Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 19
Dezoito – O direito de SER.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!
Quero dizer que esse capitulo foi uma loucura pra escrever, mas eu consegui!!! E graças a Deus meu not voltou a funcionar!!! :))
Bom, boa leitura!
Bem vindos leitores novos!!



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Dezoito – O direito de SER.

Observei a forma como seu cabelo estava penteado e senti uma súbita vontade de enfiar meus dedos ali e bagunçar todo o seu trabalho ao mesmo tempo que quis ficar apenas olhando para a forma como os fios dos seus cabelos variavam de loiro-escuro a loiro-claro. Tirei meus olhos dali e os foquei no seu rosto. O hematoma no lado direito do seu rosto já estava sumindo, coisa que eu achava bom. Odiava olhar pra aquilo e perceber que a culpa era minha.

Apoiei meu queixo na palma da minha mão e me concentrei em outras coisas nele. Will tinha uma cicatriz fininha no canto da boca, estava esbranquiçada e só quem chegasse muito perto podia ver. Me surpreendi por não ter visto antes e depois me perguntei como ele tinha a conseguido assim como tive vontade de perguntar onde ele conseguiu as outras cicatrizes, aquela no pulso e aquelas fininhas e verticais na costa.

Fitei sua boca e senti vontade de beija-lo, mas me contive. Eu não podia atrapalha-lo agora quando ele estava tão concentrado em algo. Sua testa estava até mesmo franzida e seus olhos estavam muito azuis focados na folha de papel. Por isso, permaneci quieto. Era o nosso trato, afinal.

Eu podia ficar com ele, na sua casa, no seu quarto, contanto que ficasse quieto até as 15hs para que ele pudesse terminar seus afazeres. E então depois das três poderíamos nos divertir.

Olhei para o relógio na parede do seu quarto. 14:30hs. Por que o tempo não passava de uma vez? Suspirei e voltei a fita-lo. Will era canhoto e por isso escrevia de um jeito diferente. Notei que ele sempre escrevia as letras de baixo pra cima e achei isso tão estranho ao mesmo tempo que achei incrível a capacidade dele escrever tão rápido de um jeito diferente, que acabei me aproximando demais dele e quando dei por mim, era Will que estava me fitando. Corei.

— O que foi? – ele perguntou e eu me afastei, voltei a encostar minha costa no encosto da cadeira.

— Nada. Eu só estava olhando o jeito como você escreve. – expliquei e ele sorriu pra mim e acabei sorrindo de volta e dessa vez não pude me conter. Me aproximei dele e o beijei. – Desculpa. – pedi quando percebi que estava quebrando nosso trato, mas Will apenas olhou pra baixo e depois jogou a caneta sobre o caderno e voltou a me beijar.

— Preciso conversar com você, Noah. – Will tratou de falar assim que nos separamos.

Respirei fundo e me inclinei sobre a mesa, apoiei meus cotovelos ali e esperei pelo que ele tinha a dizer.

— O que é? – soltei meio receoso e senti a insegurança começar a tomar conta de mim.

Ele vai me dispensar agora? Vai dizer que não podemos mais nos ver e que cansou de brincar de estar apaixonado?

— Eu... eu andei pensando e tomando coragem – e riu meio nervoso, deitei meu rosto entre minhas mãos. Se vai me dispensar diga logo, pedi internamente. – Ei, - ele disse e passou os dedos pelo meu cabelo. – tudo bem?

Levante o rosto parcialmente para olha-lo.

— Diga logo. – pedi e vi Will suspirar.

Ele tirou os dedos do meu cabelo e olhou para a mesa, traçou com a ponta do dedo indicador alguma coisa e então disse:

— Quer namorar comigo?

Me pus ereto num rompante. Meu corpo inteiro surpreso.

— O-o que você disse? – perguntei apenas porque queria ter certeza sobre o que ele disse.

— Eu te pedi em namoro. – confirmou e olhou pra mim. O rosto cheio de ansiedade por uma resposta.

Me levantei e coloquei a mão na boca, olhei em volta e pensei “Caramba”, mas acabei dizendo:

— Tá brincando comigo? – Me virando pra ele.

