Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 25
Vinte e quatro – Onde os monstros se escondem.


Notas iniciais do capítulo

Aí eu entrei na minha conta e encontro uma recomendação muito maluca e bonita da Angel!! o/ kkk. Que isso mulher, como vc me pega de surpresa desse jeito?!!! Muito muito obrigada!!!
Espero que aproveite esse capitulo...
Bem vindos leitores novos e boa leitura!!



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Vinte e quatro – Onde os monstros se escondem.

— Prometo que nunca mais vou fazer isso na minha vida. – resmunguei com meu rosto contra o travesseiro e meu corpo inteiro dolorido, principalmente a parte do quadril para baixo.

— Pelo menos você não parece que foi atacado por um animal selvagem. – o loiro comentou e levantei minha cabeça de leve para observa-lo.

Suas costas estavam marcadas com riscos verticais avermelhados, feitos por minhas unhas na noite passada. Também havia a marca dos meus dentes no seu ombro e a parte de baixo do seu lábio estava vermelha, onde eu tinha mordido. Tudo isso era completado com vários e vários chupões no seu pescoço e barriga. Voltei a enterrar meu rosto no travesseiro, em parte porque minhas bochechas estavam ficando vermelhas e em parte porque não podia acreditar que eu tinha mesmo feito aquilo com Will ou que tínhamos mesmo feito sexo na noite passada.

— E além do mais – continuou e percebi que ele estava vindo em minha direção, engatinho sobre a cama até mim. – eu sei que você gostou.

— Cala a boca. – mandei irritado e joguei o travesseiro onde eu escondia meu rosto, em si. Will se limitou a rir enquanto desvia do travesseiro.

— Não fique bravo, Docinho. – falou e continuou vindo em minha direção. Engoli em seco quando ele chegou muito perto de mim, encostou sua boca na minha orelha. – Eu gostei também. – então passou a mão pela minha nuca e me beijou.

Deixei. Em parte porque já não estava mais pensando e em parte porque Will beijava muito bem. Ele foi se inclinando sobre mim, me fazendo deitar e consequentemente se deitando sobre mim. Senti quando sua mão começou a acariciar a lateral do meu corpo, acabei suspirando contra a sua boca com essa caricia. Enfiei meus dedos nos seus cabelos e aprofundei o beijo, provei o gosto da sua língua e a sua maciez. O loiro segurou o meu quadril e o colou com o dele. Desci minhas mãos pelo seu corpo, apalpando, apertando, sentindo a pele dele. Quebrei o beijo e desci minha boca até seu ombro, beijei onde tinha mordido noite passada.

— Não foi minha intenção te machucar. – sussurrei meio ofegante e ele me abraçou.

— Também não quis te machucar. – ele disse beijando minha testa.

Ficamos um tempo assim, abraçados. Não falando nada, não pensando em nada. Era bom só ficar. Ficar perto dele, ficar escondido nos seus braços, apenas ficar era suficiente pra mim naquele momento. Mas então:

— Will. – chamei.

— Hum.

— Estou com fome. – informei e ele riu.

— Claro que está. – se afastou de mim o suficiente para bagunçar meu cabelo e então se levantou da cama e eu me pus sentado sobre meus joelhos. – Vou tomar banho e depois procuramos um lugar para comer algo.

Assenti, mas me levantei e o segui para o banheiro quando me viu o seguindo, Will cerrou os olhos pra cima de mim.

— O que foi? – perguntei entrando no boxe junto com ele. – Se tomarmos banho juntos vamos economizar tempo.

Mas então ele sorriu malicioso pra mim e eu corei.

— Tudo bem então. – concordou e me puxou para si.

Estávamos nos beijando antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

###

O motel não servia comida porque era um motel e as pessoas não costumavam se hospedar lá mais do que uma noite ou algumas horas. Então o que nos restava era algum restaurante na cidade e como tínhamos acordado depois das onze horas, então tínhamos perdido o café da manhã e como tínhamos demorado no banho, tínhamos perdido o almoço.

