Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 20
Dezenove - Apenas dormindo.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, eu sei que dei uma sumida e que não respondi os comentarios. Mas é que pra resumir: minha vida tá uma bosta total, e não sei quando vai voltar ao normal ¬¬ se é que algum dia vai voltar... mas vamos ter pensamentos positivos, ne rsrs.
Bom, aqui está um cap quentinho pra vcs. Foi meio triste escrever esse cap e vcs vão saber porque...
boa leitura.



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Dezenove – Apenas dormindo.

Me sentei com dificuldade e muito devagar no sofá de casa. Meu corpo inteiro estava latejando pelo esforço de ter andado do carro até aqui, até esse sofá. Mesmo já tendo passado quase cinco dias, meu corpo ainda estava dolorido.

Fechei os olhos e estremeci quando minha costa encontrou no encosto do sofá. Mais dor. Era nisso que eu tinha me resumido agora: dor e dor e dor. Ah, e é claro a duas costelas quebradas, um braço deslocado e uma quase fratura na mandíbula. Além de vários hematomas no rosto e pelo corpo inteiro, que me deixavam parecendo um dálmata, mas com as pintas roxas em vez de pretas. Não que isso fizesse eu me sentir melhor.

Pensei em fechar os olhos, mas logo desisti. Pensei em suspirar, mas isso ia me causar mais uma pontada de dor por causa das costelas quebradas, então apenas me limitei a ficar bem quieto onde estava e fingir que meu corpo não estava latejando e pedindo pra morrer de vez. Senti quando meu pai sentou do meu lado no sofá.

Ele vinha se mostrando mais protetor do que antes, mas eu não podia culpa-lo. Mike tinha toda razão em se comportar daquele jeito. Afinal, seu filho caçula tinha sido espancado até a inconsciência por ser gay. No entanto, o que me surpreende até agora é o fato dele não ter saído porta afora e espancado Mark e sua turminha como achei que ele faria. Na verdade, Mike tem se mostrado quieto demais mostrando que o meu jeito explosivo só pode ter sido herança da Erika mesmo. Acho que no fim, ele só está planejando alguma coisa.

— Quer um remédio? – perguntou.

Eu poderia pedir um remédio agora, implorar pela morfina que eles estavam me dando no hospital assim que cheguei. Também poderia chorar para mostrar o tanto de dor que estou sentindo para que meu pai sentisse raiva de Mark por ter feito isso comigo e fosse, finalmente, quebrar a cara dele do jeito que eu quero fazer. Mas não fiz. Balancei a cabeça levemente em negação. Afinal, não foi isso que Mark disse, que a dor iria me tornar homem? Pois então, estou sentindo dor. Mais dor que achei capaz de sentir, porque não é só meu corpo quebrado que está me causando desconforto, não é só minhas costelas quebradas que doem toda vez que respiro, não é só o corte na minha bochecha que vai virar uma cicatriz e que vai me lembrar eternamente desse dia, não. Não é só isso.

É Will.

É Will caído no chão, enquanto Mark me espancava com o taco de beisebol, que está me causando mais dor. É Will desmaiado na minha lembrança e mais tarde na cama de hospital, ainda permanecendo dormindo.

É Will, que sempre teve o sorriso fácil e que tinha me pedido em namoro horas mais cedo naquele dia que está tornando tudo mais difícil de sentir. Por que agora ele está resumido a uma cama de hospital e isso é mil vezes pior.

Cinco dias já se passaram e ele continua dormindo. Não morto. Apenas dormindo.

— Vamos. – Mike se levantou e se pôs a minha frente. – Vou te colocar na cama.

— Não... quero... descansar... – me forcei a falar. Era difícil fazer isso quando se leva muito socos no queixo e um golpe com um taco de beisebol no mesmo lugar mais de duas vezes. – Quero... ver... Will.

Papai me lançou o olhar de Tristeza Suprema. Era o jeito como ele vinha me olhando desde a sessão de socos na colina. Ele franzia a testa e seus olhos castanhos ficavam muito grandes, cheios de uma mistura de raiva e tristeza. Mas como agora, ele apenas me lançava o olhar com tristeza e uma pitada de pena aqui e ali. Eu sabia o que ele ia dizer. “Não pode ir lá”. “Só pessoas da família podem entrar na UTI”. “Ele ainda está dormindo, tem que deixa-lo descansar”.

