— Foi uma surpresa quando me fez esse convite. – Maya disse e logo em seguida bebeu um gole do seu leite.

Diferente de mim, Maya não gostava de café. Ela preferia coisas mais leves como sucos, chás e leite. Nada de café. Maya achava que café era muito forte e o gosto amargo não a atraia. O que era bem diferente do irmão. Noah gostava de café, principalmente puro. Ele tinha uma teoria maluca de que café puro o tornava mais forte. Coisas que apenas Noah acreditava. Mas eu sabia que o garoto só gostava de café por causa do pai. Mike era igualmente viciado em café e Noah admirava o pai o suficiente para querer ser como ele.

— Achei que você gostaria de ir. – falei e olhei para o lado, para o movimento na rua.

Havia um garoto parado em frente a uma loja de CDs, de costas pra mim e com o cabelo castanho bagunçado. Por um momento pensei que pudesse ser ele e meu coração se apertou quando meu lado racional, disse que não era possível.

Eu tinha convidado Maya para ser meu par no baile de formatura em Dickson depois que Emma me disse que levaria Bianca e como Manu iria com Josh e ninguém além de Matt quis ir comigo, decidi convidar Maya, o que facilitava muito já que ambos morávamos em Los Angeles.

No começo de outubro eu tinha prestado vestibular para uma das faculdades em Los Angeles e acabei passando, foi assim que no meio de outubro me mudei para Los Angeles sob os protestos dos meus pais e ingressei na faculdade. Los Angeles não era minha primeira escolha quando pensei em faculdades, mas era Los Angeles. Era a cidade dele. Era o lugar que continha um pedaço da sua vida e eu não podia evitar procurar detalhes dele por aí. Acho que esse foi o grande motivo por trás do convite para que Maya fosse meu par.

— Sinto muito por ser um péssimo prêmio de consolo. – Maya disse e a fitei meio confuso, mas percebi que ela estava olhando para o mesmo lugar que eu. – Sei que sente falta dele.

— Você não é um prêmio de consolo.

Maya me ofereceu um sorriso triste como se não acreditasse no que eu estava dizendo. Mas eu não podia culpa-la, quando nem eu acreditava.

Ficamos um tempo em silêncio. Beberiquei meu café sem nenhum entusiasmo ao mesmo tempo que Maya bebia seu leite.

— Bom, que tal irmos escolher nossos trajes? –soltou.

— Agora? – perguntei e olhei o horário no meu relógio de pulso. Teria que está no meu apartamento as 18hs para receber o sofá que tinha comprado.

— É. Mas você tem algum compromisso?

Ainda eram 16hs. Acho que não ia demorar muito para escolher um terno e um vestido.

— Não, não. – me levantei. – Vamos.

Maya sorriu. Parecia mais alegre agora. Ela segurou minha mão depois que pagamos a conta e então pegamos um táxi para o centro da cidade, onde havia mais lojas. Eu tinha vendido meu carro para poder conseguir dinheiro para alugar um apartamento em LA e agora eu era refém de táxis e ônibus, o que era bem chato. Mas a faculdade era legal e as pessoas de LA era bem diferentes das de Dickson. Não havia tanto julgamento aqui, do jeito que havia em Dickson. E eu gostava disso, gostava da individualidade das pessoas da cidade grande.

— Ah! Olha pra isso! – Maya exclamou animada demais quando entramos em uma loja de roupas e ela se encantou por um que havia na vitrine.

— É bonito. – falei apenas por falar mesmo e observei quando a morena pegou vestido e foi para o provador.

Andei pela loja a procura de ternos enquanto Maya experimentava o vestido. E enquanto procurava aproveitei para fazer umas contas mentalmente. Se quiséssemos chegar em Dickson a tempo do baile, teríamos que embarcar no avião amanhã à tarde, então chegaríamos lá pela parte da tarde e iriamos para o baile a noite. Ia ser bem cansativo, mas era necessário. Emma estava me obrigando a ir e pelo meu bem, era melhor que eu aparecesse lá.

— O senhor já foi atendido? – escutei uma moça perguntar, mas não era pra mim. Ela estava falando com um senhor a minha frente, que estava escolhendo algumas roupas na sessão juvenil.

