Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 23
Vinte e dois - Até quando vamos durar?


Notas iniciais do capítulo

Oi galera!!
Olha eu aqui!!
Trouxe mais um cap pra vcs. Esse ficou enorme, então espero que gostem porque foi uma loucura escrever ele. :3
Boa leitura



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Vinte e dois – Até quando vamos durar?

Enlacei o dedinho de Will no meu. Ele me olhou e juntos respiramos fundo antes de girar a maçaneta da minha casa e juntos entramos. Eu sabia que ele estava nervoso com esse “jantar romântico em dupla”, afinal eu também estava. Mas no fim, foi meu pai quem disse que eu podia trazer Will, então... Bom, apenas queria que tudo desse certo.

— Chegamos. – falei alto, nossos dedinhos se desenlaçando.

Papai surgiu na porta da cozinha, enxugando as mãos com um guardanapo. Ele estava enfurnado na cozinha desde as quatro da tarde tentando cozinhar algo decente para Laura, coisa que achei engraçado porque meu pai não era lá um mestre cuca e tals. Na verdade, ele era péssimo e todo esse tempo nós vivíamos de comidas congeladas e delivery, coisa que desagradava muito meus avós. Eles sempre estavam dizendo que Mike não sabia cuidar de mim e que eu estaria melhor sobre sua guarda. Balancei a cabeça, não queria pensar neles. Não hoje.

Logo eu teria que me mudar para Los Angeles e morar com eles. Olhei de relance para William. Eu ainda não tinha dito nada sobre isso para o loiro e nem queria, mas era necessário.

— Vocês trouxeram tudo? – papai perguntou.

— Yes! – falei tentando recobrar minha animação de mais cedo e ergui as sacolas que eu trazia ao passo que Will também fazia o mesmo.

Caminhei até a cozinha e o loiro me seguiu. Deixei as sacolas no balcão e comecei a tirar as coisas que compramos de dentro das sacolas, Will me ajudou. Sorri pra ele e ele sorriu de volta. Senti papai olhando sobre meu ombro as coisas que eu trouxe, observei seu rosto e peguei uma careta.

— Pra que tanto doce, Noah? – soltou e pegou uma caixa de chocolate, leu o rotulo. – Sabe que não pode comer essas coisas. – repreendeu.

— É para ficarmos acordados. – expliquei e peguei a caixa da sua mão, coloquei sobre o balcão.

— Mentira. – Will interviu e eu o olhei surpreso ao passo que ele cruzava os braços e encarava meu pai. – Ele tem dado essa desculpa o tempo todo, mas a verdade é que Noah é um viciado em doces.

Mike começou a rir e depois bagunçou o meu cabelo.

— É verdade. Esse garoto é uma formiga. – concordou com o loiro. – Não sei de quem ele puxou essa preferência por açúcar.

Olhei do meu pai para Will e os dois estavam rindo e agindo como se fossem melhores amigos. Uma parte de mim achou aquilo bom, mas a outra ficou indignada porque eles estavam rindo de mim.

— Ei. – protestei. – Não sou um viciado em doces.

— Conta outra, filho. – Mike disse pra mim. – Você precisava ver o estoque de doces que ele tinha no quarto, dentro do guarda-roupa. – ele se dirigiu ao loiro. – numa caixa. – meio sussurrou essa última parte e começou a rir depois.

Cruzei os braços.

Tá, tudo bem. Eu tinha mesmo uma caixa de doces escondida no meu guarda-roupa. Mas era para emergências. Afinal, tinha dias que eu realmente precisava comer alguma coisa doce, saborear um bom chocolate ou apenas comer jujubas como se não houvesse amanhã. No entanto isso não me faz um viciado, entretanto mesmo que fizesse era bem melhor do que ser viciado em cigarros ou bebidas, como eu era antes de Will. Todavia, isso não dava o direito de papai mexer nas minhas coisas. Porque quando ele descobriu isso, retirou todos os doces do meu guarda-roupa e guardou no armário da cozinha, com direito a cadeado e tudo apenas para que eu não comesse tudo quando bem entendesse. Às vezes, ele me dava um chocolate aqui ou uma bala ali, mas isso só acontecia quando ele estava de bom humor ou quando eu me comportava.

— Não tenho mais isso. – reclamei. – Papai pegou todos. – me dirigi a Will, que disfarçou o sorriso mordendo a língua e olhando pro lado. Dei um tapa no seu ombro. – Não ria. – briguei. – É uma coisa séria.

— Claro que é, Docinho.— o loiro disse com um sorriso irônico no rosto e bagunçando meu cabelo. Corei na menção do meu apelido e de canto de olho peguei papai ficando desconfortável e só então percebi que estava rolando um climão entre eu e Will.

— Então, pai, o que está cozinhando? – me apressei em mudar de assunto.

— Ah, - ele começou e coçou a nuca do mesmo jeito que eu fazia quando não tinha certeza sobre uma alguma coisa. Andei até o fogão e olhei dentro da primeira panela. – tentei fazer uma coisa simples.

Aproximei meu rosto do vapor que saiu dali e senti o cheiro e para minha surpresa estava bastante bom.

— O cheiro está bom. – elogiei ao passo que Will repetia o meu gesto.

— Realmente Senhor Grace, está com um cheiro ótimo. – falou o loiro todo educado e não pude me impedir de pensar no que Liz havia me dito sobre a infância de Will.

“Ele era tratado como um boneco, sempre bem arrumado e bem educado”.

— Acham mesmo? – Mike se mostrou inseguro, mas acabou vindo para a frente do fogão e começou a mexer numa outra panela.

Assenti e perguntei o que era.

— Surpresa. – confessou rindo e lhe dei um sorrisinho também.

Então segurei a mão de Will.

