Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 13
Treze - Minha saída do armário.


Notas iniciais do capítulo

Hey galera!
To de férias!!!! Rá!!! Mais tempo pra escrever e mais capítulos!!! kkk
Sim, o meu plano é escrever até meus dedos caírem, porque estou cheia de ideias pra essa fic!!!
Boa leitura e bem vinda galera nova!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/651093/chapter/13

Treze – Minha saída do armário.

Nos dias que seguiram o beijo no supermercado, eu não falei com Will e também não falei sobre ele e o que acontecera, com ninguém. Eu tinha resolvido manter essas dúvidas, pensamentos e confusão toda pra mim pois assim, eu acreditava que ninguém ia me julgar e que com o tempo as coisas iam se tornar mais amenas. Não se tornaram e pelo jeito que as coisas iam, não iam se tornar nunca pelo menos não enquanto Will estivesse envolvido. Mas para cada dia que não falei com ele, aconteceu uma coisa legal na escola e fora da escola.

No fim de semana, por exemplo, Mike e eu saímos para caçar patos nos morros que existem ao redor de Dickson e até mesmo acampamos lá. Eu bem que gostaria de dizer que mandamos bem nos tiros e que pegamos patos suficientes para um ano inteiro, mas a verdade foi que não pegamos nada. Nossa mira era horrível e como eu nunca tinha segurado uma espingarda antes, tudo que consegui foi um ombro dolorido de tanto coice que tomei, isso somado ao fato de que eu e Mike não éramos silenciosos. Ou talvez os patos tivessem uma audição supersônica e eram patos melhorados em laboratório que foram soltos na vida selvagem pra se reproduzir e criar uma nova espécie de super patos, porque... é. Éramos ruins mesmo.

O engraçado dessa viagem foi que terminamos o dia sem nada para comer e tivemos que ir numa lojinha beira de estrada pra comprar alguma comida. E terminamos a noite em volta de uma fogueira assando marshmallows, com Mike contando histórias sobre o tempo que ele serviu como médico no exército e dos tempos de adolescente dele. Eu também contribui com histórias. Contei a ele sobre alguns momentos engraçados no colégio interno em LA, sobre as férias na casa da Vovó. Depois disso ele me mostrou as constelações e como era fácil se guiar por elas, falou sobre a história de cada uma e disse que na próxima vez íamos pescar.

Esse acabou sendo o final de semana mais legal desde que cheguei em Dickson. Eu nunca tinha pensado muito sobre o relacionamento com meu pai e em como isso me afetava de alguma maneira. Uma parte minha sempre desprezou esse tipo de contato, sempre achou que isso não servia pra muita coisa. Mas agora, bom, eu meio que penso diferente. Consigo entender meu pai melhor agora, consigo ver porque ele me tirou de Los Angeles, consigo ver que eu não estava indo tão bem quanto achava, que aquela vida não ia me trazer bons frutos, que no fim eu estava apenas me destruindo. E esse castigo imposto por meu pai não era tão ruim assim.

Eu até estava acostumado a ficar sem celular, a falta que achei absurda agora não me incomodava mais e a companhia de Liz e Matt, que me foi proibido compartilhar, tem sido cada vez mais fácil não sentir falta. O jeito que eles levam a vida não tem me atraído tanto, assim como fumar não tem me atraído tanto. E as conversas com meu pai ficaram mais frequentes. Começamos a construir uma dinâmica interessante. Claro, ainda existem coisas que fico com o pé atrás pra contar a ele. Mas há pequenos detalhes que dizem respeito ao meu dia, que me sinto confortável pra contar sem sentir vergonha alguma. E eu tenho gostado bastante disso.

O fim de Maio chegou e como sua despedida, a prova de recuperação em Inglês chegou. Não estava realmente difícil, eu bem lembrava de todos os assuntos que estavam ali. Afinal, tinha estudado todos com Will na época que nos dávamos bem. Então me sai bem na prova ou pelo menos era essa sensação que me acompanhava durante o dia inteiro depois da prova, a de trabalho cumprido. E mesmo quando me sentei com Matt e Liz no intervalo, essa sensação ainda continuava comigo. Apreciei isso, apesar de tudo.

– Então, você parece feliz. O que aconteceu? – Matt perguntou e logo depois deu uma mordida na sua maçã.