Desviei meus olhos para a arara de roupas do meu lado.

— Ainda não. – escutei o homem responder e alguma coisa no tom de voz dele era vagamente familiar. – Você poderia me mostrar roupas para adolescentes?

Prestei atenção na conversa, disfarçando que estava olhando as roupas.

— Para seu filho? – a vendedora perguntou.

E vi pelo canto de olho o homem assentir, o cabelo preto. Mas eu ainda não conseguia ver seu rosto.

— Um garoto de 16 anos. – ele riu. – Sabe como eles são nessa idade, querem sempre coisas da moda.

— Ah, sim. – a moça riu. – Por aqui. Vou lhe mostrar alguns modelos que talvez o senhor goste.

Então ela se virou e começou a andar e o homem a seguiu. Ambos passaram ao meu lado e então pude ver o rosto do homem. Queixo quadrado, lábios finos e os olhos avelã. Meu sangue gelou assim que vi seu rosto, porque agora eu lembrava de onde o conhecia, lembrei porque sua voz parecia tão familiar. Aquele homem era o mesmo que tinha se aproximado de Noah, lá em Madill há tanto tempo. “Quem é esse cara?”, lembro de perguntar ao Noah depois que aquele homem foi embora. “Não sei”, ele tinha respondido, o rosto assustado e confuso.

— Meu Deus. – sussurrei e passei a mão pelo cabelo.

Então as coisas começaram a se encaixar na minha mente. Era esse o maldito detalhe que eu não conseguia lembrar. De repente lembrei dele sondando Noah no Baile da Colheita, tocando seu rosto. Lembrei do jeito como ele olhava para o moreno. Era ele o tempo inteiro. QUE DROGA, WILL! Gritei comigo mesmo. Como eu fui tão burro?!

Fiz o caminho de volta, fui até o vestiário e procurei Maya. Nós tínhamos que fazer alguma coisa. Tínhamos que ligar para a polícia. Tínhamos que... Meu Deus! Ele estava com Noah esse tempo inteiro!

— Maya. – falei um pouco alto demais quando a vi no caixa, indo pagar o vestido. A garota me olhou surpresa e depois sorriu.

— Eu já ia te procurar. Encontrou alguma coisa? – perguntou animada.

— Eu o vi. – falei nervoso.

— Viu o que?

— Noah... eu vi... – estava tão nervoso que não conseguia articular uma frase completa.

— Will, do que está falando?

Respirei fundo. Precisava me controlar, precisava conter minhas emoções se quisesse dizer a Maya o que estava acontecendo e fazê-la acreditar em mim.

— Eu vi o homem que pegou o Noah. – falei de uma vez. Os olhos dourados de Maya se arregalaram e ela deixou a sacola com seu vestido cair no chão.

— O-o que está dizendo?

Respirei fundo mais uma vez e tratei de contar pra ela a história toda. De como esse homem tinha se aproximado de Noah quando estávamos em Madill, do modo como Noah parecia assustado com sua presença. O jeito que esse homem o olhava e a maneira como tinha tocado o rosto de Noah quando estávamos no Baile da Colheita.

— Como? Por que não contou isso a polícia? – ela disse meio alto demais.

— Eu... eu não lembrava. – expliquei. – Não lembrava que isso tinha acontecido e então Noah despareceu e eu não conseguia mais pensar direito.

— E onde esse homem está? Temos que leva-lo a polícia, temos que resgatar meu irmão.

— Escuta. – eu a segurei pelos ombros e ao meu redor algumas pessoas nos lançaram olhares desconfiados, as ignorei. – Não podemos chamar a polícia, eles não vão acreditar em nós e o máximo que eles vão fazer é bater na porta desse cara e perguntar se ele mantem um adolescente em cativeiro no porão e quando ele disser que não, os policiais vão embora. – e a soltei.

— Então o que você sugere? – ela me lançou um olhar irritado enquanto arrumava sua roupa.

— Vamos primeiro descobrir quem é esse cara. – falei e então segurei sua mão. – Vem. Ele foi por ali.