— Vamos jogar um pouco enquanto Laura não chega. – falei e fui puxando Will em direção a saída da cozinha.

— Tudo bem. – papai disse voltando a se concentrar no seu prato secreto.

— Não acha que seu pai gostaria de ter alguma ajuda? – meu namorado perguntou. Ainda olhei pra trás, para meu pai.

— Ele está se saindo bem sozinho. – afirmei e levei Will para a sala ao passo que eu pegava de relance o seu sorriso.

— Noah! – papai chamou e me virei. – Maya mandou um pacote pra você. – avisou e eu arregalei os olhos levemente e depois sorri. – Deixei no seu quarto.

Assenti ao passo que ele voltava aos seus afazeres de mestre cuca. Ainda segurando a mão de Will corri escada acima, a curiosidade me corroendo por dentro.

— Vai com calma. – o loiro reclamou, olhei pra trás. Ele estava ofegante.

Foi então que me dei conta de que Will não estava tão recuperado assim da batida na cabeça. Me xinguei mentalmente por isso. Fazê-lo correr assim devia o estar deixando tonto.

— Desculpa. – eu disse e segurei seu rosto. Observei sua face bem perto, fitei seus olhos e notei como azul parecia desfocado. – Você está bem?

O loiro desviou os olhos dos meus e me afastou.

— Sim, sim. – disse baixinho. – Só não me faça correr mais.

— Tudo bem. – falei meio arrependido por ter me deixado levar pela ansiedade. Então me aproximei de novo dele e beijei o canto da sua boca, coisa que o fez sorrir. – Pode esperar na sala enquanto eu vejo o que Maya me mandou. – sugeri.

— Não, tudo bem. – ele ajeitou os óculos. – Vou com você, porque acabei ficando curioso também.

Sorri e voltei a segurar a sua mão e dessa vez andamos mais devagar até o meu quarto. Assim que entrei avistei o pacote sobre minha cama, um embrulho branco. Soltei a mão de Will e fui até lá. Havia um bilhete grampeado no pacote, o tirei dali e li o que havia escrito.

“Para você ficar aquecido.

— Maya.”

Achei o bilhete meio estranho, mas deixei de lado. Larguei o bilhete sobre a cama e tratei de pegar o pacote. Rasguei o papel branco de seda e observei o que ela tinha me mandado. Era uma roupa. Segurei durante um tempo aquele pedaço de pano, acariciei o tecido com a ponta dos dedos e logo o que Maya tinha escrito no bilhete começou a fazer sentido. Desdobrei a roupa e contatei que era um casaco com capuz e na cor cinza.

— Fala sério. – murmurei incrédulo.

Isso estava mesmo aqui?

— Um casaco? – Will disse surgindo ao meu lado. Por um momento eu tinha esquecido que ele estava aqui também.

— É. – respondi. Meus olhos cravados no casaco.

— Tudo bem? – o loiro perguntou depois que percebeu o quanto quieto eu tinha ficado. O encarei.

— Eu... – comecei, mas então desisti e suspirei sentando na borda da cama, o casaco sobre o meu colo. – Só não achei que fosse ver isso de novo. – comentei baixinho olhando para o capuz do mesmo.

— Quer me contar alguma coisa? – Will perguntou delicadamente. E eu sabia que ele não queria forçar nada, mas eu podia sentir a confusão dele.

Afinal, que tipo de pessoa fica em estado de choque por receber um casaco?

Suspirei mais um pouco. Uma parte minha queria contar a ele o que estava acontecendo e como eu me sentia confuso com esse presente repentino. Mas a outra parte não queria dizer nada, só queria se deitar naquela cama comer muitos doces e chorar durante alguns minutos abraçado nesse casaco. Então como resposta para a sua pergunta, apenas me empertiguei em sua direção e o beijei. Larguei o casaco e passei os braços em volta do pescoço do loiro e o beijei. No começo ele pareceu surpreso e eu não podia culpa-lo por isso, mas era que naquele momento eu precisava que ele me distraísse, que me fizesse esquecer esses malditos sentimentos que esse presente estava me causando.

— Ei, ei. – o loiro disse se afastando de mim e segurando o meu rosto. – O que aconteceu? Por que está chorando?

— O que? – soltei confuso e me afastei dele, toquei minha bochecha e foi só então que percebi as lágrimas descendo por meu rosto e fato de constatar isso fez apenas com que elas viessem em maior quantidade, porque logo eu estava cobrindo minha boca para conter os soluços.

Fechei os olhos numa forma de impedir que as lágrimas viessem, mas não deu muito certo. Virei de costas pra Will, não queria que ele me visse chorando. Então cobri meu rosto com as mãos e chorei um choro contido.

Por que Maya tinha que mandar esse presente agora?

— Noah. – escutei William chamar. Sua voz cheia de incerteza na mesma proporção que havia delicadeza.

Balancei meu rosto em negação, numa forma de tentar dizer a ele para não ficar preocupado, para sair daqui e me deixar sozinho um tempo. Mas ele provavelmente não entendeu o que eu quis dizer, pois logo estava do meu lado me puxando para os seus braços. Deixei que o loiro me envolvesse nos seus braços, escondi meu rosto na curva do seu pescoço e chorei enquanto Will levava a mão ao meu cabelo e o acariciava. Não sei quanto tempo fiquei ali, não sei quanto tempo ficamos ali, em pé, abraçados. Não sei quanto tempo ele velou o meu choro e principalmente, eu não sei quanto tempo me mantive escondido entre seus braços.

Quando finalmente as lágrimas cessaram, passei meus braços em volta da sua cintura e o abracei. Era meu jeito de agradecer por ele não ter ido embora. Funguei contra a sua camisa e então levantei meu rosto para observa-lo. Will sorriu pra mim, era apenas um repuxar de lábios. O loiro estava tentando transmitir algum conforto pra mim ao passo que toda sua expressão era confusão e preocupação.