Elizabeth tirou os olhos verdes de Dylan, que estava na mesa ao lado e os colocou em mim, ávida por uma resposta interessante.

– Nada de mais. Apenas fui bem na prova de Inglês.

– Uma vez nerd, sempre nerd. – cantarolou Liz sorrindo, tomei um gole do meu suco.

– Soube que você e Mike foram caçar patos no fim de semana. – Matt comentou, ignorando o que a garota dissera.

– Sim. – falei. – E somos péssimos nisso.

O garoto riu e quando ele se preparou para dizer algo, Elizabeth se apressou em dizer:

– Olha aquilo. – ela meio sussurrou se inclinando sobre o centro da mesa.

Olhamos pra onde ela apontava com o queixo e o que eu vi, primeiro me causou uma confusão e depois começou a fazer um pouco de sentido. Havia Emma, linda como sempre com o cabelo loiro amarrado em um rabo-de-cavalo e usando o uniforme completo da escola, mas em vez de tênis ela usava botas, o que devo admitir deixava tudo bem mais harmonioso. Então ela estava abraçando esse cara, que eu nunca tinha visto na escola antes e tinha total certeza de que ele não era um dos alunos, principalmente por ser velho demais pra estar estudando aqui. Entretanto, ali estava Emma o abraçando como se eles fossem velhos amigos, íntimos demais.

– Eu não sabia que Liam estava na cidade. – Matt comentou.

– E você acha que eu sabia? – Liz bufou.

Olhei pra eles.

– Quem é Liam? – perguntei e pelo canto de olho vi Emma largar o cara e logo Will tomou o seu lugar, agora era ele quem o estava abraçando.

E senti uma comichão desconfortável na boca do estomago. Tratei de focar meus olhos em Liz.

– É o irmão super gato do William. – ela disse, a voz transbordando em malicia. Revirei os olhos.

Então voltei a olhar pra o tal Liam e pelo fato de Will ser adotado, os dois não tinham nada em comum. Enquanto Will era todo claro, com seu cabelo loiro e olhos azuis, Liam era pintado em tons escuros, com o cabelo mais preto que já vi e com os olhos da mesma cor. Aparentava ter 20 anos e era bem mais alto que o irmão. Observei os dois se soltarem e logo sentarem os três na mesa e engatarem um papo animado.

– Ele não é daqui. Caso esteja se perguntando. – Matt disse e tratei de parar de olhar para os três. – Faz faculdade na Pensilvânia.

– E tem namorada. – Liz lamentou suspirando e descansando seu queixo na palma da mão.

– Ah. – me limitei a dizer enquanto voltava a comer meu lanche, tirando de vez minha atenção das boas-vindas ao recém-chegado.

Mas a coisa estranha do dia foi Matt me parando no corredor depois que Liz tinha ido para uma das suas aulas. Antes de entrarmos na aula de Física, o garoto me deteve há alguns passos da entrada. Ele tinha uma expressão séria no rosto e parecia pronto para uma briga. Temi pelo que viria.

– Eu sei sobre você e Will. – foi direto ao ponto.

E assim que ele pronunciou essas palavras, senti um calafrio correr pela minha espinha e por um momento não soube o que dizer, então apenas fiquei calado, plenamente consciente da minha expressão de garotinho que foi pego comendo doces antes do almoço. A parede ficando muito fria as minhas costas.

– Meu Deus, Noah. Por que não me disse? – ele soltou e de um jeito irônico ele parecia terrivelmente traído.

– E-eu... Eu não sei... – tentei dizer.

Fazia tanto tempo que isso tinha acontecido, o beijo no meu quarto e o outro beijo no supermercado. Eu nem sequer pensava neles mais. Afastava essas lembranças todos os dias e nem ao menos estava falando com Will. Na minha inocência, achava que ninguém ia descobrir, que isso ia ser apenas meu e do Will.

– Não minta. – rosnou.

– Como... como soube disso? – me forcei a perguntar, porque até onde eu me lembrava não havia plateia durante esses momentos com o loiro.

– A cidade inteira está comentando sobre o filho do médico que beijou um garoto no supermercado.