Obriguei Maya a seguir o homem. Precisávamos saber seu nome e de uma foto sua, e Maya era a única quem podia fazer isso já que eu corria o risco de ser reconhecido. Então por isso tive que ficar do lado de fora da loja enquanto Maya fazia o que eu devia fazer, mas quando ela surgiu do lado de fora, o rosto cheio de determinação e me mostrou as fotos que tinha tirado, toda a minha impotência desapareceu e foi substituída por ansiedade.

Com a foto do homem, seria mais fácil saber seu nome e puxar toda a sua ficha. Paramos em uma Lan House que havia ali perto, joguei a foto no google. Sabia que não era a maneira mais certa de pesquisar algo por imagem, mas era a maneira mais prática e eu realmente estava com muita pressa. Alguma coisa parecida demais com esperança estava se apossando de mim, se infiltrando sob minha pele e me dando um ânimo que eu não tinha mais.

— Achei! – exclamei alto demais fazendo algumas cabeças se virarem na minha direção.

E Maya acabou rindo disso.

— Riley Scotth. – li baixinho, saboreando o nome, o prendendo na minha memória.

Riley Scotth.

— Onde ele mora? – a morena perguntou.

— Peraí... – rolei a tela, ajeitei os óculos e procurei essa informação. Estávamos olhando um perfil dele em um site de relacionamento. – Aqui. – mostrei para Maya, a garota se inclinou sobre meu ombro e leu o endereço.

— Eu conheço esse lugar. – disse. – Não fica longe daqui.

— Então vamos. – afastei a cadeira e me levantei.

— Will. – Maya segurou meu braço quando em afastei em direção a saída. A fitei. – Temos que chamar a polícia, se esse homem estiver mesmo com meu irmão...

— Tudo bem. – falei, porque sabia que ela estava certa. – Vamos chamá-los, mas primeiro temos que saber se ele está mesmo com Noah ou não. Ok?

Maya assentiu e então soltou meu braço. Ela me seguiu para fora da Lan House e depois no táxi, quando falei o endereço. Não conversamos durante o caminho, não havia nada para dizer. Nenhum de nós dois parecia querer estragar aquele fiozinho de esperança que estava sendo tecido, com suposições negativas. Talvez isso não desse em nada e Noah ficasse desaparecido para sempre, mas talvez ele ainda estivesse vivo, escondido em alguma parte daquela casa.

— Você pode parar aqui. – falei para o motorista. Então ele parou, eu paguei a corrida e junto de Maya, sai do carro.

Conferi o número da casa com o que eu tinha anotado e estava certo.

— Bom, é aqui. – disse e comecei a andar em direção a casa.

— Espera. Espera. – Maya me segurou pelo braço. – O que vai fazer?

— Só dá uma olhada. – falei por mais vontade que eu estivesse de arrombar aquela porta e gritar por Noah naquele lugar.

— Vamos chamar a polícia. – Maya disse e ela parecia realmente disposta a isso.

Chamar a polícia, era o certo. Eu não podia contestar isso. Mas tinha essa dúvida enorme na minha cabeça, subindo por minha espinha e me fazendo realmente pensar se era uma boa ideia ou não. E se a polícia for lá e não encontrar nada? E se eles apenas conversarem com o homem e depois se convencerem de que ele é só uma pessoa inofensiva?

— Apenas me deixe olhar por aí. – pedi, então olhei para a garagem da casa. – Ele ainda não chegou, se eu for rápido...

— Você está louco. – a morena disse, os olhos ficando mais avelã que dourado.

— Se eu não voltar em cinco minutos, você chama a polícia. – mandei e me soltei dela.

Maya ainda me fitou, o rosto contorcido em incredulidade. Ela sabia que não podia fazer nada para me impedir. Eu precisava ir lá e ver com meus próprios olhos, eu precisava saber se ele estava lá ou não. Então eu lhe dei as costas e fui. Avancei em direção a casa, dei uma olhada nela. Não dava para entrar pela porta da frente e por isso tive que invadir o quintal da casa, pulando aquele maldito muro. Acabei ferindo minha mão no processo, mas tudo bem. Não era como se eu estivesse sentindo alguma coisa além de uma ansiedade enorme.