— Não! Claro que não! – Will se levantou e veio até mim. Deixei que ele segurasse meu rosto e encostasse sua testa na minha. – Estou falando muito sério. – fechei meus olhos e quando dei por mim o estava beijando. – Isso é um sim? – perguntou meio sorrindo.

— Sim. – falei e sorri também.

Will se afastou de mim e andou até a cômoda perto da porta do seu quarto, observei com curiosidade ele abrir uma gaveta e procurar algo e então puxar um vinil. Franzi a testa para aquilo.

— O que está fazendo? – resolvi perguntar cruzando os braços.

O loiro olhou pra mim por sobre o ombro, os olhos muito azuis mostrando seu entusiasmo.

— Espere. – mandou e eu continuei parado enquanto via ele largar o vinil sobre a cômoda e pegava a cadeira onde ele estava sentado minutos antes.

Ele colocou a cadeira na frente do seu guarda-roupa e então subiu na mesma, procurou sobre o guarda-roupa, nas muitas caixas que havia ali alguma coisa. No fim ele acabou pegando uma caixa marrom meio grande demais. Acabei me mexendo e indo ajuda-lo a descer a tal caixa. Andei com aquilo e larguei em cima da cama.

— O que tem aí dentro? – perguntei e me preparei para abrir. Mas Will se apressou em chegar na minha frente.

O loiro abriu a caixa.

— Comprei isso numa feira de garagem. – explicou e então eu vi o que era. Uma vitrola. – Mas nunca tive oportunidade de usar. – ele correu até a cômoda e pegou o vinil que tinha deixado lá, ao passo que eu me ocupava em tirar a vitrola da caixa.

A coloquei sobre a cama, então Will colocou o vinil na mesma. Abaixou a agulha e então, sorrindo como uma criança, ele me estendeu a mão esquerda. Encarei a mão dele meio confuso, mas depois que tudo aquilo fez sentido comecei a rir e peguei sua mão. E devagar, a voz de Aretha Franklin tomou conta do lugar. E subitamente estávamos dançando e girando um nos braços do outro e rindo e se beijando...

A música embala nossos passos e ali, naquele quarto não há nada mais cheio de vida que nos mesmos. No começo eu não estava realmente prestando atenção na letra da música, mas na medida que começamos a acertar o passo e parar de pisar um no pé do outro a letra começa a fazer sentido.

What a difference a day made fala sobre o dia e sobre a vida e sobre amor, principalmente sobre amor. Aretha ressalta em cada nota da música o quanto vinte quatro horas não fazem diferença alguma quando se está apaixonado, o quanto é preciso amar e sentir sem ninguém para te atrapalhar. E ela parece cantar isso pra mim, é como se eu pudesse vê-la ao nosso lado, cantando e sorrindo para nós dois. Porque estamos apaixonados, eu sei disso agora. E esse sentimento todo só faz com que fiquemos fortes e consequentemente faz com que nos perguntemos: Que diferença faz? Que diferença faz se algumas pessoas não nos aceitam? Que diferença faz se metade do mundo vai nos odiar? Não faz diferença nenhuma, porque temos um ao outro e agora, nesse momento, isso é tudo que importa.

Will me gira e eu rio alto, quando volto para os seus braços desajeitadamente. Deixo que ele me guie na dança, deixo que o sol ilumine nossos passos improvisados sobre o carpete do seu quarto, deixo que todos os nossos problemas saiam pela janela, eu me limpo de toda a insegurança, de todo o medo de ser machucado e acato o que Aretha está cantando: coloco romance no meu menu. No menu da minha vida. E é incrível o que uma dose de paixão pode fazer. É incrível o que estou sentindo... porque não estou mais pensando em nada, estou sentindo. Estou sentindo Will tão perto, estou sentindo a sua respiração contra o meu pescoço, capturo o seu cheiro e guardo bem no fundo do meu ser.

Acabo o abraçando ao mesmo tempo que nossos passos vão arrefecendo, apoio meu queixo no alto da sua cabeça enquanto ele mantem o rosto deitado no meu ombro. Fecho meus olhos e deixo todo esse momento se fixar na minha memória, deixo que o ritmo da sua respiração dite minha frequência cardíaca.