— Isso é culpa sua. – reclamei enquanto meu estômago roncava.

— Não coloque a culpa em mim. – ele retrucou. – Você quem pediu para que eu não parasse. – e me lançou um olhar significativo ao passo que eu desviava os olhos para o chão.

Eu bem lembrava do que tinha acontecido no banheiro. O modo como as mãos dele tinham se encaixado no meu corpo ou o modo como pedi para que ele não parasse quando tocar já não era mais suficiente, era necessário senti-lo. A água descendo por nossos corpos e o gosto que a pele dele tinha.

— Vem. – ele falou e segurou minha mão. – Estamos em um festival de sorvete, deve existir alguma barraca de alguma coisa por aqui. – e o segui deixando pra trás a lembrança.

Vasculhamos a cidade atrás de comida e até que não foi muito difícil encontrar algo para comer, eram apenas os restaurantes que já tinham parado de servir comida porque o horário do almoço já tinha passado há tempos. Acabamos terminado em uma carrocinha de cachorro-quente.

— Hum. – falei depois que dei a primeira mordida. – Isso é muito bom. – elogiei e a mulher que nos serviu me deu um sorriso em resposta.

— Tem um banco ali. – Will disse e eu o segui quando ele começou a andar.

Apenas quando sentamos ali foi que me lembrei do meu suco.

— Esqueci o suco. – falei e fiz menção de me levantar.

— Deixa que eu pego. – o loiro disse e se pôs de pé então se afastou.

Ainda dei mais uma mordida cachorro-quente de olhos fechados. Ou eu estava com muita fome ou aquilo era o melhor cachorro-quente que já comi. Acho que a primeira opção faz mais sentido.

— Parece que esse cachorro-quente está realmente muito bom. – alguém comentou e eu abri meus olhos meio assustado. – Foi mal. Não quis te assustar. – a pessoa disse. – Posso me sentar? – e indicou o espaço vazio ao meu lado.

Olhei para onde ele estava indicando e depois olhei para Will que ainda estava conversando com a mulher da carrocinha, e o homem pareceu saber o que eu estava pensando porque foi logo dizendo ao mesmo tempo que seguia o meu olhar:

— Ah. Você está com seu amigo, entendi.

Quis dizer a ele que não era meu amigo e sim meu namorado, mas as palavras ficaram presas na minha boca porque tinha alguma coisa me alertando de que aquele homem não era uma pessoa boa. Ele até podia ter uma aparência boa, com a barba por fazer e o cabelo muito preto que destacavam os olhos avelã. O jeans gasto e os tênis o faziam parecer despojado e legal. Devia ter uns trinta anos. Mas não sei porquê, alguma coisa me incomodava no jeito que ele sorria.

— É. – acabei dizendo. A fome sumindo.

— Você é daqui? – ele perguntou.

— Não. – e ele sorriu pra mim, reuni a educação que me restava e sorri de volta. Um sorriso forçado.

— Gostei do casaco. – elogiou e ergueu a mão na minha direção. – Belo capuz. – eu estava com o capuz erguido cobrindo minha cabeça, protegendo do sol. Ele tocou as orelhinhas de urso que haviam no meu capuz e meio que afagou minha cabeça. – Você tem quantos anos? Quinze?

Tamanha foi minha surpresa que não me mexi. Me limitei a engolir em seco e acabei deixando meu cachorro-quente cair.

— Oh. – ele falou.

— Droga. – falei quando vi meu almoço no chão, mas eu nem estava mais com fome.

Esse cara estava me assustando a tal ponto que até minha fome tinha desaparecido.

— Atrapalho? – Will surgiu de lugar nenhum para meu alivio, olhei para ele em suplica e então sua expressão antes irritada, se suavizou.

— Meu cachorro-quente caiu. – falei inutilmente.

— Posso comprar outro pra você. – o homem disse.