A porta de trás da casa, estava apenas encostada. Então foi fácil entrar por aí. Mas isso me fez pensar com que tipo de pessoa eu estava lidando, porque só uma pessoa totalmente despreocupada deixaria a porta de casa encostada. Era como se ele estivesse relaxado o suficiente para fazer isso, e então me peguei pensando que talvez ele não tivesse pegado Noah. Talvez, eu esteja errado. Balancei a cabeça e tratei de vasculhar a casa.

Era tudo muito bem arrumado, com os móveis bonitos e quadros de paisagens nas paredes. Mas não havia fotos de ninguém, nem mesmo dele. Riley mantinha tudo bem agradável ao mesmo tempo que mantinha aquilo solitário. Andei pela sala, o jornal do dia jogado sobre o sofá como se ele estivesse lendo as notícias quando se lembrou que tinha que comprar algo e saiu apressado. Mas tirando isso, não havia mais indícios que outra pessoa morasse aqui.

Me apressei em olhar nos outros cômodos. Havia vasilhas sujas na pia e uma bandeja com um café da manhã sobre a mesa, a comida intocada. No seu quarto, a cama estava arrumada e o cheiro enjoativo de colônia estava por tudo o lugar. Vasculhei as gavetas da cômoda, mas não havia documentos suspeitos. No entanto quando tentei fechar a gaveta, ela não ia. Então enfiei minha mão ali e tentei encontrar o que estava impedindo a gaveta de fechar e foi quando meus dedos encontraram algo. Estava preso com fitas atrás da gaveta. Eu retirei aquilo dali e olhei o que era. Era um tipo de pacote feito com fitas adesivas. Consegui tirar as fitas e então pude, finalmente, ver o que era. Eram fotos. Dez ao todo. Fotos de polaroide. Observei uma por uma.

Eram fotos de crianças. Garotos em posições pornográficas, nus e com o rosto assustado. Mas a pior parte foi constatar que eu conhecia aquelas crianças, eu já as tinha visto. Eram as crianças desaparecidas, a quem tinham atribuído o desaparecimento ao Florista.

— Céus. – sussurrei e continuei passando as fotos. – É você. – constatei.

Mas quando cheguei na última foto, meu estômago embrulhou. Soltei as fotos imediatamente e todas caíram no chão, se espalhando como confete sobre o chão. Entre as fotos estava a de Noah. Era ele definitivamente. Eu conseguia reconhecer seu cabelo castanho e os olhos da mesma cor, mas aquela expressão de assustado não fazia parte dele. Não combinava com o garoto sorridente e temperamental que frequentava minhas memórias. E isso me encheu de tanta raiva que eu simplesmente avancei sobre as fotos e rasguei todas.

Como ele pôde tocar em Noah daquele jeito?! Como ele pôde fazer isso com todas essas crianças?! Como alguém pode ser tão doente?!

Estava ainda picando as fotos com os dedos quando meu celular começa a tocar. Com meus dedos trêmulos peguei o aparelho e atendi.

O encontrou? — reconheci a voz de Maya.

— Eu... Eu – respirei fundo. – encontrei fotos.

Fotos? De Noah?

— Também. – falei. – Tem fotos de outras crianças também.

Meu Deus. E-eu vou chamar a polícia agora mesmo.

— Chame. – concordei. – Vou procurar pelo Noah.

Will...— começou e percebi o tom de repreensão na sua voz.

— Apenas chame a polícia. – desliguei.

Me pus de pé e sai do quarto dele. Ainda olhei nos outros quartos, mas não havia sinal de que outra pessoa vivia aqui. Então decidi descer até o porão, parecia o tipo de lugar perfeito para esconder alguém. No entanto, quando desci até lá também não encontrei nada. Pelo visto Riley usava o porão para guardar ferramentas e várias outras quinquilharias. Havia muitas caixas de papelão cheias de utensílios de metal, uma outra com quadros sem pintura alguma.

— Onde você esconderia uma pessoa? –me perguntei baixinho.