Assim é bom, penso. Assim é muito bom. E ao longe escuto os últimos versos da música, escuto Aretha exaltando esse sentimento e escuto ela me segredar a verdade que eu já sabia: “Eu sei que em meu coração a diferença é você”.

###

Eu viajaria na quarta-feira, porque não havia mais passagens para o mesmo dia que as dos meus amigos, então tive que me contentar com a quarta-feira. Mas tirando o fato de eu ter me despedido deles na estação rodoviária, até que ia ser legal ficar um pouco com o Will. Agora que tínhamos ido para um patamar mais sério de relacionamento, achei que devia aproveitar esse começo de algo.

Kate foi a que mais saltitou ao meu lado quando lhe contei o que tinha acontecido e Bianca deu gritinhos, confesso que foi uma cena engraçada. Derek e Dan apenas esboçaram uma expressão confusa ao mesmo tempo que perguntavam “já não estavam namorando?”, coisa que só me fez rir.

No entanto a surpresa veio mesmo de Bianca. Sexta quando eu, Will e Emma, fomos nos despedir dos meus amigos na rodoviária. Emma fez uma cena digna de filmes românticos. Eu confesso que não sabia que Emma gostava tanto de Bianca assim, porque pelo que Bi tinha me segredado, ela achava que não tinha passado de uma noite qualquer para Emma. Nada sério. Mas pelo modo como Emma agiu na hora de dizer adeus foi tão cheia de sentimento, que fiquei com dificuldade de associar o fato de elas terem apenas passado uma noite juntas. Pelo modo como elas se abraçavam, parecia que se conheciam há anos.

Bianca chorou e Emma também e pedi silenciosamente que eu nunca tivesse que me separar de alguém. Era perceptível que elas realmente se gostavam e acabei orando silenciosamente, pedindo para que não deixassem um sentimento assim se acabar por causa da distância. No fim, Emma tirou o seu colar e colocou no pescoço de Bianca e então as loiras tiveram que se separar. Eu tive que deixar meus amigos ir assim como Emma teve que deixar a pessoa mais importante que conheceu, ir também. Mas eu ao menos ia vê-los na quarta e durante o resto das férias e Emma, bom... o futuro era incerto para ela.

— Tudo bem com você? – Will perguntou parando ao meu lado.

Eu estava encostado no lado esquerdo do seu carro. Nós tínhamos vindo trazer Emma até sua casa depois que a acalmamos. Ela não tinha parado de chorar depois que Bianca partiu para Los Angeles. Will tinha se encarregado de consola-la, em parte porque eu não sabia o que dizer para ela ficar bem e em parte por eu estar me sentindo mau por poder ir para Los Angeles enquanto ela não podia.

Enfiei minhas mãos nos bolsos do meu casaco. Dickson estava estranhamente fria hoje, tinha até mesmo amanhecido nublado e uma neblina tinha coberto toda a cidade. Olhei para Will.

— Mais ou menos. – respondi e o loiro deitou sua cabeça no meu ombro. – Como Emma está?

— Mal. – suspirou. – Mas ela supera. Se bem que eu acho que ela gosta mesmo da sua amiga.

— Também acho que Bianca gosta mesmo da sua amiga.

Uma garota passou por nós e nos encarou, sua expressão cheia de confusão como se não soubesse de que espécies éramos. Bufei. Hoje eu realmente não estava com saco para aguentar olhares tortos de ninguém. Aquela despedida e o som do choro de Emma tinha acabado com minha paciência, no fim eu estava me sentindo cansado emocionalmente.

— Acho que você tem razão. – Will concordou e me deu um beijo na bochecha para o desespero e confirmação dos temores da garota. Lancei a ela meu olhar de ‘tá olhando o que’, o que fez ela continuar seguindo seu caminho. – Quer ir dá uma volta? – perguntou e saiu do meu lado, ele deu a volta no carro e abriu a porta do motorista.

— Hum. – soltei e fui até a porta do carona, a abri. – Onde?