— Não precisa. – Will disse todo sério e sentou do meu lado. – Fique com o meu. – e me entregou o dele, que estava intocado.

O homem colocou as mãos nos bolsos, sorriu pra mim. Um sorriso estranho.

— Bom, nos vemos por aí. – disse e eu assenti, por educação. Então ele se afastou e quando estava a dez passos de nós, olhou pra trás. Fixou seus olhos avelã em mim e depois voltou a andar.

— Quem é esse cara? – o loiro tratou de perguntar assim que ele se afastou e vi ele tomar um gole do suco que era meu.

Olhei para o cachorro-quente que ele tinha me dado. Não estava mais com nenhum pingo de fome.

— Não sei. – respondi e entreguei a comida para ele. – Coma. – mandei. – Você ainda não comeu nada.

E voltei a olhar pra frente, para onde o homem tinha ido. Os olhos de Will sobre mim. Mas ele não disse nada, apenas comeu o seu lanche. Depois de um tempo voltamos para o motel, e eu me aconcheguei nele. Eu não entendia por que tinha ficado tão assustado com aquele homem, por que tinha me sentido tão ameaçado. Eu nunca tinha me sentido tão indefeso quanto naquele momento, com os olhos daquele homem sobre mim. Era como se ele estivesse tendo ideias muito muito ruins comigo.

— O que você tem? – Will perguntou e acariciou meu cabelo.

Minha cabeça estava sobre suas coxas e ele estava fazendo um cafuné em mim. Eu tinha me mantido calado durante todo o trajeto de volta para o motel, nem ao menos tinha atendido o celular quando meu pai ligou. A verdade, era que eu estava me sentindo mau. A lembrança daquele homem muito perto de mim, tocando no meu capuz e sorrindo pra mim, perguntando minha idade, ficava voltando a minha mente o tempo inteiro. Havia algo de extremamente sujo no modo como ele me olhou.

— Aquele homem – comecei, mas não sabia como continuar então me calei de novo.

— Ele disse alguma coisa pra você? – se mostrou preocupado. Então me pus sentado.

— Ele... ele... eu não sei. – e passei a mão pelo cabelo. – Ele não fez nada de errado. É só que ele ficou me olhando... – peguei os olhos azuis de Will sobre mim. Eles pareceram confusos durante um tempo e então uma compreensão desconhecida pra mim se apossou deles.

— Ele tentou alguma coisa com você? – o loiro se pôs de pé. Parecia nervoso.

— Não. Não. – percebi que ele não estava com ciúmes. Não. Ele só estava preocupado. – Ele queria saber quantos anos eu tinha e de que cidade eu vim. – fiquei em pé também, andei até o loiro. – Tudo bem? – ele segurou o meu rosto e me beijou como resposta.

— Você quer voltar pra casa? – ele perguntou baixo me abraçando.

O Festival só terminaria no dia seguinte, ainda estávamos no segundo dia e eu estava gostando de ficar em Madill, de ficar nesse quarto de motel com Will. Era a nossa última semana juntos e era a primeira vez que ficávamos sozinhos, sem pais e sem nossos amigos como companhia. Pela primeira vez estávamos realmente juntos, curtindo a um ao outro. Eu não queria ir embora de Madill agora, não queria que esses dias a sós com ele fossem arruinados por causa de homem que eu nem conhecia.

— Mas se formos embora hoje não iremos ao Baile da Colheita. – respondi.

No segundo dia de festa acontecia o Baile da Colheita, que era uma comemoração a boa colheita.

Will riu e me beijou mais um pouco.

— Tudo bem. – eu deitei minha cabeça em seu ombro e ele gemeu incomodado.

— Aí. – e eu o encarei assustado. – É onde você mordeu. – explicou. – Está dolorido.

Sorri amarelo pra ele e eu Will bagunçou meu cabelo.

— Você é bem selvagem, né? – comentou e eu corei até raiz do cabelo. – Mas tudo bem. Selvagem é bom. – ele falou e beijou o meu rosto.

