Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 28
Vinte e sete – Nossos fantasmas.


Notas iniciais do capítulo

Bom, e tudo mundo continua enlouquecendo kkkk. Mas relaxem que nesse cap tem algo que todo mundo queria saber... então aproveitem.
Boa leitura.
Cap dedicado a Imperador Kaito por ter recomendado a fic!! ^.^



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Vinte e sete – Nossos fantasmas.

Will

Meu pescoço estava dolorido assim como minhas costas. Ainda me espreguicei, mas a dor permaneceu e por isso tive que tomar remédios pra dor. Não podia me dá ao luxo de parar agora por causa de uma dorzinha de nada.

— Você tem dormido? – Elizabeth perguntou ao passo que eu massageava minha nuca.

Eu tinha passado a noite em claro, lendo mais e mais artigos sobre assassinos em séries e mais e mais manchetes sobre os desaparecimentos de crianças. Devia existir alguma coisa sobre esse Florista, alguma pista que ninguém notou.

— Claro. – menti e chamei o garçom. – Um café puro. – pedi.

Não tem como dormir sabendo que Noah está nas mãos de um maníaco.

— Pra mim também. – a garota pediu, então voltou a focar os olhos verdes em mim. – Por que me chamou aqui?

— Preciso da sua ajuda. – respondi prontamente, fui direto ao ponto. – Você ainda mante contato com o Alex?

Liz ergueu uma sobrancelha em minha direção, desviei meus olhos dos dela.

Eu tinha ligado para ela na noite passada e pedido que viesse para Madill. A garota atendeu o meu chamado prontamente, mas não por mim. Era por Noah, eu sabia. Mas isso ainda não eliminava o fato de que devíamos muita coisa um ao outro.

— Alex? O que quer com Alex?

— Ainda tem contato com ele ou não? – a fitei.

Elizabeth cruzou os braços e torceu a boca.

— Tenho. – respondeu, mas então descruzou os braços e se inclinou sobre a mesa, na minha direção. – Qual é o seu plano?

Sorri pra ela.

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Liz

William era maluco, disso eu tinha certeza. E eu era ainda mais maluca por ter concordado com isso. Onde já se viu invadir os servidores da delegacia para conseguir os arquivos do caso do Noah? Se bem que não tínhamos outra escolha. A polícia nunca ia ceder os documentos assim só porque pedimos, não. O máximo que eles iam fazer era nos expulsar da delegacia, ligar pros nossos responsáveis e nos colocar na lista negra dos policiais. E levando isso em conta, até que o plano de Will não era tão maluco assim.

No fim, estávamos todos fazendo isso pelo Noah. Tínhamos que encontrar aquele garoto cabeça dura logo.

Liguei para Alex assim que sai da lanchonete. Will ainda estava na minha cola, ele queria ter certeza de que eu ligaria e cumpriria meu lado do acordo. Lancei um olhar de soslaio pra ele.

Ainda era bonito com aqueles olhos azuis e o porte de homem no alto do Himalaia, frio e inalcançável. Madame Sam fez um bom trabalho nele e acho até que se ela pudesse vê-lo agora, teria uma certa pontinha de orgulho apesar de não ser da natureza dela demonstrar algo além de desprezo. Mas notei também que ele estava mais magro e que apesar de ter me dito que estava dormindo com frequência, existiam olheiras embaixo dos seus olhos e o cabelo estava mais claro que o normal e havia essa palidez doentia em si. Era perceptível que o desaparecimento de Noah o estava afetando mais do que a todos os outros.

— Alô? – falei assim que ele atendeu.

Elizabeth? – ele riu do outro lado da linha. – Achei que não me ligaria mais, afinal, da última vez que nos falamos você me mandou para a puta que pariu.

— Eu estava de cabeça quente. – falei ao mesmo tempo que a lembrança da nossa última conversa me veio à mente. Alex era um grande filho da mãe. – Preciso de um favor.

Eu não trabalho com favores.

— Não é pra mim. – e olhei mais um pouco para o perfil abatido de Will. – É para Will.

William? Willy? – perguntou, a voz cheia de saudade. Alex era única pessoa no mundo que chamava William de Willy. Nunca Will ou William, sempre Willy.

— Sim.

Pode falar, estou escutando. – disse por fim, a voz séria.

Então comecei a contar o plano todo.