— Já foi nas colinas?

— Já. – respondi ao mesmo tempo que sentava no banco do carona e colocava o cinto de segurança e meu cérebro me presenteava com a lembrança, daquela única vez que fui nas colinas com Liz e Matt para beber e amaldiçoar a vida.

— Quer ir de novo? – hesitação na sua voz e de fato eu não podia culpa-lo, quase não existia lugares para ir nesse fim de mundo.

Sorri de canto pra ele e baguncei seu cabelo apenas para implicar com ele. Will sorriu e logo me puxou para um beijo.

— Vamos para as colinas. – declarei quando nos separamos e ele deu a partida no carro.

Durante o caminho uma chuvinha nos acompanhou e logo o frio se fez presente, por isso acabei apertando mais a jaqueta contra meu corpo. Olhei de soslaio para o loiro e quis perguntar se ele achava mesmo que era uma boa ideia ir para as colinas, pois estava chovendo e tudo estava tão cinza e úmido que tudo que meu corpo implorava era um chocolate quente e um lugar quentinho. Quase sugeri que ele desse meia volta e então poderíamos ficar lá em casa, jogados no sofá assistindo um filme qualquer ou jogando vídeo game. Mas tinha alguma coisa no modo como ele permanecia sério enquanto dirigia que denunciava que ele apenas queria ficar longe de Dickson, e por isso acabei não falando nada. Mais porque uma parte minha compartilhava do desejo de fuga dele do que por outra coisa.

— Tudo bem? – acabei perguntando.

Não era de hoje que eu percebia esse distanciamento do Will. Era como se ele estivesse frequentemente fora de orbita. Os olhos azuis ficavam desfocados e ele ficava muito quieto, o que era bem irritante. Eu tinha me acostumado com o Will risonho e cheio de comentários inteligentes.

— O que? – seus olhos encontraram os meus.

— Onde você estava, han? – falei e baguncei o resto do seu cabelo.

— Pare de fazer isso. – reclamou e afastou minha mão. Me limitei a rir enquanto ele tentava ajeitar seu cabelo pelo espelho retrovisor. – Implicante. – me fuzilou com os olhos muito azuis e revirei os olhos pra ele.

— Irritante. – falei e torci a boca. Mas só porque adoro o modo como ele torce o canto da boca quando está irritado, baguncei seu cabelo de novo.

— Mas que droga, Noah! – exclamou e sentindo que foi desafiado, ele bagunçou o meu cabelo.

— Will! – reclamei e peguei um esboço de sorriso em seus lábios e quando dei por mim estava rindo também.

— Você é muito implicante. – falou e chegou muito perto de mim tão subitamente que prendi a respiração involuntariamente, mas logo ele sorriu de lado e se afastou. Voltou a dirigir, parecendo muito satisfeito com a minha reação.

Cruzei os braços e revirei os olhos, meio decepcionado por ele ter se afastado tão subitamente.

O resto do caminho seguimos em silêncio, apenas o barulho da chuva contra o teto do carro quebrava o silêncio. Mas por mais quieto que tudo estivesse, eu não sentia como se aquele fosse um silêncio esmagador. Ele estava mais para confortável. Era bom ficar ao lado de Will assim. Ele não precisava falar o tempo inteiro e nem eu, precisávamos ficar apenas um perto do outro. Ficar perto já era suficiente.

A chuva parou assim que chegamos nas colinas, que não eram colinas coisa nenhuma. Estavam mais para umas ondulações de terra que ficavam nos arredores da cidade. Mas que incrivelmente tinha uma vista muito boa da cidade. Will estacionou o carro bem de frente para a vista e abaixou a capota do carro, observei surpreso aquela ação. Nem sabia que o carro dele fazia aquilo e o loiro aproveitou minha distração para depositar um beijo na minha bochecha, foi inevitável sorrir depois disso.

— Que tal? – perguntou e apontou com o queixo para frente.

Olhei pra lá e encontrei a bela vista da cidade inteira. Era tão pequena que me perguntei pela milésima vez como meu pai achou esse lugar. Mas eu não podia negar que era bonita e era silencioso e pela primeira vez, eu estava descobrindo o valor de um bom silêncio.