— Você é um pervertido. – cruzei os braços.

— Eu sei que você gosta. – ele se sentou na borda na cama e me puxou pela cintura, fez com que eu me sentasse no seu colo e então começou a beijar meu pescoço. – Não vou deixar ele chegar perto de você. – Will sussurrou no meu ouvido se referindo ao homem de mais cedo, parecia como uma promessa.

Me virei de frente pra ele, ainda sentado no seu colo e segurei o seu rosto. O beijei devagar. Gostava do modo como ele cuidava de mim. Will estava sempre me protegendo, sempre me mostrando o caminho certo a seguir, as decisões mais certas. Acho que ele sabia que eu tinha uma tendência a autodestruição, que quando ficava triste tendia a fazer coisas por impulso atrás de evitar o vazio que sempre se seguia. Mas eu tinha medo. Não dele. Tinha medo de mim. Medo de estragar tudo. Isso sempre acontece quando estou envolvido. Minha própria mãe já disse isso uma vez.

###

— Hey. – o loiro sussurrou no meu ouvido enquanto mexia no meu cabelo. – Você tem que acordar se quiser ir ao Baile.

— Só mais cinco minutos. – resmunguei e cobri minha cabeça com o lençol.

— Noah. É sério. – Will puxou o lençol. – Levanta logo.

Eu me pus sentado, esfreguei os olhos meio sonolento, bocejei.

— Vamos, Docinho, ou vamos nos atrasar. – ele disse e eu me levantei sem dizer nada e fui para o banheiro tomar banho. Tinha entrado no modo automático.

A água gelada serviu para que eu acordasse de vez e quando sai do banheiro Will já estava arrumado. Eu ainda demorei um pouco, porque não conseguia decidir com qual camisa queria ir. Mas no fim, optei por uma camisa verde de botão e coloquei minha jaqueta jeans por cima, porque estava meio frio lá fora. Acho que o inverno estava chegando em Madill.

— Onde é mesmo? – Eu perguntei a Will.

Ele tirou o panfleto de bolso e procurou com os olhos o endereço e logo estávamos seguindo pelo caminho certo. Não conversamos durante o caminho, mas isso não me incomodou. Eu gostava do silêncio que ficava entre nós. E além do mais Will tinha segurado minha mão durante o caminho inteiro apesar dos olhares estranhos e levemente confusos que nos miravam de vez em quando. Alguns compreendiam o que nós éramos um pro outro, outros ficavam apenas encarando como se não pudessem acreditar que tivéssemos coragem. No entanto, por mais triste que isso parecesse, eu sabia que esse ia ser um comportamento rotineiro. Sempre ia existir pessoas nos olhando e nos julgando e falando coisas por nossas costas. Não era uma vida fácil, mas era a que me fazia feliz.

O Baile já havia começado quando chegamos no local. A música tradicional tocava alta e muitos casais dançavam na pista de dança. Foi então que parei para observar o lugar. A festa se passava dentro de um grande celeiro. Achei a temática engraçada e por isso acabei sorrindo, os organizadores tinham aproveitado o espaço, ornamentado tudo de um jeito tão bacana que nem era possível pensar que aquilo era realmente um celeiro.

— O que foi? – perguntei ao loiro quando vi ele olhar para os lados apressado.

— Preciso ir ai banheiro.

— Ah. – e então eu procurei junto com ele o banheiro. – Ali. – e apontei com o queixo para o lugar que se assemelhava mais com um banheiro.

— Me espere aqui. – ele disse e então se afastou.

Ainda fiquei aonde estava, observei as pessoas passarem por mim e muitos não pareciam habitantes de Madill. Deviam ter vindo das cidades vizinhas como eu e Will, no entanto notei que maioria das pessoas era natural da cidade e estavam todos usando roupas de caipira com vestidos tradicionais cheios de rendas para as mulheres e a calça cáqui com botas de montaria para os homens. Eu não sabia que era uma festa temática, senão eu poderia ter me vestido a caráter. Mas então acabei avistando uma barraquinha de comidas tradicionais e não pude me impedir de ir até lá. Eu estava com fome, não tinha almoçado direito e desde aquele momento eu não tinha mais comido nada.