— Acho que te devo uma explicação. – falei.

— Só se você quiser contar. – encostou sua testa na minha, fechei os olhos com isso.

Eu gostava disso. Dessa coisa estranha e pegajosa que Will me oferecia. Ele nunca me forçava a contar as coisas, a dizer meus segredos profundos assim como eu fazia o mesmo com ele. Era a nossa interação natural. Ainda estávamos aprendendo como cada um funcionava, o que irritava o outro ou o que o outro gostava. Estávamos encontrando a nossa sintonia aos poucos.

— Ganhei aquele casaco quando tinha 5 anos de idade. – contei ainda com a minha testa encostada na dele, meus olhos abertos. Will abriu os seus olhos. Fitei o azul da sua íris. – Ganhei da minha mãe.

Ainda era estranho dizer isso em voz alta. Minha mãe. Não me parecia o nome certo e toda vez que eu dizia essa palavra em voz alta, podia sentir a estranheza, a incerteza estampada na minha voz. Por muito tempo me perguntei o que havia de errado comigo, o que me tornava tão diferente ao ponto de Erika não poder me considerar seu filho, sendo que fui gerado por ela.

Tirei meus braços da cintura de Will e me desvencilhei dele. Me afastei dele. Fitei o casaco sobre a cama, dei um passo em sua direção. Queria pegá-lo ao mesmo tempo que não queria.

— E como qualquer criança de cinco anos, eu meio que me apeguei a esse casaco. – sorri amargo.

O que eu podia fazer? Eu tinha cinco anos e esse foi o único presente que ganhei da minha mãe. Ela nunca tinha me dado muita atenção, deixando sempre minha educação e cuidados para o meu pai. Mike era quem sempre estava cuidando de mim juntamente de Maya. Então quando ela simplesmente parou de me ignorar e começou a se interessar por mim... Bom, eu devia ter desconfiado de alguma coisa. Mas primeiro: eu tinha cinco anos e segundo: estava carente de amor maternal.

— Era meio difícil me fazer tira-lo. – me sentei na borda da cama, segurei o casaco. – Devo tê-lo usado até os sete anos, acho. – pisquei tentando me lembrar da minha idade naquela época. – O que aconteceu foi que minha mãe enlouqueceu – fitei o garoto parado a minha frente e seus olhos diziam que ele entendia, afinal eu já havia mostrado minhas cicatrizes para ele há tanto tempo. – e ela queimou esse casaco na minha frente. – contei olhando pra baixo ao mesmo tempo que apertava o tecido entre os dedos.

“Você não merece isso”. Ela tinha dito.

— Noah. – Will veio até mim, se abaixou na minha frente e segurou minhas mãos. – Sua mãe não estava bem.

— Eu sei. – falei baixinho o fitando. O loiro ergueu a mão esquerda e limpou uma lágrima na minha bochecha. Segurei sua mão ali e fechei os olhos. – Sei que é um motivo idiota para chorar. – comentei.

— Não é. – se apressou em dizer e o abri meus olhos para olhá-lo. – Você era uma criança.

— Uma criança com uma mãe louca. – acabei rindo e Will me acompanhou.

Então me inclinei e o beijei. Tinha gosto de lágrimas, de cumplicidade. Eu não sabia o que estava acontecendo conosco ou como estávamos conquistando essa interação, era apenas que as coisas entre nós dois estavam se tornando naturais.

— Mas você não me disse como esse casaco veio parar aqui. – falou interrompendo o beijo, olhei de canto de olho para casaco.

— Acho que Maya mandou fazer outro. – ergui o casaco na minha frente.

Era definitivamente maior do que meu casaco inicial, o que denunciava que ele fora feito para alguém do meu tamanho. Maya provavelmente achou que eu ia gostar da surpresa assim como meu Avô. Eles sempre estavam tentando amenizar a falta que Erika causou.

— Combina com você. – Will disse rindo e eu o empurrei de leve, acabei rindo também.

Era definitivamente um casaco infantil. Cinza com o rosto de um urso na frente e o capuz com orelhinhas de urso costuradas nele. Maya acha que ainda tenho 6 anos de idade?

— Vai usá-lo? – ele perguntou se sentando ao meu lado na cama.

— Não sei.

— Acho que você ia ficar uma gracinha com ele. – Will sussurrou na minha orelha, não pude me impedir de fechar os olhos com esse ato dele.

Seus lábios roçaram contra minha pele abaixo da orelha ao mesmo tempo que ele se inclinava sobre mim, me fazendo deitar na cama. O loiro beijou a pele exposta do meu pescoço me fazendo suspirar com isso, fazendo pequenas correntes de energia correrem por meu corpo. Levei minhas mãos até a borda da sua camisa, segurei o tecido por breves segundos enquanto ele deixava beijos pelo meu pescoço. Então enfiei minhas mãos por dentro da sua camisa, acariciei sua barriga, segurei sua cintura e o trouxe para mais perto, juntei nossos quadris ao passo que o sentia sorrir contra minha pele. Procurei sua boca e ele não me negou o beijo que se seguiu.

Eu gostava do modo como os lábios dele pareciam se encaixar nos meus, gostava do jeito como minhas mãos se encaixavam no seu quadril, gostava do gosto que o beijo dele tinha, gostava do cheiro meio almíscar que ele exalava. Will era cheio dessas coisas que eu gostava ao mesmo tempo que havia coisas nele que eu achava irritante, como algumas manias. O jeito ranzinza que as vezes ele se comportava quando estava preocupado com algo, o loiro tinha a péssima mania de se isolar quando estava com algum problema. Ou o modo como ele tinha que deixar tudo a sua volta organizado, tudo no seu devido lugar. A mania que ele tinha de ser perfeccionista sempre batendo de frente com a minha bagunça. Mas há esses momentos, esses pequenos momentos, onde toda essa diferença de personalidade não importa. O que importa, para meu alivio, é o modo como a pele dele é quente ou como os beijos dele me fazem esquecer tudo que está acontecendo a minha volta.