Mike suspirou ao passo que eu enfrentava seu olhar. Castanho no castanho. Eu precisava vê-lo. Será que ele não via isso? Será que ele nunca sentiu como se o mundo estivesse prestes a acabar e existisse apenas uma única pessoa em que você pode se agarrar e fingir que tudo está bem? Eu precisava apenas olhá-lo e ver que ele ainda respirava, que ainda estava vivo.

— Noah, já conversamos sobre isso. – e pelo tom que ele usou, percebi que não tinha o que discutir. Ele não ia me levar de volta ao hospital e me deixar ver Will.

Então apenas desviei meus olhos do dele e continuei muito quieto no sofá.

— Vamos para o quarto. – ele tentou segurar meus braços.

— Me... deixe...

Mike me lançou um último olhar e então se dirigiu até a escada e subiu.

Papai não iria me levar, tudo bem. Eu posso ir sozinho.

Me forcei a levantar, me apoiando no sofá e me arrastei até a porta. Não era por teimosia que eu estava fazendo isso, era porque a preocupação estava me consumindo. Era porque eu me sentia tão culpado mais tão culpado por Will ainda está naquela cama de hospital, que tudo que ficava na minha cabeça era: Peça desculpas a ele. Essa maldita frase ficava rondando minha mente o tempo inteiro. Peça desculpas a Will por ele ter sido espancado, peça desculpas por ter vindo para Dickson, peça desculpas por ter batido aquele carro em Los Angeles, peça desculpas por ser gay e peça desculpas por existir. Porque isso é tudo culpa sua.

É culpa minha. Eu consigo ver isso agora, consigo sentir o tamanho de problema que trouxe pra ele. E que irônico, Mark foi quem me mostrou isso. Usando um taco de beisebol e dois amigos fortões.

É apenas tudo minha culpa.

Alcanço a porta e com algum esforço e umas pontadas de dor, abro a porta e saiu mancando de casa. Mike vai notar minha ausência logo, sei disso. Em algum momento daqui a cinco minutos, ele vai descer e checar se ainda estou bem. Vai tentar puxar papo comigo e depois quando ver que eu ainda estarei emburrado e que não falarei nada, ele vai começar um discurso de como ele está se esforçando e de como essa situação é tão difícil pra ele quanto está sendo para mim.

Um passo de cada vez, penso enquanto ando. Tenho que me concentrar em andar e chegar no hospital. Mas acabo me distraindo e quando dou por mim, Liz está parada a minha frente. Os olhos muito verdes fitando meu rosto.

— Tudo bem? – ela pergunta depois de avaliar os hematomas no meu rosto.

— O... que... acha...? – solto e me surpreendo com o tanto de irritação que há na minha voz. Tento dar um passo pra longe dela e consequentemente seguir em frente, mas ela põe a mão no meu ombro para parar meu ato.

— Pergunta idiota. Desculpa. – ela pede e acabo arregalando os olhos levemente ao ouvir o pedido de desculpas dela.

Elizabeth sempre fui muito autossuficiente, a dona da verdade. É realmente uma surpresa escuta-la pedindo desculpas por livre e espontânea vontade.

— Não me olhe assim. – ela meio ri, coloca o cabelo agora escuro atrás da orelha deixando à mostra seu brinco em forma de estrela. Então foca seus olhos nos meus e segura meu braço. – Vem, vou te levar no hospital.

— Como... sab - começo a dizer, mas ela me interrompe.

— Como sei que está indo ao hospital? É simples. – atravessamos a rua, indo em direção a um carro estacionado ali. – É onde Will está, não é? - Olhei pra baixo. – E além do mais, eu ainda não fui vê-lo desde aquele dia.