Fiquei um tempo olhando para os vários doces que haviam ali, para os salgados, ponderando o que comeria primeiro enquanto Will não voltava. E eu esperava que ele pudesse me encontrar já que eu não tinha me afastado tanto assim do ponto inicial, onde nos separamos.

— Eu recomendo aquele ali. – alguém falou atrás de mim, a voz no meu ouvido.

Assustado, me virei num sobressalto.

— Oh. Desculpa. – o homem pediu e notei que era o mesmo homem de mais cedo. O cara do sorriso esquisito. – Não quis te assustar.

— Tudo bem. – falei baixinho e enfiei minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta.

O homem me encarou, desceu seus olhos avelã por meu corpo, me avaliou durante alguns segundos e então sorriu.

— Quer ajuda para escolher? – ele perguntou prestativo e de um passo em direção a barraca.

Meu estômago estava ficando embrulhado de tanto nervosismo.

— Não precisa. – falei e desviei meus olhos dos dele.

— Ah, que isso. Eu faço questão. – ele disse alegre e se voltou para a barraca. Olhou por um tempo ali e então pediu um. – Esse aqui. Você vai adorar. – e assim que pagou, pegou o doce, desembrulhou e o aproximou de mim. – Prove.

Eu engoli em seco. Não queria provar nada. Mas meu estômago me traiu. Acabei estendendo a mão e pegando o doce que ele me oferecia e dei uma mordida. No momento em que aquele doce tocou minha língua, foi uma explosão de doçura. Era um tipo de trufa recheada com alguma coisa que eu não conseguia identificar e o gosto era muito bom.

— Hum. – acabei pronunciando de olhos fechados. – Isso é muito bom.

— Sabia que ia gostar. – comentou e eu abri meus olhos. O homem ainda estava sorrindo pra mim. – Opa. – e ele estendeu o polegar em direção aos meus lábios. – Está sujo aqui. – limpou o chocolate do meu lábio inferior, o encarei com os olhos arregalados por ele ter feito isso. – Você veio sozinho? – perguntou enquanto limpava seu polegar em um lenço de papel.

— Não. – respondi e comi mais um pouco da trufa apenas para não desperdiçar, mas a fome em si já havia sumido.

— Seus pais estão aqui? – e olhou em volta como se meu pai pudesse se materializar a qualquer momento, e eu bem que queria que ele pudesse.

— Não. Eu vim com meu namorado. – declarei esperando que essa frase o fizesse se afastar.

— Namorado? – pareceu confuso como se achasse que tinha escutado errado.

— É, namorado. – repeti.

— Ah. O garoto que estava com você mais cedo? – se recordou.

Assenti.

E ele voltou a me avaliar.

— Mas você parece tão novo pra ter um namorado. – comentou. – Tem quantos anos? Quinze? Dezesseis?

— Dezesseis. – respondi inutilmente e joguei o a embalagem da trufa no lixo que tinha do meu lado e depois voltei a enfiar as mãos nos bolsos da minha jaqueta, olhei em volta desejando que Will aparecesse logo.

— Interessante. – ele sorriu e baixou a cabeça e depois voltou a olhar pra mim. - E seus pais te deixam viajar com o namorado?

— Meu pai confia em mim. – respondi e estava começando a ficar irritado com esse cara.

O que ele queria comigo, afinal?

— Mas você ainda é tão novo – e estendeu a mão mais uma vez e tocou no meu cabelo. Fiquei tão assustado com o movimento repentino dele que nem ao menos me mexi. Eu não esperava que ele fosse fazer isso. – para cuidar de si mesmo. – tocou minha bochecha e prendi a respiração ao passo que sentia meu rosto corar.