— Bonita. – elogiei.

— Não tanto, - comentou. – é mais bonita quando está no verão, é como se as coisas ficassem mais vivas quando estamos no verão.

Tive que concordar com ele. O dia nublado tinha tornado tudo úmido e depressivo demais, como se Dickson inteira estivesse triste com algo.

— Mas ainda assim é bonita. – confirmei, porque era. Porque aquele ar todo cinza fazia eu me lembrar de casa, da minha casa em Londres, a casa que não existe mais. Dickson coberta de nuvens só a deixava mais fria e triste como uma escultura de gelo.

— Vai ficar quanto tempo em LA? – Will perguntou enquanto aumentava a inclinação do seu banco, fiz o mesmo com meu.

— As férias inteiras. – olhei para o céu. Cinza. Cinza e mais cinza.

— Dois meses? – soltou surpreso. – Não é tempo demais?

— Não. – falei meio rindo da reação dele. – Relaxa, eu não vou me mudar pra lá.

— Isso me deixa aliviado. – fez uma cena. – Tem certeza que são dois meses?

Revirei os olhos.

— Tenho. – olhei pra ele. – Não precisa fazer essa cara, não vou fugir. Prometo que volto. – ergui meu dedo mindinho e ele riu ao mesmo tempo que entrelaçava o dedinho dele com o meu.

— Você é uma gracinha mesmo. – comentou e me beijou.

— E você devia arranjar um apelido melhor. – falei contra seus lábios e ele sorriu.

— O que acha de docinho? – disse apenas para me provocar.

O empurrei de brincadeira e revirei os olhos.

— Nem pense em me chamar assim. – mandei o encarando.

Imagina meu pai escutando Will me chamar assim, eu ia querer me enterrar.

— Está decidido! – exclamou alto, sorrindo como um maluco. – Você foi promovido de gracinha para docinho.

— Esse apelido é ridículo! – reclamei, o que só fez ele rir mais. – Você é um idiota. – constatei e ele se aproximou de mim, beijou o canto da minha boca.

— Docinho. – sussurrou e eu o empurrei ao passo que ele ria alto.

Balancei a cabeça sem acreditar que ele ia mesmo me chamar daquilo daqui pra frente. Will tinha um péssimo gosto para escolher apelidos. E enquanto eu pensava nisso e escutava as risadas do loiro, ao longe um barulho chamou minha atenção. Virei meu rosto em direção a estrada, que estava atrás de onde estacionamos e vi um carro estacionar ali, não muito longe do carro de Will. Pelo canto de olho vi, o loiro olhar para o mesmo lugar que eu. O som da sua risada se perdendo no ar.

— Conhece? – perguntei a Will. Mas ele não respondeu, apenas se limitou a morder o lábio e deixar o rosto muito sério, o que queria indicar que sim ele conhecia a pessoa e que não gostava nadinha dela. – Will...? – comecei a perguntar, mas como que na deixa, Mark saiu do carro juntamente de Roderick e mais um caras.

Vi os olhos de porco dele se focarem no carro e depois em nós dois, engoli em seco quando ele me ofereceu um sorriso. Não existia nada de caloroso ali nem de simpatia, era só um sorriso tão frio quanto gelo e tão afiado quanto uma navalha. Era como se ele estivesse dizendo “enfim, nos encontramos”.

Ele deu alguns passos em nossa direção e Will se sentou muito ereto, olhando pra frente como se Mark não estivesse ali. Acabei seguindo o seu exemplo.

— Que surpresa encontrar vocês aqui. – Mark comentou parando ao meu lado no carro. Respirei fundo e não disse nada. – Parece que tivemos a mesma ideia. Se bem que...

— O que você quer, Mark? – Will se pronunciou, a voz muito controlada.

— Por que eu tenho que querer alguma coisa, Will? – se fingiu de desentendido e depois focou os olhos em mim e sorriu mais um pouco, senti um frio na barriga.

— Diga logo. – o loiro mandou.

— Ah, tudo bem. Tudo bem. – e sorriu para Will. – Quero conversar com o Noah.