Então pensei nos filmes policiais, onde o cara mau para sempre tinha uma sala secreta ou um lugar secreto, onde escondia a vítima. Fui até a parede oposta e vasculhei ali, atrás de uma abertura qualquer coisa que indicasse que existia uma porta ali. Mas não havia nada. O papel de parede parecia não ter sido trocado há um bom tempo. Suspirei. Passei a mão pelo cabelo. Eu tinha que encontra-lo. Dei um passo para trás, afim de olhar bem para a parede. Talvez existisse alguma coisa que eu não estava vendo, mas assim que dei o passo pisei em cima de alguma coisa, perdi o equilíbrio e cai de costas no chão poeirento.

— Droga! – exclamei irritado. Quando estava me levantando foi então que notei algo no chão.

Era um tipo de argola presa no chão. Arregalei os olhos quando me dei conta do que era. Um alçapão. Abri aquilo, nem ao menos estava trancado. Esse cara definitivamente achava que nunca seria pego, porque apenas isso explicava seu estado relaxado. Olhei dentro do alçapão e não havia nada, por isso resolvi entrar. Desci a escadinha de madeira, usei a luz do meu celular para focar o lugar. Era uma salinha bem pequena, era mais como um mini corredor pois a minha frente havia uma porta. Meu coração deu um salto e toda minha ansiedade pareceu aumentar até o décimo grau.

Segurei a maçaneta ao mesmo tempo que meu celular tocava. Atendi.

Saia daí!— Maya exclamou.

— O que?

Sa...— a ligação estava picotando. – Ele...

— O que?! – soltei. – Não consigo escutar o que você está dizendo. O sinal está ruim.

Sa...— Maya tentou mais uma vez, mas então a ligação caiu.

Guardei o celular. Tentaria ligar pra ela depois, primeiro precisava saber o que havia atrás dessa porta. Girei a maçaneta.

Era um quarto. Essa foi a minha primeira constatação. Havia uma luz fluorescente no centro do teto, que dava ao lugar todo um ar de abandono. Havia uma cama, no canto esquerdo, a colcha da cama revirada. O papel de parede estava descascando e não havia nenhuma janela naquele lugar. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o frio que fazia naquele lugar, eu ainda não tinha entrado no quarto, mas já podia sentir o frio se arrastando sobre minha pele. Apertei minha camisa contra meu corpo e dei um passo para dentro.

Ele estava no canto direito do quarto. Encolhido contra a parede, parecia estar dormindo mas na medida em que eu chegava perto descobria que ele estava tremendo e que sua respiração estava muito lenta.

— Noah. – chamei e o puxei para meus braços. Precisava tocar nele.

Encontrei você.

— Não. Não. – ele disse baixinho e tentou me afastar, mas parecia tão desorientado que não conseguiu acertar os tapas em mim.

— Sou eu, Noah. – falei e segurei seu rosto. O garoto mal conseguia abrir os olhos. O que fizeram com você? — Sou eu, o Will.

Noah abriu os olhos, para meu alivio. Mas o castanho estava desfocado e suas pupilas estavam muito dilatadas. Drogas, me dei conta. Noah estava drogado, por isso parecia tão desorientado. Eu passei meus braços a sua volta e o abracei.

— Eu estou aqui. – sussurrei. – Estou aqui. – me afastei e segurei seu rosto. – Vou te tirar daqui.

Mas então o moreno me afastou e se virou de lado, observei enquanto ele vomitava. Quando terminou, ele voltou a se encostar na parede. Levei minha mão até sua testa e constatei que ele estava com febre, o que explicava o fato de ele está tremendo tanto.

— Vem, Noah. – tentei fazê-lo ficar de pé. – Temos que ir. – meio pedi, mas Noah parecia que não estava me escutando. Ele fechou os olhos com a cabeça encostada na parede.

Estava tão magro e tão pálido. Havia um corte sangrento no seu lábio inferior, um hematoma roxo no pescoço e várias outras feridas espalhadas pelos pulsos e braços, e uma certeza mórbida me disse que havia mais espalhados sob as roupas. Engoli em seco e tentei pegar Noah no colo, do jeito que ele estava magro não estava tão pesado. Ele tentou me afastar quando o segurei, mas na sua desorientação acabou deixando. Percebi que enquanto o tirava dali, que ele estava delirando.