Então ele sorriu, parecia satisfeito com a minha reação. Mas o sorriso dele era tão frio, era como olhar para uma escultura de gelo terrivelmente bonita ao mesmo tempo que era terrivelmente gelada. Existia alguma coisa de muito errado com esse cara, eu sabia. Não era só modo como ele me olhava que me dizia isso, mas sim o modo como ele agia. Descontraído e prestativo como se quisesse ganhar minha atenção, minha confiança.

— O que está fazendo? – Will perguntou do nada e eu acordei do meu transe de confusão e vergonha e afastei a mão do homem do meu rosto. Olhei para o loiro e ele parecia prestes a espumar pela boca de tanta raiva, mas seus olhos não estavam em mim como pensei que estariam. O azul estava focado no avelã do homem mais velho a minha frente.

— Oh. – ele se sobressaltou e eu me afastei para o lado do meu namorado, segurei sua mão e Will me encarou procurando alguma coisa no meu rosto que eu não sabia o que era. – Me desculpe. Acho que você entendeu tudo errado. Nós estávamos apenas conversando. – ele se explicou e eu permaneci calado.

Me sentia como uma criancinha. Eu tinha novamente cinco anos de idade e estava presenciando uma briga entre meu pai e minha mãe. Reforcei o aperto na mão de Will. Eu apenas queria ir embora dali. Não queria que eles brigassem por mais estranho que esse homem fosse. No entanto Will fez a coisa mais surpreendente pra mim até aquele momento:

— Eu sei o que você é. – o loiro disse com uma firmeza que me surpreendeu, ele nunca tinha permanecido tão sério. – Sei o que quer com ele e não vou deixar que se aproxime, seu doente.

O homem engoliu em seco, estava pálido como se alguém tivesse lhe dado um soco no estômago.

— Não sei do que está falando. – ainda tentou. – Nós estávamos apenas conversando. – e então olhou pra mim. – Diga a ele. – pediu, mas eu não disse. Apenas me limitei a encara-lo de volta.

— Fique. Longe. – o loiro disse pausadamente e então me levou pra longe dali.

Acabamos não ficando no Baile. Will estava segurando minha mão firmemente e me levou pra fora do Celeiro, me levou pra longe da festa. No começo achei que estávamos voltando para o motel, mas depois percebi que estávamos indo para o lado oposto. O loiro estava andando muito rápido e logo comecei a me cansar, mas não ousei abrir a boca porque ele parecia terrivelmente irritado e pisava firmemente no chão. Will estava definitivamente com raiva.

Todavia paramos em uma pracinha no centro da cidade, estava vazia e já passava das oito da noite. O céu estava limpo de estrelas e de nuvens, era apenas o velho e bom preto. Apenas as luzes dos postes nos mostravam o lugar por completo, sem pessoas, bancos de madeira já muito usados e a escultura de um homem em cima do cavalo com a espada erguida, estava no meio da pracinha.

— Você está bem? – ele perguntou depois que respirou fundo, se aproximou de mim e começou a fechar os botões da minha jaqueta e foi só então que percebi que estava tremendo.

Assenti.

— O-o que ele... O que você... – tentei perguntar, queria saber o que Will sabia para poder dizer aquelas coisas para aquele homem com tanta firmeza.

— Não é nada. – o loiro me abraçou forte, beijou meu rosto, meu cabelo, meus olhos, minha boca. – Eu disse que não vou deixar ele chegar perto de você, não foi? Então não vou deixar.

E foi só então que entendi o que estava acontecendo. Entendi porque tinha ficado tão apavorado na presença daquele homem e entendi porque Will tinha ficado com tanta raiva e tão preocupado comigo. Aquele homem com seus sorrisos fáceis e sua educação estava apenas tentando... ele estava só tentando se aproximar de mim e... Meu Deus, eu nem consigo pensar nisso. Não consigo pensar nessa palavra. Não consigo pensar que aquele homem possa ser tão sujo assim, tendo pensamentos tão nojentos com crianças, comigo.