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Will

Li uma vez em um artigo na internet que as pessoas que perdem um membro como um braço ou perna, ainda costumam sentir como se esse membro ainda estivesse lá. Algumas pessoas até mesmo relataram poder sentir um formigamento no braço que não está mais lá. Esse fenômeno se chama síndrome no membro fantasma, que quer dizer basicamente que você ainda continua sentindo como se uma coisa estivesse lá quando não está, você está vendo que não está.

É assim que me sinto em relação ao Noah. Eu sinto como se ele ainda estivesse aqui, quando cada ponto do meu dia indica que ele não está.

Há momentos em que fecho os olhos, respiro fundo ou quando simplesmente paro e me sento, que penso ou imagino que ele vai aparecer a qualquer momento. Nas minhas alucinações mais graves, escuto sua risada e sinto seu cheiro. Mas costumo dizer a mim mesmo que isso se deve ao tanto de remédios que ando tomando para poder dormir. É meu subconsciente cansado, me mostrando o que eu mais quero.

Estou há quase uma hora sentado nesse banco, na pracinha da cidade esperando Alex aparecer. Ele tinha dito a Elizabeth que não estava longe daqui e que viria pra cá o mais rápido possível. Mas já se passou quase uma hora desde que ele encerrou a ligação com a garota, o que me faz pensar que ou a definição de rápido dele é diferente da minha ou ele não está tão perto daqui quanto acha.

Levantei o rosto e fechei os olhos, deixei os raios de sol banhar meu rosto. Hoje tinha feito sol em Madill, um solzinho de nada que não esquentava e só iluminava. Era uma das características do inverno aqui, assim como era em Dickson. Havia esses momentos de sol e de chuva, que deixavam todos surpresos. Abri os olhos e fitei a forma das nuvens, algumas escuras aqui e outras brancas, ali. De acordo com minha experiência, logo iria chover.

Voltei a fitar meus sapatos. Tênis converse, um pouco gasto. Apertei a jaqueta em volta de mim quando um vento frio veio sobre mim. Então fiquei em pé, determinado a ir embora já que Alex tinha feito o favor de me dá um bolo.

Willy? — escutei e virei em direção a voz.

Fazia anos desde a última vez que alguém me chamou assim.

— Meu Deus, cara. – Alex disse e veio em minha direção. Me segurou pelos ombros. – Olha pra você! – sorriu, os dentes perfeitamente alinhados devido ao uso de aparelho dental. – Está tão grande! – e surpreendentemente me abraçou. – Senti tanto a sua falta, irmãozinho.

Pisquei duas vezes antes de afastá-lo.

— Não somos irmãos. – falei e ajeitei meus óculos.

— Não somos... É claro que somos irmãos! – me repreendeu. – Madame Sam nos criou juntos.

— Madame Sam não era minha mãe.

— Mas era a minha e te amava como filho. – rebateu.

— Você sabe muito bem qual era o jeito que ela me amava, e não tinha nada de maternal nisso. – assim que disse isso vi o rosto de Alex ficar corado.

Ele não esperava por uma resposta dessas, era verdade. Mas eu também não esperava que um dia ia ter que precisar dele. Realmente, o mundo dá voltas. E nessas voltas acabou me trazendo Alex de volta, o fantasma número dois da minha lista.

Observo Alex morder o lábio, passar a mão pelo cabelo escuro e então se sentar no banco que eu estava antes.

— Liz me contou o que aconteceu. Quer mesmo que eu faça isso? – mudou de assunto.

Tanto ele quanto eu sabíamos que aquele assunto não ia dá em nada, e que por mais lembranças boas que tivéssemos, elas estavam no passado e eram poucas. Infelizmente, elas traziam consigo uma carga enorme de dor e medo que nenhum de nós estava preparado para discutir ainda, apesar de já ter passado muito tempo.

— Quero. – respondi e fechei os botões da minha jaqueta, estava ficando muito frio. – Preciso desses documentos, de todos eles.

— O caso de Noah Grace, certo? – voltou seus olhos escuros para o meu rosto e eu assenti. – O que ele é pra você?

— Uma pessoa importante. – respondi e fiquei de costas pra ele.

— Liz me contou que você gosta de caras, é verdade? – escutei seus passos se aproximando de mim.

— Algum problema com isso? – soltei já esperando pelo momento que ele fosse desaprovar isso, e foi impossível não pensar em Mark e na primeira conversa que tivemos sobre isso.

“O que há de errado com você?”, Mark tinha perguntado, o rosto cheio de nojo. Fechei os olhos.

— Não, nenhum. – respondeu e abri os olhos para encara-lo. – Na verdade, essa é uma notícia ótima, agora eu realmente tenho alguma chance com as garotas. – e riu.