Sussurrava os nomes dos seus pais e Maya. Enquanto subíamos a escadinha do alçapão, o garoto chamou meu nome. Foi tão baixo que achei que ele não tinha dito. Mas quando ele repetiu de novo, apenas me limitei a dizer:

— Isso, meu amor. Sou eu.

Era tão ruim vê-lo naquele estado. Era tão cruel. Noah nem sempre foi um garoto comportado e ele pode ter feito algumas coisas ruins, e por isso merecido o castigo do seu pai. Mas isso não era motivo para que ele tivesse que aguentar isso, para que tivesse que ser alguém tão marcado agora. Enquanto saiamos do alçapão, eu lamentei por ele. Lamentei por tudo que ele teve que aguentar nesse quarto. Porque eu sabia como era, afinal eu também tinha as minhas cicatrizes.

— Fique aqui. – falei e o coloquei no chão.

Noah se encolheu no chão, em posição fetal. De olhos fechados e tremendo, parecia bem mais frágil do que uma asa de borboleta.

Peguei meu celular e disquei o número de Maya.

— Eu o achei! – exclamei. – Ligue para as ambulâncias, para a marinha, pro presidente. Não sei! Apenas ligue para alguém. Ele... ele... está... – não consegui dizer a palavra.

— Largue o celular. – alguém atrás de mim disse e escutei o click de algo destravando. Engoli em seco ao mesmo tempo que afastava o celular da orelha.

Joguei o celular no chão e me virei devagar com as mãos levantadas.

— Olha só. – Riley disse. – Eu te conheço.

O homem tinha se aproximado sem que eu percebesse e agora mantinha uma arma apontada para mim. No entanto, em vez da irritação por eu ter invadido sua casa, encontrei uma certa diversão no seu olhar.

— Então você veio mesmo atrás dele. – sorriu. – Isso é meio surreal, porque nunca aconteceu, sabe. Na maioria das vezes os familiares desistem logo assim como os policiais. Mas a pergunta que não quer calar é: Como me achou?

— Você foi descuidado. – respondi simplesmente.

Ele balançou a cabeça.

— Tem razão. – concordou e olhou para o corpo semiconsciente de Noah. – Quando o vi pela primeira vez, não pude resistir. – ele mordeu o lábio. – Sei que me arrisquei muito me aproximando daquele jeito dele, mas valeu a pena depois. Cada segundo.

Fechei minhas mãos em punho. Estava sentindo tanta raiva e tanto nojo daquele homem, por ele ter machucado Noah daquele jeito. Por ter tocado em Noah contra a sua vontade, que simplesmente não pude me segurar. Riley estava olhando para Noah, eram os segundos de distração que eu precisava. Simplesmente avancei em sua direção, o derrubei no chão. A arma que ele segurava indo pra longe de suas mãos.

Eu fiquei por cima dele e acertei o primeiro soco em si.

— Seu miserável! – falei e acertei mais um soco em seu rosto.

Toda a minha raiva saindo de mim. Tinha passado tantos anos sendo treinado, aguentando aquelas malditas aulas de etiqueta, sendo punido quando fazia algo de errado e dormindo com medo, que toda a minha vida depois que me livrei daquele orfanato tinha se resumido a construir uma fortaleza a minha volta. Eu achava que se conseguisse me proteger, ninguém mais me machucaria e eu não sofreria mais os horrores que vivi naquele orfanato com todas aquelas pessoas querendo coisas que eu não podia dar. Mas então havia Noah, me desafiando a sair da minha zona de conforto, me mostrando que o mundo podia ser diferente. E então havia esse homem, esse doente, que o tinha tirado de mim. E o tinha machucado e tinha tocado nele.

— Seu doente! – acertei-lhe mais um soco.

Era tanta raiva, tanta frustração dentro de mim naquele momento que foi impossível parar. Eu precisava machuca-lo para ele ver como eu estava machucado, precisava mostrar pra ele que aquelas crianças todas tinham uma família que as amava, que Noah tinha uma família que o amava. Que todos sofremos e que eu quase enlouqueci.