Eu o ajudei a tirar a camisa, enfiei meus dedos no seu cabelo e o trouxe para mais um beijo. Deixei que ele colocasse as mãos por dentro da minha camisa e me tocassem. Will tirou os óculos e os colocou em algum canto que não vi. Ele me ajudou a tirar a minha camisa e logo nossos corpos estavam juntos novamente, dessa vez eu por cima dele. Espalhei beijos por seu pescoço e clavícula. De repente eu não estava mais me importando com o fato de meu pai estar no andar de baixo cozinhando algo para Laura ou com o fato de Laura estar vindo pra cá. Ali, naquele momento, apenas quis sentir. Mas ao mesmo tempo que sentia Will sorrir contra meus lábios e acabava sorrindo também, acabei me lembrando da conversa que tive mais cedo com Matt na locadora de filmes.

“Até quando acha que isso vai durar?” Ele tinha me dito, os olhos escuros muito sérios sobre mim.

Sem querer me afastei de Will, mas ele se empertigou na minha direção e voltou a me beijar. Aceitei o beijo, mas minha mente não estava mais ali. Eu estava, para minha surpresa, pensando em Matt e nas coisas que ele tinha me dito no breve momento que Will se afastou de mim na locadora.

“Você sabe que isso não vai dar certo, não é? Will só está encantado com você por não ser daqui. Você é só o brinquedinho novo. Mas logo, logo ele vai se cansar e então tudo vai voltar a ser como era antes”.

— Tudo bem? – o loiro perguntou me encarando quando eu me afastei dele mais uma vez.

Me sentei sobre minhas pernas e desviei meus olhos dos dele. Me sentia tão envergonhado por lembrar do que Matt tinha me dito ao mesmo tempo que sentia raiva de mim mesmo por me deixar realmente cogitar o que Matt tinha dito.

— Ei. – Will disse suavemente e veio na minha direção. Ele acariciou meu cabelo e deitou minha cabeça no seu ombro, passei meus braços por seu corpo e o abracei. – O que aconteceu? Eu fiz alguma coisa de errado? – o loiro parecia realmente preocupado.

— Não. – falei contra a sua pele. – É só que... – eu não queria contar a ele sobre minha breve conversa com Matt, não queria contar o que garoto de pele negra me disse. – Eu só não estou preparado ainda. – acabei dizendo, o que não era realmente mentira mas também não era a verdade completa.

— Tudo bem. – ele sussurrou contra meu cabelo. – Também não estou.

Levantei meu rosto para olhá-lo. E sem os óculos Will ficava diferente, era mais fácil olhar dentro dos seus olhos e notar os pequenos pontinhos coloridos que ele carregava no azul. Foi só aí que realmente notei que o que Liz tinha dito sobre como Will teve que usar óculos, como tinha sido culpa dela. No fim, era realmente verdade o que a garota tinha dito.

O que fizeram com você?, eu quis perguntar. Mas não perguntei. Em vez disso, outra pergunta saiu da minha boca:

— Você nunca...? – tentei formular a pergunta, mas era difícil dizer a palavra em voz alta, em parte por causa da vergonha mesmo.

— Uma vez. – contou. Esperei. – Não foi uma experiência muito agradável. Por isso prefiro pensar que não aconteceu. – então ficou quieto, o silêncio caindo sobre nós. O abracei mais forte para mostrar que eu estava ali e que a coisas podiam ser diferentes agora.

Uma parte minha tinha uma vaga ideia do que aconteceu com Will, a outra parte não queria nem cogitar essa possibilidade. Por isso não insistir nesse assunto. Se ele quisesse me contar, me contaria. Então seguindo esse pensamento, deixei que ele ficasse em silêncio e que não me dissesse nada sobre sua experiência sexual nada boa.

— Podemos esperar a hora certa então. – sussurrei contra a sua pele.

— Podemos esperar. – concordou.

Levantei meu rosto do seu ombro e o fitei. Ele ainda estava sem os óculos e por um momento me senti intimidado com os olhos dele. Eram muito azuis e o loiro me fitava com demasiada força, os olhos meios fechados, e eu sabia que ele estava tentando enxergar os traços do meu rosto. Fechei os olhos e o beijei. Will colocou uma mão em cada lado do meu rosto e comandou o beijo. Deixei que ele o fizesse. Saboreei o sabor da sua língua, a forma dos seus lábios. Tínhamos deixado toda a urgência de minutos atrás, agora o que nos guiava era uma estranha delicadeza. O modo gentil que William me beijava fazia surgir um frio na minha barriga. E mais uma vez não pude deixar de lembrar do que Matt havia dito: “Até quando isso vai durar?”

Eu não sabia até quando isso ia durar, não sabia se íamos terminar bem ou mal. Se na semana que vem íamos brigar e depois não olhar na cara um do outro nunca mais. Se nossos corações iam ser partidos ou se as íamos nos despedir com civilidade e nos tornar bons amigos. Eu não sabia nada disso. O que eu sabia, naquele momento quando os lábios de Will se colavam nos meus, era que eu queria que durasse. Era o meu desejo secreto.

Quero que dure.

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O que papai tinha cozinhado se chamava estrogonofe. E estava, para minha surpresa, uma delícia. Laura tinha chegado as 20hs em ponto, como tinha combinado com meu pai. E no momento, estávamos todos sentado na nossa pequena mesa de jantar na cozinha saboreando o que meu pai tinha feito.