Revirei os olhos.

— Vai fazer o que pedi? – perguntei me referindo ao que tínhamos combinado.

— Claro, mas com uma condição.

— Qual? –ergui uma sobrancelha em sua direção, estava desconfiado.

— Preciso de um lugar para ficar.

— Vou falar com Elizabeth. – falei e me afastei dele.

— Espera, Willy. – Alex se apressou e se colocou na minha frente. – Vamos conversar. Me diz o que aconteceu com você durante todo esse tempo.

— Escuta, - comecei. Por mais que Alex estivesse tentando, eu não queria nada com ele. Não queria contato com ele, só estava quebrando essa regra agora porque precisava de ajuda para encontrar Noah. Mas eu simplesmente não podia, não queria, ter nada a ver com ele novamente. Havia coisas demais no nosso passado para que eu quisesse me manter longe. – apenas cumpra o nosso trato. – completei e vendo os seus olhos decepcionados sobre mim, muito escuros e muito tristes, continuei. – Alex, eu só quero ficar longe de todas as coisas que me fazem lembrar do que aconteceu no orfanato.

— Mas isso foi há tanto tempo... – ele suspirou, passou a mão no cabelo. – Mamãe ainda está presa, sabia? E não vai sair tão cedo. Por que não podemos ser como antes, Willy?

— Porque o antes era ruim, Alex! – falei um pouco alto demais. Meu autocontrole estava indo pra água abaixo, depois que Noah desapareceu estava ficando cada vez mais difícil controlar minhas emoções.

— Você só está pensando nas coisas ruins. Por que não lembra dos bons momentos? Nós nos divertíamos muito, lembra? Você é meu irmãozinho, caramba! – se exaltou.

— Que droga, Alex. – passei a mão pelo cabelo, respirei fundo.

Era verdade. Alex e eu já fomos muito amigos. Ele foi quem cuidou de mim quando cheguei no Orfanato, filho da dona do lugar, ele era gentil e engraçado. Me protegia dos mais velhos e depois teve que me proteger da própria mãe, mas isso foi há muito tempo assim como as brincadeiras já passaram ou as piadas que tínhamos já se perderam. Aqueles dois garotos ficaram no passado. Eu cresci mais cedo que o previsto, tive que me virar sozinho, tive que aguentar muita coisa sozinho. Enquanto ele foi obrigado a se afastar e se mudar para um lugar sem aquela sujeira.

— Apenas faça o que combinamos. – falei por fim e me afastei.

Não olhei pra trás. Apenas segui em frente, entrei no meu carro e fui embora dali. Não dava pra voltar no passado, não dava para eliminar as coisas que aconteceram e não dava para recuperar o tempo perdido que havia entre eu e Alex. Aquele garotinho loirinho frágil cresceu e hoje não precisa mais da sua proteção.

Dirigi de volta para o hotel onde estava hospedado ao som de AC/DC, o rock preenchia o silêncio do meu carro e a batida deixava minhas emoções no lugar certo, além de me fazer lembrar de Noah. Era ele quem gostava dessa banda, eu lembrava perfeitamente do pôster que havia pregado no seu quarto e da coleção de CDs que ele e o pai compartilhavam.

Ainda estava com a melodia de Whole lotta Rosie na cabeça quando entrei no quarto que tinha alugado no hotel. Estava vazio como sempre, os únicos indícios de que alguém vivia ali eram os meus. Havia papeis sobre empilhados sobre a cama, roupas dobradas sobre uma cadeira e um resto de sanduiche sobre a mesinha perto da cama. Era impossível pra mim não ser organizado. Apenas meus indícios. Suspirei. Como eu queria ver a roupa dele jogada sobre a cama, os tênis atrás da porta ou a sua voz cantando uma música qualquer enquanto tomava banho. Mas não havia nada. Havia apenas eu. E isso nunca foi tão solitário.

Andei até a cama e me deite, olhei de soslaio para a pilha de papeis. Eram jornais, anotações, fotos das crianças desaparecidas, uma foto do Noah. Olhei para o teto e fechei os olhos. Ainda era cedo, talvez dez horas da manhã. Talvez eu pudesse dormir um pouco, tirar um leve cochilo e sonhar com ele. Porque ao menos nos meus sonhos ainda estávamos juntos e tudo estava bem.

No entanto, tudo isso foi arruinado quando bateram na porta. Abri os olhos, me sentei meio sonolento, ajeitei os óculos e me levantei.

— Oi? – soltei quando vi quem era.