E eu bati. Acertei mais e mais socos naquele homem. Despejei nele tudo o que eu estava sentindo, tudo o que todas as famílias de todas as crianças que ele matou e abusou estavam sentindo. Em algum momento eu parei, simplesmente parei. Minha consciência voltando, me mostrando o que eu estava fazendo. No entanto quando ia sair de cima dele. Os policiais apareceram e me tiraram dali. Um segurou minhas mãos e me fez ficar de pé e por um momento achei que ele fosse me prender, mas não. Depois percebi que estava apenas examinando minhas mãos, que só então percebi, estavam manchadas com sangue. Sangue daquele doente.

Ainda estava em estado de choque pelo que fiz e por isso deixei que os policiais me guiassem até a saída, deixei que eles cuidassem de Noah. Apenas fui seguindo o fluxo. Quando sai, Maya veio ao meu encontro mas não consegui dizer a ela o que tinha acontecido lá dentro, em parte porque não queria mesmo. Entrei na ambulância que levaria o corpo de Noah, Maya também veio. Ela segurou a mão dele durante todo o trajeto enquanto eu escutava os paramédicos comentarem como o rosto daquele homem tinha ficado destruída de tantos socos que levou.

Quando chegamos ao hospital os avós de Noah já estavam lá e por um momento pensei se tinham avisado para Mike, e quando pensei em ligar pra ele, lembrei que estava sem meu celular. Pedi a Maya o celular dela e disquei o número de Mike. E ao contrário do que imaginava, ele já sabia. Maya tinha lhe contado e o homem já estava arrumando as malas e vindo para LA.

Uma enfermeira cuidou dos meus ferimentos na mão, ela limpou o sangue e me parabenizou por ser tão corajoso. Mas não liguei tanto pra isso. Meu pensamento estava em Noah e no seu jeito doente. O que havia com ele? Era muito grave?

Me sentei na sala de espera junto de uma Maya aflita e dos avós de Noah. Sua avó, Elise era uma mulher séria e cheia de pose, que mesmo ali, naquele momento que o seu neto estava em um estado grave, ela não deixava sua expressão firme de lado. Mas ao contrário da mulher, Frederick – o avô de Noah – estava aflito. Ele andava de um lado para o outro e cada meia hora, ia a recepção e perguntava notícias do neto.

Foi apenas depois das oito da noite que recebemos notícias. O médico responsável por ele, nos disse que Noah estava sobre o efeito de várias drogas e pelo estado em que ele estava e as marcas que haviam nos seus braços, ele tem sido drogado já faz um bom tempo. Havia também muitas marcas pelo seu corpo, o que mostrava que o garoto tinha sido torturado. E que o motivo por ele estar tão mal se deve a inflamação de uma dessas feridas, que como ele não vinha recebendo tratamento adequado então a ferida infeccionou e isso estava se espalhando por seu corpo e que mais um dia sem tratamento, chegaria na sua corrente sanguínea e então não haveria mais nada que eles pudessem fazer. Mas por enquanto estava tudo sobre controle. Tinham conseguido fazer com que febre a parasse e agora ele estava dormindo.

— Quando podemos vê-lo? – a avó de Noah perguntou.

— Podem ir lá agora, mas só duas pessoas de cada vez. – o médico avisou.

— Nós vamos primeiro. – Frederick se apressou em dizer, segurou na mão da esposa e juntos seguiram o médico.

Maya me olhou de canto de olho e meio que sorriu, sorri de volta. Mas quando achei que ela fosse dizer alguma coisa, um policial entrou no hospital e veio na nossa direção.

— Esse telefone pertence a algum de vocês? – perguntou e mostrou o celular.

— É meu. – falei e ele estendeu na minha direção, o peguei.

O agradeci e ele balançou a cabeça em concordância, então se virou para Maya e começou a conversar com ela ao passo que meu celular começava a tocar. Era Emma ligando. Foi então que me lembrei que devia estar arrumando minhas malas para ir para Dickson.

— Alô?