— Não sabia que cozinhava, Mike. – Laura comentou depois de comer mais um pouco.

— Nem eu. – falei baixinho e Will riu por sobre o copo antes de beber um pouco do suco.

— Eu me esforço. – papai respondeu.

— E bota esforço nisso. – comentei. – Ele tem estado enfiado nessa cozinha desde as quatro da tarde tentando cozinhar algo decente pra você. – e com prazer observei Laura sorrir para o meu pai.

Até que eles formavam o casal bonito. E eu meio que notava o quanto Mike parecia bem mais sorridente quando estava na presença dela. Acho que ele merecia um relacionamento saudável pelo menos uma vez, pois depois que Erika morreu ele nunca mais teve alguém realmente. Havia os seus casos de sempre, mulheres de uma noite só que frequentavam a sua cama com mais frequência do que eu gostaria de saber. Mas se bem que teve aquela época onde começamos a não ter um relacionamento muito bom, foi logo depois que ele descobriu meu vício em cigarros, onde ele achou que ter uma mãe poderia ajudar nisso. Claro que não ajudou, na verdade só piorou. E depois ele acabou desistindo disso. No entanto, há Laura. A bela e doce e independente Laura. Mãe solteira com uma filha adolescente emburrada pra criar. Eu gosto dela e sei que meu pai também gosta e pelo jeito que ela olha pra ele, sei que ela também gosta dele. Acho que os dois merecem isso.

Fiquei tão concentrado nos dois que nem percebi quando mudamos de assunto. Quando dei por mim eles estavam falando sobre o tema dos filmes que eu e Will tínhamos trazido.

— Não trouxeram nenhum de terror? – a ruiva soltou. – Confesso que tenho um fraco pela sensação de medo que esses filmes trazem.

— Não sabíamos se você gostava, então não trouxemos nenhum. – Will falou no meu lugar.

A verdade, era que eu não gostava de filmes de terror assim como não gostava de filmes de horror ou algo que envolvesse sangue. Porque, bem, quando você tem hematofobia é preciso tomar alguns cuidados. E Will sabia disso assim como sabia que eu não ia contar isso para Laura nem para ninguém. Eu odiava ter hematofobia.

Lancei a ele um olhar de agradecimento e ele sorriu minimamente.

Continuamos falando sobre filmes. Os temas que mais gostávamos, os temas que não gostávamos. O pior filme que já assistimos ou o melhor. Me surpreendi por Laura conhecer tantos temas de filmes. Ela confessou que era viciada em séries e que sempre assistia Games Of Thrones no seu tempo livre e que agora estava torcendo para que Jon Snow não tivesse morrido como pareceu no último episódio da quinta temporada. Em algum momento mudamos de assunto e caímos no tópico profissão. Papai contou momentos engraçados que tinha acontecido no hospital durante sua residência e Laura falou sobre como pensou em desistir da faculdade um ano antes de terminar, porque achava que não ia ser uma boa médica.

— Mas e vocês dois? – ela perguntou apontando os dentes do garfo para nós dois. – O que pretendem ser quando crescer? – e riu da sua própria pergunta, acabei acompanhando.

— Jornalismo com certeza é minha praia. – o loiro se apressou em dizer, mas disso eu já sabia.

Will foi realmente feito para essa profissão e mesmo que ele não der certo em jornalismo, podia muito bem virar detetive, porque do jeito que ele investigou minha vida até os mínimos detalhes, não me surpreenderia se ele escolhesse essa profissão. Ele se daria igualmente bem, seja em jornalismo ou na carreira policial.

— Jornalismo é uma boa profissão. – Mike comentou e lançou um olhar significativo pra mim como que dizendo “Siga o exemplo do seu namorado e pense no futuro”, me limitei a revirar os olhos pra ele, que olhou feio pra mim.

A verdade era que eu não sabia que profissão seguir. Assim, eu não tinha exatamente uma aptidão natural como Will ou tinha sonhos desde criança como Maya, que hoje em dia cursa medicina. Claro que eu já havia pensado nisso e bastante até. Tinha até mesmo feito testes vocacionais e tido conversas do tipo com a Dr. Martha. No entanto, nunca havia algo que realmente me interessasse. Eu gostava de números, gostava de histórias antigas como mitologia greco-romana, gostava de jogar vídeo game e dormir e comer. Mas o problema é que não dá pra ganhar dinheiro com essas coisas.

— Pretendo cursar na faculdade de Boston. – o loiro ainda estava falando enquanto eu pensava em uma resposta decente.

— Ah, sim. Sua mãe comentou comigo que você foi um dos selecionados para o curso de férias lá. – parei de comer na hora e olhei para Will. – Parabéns.

— Pois é. – ele disse apenas quando viu meu olhar sobre ele.

Como ele não me contou uma coisa dessas?

— Parabéns. – acabei dizendo porque tinha me dado conta de que estava na mesma situação que ele, afinal eu ainda não tinha lhe contado que ia voltar para Los Angeles.

A mesa caiu num silêncio incomodo depois que falei. Acho que Laura percebeu que eu não sabia, porque ela lançou a ele um olhar de “foi mal” ao mesmo tempo que sorria amarelo para mim. O loiro apenas se limitou a baixar a cabeça.

— Mas e você, Noah, vai seguir a profissão do seu pai? – Laura tentou amenizar o clima.

— Não. – sorri tentando afastar a sensação de desconforto do meu estômago. – Maya já está fazendo isso e além do mais, não tenho aptidão alguma para medicina.

— Isso é verdade. – papai comentou e riu. – Noah é muito desajeitado.

— Sou nada. – protestei.