E toda a cena voltou mais uma vez a minha mente. O gosto do beijo de Will na minha língua, o cheiro dele inundando meu nariz, o jeito como coloquei meus braços em volta do pescoço dele, ele sorrindo contra meus lábios... Havia todos aqueles produtos à nossa volta, o cheiro de coisas novas e embaladas espalhado por todo lado, as câmeras em cada canto daquele lugar. Fechei os olhos ao me lembrar das câmeras, um tremendo medo tomando conta de mim.

Será possível que as pessoas presentes no Publix viram o beijo? Será que foi tudo transmitido como num show de TV? Será, meu Deus, que meu pai viu?

Fiquei tão nervoso com a possibilidade de Mike ter visto que acabei dizendo:

– Merda! – passei a mão no cabelo, soltei o ar pela boca e depois olhei pra Matt, que ainda estava com um olhar assassino no rosto. – Matt, eu... eu não tive a intenção de fazer aquilo, só aconteceu. – expliquei pateticamente.

– Só aconteceu? – ergueu uma sobrancelha e bufou. – Essa é a sua explicação? Só aconteceu?

– Não foi culpa minha. – me defendi. – Will apareceu e-

– E você tratou de agarra-lo. – me interrompeu.

– Não foi assim! – me exaltei e ao nosso redor percebi os alunos nos lançando olhares, mas eles passavam direto e me perguntei se eles sabiam sobre o beijo no supermercado.

– Que seja! – ele exclamou. – Não estou afim de ouvir os detalhes do seu caso com ele. O que eu sei é que você é um maldito gay!

Ao escutar essa última palavra, eu confesso que fiquei um pouco fora do sério e o que fiz a seguir com certeza entrou para o livro “As bobagens de Noah Grace”, claro se esse livro existisse.

Eu apenas empurrei Matt.

– Cala a boca! – me enraiveci de vez.

Eu sou uma pessoa que se irrita muito fácil e minha sexualidade ainda era um assunto delicado pra mim. Digamos que eu ainda estava meio sensível com isso, aceitando aos poucos a ideia de que, sim, eu era gay. E o fato de Matt me chamar de gay com tanto desprezo empregado na sua voz... Apenas não pude me conter.

– Ah, olha só. – e a sua voz tinha adquirido um tom zombeteiro. – Não gosta de ouvir a verdade? Mas quer saber, Noah, é isso sim. Você é gay, homossexual, bicha, veado, boiola, baitola. Escolha o adjetivo que preferir.

Fechei minhas mãos em punho e trinquei o maxilar, mas respirei fundo.

– Não vou brigar com você. – falei.

O meu lado racional se impondo acima do emocional, me mostrando que tudo que Matt estava querendo era comprar briga comigo porque ele estava chateado demais com Will pra admitir.

Dei as costas pra ele, me dirigi em direção a entrada da sala de aula. Mas Matt me segurou pelo ombro.

– Ainda não terminei com você.

Tirei a mão dele do meu ombro com brutalidade.

– Qual o seu problema, afinal?! – soltei totalmente fora irritado. – Eu sou gay sim. Pronto. É isso que quer ouvir? – meu grau de raiva tinha assumido um patamar bem alto e toda a confusão que eu vinha sentindo ao longo desse tempo todo tinha finalmente desaparecido e pela primeira vez em tanto tempo, eu tinha certeza de uma coisa. – Eu sou gay! – gritei na cara de Matt, alto o suficiente para que as pessoas a nossa volta parassem e escutassem.

A minha confissão acabou deixando o garoto com mais raiva. E apenas para provocar, disse:

– Sua vez.

Eu sabia que ele não iria dizer nada. Matt era tão gay quanto eu, mas quase ninguém sabia, principalmente seus pais. Apenas Liz, eu e Kiera conheciam esse lado de Matt. E até onde me confessara, não tinha coragem alguma de contar ao mundo algum dia. Então ele permaneceu calado, o corpo muito rijo e os olhos transbordando de raiva e inveja.

– Elizabeth vai saber disso e quando souber...

– Está fazendo isso só por causa de um beijo? – soltei e me assustei com o tanto de tristeza havia ali.

– Estou fazendo isso por que você quebrou a minha confiança.

– Por que beijei o cara que você gosta? – não pude me conter.

Ele não respondeu, simplesmente me deu as costas e se afastou.

– Matt! – chamei, mas ele não respondeu.

E a minha volta só havia olhares surpresos e cheios de aversão pra cima de mim.