Will ficou tão surpreso quanto eu. E antes que eu pudesse dizer algo ou prever o próximo passo de Mark, o loiro simplesmente deu a partida no carro.

— Vai se ferrar, Mark! – Will gritou e então saímos dali mais do que rápido.

— WILL! WILL! – Mark ainda gritou, mas já estávamos longe. – EU VOU TE PEGAR WILLIAM!!!

Fechei meus olhos enquanto Will dirigia, acelerando cada vez mais e deixando Mark muito pra trás. Will apenas seguia em frente, em nenhum momento ele deu a volta e tentou ir para Dickson, ele simplesmente continuou em frente. Ainda olhei pra trás para ver se Mark nos seguia, mas não. Ele não estava atrás de nós. E quando finalmente paramos. Will estacionou embaixo de uma árvore, ele apertou um botão para fazer a capota voltar a posição inicial. Ele parecia terrivelmente nervoso, seus dedos estavam até mesmo tremendo.

Eu segurei suas mãos nas minhas.

— Hey... – falei suavemente e ele olhou pra mim, seus olhos estavam assustados e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o loiro me abraçou. Retribui o abraço e incrivelmente o fato de ele está assustado me fez ficar calmo, porque de alguma maneira entendi que precisava ser forte por ele, precisava pensar nele e não em mim. Por isso deixei o medo longe de mim e apenas fique ali, para ele e por ele. – Está tudo bem.

Will me beijou, foi um beijo desesperado como se ele estivesse se assegurando de que eu estava mesmo ali. E quando nos separamos, ele começou a falar:

— Eu não entendo porque ele está tão obcecado por você. No começo achei que fosse por minha causa, mas não é. Ele está com raiva de ti.

Então baixei a cabeça e depois sorri amarelo pra ele. Eu sabia muito bem porque Mark estava com raiva de mim.

— Eu sei porquê. – acabei falando e o loiro me encarou. – Dei um soco nele no cinema algumas semanas atrás.

— Você o que?

— Bati nele. E bateria de novo. – confirmei e do nada, vi um sorriso surgir nos lábios dele.

— Você é não é fácil, não é mesmo?

E acabei rindo também. Mas antes que pudéssemos continuar rindo e extravasando o medo de minutos atrás, alguma coisa bateu no carro que estávamos. E como estávamos sem cinto de segurança, fomos brutalmente jogados pra frente. Bati minha testa contra o vidro da frente.

— Mas que droga... – tentei falar enquanto massageava minha testa. Então a porta do meu lado se abriu e fui brutalmente puxado. Nem tive tempo de gritar quando o primeiro soco me acertou.

Primeiro veio a dor e depois veio os sons, havia alguém sem cima de mim. Mas a batida tinha me deixado desorientado e o soco estava me deixando sonolento. Tentei olhar em volta, mas outro soco acertou meu rosto.

— Sai de cima dele! – alguém vociferou e a pessoa que estava em cima de mim foi afastada, um vulto loiro tinha acabado de empurrar quem quer que seja.

Me deitei de lado e vi os dois rolarem no chão, desferindo socos um no outro.

— Will. – balbuciei quando reconheci o vulto loiro que estava apanhando feio.

Tentei me pôr de pé, mas alguém chutou minhas costas.

— Fica no chão, veadinho. – reconheci a voz de Roderick.

Mas eu estava com tanta dor no rosto e na cabeça, que não prestei atenção no que ele me chamara e tentei me levantar de novo. E como consequência levei um chute no estômago enquanto via Will ser agarrado por trás por alguém e Mark começar a bater nele.

Não.

Abracei minha barriga numa tentativa de diminuir a dor e deitei em posição fetal. Eu não ia gritar, não ia deixar eles escutarem minha dor. Trinquei os dentes e fechei os olhos.

— Agora é sua vez. – Mark disse parando na minha frente fitei seus sapatos e olhei para Will. Ele estava desacordado. Tentei me pôr me pé, mas Mark me empurrou de volta pro chão. – Não, não. – então ele falou com alguém. – Me dá. – pediu, mas não vi o que ele tinha pedido.