Aquele dia que ela se refere, é o dia em que Mark nos espancou na estrada para a cidade vizinha. Afinal, foi Elizabeth que nos encontrou. Ela e Matt estavam voltando de uma festa na cidade vizinha quando viram o carro de Will embaixo da árvore e depois viram nossos corpos no chão, já que Mark apenas bateu em nós dois até que desmaiássemos e depois fugiu do local com seu belíssimo carro e seus amigos como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse feito nada de errado. Ela nos colocou no carro e nos trouxe para o hospital enquanto Matt tentava acordar Will durante a viagem, ao passo que minha consciência voltava aos poucos. Os minutos até o hospital foram os piores da minha vida, não porque eu estava coberto de sangue e isso fez com que eu quase morresse várias vezes durante o trajeto, mas sim porque Will não acordava. Matt tinha verificado sua pulsação, que estava fraca mas mostrava que ele estava vivo. No entanto, quando Matt tentava acorda-lo... ele não acordava. Ele permanecia de olhos fechados, a testa machucada e a lateral esquerda da sua cabeça estava sangrando, tornando seu cabelo loiro uma bagunça avermelhada.

Eu nem sequer podia olhar pra ele sem querer vomitar ou começar a me sentir tonto, por isso permaneci o mais longe possível dele, encolhido no canto do carro e me sentindo miserável enquanto Matt fazia o que eu devia fazer.

Liz me ajudou a sentar no banco do carona e então ela sentou no seu lugar em frente ao volante e ligou o carro, então partimos em direção ao hospital.

— Soube que ele está em coma. – comentou o que meu pai tinha me dito.

Fiquei calado enquanto ela dirigia, em parte porque eu não conseguia falar muito bem ainda e em parte porque não queria falar sobre isso. Não queria pensar nisso, queria apenas vê-lo o quanto antes.

— Sei que está com raiva. – continuou ela depois que o silêncio se tornou longo demais. – Mas não devia, sabe, a culpa não foi sua. A culpa é de Mark, ele foi quem fez isso com vocês.

Engoli em seco quando percebi que ela era capaz de ler minhas emoções tão bem quanto qualquer um, mas acho que ela não podia evitar. Éramos parecidos de certa forma. Carregávamos a mesma autodestruição, aquela vontade inata de “tudo ou nada”, aquele ultimate que persistia em ficar na nossa personalidade. Éramos ambos intensos ao mesmo tempo que éramos calmaria. Eu não tinha nada contra Liz, assim como sabia que ela não tinha nada contra mim. O que tornava nossa relação estreita era o fato de ambos estarmos envolvidos com Will. Ele era o nosso ponto em comum, o nosso ponto de divergência. Mas aquilo que Mark tinha feito tornou isso ameno, fez uma trégua surgir entre nós. Assim como fez uma trégua entre eu e Matt surgir.

Mas mesmo que ela pudesse ler minhas emoções e as compreendessem tão bem quanto parecia, eu não podia evitar não acreditar no que ela estava dizendo. A culpa era minha, sim. Foi o que Mark disse, era o que ficava rondando na minha mente o tempo inteiro. Era a inevitável verdade: Will não estaria naquela cama de hospital se eu não tivesse aparecido em Dickson.

Me limitei a observar a paisagem. Deixei as palavras de Elizabeth entrarem por um ouvido e saírem por outro. Ela não sabia o que estava falando, ela não estava lá, ela não levou todos aqueles socos, ela não viu Will ser espancado até a inconsciência sem poder fazer nada e principalmente, ela não ouviu tudo que Mark disse, e definitivamente, ela nunca sentiu como se tudo estivesse errado e você fosse o erro principal.

— Noah, - a garota continuou. – sei que minhas palavras não vão adiantar nada. Mas, por favor, ao menos acredite quando digo que nada disso foi culpa sua. Porque não foi. Isso é culpa de Will, é culpa de Mark, é minha culpa... – a encarei, as perguntas querendo sair boca a fora mas não podendo. Então apenas me limitei a lançar a ela um olhar significativo, cheio de perguntas que apenas ela seria capaz de ler. Vi a garota suspirar e então focar os olhos muito verdes nos meus castanhos. – Eu estava lá, com Will. – franzi a testa em confusão para isso, e logo ela tratou de explicar. – Éramos do mesmo orfanato e como você pode ver, ele teve mais sorte do que eu.

— Você... e... Will...?