– Olha só, Emma. – escutei alguém comentar, voltei meus olhos na direção da voz e encontrei Mark, encostado no seu armário, com Emma ao seu lado. A garota tinha os olhos baixos ao passo que Mark tinha um sorriso sinistro no rosto. – Briga de casal. – e só havia desprezo na sua voz. Seus olhos castanhos estavam sobre mim, grandes e maldosos. – O veado número um acabou de dispensar o veado número dois.

Apertei os dentes e dei as costas pra ele ao mesmo tempo que escutava sua risada me acompanhando. Esbarrei em alguém no caminho, mas não parei pra pedir desculpas e nem pra ver se a pessoa estava bem, pois a única coisa que estava na minha cabeça era o fato de a cidade inteira estar falando sobre o meu beijo com Will, por que se a cidade toda já sabia então era óbvio que Mike sabia.

Acabei não assistindo a última aula, simplesmente sai da escola e fui pra casa. Não tinha cabeça pra enfrentar Liz agora, pra enfrentar Matt de novo, pra ver Will ou pra aguentar os comentários homofóbicos de Mark. Assim que entrei em casa, joguei minha mochila no sofá e chamei por Mike, mas como esperado ele não estava em casa. Então fui até a cozinha e com os dedos tremendo tomei um copo de água. Respirei fundo algumas vezes. Precisava organizar minhas ideias, ensaiar o que ia dizer ao meu pai, me preparar para a sua reação. No entanto, enquanto fazia isso, com o corpo encostado na bancada da cozinha e o copo de água longe de mim, comecei a me lembrar de alguns detalhes que meu cérebro tinha ignorado durante essas duas semanas.

O jeito hesitante que Mike estava se comportando, como se quisesse perguntar alguma coisa mas não tivesse coragem. Os olhares hostis que eu recebia das senhoras da cidade toda vez que saia sozinho. Como eu não percebi que tinha alguma coisa errada?

– Eu sou tão burro. – sussurrei pra mim mesmo.

Fechei os olhos e expirei.

O rangido da porta se abrindo foi o que me pôs em alerta mais uma vez.

– Noah? – escutei Mike.

– Aqui. – respondi da cozinha e logo ele apareceu na entrada da cozinha.

– Chegou cedo. – comentou. – Eu já estava indo na escola te buscar. – então entrou na cozinha, foi até a geladeira e pegou um suco de caixinha e logo ele estava a minha frente, do outro lado da bancada, analisando minha expressão.

– Tive que vir mais cedo hoje – disse e abaixei os olhos pra bancada.

Como se conta uma coisa dessas a um pai? Como se entra nesse assunto?

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou, a voz cheia de preocupação.

Íamos ter que ter essa conversa em algum momento, era melhor que eu começasse a dizer tudo de uma vez e se ficasse um clima estranho, se ele não me aceitasse, se ficar decepcionado... eu sigo em frente.

– Briguei na escola. – confessei ainda de cabeça baixa.

Vamos devagar, disse a mim mesmo, vamos começar devagar.

– Noah – papai começou num tom de repreensão.

– Não foi culpa minha. – me defendi e o fitei. – Matt ficou com raiva e veio pra cima de mim...

– Ele te machucou? – e observou meu rosto atrás de qualquer sinal de agressão.

Neguei com a cabeça e ele esperou. Mas eu não disse nada, esperei que ele fizesse a pergunta de uma vez:

– Por que ele ficou com raiva de você? – existia tanto cuidado empregado nessa pergunta, como se ela fosse feita de vidro. Mas não, a resposta é que era feita de vidro e vidro corta, causa dor e eu não queria causar nada disso ao meu pai. No entanto a verdade precisava ser dita.

Voltei a fitar a bancada de mármore da cozinha.

– Eu... ele descobriu que beijei... – era tão difícil dizer isso em voz alta a ele. Suspirei.

– Que você beijou Will no supermercado. – completou, a resignação tomando conta dele. Levantei minha cabeça para olhá-lo. – Eu sei, Noah. Eu vi.

Mike parecia verdadeiramente triste e mais do que triste, decepcionado. Me senti uma porcaria por estar causando isso nele.

Por que é tão difícil ser você mesmo?

Mike abaixou o olhar, fitou a sua caixinha de suco esquecida sobre a bancada.