Meu Deus, Will! Até que enfim você atendeu esse celular! Espero que tenha estado todo esse tempo arrumando sua mala porque senão eu vou...

Emma. – chamei a interrompendo. – Eu o encontrei.

— Encontrou o que? Quem? — pareceu ansiosa.

— Noah. – e sorri tamanho o meu alivio. – Encontramos o Noah. E ele está vivo.

— Céus! Isso é sério?! – praticamente gritou.

— Sim! Está em todos os jornais! Eu o encontrei, Emma.

A escutei suspirar e rir do outro lado da linha, parecia tão aliviada quanto eu. Mas eu sabia bem porque, era por mim. Emma estava aliviada e feliz por mim. Eu tinha recuperado a coisa que mais amava no mundo inteiro e ela sabia disso, ela sabia que as coisas iam voltar ao normal agora. Que eu ia voltar a ser mais sensato, que minhas emoções iam ficar mais amenas e que eu sorriria mais. Ela sabia, do mesmo jeito que eu sabia, que agora eu tinha um motivo outra vez. Agora eu tinha um motivo para a acordar de manhã e respirar.

Isso é tão... Nossa! Eu vou ligar para a Bianca, ela deve estar enlouquecendo. – e riu.

— Emma, acho que não vou ao baile.

Imaginei que diria isso. Mas tudo bem. Vou filmar tudo e te mostrar depois, ok? Mas de qualquer forma, é uma pena que você perca o baile. Já viu o tema que escolheram?

Não. – falei e ajeitei os óculos. Só mesmo Emma para dar um toque casual em tudo, para retirar todo esse peso que é ficar aqui e esperar por Noah. É para isso que servem os amigos afinal, não é? Para deixar tudo mais leve e confortável.

Foi ideia da Cristine então você pode imaginar que eu já estava esperando uma porcaria qualquer, mas não é que aquela vadia mandou bem. O tema é “Antes que novembro acabe”. – contou.

— É um bom tema. – reconheci. Talvez Cristine tivesse um cérebro afinal. – Mas ao que se refere?

Você sabe, nossas aulas terminam nesse mês e então estaremos livres dessa escola, mas até chegar o fim, o que vamos ter feito? O que gostaríamos de fazer antes que o fim chegue? Pelo menos foi esse o argumento que ela usou. E acabou ganhando a votação.

Eu ri. Era um tema brilhante. O que faríamos quando o fim chegasse? O que faríamos depois que o fim chegasse? O que faríamos nos segundos antes do fim? Eram boas questões para se pensar. E sem querer me peguei avaliando-as, revendo o meu passado, as coisas que tinham acontecido esse ano. O modo como minha vida tinha mudado. Eu tinha feito tantas coisas antes que novembro acabasse, coisas boas e coisas ruins. Tinha me apaixonado por um garoto viciado em doces, tinha quebrado o coração de um garoto que só queria me amar, tinha me libertado das minhas amarras. Tinha gritado na frente dos meus ex-amigos o quanto sou gay, tinha dado uns belos socos na cara do meu melhor amigo. Mas a coisa mais importante que eu fiz antes que novembro acabasse e durante o ano inteiro, e provavelmente a vida inteira continuaria fazendo, foi não desistir.

Eu não havia desistido de procurar pelo Noah, quando ele desapareceu, e mais tarde quando ninguém mais tinha esperança, eu continuei. E durante toda a minha infância, eu não tinha desistido. Tinha me forçado a continuar. Esse parecia ser o meu lema de vida: Continuar.

Mesmo depois que novembro estiver acabado, apenas vou continuar. Continuar respirando, continuar procurando, continuar amando... Continuar parecia para mim, naquele momento, a coisa certa a fazer. Mesmo que novembro ainda não estivesse acabado.


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Notas finais do capítulo

Sei que ainda não respondi a todos os comentarios, mas fiquem relaxados que já vou responder!!! Não hoje, porque não vai dá. Mas assim que der eu respondo!!!
Ahh!! E agora vcs sabem o que significa o nome da fic? E ai, correspondi as expectativas ou peguei vcs de surpresa mais uma vez?? kkkk.
Comentem!!
XOXO e até!! :DDD



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