— Você conseguiu perder os tênis. – disse e Laura começou a rir ao mesmo tempo que Will tentava disfarçar uma risada.

Cruzei os braços.

— Eu tinha oito anos – expliquei. – e tinha os tirado depois da aula de educação física.

— Então esqueceu onde tinha deixado. – papai continuou.

— Como assim? – o loiro perguntou.

— Qual, é. Eu tinha oito anos e aquele foi um dia cheio. – todos na mesa explodiram em risadas ao mesmo tempo que eu me permitia um sorrisinho.

Acho que eu podia me acostumar com ela ou com isso. Isso de ter uma família completa pelo menos uma vez. Por que ali estavam Will, Laura e meu pai, Mike. Se ela escolhesse permanecer, então eu acho que podia me acostumar com ela fazendo parte da minha família. E quanto a Will... bom, ele ainda era uma interrogação enorme e brilhante na minha vida, mas se ele durasse... eu não sei.

###

— Por que você escolheu esse filme mesmo? – sussurrei contra a orelha de Will e o senti se arrepiar.

— Porque é um clássico. E é legal. – falou, os olhos focados na tela da tevê.

Cruzei os braços e voltei a fitar a tevê. Roma Holiday, era de fato um clássico e também era em preto e branco e a história era tão clichê quanto o nome. E eu ainda não estava entendendo como Laura, que gostava de Games Of Thrones, podia estar se derretendo com uma história dessas que basicamente era sobre uma princesa que ia para Roma e cansada da sua vida de princesa, fugia. E perdida em Roma, ela conhecia esse cara, o jornalista que fingia não saber que ela era a princesa Ann e a ajuda. Então eles se apaixonavam e todo aquele blá blá blá de não podemos ficar juntos porque você é um plebeu e eu não. Resumindo: um saco total. Mas o que estava me surpreendendo era que até mesmo meu pai estava vidrado na história. Acho que de alguma maneira ele estava se reconhecendo no enredo do filme. Todos estavam concentrados na história e meio que já adivinhando o final do filme, apenas eu permanecia imune a história. Acho que só as pessoas que já estiveram o coração partido deviam achar alguma emoção nessa história.

De repente me vi me perguntando quem teria partido o coração de Will. O olhei de soslaio e tentei ler seus traços. Devia ter alguma coisa no azul concentrado dos seus olhos ou no modo como seus ombros estavam baixos que denunciasse isso, mas eu não fui capaz de ler nada. Então me peguei lembrando do que Liz havia me dito sobre Will gostar de Mark e logo as palavras de Matt me vieram a mente mais uma vez: “Você sabe que isso não vai dar certo, não é? Você é só o brinquedinho novo”.

Será que William só estava comigo por eu ser diferente de Mark? Será que estava comigo apenas para fazer ciúmes em Mark?

— O que foi? – Will perguntou baixinho franzindo a testa na minha direção.

Foi só então que percebi que o estava encarando por demasiado tempo.

— Já se apaixonou? – soltei do nada. A pergunta nem ao menos passou por minha mente. Não tive tempo de pensar nela, pois quando dei por mim já tinha feito a pergunta.

— O quê? – pareceu extremamente confuso e pelo canto de olho vi meu pai se espreguiçar e colocar o braço sobre o ombro de Laura e ela deitou a cabeça no seu ombro.

— Pelo Mark?

— Mas... O quê? Do que está falando?

Não sei porque ao certo fiquei irritado. Acho que foi a ideia de que ele estivesse mesmo gostado de Mark e que estivesse comigo apenas para provoca-lo. Bufei e cruzei os braços. Olhei pra frente, tentei me concentrar no filme e tratei de ignorar Will. Peguei ainda seu olhar confuso sobre mim durante alguns minutos, mas ele não tentou dizer nada. Apenas voltou a olhar para a tevê e tratou de assistir o resto do filme. Enquanto o filme ainda rodava, minha mente viajava. Mil e umas coisas me vieram a mente, palavras soltas de lembranças que eu tinha julgado sem importância. Mas todas sempre diziam a mesma coisa: eu não conhecia Will tão bem quanto achava.

A princesa do filme não ficou com o jornalista e de alguma forma pensei se isso era algum tipo de sinal. Dizendo que eu e Will não éramos compatíveis e que no fim não íamos ficar juntos apesar de todos os momentos bons que pudéssemos ter.

— Hey. – Will sussurrou no meu ouvido me assustando no processo.

Estava tão perdido nos meus pensamentos e nas minhas teorias que tinha me esquecido da presença do loiro.

— Desculpa. – pediu. – Não sabia que estava tão distraído. – tentou beijar minha bochecha, mas me desviei e recebi em troca um olhar surpreso e confuso do loiro. – Noah... – começou.

— Vou pegar mais pipoca. – interrompi e levantei segurando a vasilha, onde havia pipoca.

Meu pai se ocupou de escolher outro filme, totalmente alheio ao clima estranho entre nós dois.

Andei em direção a cozinha. E no modo automático, minha mente longe mais uma vez, coloquei a pipoca no micro-ondas e esperei dá o tempo. Me encostei na bancada, apoiei meus cotovelos ali e fechei os olhos enquanto suspirava. Queria que essas coisas saíssem da minha cabeça, queria que as palavras de Liz parassem de me perturbar assim como as palavras de Matt, queria poder contar a Will que eu ia voltar a morar em Los Angeles, queria que Will me explicasse sobre isso dele ir para Boston para o tal curso de férias...

— Oi?

Abri os olhos e levantei o rosto. Will estava a minha frente, do outro lado da bancada, na mesma posição que eu. Mas diferente de mim, ele tinha um sorriso no rosto. Parecia disposto a não brigar, apesar de eu saber que minha expressão dizia totalmente o contrário.