Minha atenção inteira estava no corpo desacordado de Will. Ele estava imóvel no chão e temi que ele estivesse morto, temi que Mark tivesse feito o pior.

— Ah. Relaxa, seu namoradinho está vivo. – ele disse quando viu para onde eu estava olhando. – O que é uma pena. Pessoas como vocês dois nem deviam existir.

E num ato de teimosia, me levantei e me forcei a encara-lo, mesmo que minha cabeça estivesse pesada e meu corpo inteiro doendo.

— Não existe pessoas como eu. – falei numa voz arrastada.

— Existem, sim. – então vi o que ele segurava, era um taco de beisebol. – Pessoas doentes como você. Invertidos.

— O único doente que vejo aqui é você. – repliquei.

Mais rápido que o ataque de uma cobra, o garoto me acertou com o taco de beisebol no joelho e eu cai. Mordi minha língua para não gritar, mas senti meus olhos ficarem úmidos.

— Cale a boca, sua bicha! – exclamou e me acertou mais uma vez com o taco, mas dessa vez atingiu o meu braço e acabei gritando de dor.

— Por que está fazendo isso? – disse com os dentes cerrados numa forma de impedir que mais gemidos de dor saíssem.

— Isso é por ter me dado aquele soco. – mais um golpe no mesmo braço, gritei. – E isso é por ser um maldito veado! – mais um golpe, mas esse acertou minhas costelas e por um momento assustador, não consegui respirar. Eu fiquei de barriga pra baixo, minhas mãos tentando se segurar na terra, meus dedos se afundando ali na lama numa forma de tentar me estabilizar.

Tentei puxar o ar, mas não conseguia e tudo a minha volta girou e se desfocou.

— Ei, Mark. – escutei Roderick falar, mas parecia que ele estava a anos-luz daqui. – Já chega. Você disse que era apenas para dá um susto.

— É, cara. – outro falou. – já chega.

— Me soltem, seus idiotas! Olhem pra ele! – falou muito alto e eu tentei puxar uma lufada de ar. Mas Mark me acertou na costa com mais um golpe e eu gritei. – É tudo que esse veado merece! Merece apanhar para ver se vira homem! – e dessa vez ele me chutou na costela e nenhum dos dois garotos impediu.

Olhei mais uma vez para o corpo inerte de Will e isso doeu mil vezes mais que todos os golpes que Mark estava desferindo contra mim. Eu precisava chegar nele, então simplesmente ignorei toda a dor e todo o resto e comecei a me arrastar em direção a ele. Eu precisava saber se ele ainda estava vivo, eu precisava...

Mark veio até mim e me virou de barriga pra cima. Ergui meu queixo pra ele enquanto ele preparava o taco mais uma vez.

— Sabe, considere isso um favor. – ele disse e realmente parecia acreditar nisso. – A dor vai te ensinar a ser homem.

O taco desceu e acertou o meu rosto e tudo girou. Cuspi no chão, mas não quis ver pra saber se era sangue. Mas eu sentia como se minha mandíbula tivesse sido arrancada. E mais uma vez fiquei com raiva. Fiquei com raiva de Mark, fiquei com raiva da sociedade, fiquei com raiva de tudo e todos.

— Sou mais homem que você. – balbuciei e por um momento acreditei que ele não tinha escutado, mas pelo modo como ele começou a me chutar e dar-me socos mostrou que ele tinha escutado.

— Sabe, isso tudo é culpa sua. Se você não tivesse se metido na vida do Will, as coisas ainda estariam como antes. Mas você tinha que aparecer não, é? – ele se inclinou e tocou o meu rosto, me fez olhar pra ele. Mas desviei meus olhos, peguei Roderick e o outro garoto nos encarando. E mesmo que eles parecessem desaprovar aquela atitude, nenhum veio ao meu auxilio. – Agora olhe para o que você me fez fazer. – ele me forçou a olhar para o corpo desacordado do loiro. – Tudo isso é culpa sua, seu filho da puta!

Então ele ergueu o taco mais uma vez e acertou o meu rosto e depois disso, tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

- sem nada a declarar -



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