— Ele saiu primeiro do que eu de lá. Sabe, ele sempre teve muita sorte. – ela apertou o volante até que a pontas dos seus dedos ficassem brancas. – E até antes dele ser adotado, éramos melhores amigos e ele costumava me proteger. Você sabe como William pode ser protetor quando se importa. – sorriu amarga e lembrei do jeito que ele costumava me tratar, como se eu fosse uma criança de seis anos que não sabia nada do mundo. Não me surpreendeu que ele tivesse feito o mesmo com Elizabeth. – Mas ele não pôde me proteger de tudo. – Liz soltou o volante momentaneamente e me mostrou uma cicatriz no pescoço, que eu nunca tinha prestado muita atenção. – As pessoas do orfanato não eram tão legais quanto pareciam e aquele lugar não era exatamente voltado para abrigar crianças... – a morena voltou a olhar pra frente, o rosto muito sério. – Você deve ter visto as cicatrizes que ele carrega.

Engoli em seco ao lembrar das cicatrizes fininhas e verticais que o loiro carregava nas costas e aquela bem pequena no canto da boca. Fechei os olhos. Não podem ter o machucado, certo? Era um orfanato, voltado para abrigar crianças e dá um lar a elas. Eles não podem ter... e subitamente senti vontade de vomitar só de pensar que podem ter machucado Will desse jeito.

— Castigos físicos não eram o pior. – Elizabeth fechou os olhos e então estacionou. Foi só então que percebi que já estávamos em frente ao hospital, mas eu não queria entrar. Queria ouvir o que ela tinha para dizer, queria saber mais sobre o passado de William. Mas o jeito como ela baixou a cabeça e respirou muito fundo, percebi que já sabia a resposta.

Eu já sabia o que acontecia naquele orfanato, sabia o que faziam com as crianças lá. Uma ânsia de nojo subiu por minha garganta e subitamente imaginei Will crescendo num lugar como esse, aprendendo a sobreviver, aprendendo o jeito certo de agir... Não era à toa que ele tinha se tornado alguém tão controlado ou que Liz tivesse se tornado tão descontrolada. Cada um lidava com suas cicatrizes do melhor jeito que conseguia.

— Liz... – tentei começar, minha voz rouca e arrastada como a de um velho.

— Não diga nada, Noah. – afastou qualquer chance que eu tinha de consola-la. – Nós já chegamos. É melhor ir logo antes que seu pai apareça. – então ela abriu a porta e saiu e depois me ajudou a sair.

Comecei a andar pra longe do carro e só então percebi que a morena não estava me acompanhando. A encarei. Elizabeth tinha a lateral do corpo encostado no carro, ela tinha acabado de tirar um cigarro do bolso da jaqueta e agora fumava de olhos fechados, mas como se sentindo que eu a olhava, a garota abriu os olhos e me encarou.

— Já estou indo. – falou, mas não fez menção alguma de se mexer ou de jogar o cigarro fora. Assenti e lhe dei as costas.

Sabia que ela precisava de um tempo. Não deve ter sido fácil pra si me contar tudo aquilo, lembrar de tudo aquilo. No entanto, eu ainda não entendia como Mark se encaixava nessa história toda ou como Will acabou se tornando prisioneiro nas mãos daquele cretino.

Entrar no hospital foi a parte fácil. A parte estranha foi me dar conta de como eu conhecia aquele lugar e de como tinha imaginado andar pelo corredor até o ala da UTI. Andar a até lá foi a parte levemente difícil. Mas ficar parado na frente do quarto de Will, sem poder entrar e ser limitado a vê-lo através de uma porta de vidro, foi a parte dolorosa.

Notei que os pais dele não estavam ali, acho que deviam ter ido tomar um café na lanchonete do hospital ou apenas não podiam mais se forçar a ver o filho naquele estado e foram respirar longe dali. Eu não podia culpa-los. Afinal, nem eu estava conseguindo olhar pra ele assim sem querer chorar.

— O que faz aqui? – alguém perguntou e me virei num rompante, que acabou me trazendo uma pontada no tórax.

— Eu... – comecei ao ver quem era. Laura. A ruiva, que meu pai tinha convidado para almoçar em casa naquele sábado em casa, junto com a sua filha que mais tarde Will beijaria e então teríamos nossa primeira conversa sem briga alguma.

— Seu pai sabe que está aqui? – ela cruzou os braços, o cabelo ruivo repicado em volta do seu rosto a fazendo parecer uma adolescente.