— Noah, - ele baixou os olhos, parecia triste e isso fez meu coração se apertar. – se você está chateado por eu não ter ti contado sobre o curso em Boston, quero que saiba – eu me desencostei da bancada e dei a volta na bancada fui até ele. – que eu ia te contar, é apenas que...

— Tudo bem. – me ouvi dizendo e segurei seu rosto. Eu não queria saber disso agora.

O beijei.

Existia uma certa urgência no modo como eu conduzia o beijo. Eu precisava tê-lo perto, precisava do seu calor, precisava sentir seu gosto. Meu Deus! , me dei conta, como estou apaixonado. Eu não podia perdê-lo agora, não podia deixar que ele se afastasse de mim assim. Talvez o que Liz tivesse dito fosse verdade e o que Matt estava prevendo realmente se realizasse. Não íamos durar e ele não estava apaixonado por mim, mas eu queria continuar mesmo assim. Precisava continuar. Meu corpo inteiro pedia, implorava, para que eu continuasse.

Will passou os braços a minha volta e me trouxe para mais perto, encostei seu corpo na bancada e ele gemeu contra meus lábios. O fiz sentar na bancada e fiquei entre suas pernas. Mordi seu lábio inferior e senti quando as mãos dele escorregaram para baixo da minha camisa e tocaram minha pele, suas mãos estavam geladas então o contato fez com que arrepios corressem por meu corpo. Suas mãos estavam na minha costa me puxando para mais perto, estavam no meu abdômen acariciando, estavam na minha nuca aprofundando o beijo, estavam no meu cabelo ou estavam brincando com o cós da minha calça. Segurei sua cintura e juntei nossos quadris.

Eu apenas queria me afogar nele, queria me afogar no mar sensações que ele me causava.

Então ele me afastou.

Estava ofegante, seu cabelo estava bagunçado e os óculos estavam tortos no seu rosto. Os olhos estavam muito claros e com os lábios inchados por causado beijo, Will tentou formular uma pergunta:

— O que... O que você...

Juntei nossas testas, nossas respirações se misturando. Fechei os olhos.

— Estou me desculpando. – sussurrei e voltei a beijá-lo, menos urgência mais delicadeza.

— Tudo bem. – falou depois que paramos de nos beijar, encostei minha cabeça no seu peito, aspirei seu cheiro.

Eu queria perguntar, queria contar sobre a conversa com Liz e com Matt. Mas eu estava com medo das respostas, estava com medo de me machucar.

— Você gosta de mim? – perguntei baixinho, minha impulsividade se mantendo presente.

— Gosto. – respondeu, sua boca contra meu cabelo.

Não levantei meu rosto para olhá-lo. Me permitir acreditar no que ele estava dizendo.

— Estou apaixonado por você. – declarou e uma coisa quente e gostosa se expandiu no meu peito.

Queria dizer alguma coisa a ele, dizer que também sentia o mesmo e que eu esperava que nós durássemos. Mas não deu tempo, porque o alerta do micro-ondas tocou avisando que a pipoca estava pronta. Me afastei dele mesmo não querendo e tirei o pacote do micro-ondas, coloquei a pipoca na vasilha ao mesmo tempo que Will descia da bancada. Ele pegou com a ponta dos dedos uma pipoca e comeu, ri da cara que ele fez porque ainda estava quente. Depois seguimos até a sala e nos sentamos no chão, um do lado do outro enquanto meu pai dizia que tínhamos perdido o começo do filme. Enlacei minha mão com a de Will ao mesmo tempo que Laura pegava um punhado de pipoca na mão e meu pai dava uma gargalhada por algo que o protagonista fez.

Ainda comemos chocolate e rimos mais um pouco dos filmes de comédia. Tomamos coca e fizemos piadas com coisas que não tinham nada ver, acho que o excesso de açúcar estava fazendo efeito em nós quatro. Em algum momento Laura começou a bocejar e Mike se ofereceu para leva-la em casa ao mesmo tempo que eu dizia que era muito tarde e que talvez fosse melhor ela dormir na nossa casa. Então meu pai foi mostrar a ela o quarto de hospedes e depois de meia hora que eles subiram e não havia nenhum sinal do meu pai, eu soube que o plano tinha dado certo.

— Com sono? – perguntei a Will quando o vi bocejar.

Ele coçou os olhos por baixo dos óculos e então sorriu pra mim.

— Só um pouco. – respondeu.

Desembrulhei um chocolate.

— Com você consegue comer tanto doce? – perguntou, uma nota de indignação na voz.

— Ué. Assim. – e enfiei o chocolate na minha boca. Ele revirou os olhos enquanto eu ria. – Vem, vamos dormir. – me levantei e o puxei pela mão para ficar em pé.

— Dormir aqui?

— É. – falei me aproximando dele. – Está tarde e seria perigoso você sair esse horário.

O loiro ergueu uma sobrancelha pra mim.

— Se eu não te conhecesse diria que está tentando me seduzir.

— Eu? Seduzir você? – me fiz de desentendido. – Claro que não. Estou apenas pensando no seu bem-estar.

— Claro que está. – comentou e começamos a andar. Lhe lancei um olhar divertido enquanto subíamos a escada. – Então onde vou dormir?

— Comigo. – falei sem pensar e quando vi o sorriso no rosto do loiro, acabei corando. – Quer dizer, no meu quarto.

Will ergueu uma sobrancelha pra mim, sua expressão divertida.

— Pare de me olhar assim. – reclamei, meu rosto queimando.

— Não estou fazendo nada. – se defendeu erguendo as mãos quando entramos no meu quarto.

— Você pode pegar alguma roupa para dormir no meu guarda-roupa. – falei pra ele e fui até o banheiro.