— Oi. – e foi entrando sem que eu dissesse que podia.

Revirei os olhos.

— O que aconteceu Elizabeth? – fechei a porta.

— Como foi lá com Alex? – ignorou minha pergunta, fiquei de frente pra ela. A garota tinha sentado na minha cama, as pernas cruzadas.

Tinha um belo par de pernas apesar de ser estranho ver Elizabeth usando um vestido, mas as botas de cano alto eram realmente bonitas.

— Belas botas. – elogiei e ela sorriu enquanto ajeitava o cabelo loiro. – Foi normal, ele vai fazer o que pedi.

Ela suspirou aliviada, então olhou para o lado e só então percebeu a pilha de papeis que havia sobre a cama.

— Está com fome? – perguntei apenas para ter que dizer alguma coisa, ela olhou pra mim. – Tem aquele sanduiche que não terminei de comer. – apontei para o resto de sanduiche sobre a mesinha.

— Eca, Will. – ela fez uma careta para o sanduiche enquanto eu ria. – O que é isso? – perguntou enquanto olhava mais de perto os documentos, me aproximei da cama.

— Informação. – respondi, Liz me lançou um olhar atravessado. – São reportagens sobre o tal Florista, desaparecimento de crianças e tudo que consegui reunir sobre serial killer. – expliquei.

— Acha mesmo que esse cara está com Noah?

— Eu sei que está, os próprios policiais confirmaram isso. – então me sentei ao seu lado e peguei uma das minhas anotações.

“Ele mostra uma preferência por garotos de olhos e cabelos castanhos, entre 10 e 16 anos”, eu tinha escrito.

— Vamos encontra-lo, não vamos? – a loira me sussurrou, seus olhos fitando a reportagem sobre o desaparecimento do Noah.

— Vamos. – concordei.

Então ela deixou a reportagem de lado e olhou bem pra mim, seus olhos muitos verdes procurando algo no meu rosto. Elizabeth sempre teve os olhos verdes intimidadores, era como se ela conseguisse ler sua alma apenas com um olhar.

— O que foi? – decidi perguntar quando o olhar dela sobre mim começou a me incomodar.

— Eu só estava pensando... – olhou pra baixo, mexeu os pés. – você o ama mesmo, não é?

— Mais do que achei possível. – confessei e me deitei, olhei pro teto. Liz continuou sentada.

— Como... como conseguiu?

— O que? – perguntei sem olhar pra ela.

— Amar alguma coisa.

— Não sei. – respondi.

E era isso mesmo. Não havia uma explicação para esse sentimento. Ele só estava aqui e pronto. Tinha surgido entre os detalhes das coisas que construí com Noah, tinha nascido devagar entre os beijos roubados na biblioteca entre a poeira dos livros e nossa insegurança. Tinha sido plantado naquele dia que ele surgiu no beco, os olhos muito castanhos e o rosto cheio de raiva e determinação. Ele tinha me impressionado tanto e continuou a me impressionar. Como eu podia me sentir tão atraído por alguém tão irritante quanto ele? Noah, que era cheio daquela pose “eu posso fazer isso sozinho”. Rebelde sem causa.

Mas eu entendia o que Liz estava perguntando. Como alguém tão quebrado quanto eu conseguiu sentir um sentimento tão forte quanto esse? Como eu tinha conseguido construir isso quando tudo a minha volta era superficial?

— Você não consegue? – perguntei.

— Eu gosto do Noah. – confessou e se deitou ao meu lado. – Mas não é nada comparado com o que você sente. O seu sentimento por ele é definitivamente mais forte.

— O que há de errado? – a olhei de soslaio, não tinha coragem de a encarar diretamente e estragar esse momento de total trégua, onde ela se mostrava tão limpa de armas e toda a sua pose de forte.

— É só que... – sua voz falhou, escutei ela respirar fundo. – eu não consigo. Não consigo fazer como você e esquecer tudo que aconteceu.

— Eu não esqueci. – confessei. Não dava pra esquecer algo como isso, as memórias ainda estão em minha mente, o medo ainda está na minha mente e principalmente, o nojo ainda está na minha mente. – apenas parei de pensar nisso.

Eu afastei essas memórias. Enterrei todas as coisas que aconteceram no lugar mais profundo da minha mente, porque senão eu não conseguiria. Não conseguiria levantar de manhã, não conseguiria viver.

— Não tem como esquecer algo como aquilo. – continuei. – Mas você pode escolher se vai deixar esses fantasmas te assombrarem ou não.