— Não. – respondi e a vi suspirar. Sabia que ela ia começar um discurso e que depois ligaria para Mike e eu não poderia mais ver Will. – Laura. – chamei quando ela fez menção de colocar a mão no bolso do seu jaleco para pegar o celular. – Eu preciso vê-lo. – me forcei a falar uma frase completa. As pontadas de dor se espalhando pelo meu maxilar.

— Noah, só pessoas da família podem visita-lo. – ela repetiu o que meu pai vinha me dizendo desde que soube que Will não estava nada bem.

— Por favor. – pedi, implorei. Eu precisava. Mais do que tudo que eu já quis nessa vida, eu precisava vê-lo. Precisava ter certeza de que ele estava vivo, precisava tocar nele, ouvir sua respiração, sentir seu pulso.

Laura bagunçou o próprio cabelo como se não soubesse o que fazer ao mesmo tempo que sabia, mas não queria fazer. Então ela suspirou, olhou em volta e simplesmente andou até a porta de vidro e a abriu.

— Não mais que cinco minutos. – demandou e eu senti um alivio tão grande que sorri pra ela.

— Obrigado.

— Não conte ao seu pai. – pediu e sorriu pra mim. – Agora vai logo antes que alguém apareça.

Dei um passo e depois mais outro e então entrei na UTI, onde o loiro estava internado. Com passos pequenos e cronometrados, me forcei a ir até seu leito. Sem os óculos e o rosto limpo de qualquer emoção, Will parecia tão jovem e tão sereno e que sem querer prendi a respiração como se ele pudesse desaparecer diante dos meus olhos. Era a primeira vez depois de cinco dias que eu chegava tão perto dele assim, que de repente senti medo. Fiquei com medo que alguém irrompesse pela porta e me tirasse dali.

Parei do lado da sua cama e o observei. A máscara de oxigênio cobria metade do seu rosto e o peito subia e descia devagar. Havia um corte na sua testa, tinha recebido pontos ali. E na lateral esquerda da sua cabeça havia um curativo quadrado. Era o local onde ele tinha recebido a pancada que tinha o deixado inconsciente.

— Oi. – sussurrei pra ele, minha voz saindo quebrada porque as lágrimas tinham começado a vir.

Ergui minha mão esquerda e coloquei sobre minha boca, para impedir que um soluço saísse.

Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe.

Era o que meu corpo inteiro dizia a ele. Me desculpe. Eu nunca quis que isso terminasse assim. Eu nunca quis, que você acabasse numa cama de hospital. Eu apenas queria viver, queria viver esse sentimento todo. Eu apenas queria aproveitar toda a vida que você fazia correr por minhas veias.

Os bipes dos aparelhos regiam meus soluços abafados. Então me forcei a respirar fundo, enxuguei minhas lágrimas com mão esquerda, já que meu braço direito estava numa tipoia pois tinha sido deslocado e agora tinha que ficar em repouso. Pisquei algumas vezes e voltei a fitar o corpo inerte do meu namorado. Me sentei na cadeira ao lado do seu leito. Pensei no que Liz tinha me dito, pensei nas entrelinhas, na resposta implícita que ela tinha me dado.

Eles te machucaram mesmo? Quis perguntar. Eles tocaram em você como Liz insinuou? Não, não podem ter feito isso. Você era apenas uma criança...

Segurei sua mão e coloquei sua palma na minha bochecha e fechei os olhos. “Acorde, acorde, acorde” pedi silenciosamente.

— Prometo que vou estar aqui quando você acordar. – falei. – Apenas abra os olhos pra mim.

O loiro permaneceu quieto. Não houve nenhuma movimentação, não houve nenhuma mudança em seu estado. O silêncio continuava ali, presente com todo o seu peso sobre mim. Apenas os bipes insistentes dos aparelhos mostravam que ele ainda estava vivo.