Escovei meus dentes, molhei meu rosto. Eu costumava deixar meu pijama no banheiro, porque pra mim isso era mais prático. Me vesti e sai do banheiro. Encontrei Will deitado na cama. Ele tinha pegado uma das minhas camisas e um short. Fui até lá, subi na cama, me sentei sobre minhas pernas e o observei.

— Oi. – falei e ele sorriu pra mim.

— Oi.

Me deitei ao seu lado, mas Will me puxou fazendo minha cabeça deitar em seu peito. Permaneci ali.

— Seu pai não vai implicar com isso? – ele começou a acariciar meu cabelo, fechei os olhos.

— Papai está ocupado com outra coisa.

— Eu gosto da Laura. – comentou depois de uns minutos.

— Eu também.

— Então ela vai ser tipo a sua madrasta?

— Pelo visto sim.

— Hum. E de quebra você ganha uma irmãzinha.

— Não começa. – resmunguei e ele riu.

Claro, que eu sabia que se meu pai chegasse mesmo a desenvolver um relacionamento com Laura, então eu teria uma “irmãzinha” mais nova mesmo. A irritante Isabelle seria minha ‘maninha’. Mas se bem que eu não estaria aqui para suporta-la, então não precisava me preocupar com isso. No entanto, pensar na ruivinha me fez lembrar de uma coisa que já aconteceu a zilhão de anos atrás.

— Por que a beijou daquela vez? – fui direto ao ponto. Nunca fui muito bom em enrolar.

— O que? Quem? – levantei o rosto para fita-lo.

— Isabelle. Por que a beijou?

— Ah, aquilo... Por nada. Ela queria e eu achei que podia lhe dá isso sem nenhum problema, se bem que foi ótimo te provocar. – estreitei os olhos pra cima dele ao passo que o loiro ria. – Você ficou uma gracinha todo irritado.

Balancei a cabeça em negação.

— Idiota.

— Docinho. – beijou a ponta do meu nariz, foi impossível não sorrir.

Estiquei meu braço e desliguei a luz no interruptor que havia perto da minha cama. Will me abraçou mais um pouco, voltei a deitar minha cabeça no seu peito. Ficamos em silêncio, o som da respiração dele me deixando sonolento.

— Will. – chamei depois de um tempo, recebi como resposta um resmungo. – Você acha que vamos durar? – me ouvir perguntar, o escuro levando todo o meu medo e me expondo ali.

— Como assim?

— Nós dois, você acha que vamos durar?

— Não sei. – respondeu depois de mais um tempo em silêncio. – Mas eu quero que dure.

— Eu também. – declarei e fechei os olhos.

###

— O que você tem? – papai perguntou quando me viu andando de um lado pro outro na sala.

— Hoje é o jantar com os pais do Will. – contei.

— Ah. – então ele olhou no relógio. – Que horas eles jantam?

— Sete.

— Então por que você já está pronto? Ainda são quatro horas.

Suspirei e me sentei no sofá ao seu lado. Enfiei meu rosto entre minhas mãos, passei a mão nos meus cabelos. Céus, eu estava tão nervoso. Era a primeira vez que eu estava fazendo isso e eu não tinha a mínima ideia de como agir. O que exatamente se diz aos pais do seu namorado? E eu não estava nem nervoso por causa da mãe de Will e sim por causa do pai dele. O senhor Moore era o dono daquela loja que eu vandalizei junto de Liz há um tempão atrás.

— Nunca fiz isso antes. – resmunguei.

— Relaxa, filho. Vai ficar tudo bem. – papai falou colocando a mão no meu ombro. – O máximo que pode acontecer é eles te odiarem. – estreitei meus olhos pra cima dele. – Veja meu exemplo com a sua mãe. Seus avós me odeiam até hoje.

Era verdade. Mas eu não queria que meus sogros - ?— me odiassem para sempre. Eu sabia o quanto isso era importante para William, então eu queria que as coisas dessem certo. Que tudo ficasse bem e que os pais deles me aceitassem. E convenhamos que Mike não estava realmente ajudando com esse papo de ódio.

— Não quero que eles me odeiem.

— Eu sei, Noah. E eles não vão te odiar. Will gosta de você por um motivo então eles também vão gostar. – falou e o encarei. Eram ótimas palavras. O abracei. Mas então Mike se afastou. – Uh. Você passou perfume demais.

— Estou nervoso! – me defendi e ele riu ficando em pé. – Vou pegar algum doce pra você se acalmar e saiu em direção a cozinha.

Encostei minha cabeça no encosto do sofá e pensei na noite anterior, lembrei do modo como eu e Will dormimos juntos. Como as coisas pareciam certas e leves no dia seguinte. Vai durar, me assegurei. E sorri involuntariamente ao lembrar do modo como ele sorria pra mim.


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Notas finais do capítulo

Sei que ainda não respondi os comentários, mas não se preocupem. Vou responder todos, como sempre faço!!
Bom, como esse cap ficou enorme eu tive que deixar o jantar com a familia do Will para o próximo cap...
Espero que tenham gostado desse cap, porque eu juro, nunca me esforcei tanto em algo como foi nesse cap. Eu queria passar pra vcs a insegurança do Noah, o modo como ele gosta do Will e o modo como ele tem medo disso ao mesmo tempo. Eu particularmente gostei do resultado.
Ah, eu sei que não tem muitas cenas hots, mas na hora que comecei a escrever o cap vi que elas não iam se encaixar, então fiz essas cenas "morninhas" deles :3 , o que eu acho que ficou bem mais legal do que uma super cena hot. Acho que aparti dessas cenas já dá pra vcs descobrirem quem é o seme e quem é o uke :)))) kkkk... só acho.
Bom, quero dizer que vou demorar para postar e acho que por isso o cap ficou grande!!!
Xoxo e até.



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