— Foi o que você fez? Disse não a eles? – sua voz estava tão baixa e tão frágil que me senti mal por ela, por mim e até mesmo por Alex, que não tinha vivido nada disso.

— Foi.

— É um bom começo. – concordou e se pôs sentada. Ficou de pé. Me pus sentado e a observei enxugar os olhos discretamente.

— Você está bem? – perguntei.

— Não. Mas vou ficar. – e sorriu, o sorriso mais triste que já vi.

A vi me dá as costas e então sair do meu quarto.

— Eu também. – sussurrei para mim mesmo e para o silêncio do meu quarto.

###

Noah

Respirei fundo de olhos fechados, precisava controlar minhas emoções se quisesse fazer isso dá certo. Precisava não surtar agora. Abri os olhos devagar e observei o corte sangrento no meu braço esquerdo, estava sangrando muito e se não fosse o ar-condicionado ligado no máximo, tenho certeza de que o sangue estaria manchando o chão. Mas não estava, por algum motivo o sangue estava descendo devagar e isso me aliviava um pouco.

Rasguei um pedaço da minha camisa e amarrei sobre minha ferida, cuidando para tocar no sangue. Não era a primeira, não era a única e não seria a última. Essa parecia o tipo de certeza mórbida que iria me acompanhar por não sei quanto tempo. Era o que ele fazia afinal, me visitava a cada intervalo de tempo seja para me tocar ou para me machucar. Em alguns momentos gritava comigo e parecia sentir prazer em fazer brincadeiras sádicas comigo, que se resumiam a cortes e a aplicações de drogas no meu organismo.

Esse parecia ser o que mais o atraia: as drogas. A cada intervalo de tempo ele vinha até mim e aplicava uma seringa com alguma coisa na minha veia.

Durante as primeiras semanas era horrível, a dor que vinha depois e a constatação do que tinha acontecido enquanto eu delirava com alucinações, me fazia vomitar e me deixava doente. Mas depois de um tempo comecei a ansiar pelo momento que ele apareceria com aquela seringa, era a única coisa que me fazia esquecer o que estava acontecendo comigo, que me fazia aguentar as sessões de abuso sexual e toda a dor que sempre acompanhava esses momentos.

No entanto havia o frio e havia roupa de menos e comida de menos e dor demais.

Me encosto na parede e fecho os olhos. Estou com fome. Estou com sede. E quero ir pra casa. Quero ver Will novamente, quero ver meu pai, quero ver Maya e meus avós... Talvez se eu dormir um pouco a fome passe ou o latejar da ferida passe. Queria poder me abraçar agora, acho que isso poderia aliviar o frio mas o meu braço machucado não vai facilitar isso. Por isso acho melhor deixar meu braço imóvel. Não quero ver mais do meu sangue.

Escuto a porta ranger ao se abrir, mas não levanto o rosto para ver quem é. Eu já sei, então fecho os olhos já antecipando o que virá.

— Oi. – ele diz, a voz animada. Escuto seus passos vindo em minha direção e pelo cheiro da sua colônia sei que ele está na minha frente.

Me forço a ficar de olhos fechados.

— Vamos lá, querido. – ele segura meu rosto. – Olhe pra mim. – mas eu não olho, mantenho meus olhos fechados. – OLHE PRA MIM! – grita no meu rosto e eu me forço a abrir meus olhos. – Assim é melhor. – o vejo sorrir, um sorriso incrivelmente bonito e frio. – Gosto da cor dos seus olhos. – ele sussurra e aproxima o seu rosto do meu, encosta sua bochecha na minha e sinto meu estômago revirar.

Ele se afasta, fica de pé. Me olha de longe e então se aproxima de novo. Consigo ver o avelã dos seus olhos cheio de malícia e crueldade.

— Vamos nos divertir um pouco. – e sinto a picada da agulha no meu pescoço e tudo a minha volta começa a ficar desfocado. Percebo quando ele me carrega e quero empurra-lo ou gritar com ele, mas os movimentos não vêm. Meu corpo está mole e até mesmo manter os olhos abertos está sendo difícil.

Passamos pela porta e começamos a subir as escadas.

— Eu preparei muitas coisas legais pra nós hoje. – ele está dizendo, a voz animada e parecendo muito longe daqui. - Sei que você vai adorar, Noah.

Então fechei os olhos.


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Notas finais do capítulo

E então? Como está o coração de vcs depois desse final?
Ainda temos mais três caps antes que a primeira temporada encerre. Então respirem fundo e que se preparem para o que está por vir.
:)))
xoxo e comentem.



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