“Você ainda é tão novo”, ele tinha dito. A voz cheia de desejo, o modo como ele estava me olhando como se pudesse ver o que havia por baixo das minhas roupas ou o modo como ele queria ficar perto, queria me tocar. O sorriso frio e os olhos cheios de malícia. Como eu pude ser tão burro em não ter percebido?

E Will. Céus! Will sabia, ele soube no momento que olhou para o homem. Ele já deve ter visto aquele olhar cheio de desejo várias vezes na sua vida, já deve ter recebido aquele olhar cheio de sujeira muitas vezes. Já deve ter sido vítima dessas pessoas doentes muitas vezes. E de novo as palavras de Elizabeth voltaram a minha mente “Will era o preferido deles”. Fechei os olhos com esse pensamento, meu coração se apertando. O abracei de volta.

— Vamos voltar pra casa. – pedi.

— Amanhã. – ele falou e eu sabia que ele tinha razão.

Voltar agora, de noite, com a estrada escura não era uma boa ideia. Mas ainda assim eu não queria mais permanecer ali, com monstros como aquele homem escondidos no mesmo lugar.

— Me deixe olhar pra você. – o loiro falou e com a luz amarela do poste o seu cabelo parecia pálido demais, quase branco. Ele se afastou de mim e segurou meu rosto, olhou bem dentro dos meus olhos, avaliou meu rosto e depois me beijou. Parecia tão quebrado e tão preocupado ao mesmo tempo, que eu quis fazer alguma coisa. Eu quis retirar toda a dor que ele já tinha passado, quis voltar no passado e resgatar o pequeno Will de toda aquela sujeira.

Eu queria salva-lo. Com todas as minhas forças eu quis salvá-lo. Quis retirar toda a carga de dor e medo que ele ainda carregava. Porque agora eu entendia, eu tinha provado uma fração do que ele viveu durante toda infância.

— Vamos voltar para o motel. – falei e segurei sua mão. Ele deixou que eu o guiasse durante o caminho.

Ainda paramos em uma lojinha de conveniências e compramos algo para comer. E com alivio, o fiz rir algumas vezes durante as compras quando vi uma lagosta e brinquei dizendo que sempre quis ter uma lagosta de estimação quando era criança. Nós subimos em silêncio para o nosso quarto, nos sentamos sobre a cama e espalhamos as coisas que tínhamos comprado sobre ela. Fizemos uma espécie de piquenique ali, comigo sentado entre suas pernas, ele me abraçando por trás e suas costas encostadas na cabeceira da cama, enquanto comíamos biscoitos sabor morango. Levantei meu olhar para o teto e contemplei nosso reflexo ali.

Acho que podíamos fazer isso. Podíamos nos salvar. Eu queria salvá-lo, do mesmo jeito que um dia quis salvar minha mãe. Mas no caso da minha mãe, ela nunca quis ser salva. E no caso de Will, parecia que havia uma chance. No entanto, como eu podia salvá-lo se não era capaz e salvar a mim mesmo? Eu também tinha meus fantasmas, coisas que eu ainda carregava comigo, feridas que ainda não tinham fechado e eu sabia que William sabia muito bem disso.

— Eu nunca visitei o túmulo da minha mãe. – contei depois que ficamos muito tempo em silêncio.

Não sei ao certo porque contei isso a ele, me parecia apenas que esse poderia ser um bom começo. Talvez se eu falasse sobre meus fantasmas, eles poderiam finalmente ir embora. E de fato eu nunca fui capaz de ir ao túmulo de Erika, depois da nossa conversa uma semana antes dela se matar, eu nunca consegui me forçar a visita-la de novo.

— Minha mãe... – o loiro começou, parecia ter tido a mesma ideia que a minha. – era uma prostituta viciada em drogas. – seus braços se fecharam a minha volta.

— Você a conheceu?

— Sim. – respondeu baixinho. – Vivi com ela até os quatro anos de idade, que foi quando o concelho tutelar apareceu e me tirou dela.