Mantive sua palma na minha bochecha por bastante tempo enquanto me deixava levar por lembranças aleatórias. Lembrei de quando nos conhecemos, o modo irritado que ele disse que não precisava de ajuda e eu mais irritado ainda joguei seus papeis no chão e sai daquele beco apenas para vê-lo no dia seguinte na escola sentando ao lado do seu agressor e modo como ele parecia extremamente resignado com aquilo. Lembrei das nossas brigas, das implicâncias dele, do dia em que fui pedir ajuda e ele tinha me chamado de gracinha, jeito como ele sorriu quando demos uma trégua naquele sábado na minha casa. Lembrei da entonação alegre que a voz dele tinha naqueles últimos minutos na colina quando me chamou de docinho pela primeira vez.

— Pode me chamar de docinho... — falei muito baixo e até duvidei que ele tivesse escutado. – Acorde... por... favor... – e subitamente eu estava chorando de novo e deixando a palma da sua mão molhada, mas eu era incapaz de abrir os olhos. – Não... me... deixe... sozinho...

Abri os olhos e o fitei, afastei sua mão do meu rosto e a entrelacei com a minha. Mas ele não se mexeu, continuou tão imóvel quanto antes. Tão quieto quanto uma estátua de cera. Os olhos fechados e o cabelo não mais tão loiro. Era como se alguém tivesse sugado o brilho que existia em si. Era como se ele não estivesse mais ali, toda aquela aura de vida que ele tinha não estava mais ali. O que tinha sobrado era apenas aquele corpo, aquela casca machucada. Fiquei encarando ele, incapaz de pensar que o Will por quem eu estava apaixonado não estava mais ali. Ele estava sim. Me forcei a acreditar que não eram os aparelhos que o estavam mantendo vivo, que ele ainda queria estar vivo, que algum pedaço de vida ainda estava ali.

Uma batida no vidro fez com que eu desviasse meus olhos do loiro. Era Laura batendo no vidro e logo em seguida apontando para o relógio no seu pulso. Assenti e voltei a olhar para William.

— Preciso ir. – apertei sua mão na minha, sem realmente querer soltar. Então a soltei e me levantei, e me inclinei sobre ele, afastei o cabelo loiro da testa e deixei um beijo ali. – Mas eu volto...

Então me afastei dele, olhei uma última vez para trás e rezei para que ele acordasse, pedi para ver seu sorriso outra vez...

“Volte para mim”, pedi. E então deixei que Laura me guiasse para longe dali, deixei que ela ligasse para meu pai e mais tarde deixei que Mike me desse um sermão, eu apenas deixei que as coisas acontecessem naquele dia. Tudo parecia estar passando através de mim depois que vi Will naquela cama de hospital, tudo parecia sem importância agora. Era como se eu estivesse caminhando sobre nuvens, incapaz de sentir o chão sobre meus pés ao mesmo tempo que não sentia nada ao meu redor.

No dia seguinte, meu pai estava me olhando esquisito durante o café da manhã e quando não perguntei o que ele tinha e nem fiz questão de dá muita atenção, Mike decidiu me dizer o que havia de errado. Ele fez com que eu sentasse no sofá e depois de ficar cinco minutos ponderando sobre algo, ele finalmente decidiu falar de uma vez.

— Andei conversando com sua avó. – involuntariamente engoli em seco. Papai nunca falava com a vovó, simplesmente porque ambos se odeiam. E se eles tinham conversado agora, sem demais mortes, era porque alguma coisa de muito grave estava prestes a acontecer. – Noah, quero que saiba que eu te amo e que só fiz isso porque quero te proteger e depois do que aconteceu... eu não posso simplesmente...

— Diga logo. – depois de uma noite inteira falando no telefone com Bi e Kate, minha fala estava voltando ao normal. É claro, ainda havia dor, mas ela agora já não era tão incomoda.

— Estou te mandando de volta para Los Angeles. – foi como levar um golpe com o taco de beisebol do Mark, forte e sem motivo algum. – Você vai morar com Elise de agora em diante até completar a maioridade.

Não, não, não, não...


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Notas finais do capítulo

É, ne... não ficou bem o que eu queria. Mas o bloqueio criativo veio me visitar... então ficou isso ai.
Espero que não tenham odiado e quero pedir desculpas pela demora em responder os comentários, não é porque eu quero... é apenas que infelizmente minha atenção precisa estar voltada para outras coisas.
Mas quero que saibam que não vou abandonar a fic então não me abandonem!!
bjs e até!!!! E que fique tudo azul safira pra vcs!! o/ o/ :))))



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