— O que aconteceu com ela?

— Morreu de overdose dois anos depois.

Fiquei calado. “Eu sinto muito” parecia banal demais. Então fiquei calado, a respiração dele contra meu pescoço me deixava confortável. E acabei pensando mais uma vez em como será em Los Angeles, quando eu começar a morar com meus avós e a viver de novo entre meus amigos, do jeito que era antes. Então pensei no antes, no modo que eu era, na raiva que eu sentia do mundo e da vida. Eu estava me sentindo tão vazio naquela época, tão perdido em mim mesmo. Eu nunca conseguia me encaixar em nada, não conseguia me interessar por nada, eu nem ao menos conseguia amar nada. E por muito tempo me senti culpado em relação a Bianca, porque não podia gostar dela? Por que não podia deseja-la como um cara normal faria? Era apenas aquela incompletude que me perseguia por onde quer que eu fosse.

Tinha mania de começar as coisas e não terminar. Tinha um desejo por sentir emoção, por sentir algo que acabava fazendo coisas erradas. E eu tinha raiva. Muita raiva. Raiva de mim mesmo, por não ter sido suficiente para que Erika me amasse. Raiva dela por ser louca e ter me rejeitado. Raiva do meu pai por ter me dito que ela me amava, quando era mentira. E até mesmo raiva de Maya, por ter sido a única que recebeu alguma afeição de nossa mãe.

E agora, com Will. Eu repasso todas as coisas que vivemos, o que nos trouxe até aqui. O modo irritante que ele era, o cara mau que pensei que ele era, as coisas erradas que Liz tinha me dito que ele tinha feito. E talvez tenha feito e tenha gostado, mas quem sou eu pra julgar? Eu sei como é se sentir quebrado, sei como é achar que nunca vai ser suficiente para alguém. E por isso eu o entendo agora, entendo porque ele é tão perfeccionista, entendo porque ele gosta de morangos, entendo porque ele me protege e entendo, para meu alivio, porque eu quero permanecer ao lado dele.

— Will. – chamei baixinho.

— Hum. – ele resmungou, sua voz arrastada.

— Eu te amo. – ele me apertou mais contra si, beijou a base do meu pescoço.

— Também te amo. – sussurrou de volta.

Me mexi nos seus braços de modo que ficasse de frente pra ele e deitei minha cabeça no seu peito, entrelacei meus dedos nos seus.

Podíamos fazer isso, pensei. Talvez pudéssemos curar um ao outro, espantar os fantasmas, matar os monstros, seguir em frente juntos. Passei meus braços por baixo dele e o abracei forte, desejando que esse abraço juntasse todos os seus pedaços.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei muito bem se vocês sabem sobre o que é realmente essa história. Acho que alguns já devem ter percebido que por trás do romance de Noah e Will existe uma história não muito bonita, mas pra que ainda não percebeu ou não quer acreditar que seja realmente sobre isso, resolvi falar: O ponto central da fic é o abuso de menores.
E esse capitulo tratou exatamente disso. Onde os monstros se escondem é um capitulo pesado e que tentei suavizar para vcs, mais porque a classificação é 16+ e eu não quero mudar, gosto dessa classificação. No entanto, o capitulo está aí... e eu espero que através dele vcs possam não só olhar para o romance dos meninos, mas também para a história toda, para os pequenos detalhes que eu acabo espalhando pelo enredo. E vamos continuar torcendo para que eles fiquem juntos e que possam superar seus medos e eliminar seus monstros.
Mais uma vez obrigada a Angel por ter recomendado a fic, é muito importante pra mim saber o que acham de "Antes que novembro".
Comentem.
Ah, antes que eu me esqueça :) prometo que vou tomar vergonha na cara e responderei os comentários kkk. É só que tudo anda meio corrido e o tempo que sobra, acabo escrevendo e como acumulo muitas ideias acabo terminando o cap rápido.
Bom, é isso.
xoxo!!



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