– Eu quis falar com você sobre isso desde o momento que vi a cena no supermercado, mas nunca parecia a hora certa e eu estava apavorado demais com a ideia de você ser... – se interrompeu e então olhou pra mim. – Desde quando, Noah? Foi alguma coisa que eu fiz?

E mesmo que ele não tenha dito, eu fui capaz de escutar a pergunta implícita em cada detalhe do rosto dele, em cada parte daquele cômodo, em cada emoção que ele estava sentindo, que eu também sentia: O que deu errado?

Não foi nada que você fez, não foi nada que eu fiz. Eu não sei o que deu errado, não sei se existe mesmo algo de errado comigo. Apenas aconteceu de garotos terem mais minha atenção do que garotas. Mas eu sou saudável, pai. Não estou doente, não é uma doença mental. Eu apenas gosto de garotos.

– Não é culpa sua. – decidi dizer. – Eu apenas sou gay. – pronunciei de uma vez. Era preciso que ele, que eu, que nos acostumássemos com essa palavra.

– Mas você namorou com a Bianca.

– Foi mais como uma experiência. – confessei. – Sempre fomos mais amigos que namorados.

Ele suspirou e balançou a cabeça, se levantou e se afastou de mim.

– Pai. – chamei quando ele estava saindo da cozinha.

– Eu só preciso pensar sobre isso. – explicou, mas não olhou pra mim e então foi embora.

###

O dia seguinte na escola foi uma porcaria assim como o resto da semana.

Mike não estava falando comigo normalmente, apenas se limitava a me lançar olhares tristes e resignados. E isso era mil vezes pior que o silêncio que ele me impôs. Mas ele continuava seguindo a sua rotina, me levava e buscava na escola. Sentávamos juntos na hora do jantar, mas não havia palavras. Era apenas um grande e incomodo silêncio. E as palavras não ditas do meu pai me machucavam mais do que minha atual situação na escola.

Elizabeth não estava mais falando comigo desde que Matt contara a ela sobre o beijo. Ela tinha me confrontado na escola no dia seguinte, me xingado e dito o quanto eu tinha quebrado a sua confiança ao confraternizar com o inimigo e blá blá blá. Me mantive calado enquanto ela me empurrava e dizia coisas ruins pra mim. Eu não me importava com a raiva dela, com a raiva de Matt ou com a raiva de todos da escola. Eu me importava com o declínio do meu relacionamento com o meu pai. Estávamos indo tão bem, estávamos nos dando bem. Tínhamos até mesmo ido caçar e ele tinha me contado todas aquelas histórias sobre as constelações e sobre sua infância.

No entanto Liz me excluiu do seu círculo social e sem ela e Matt, eu não tinha mais nenhum amigo na escola.

Sentava sozinho durante o intervalo e não conversava com ninguém durante as aulas, principalmente porque ninguém parecia querer papo comigo. Alguns me lançavam olhares de pena, outros pareciam sentir uma raiva eterna de mim. Apenas Will falava comigo, contra a minha vontade. Eu tinha ficado ressentido com ele por causa do beijo. Durante um tempo, eu o culpei e por isso o ignorava completamente. Mas para a minha surpresa, me vi o procurando na biblioteca.

Aquele acabou virando um tipo de ponto de encontro nosso. Eu o encontrava lá todos os dias depois da aula para conversar. Não existia nenhuma malícia nisso. Eram apenas conversas, papos descontraídos entre as estantes de livros e em nenhum momento ele tocava no assunto do beijo, coisa que eu achava muito bom. Não queria falar sobre isso agora, ainda era um assunto delicado.

As consultas com a Dr. Martha se tornaram mais fáceis e agora eu me sentia seguro para contar a ela qualquer coisa. E ela me escutava e não me julgava. Era uma das poucas pessoas que não fazia isso. No fim, a liberdade de dizer que prefiro garotos a garotas me trouxe um tipo estranho de leveza, eu me sentia como eu mesmo agora. Não escondia mais coisas e toda aquela confusão simplesmente tinha desaparecido de meu ser.

No começo de Junho, uma semana antes das férias. A escola entrou em um alvoroço. Estavam todos animados e ansiosos para as disputas de Declato que aconteceriam essa semana. Eu não fazia parte do time, porque recusei a oferta do professor de matemática, já que andava desanimado com a minha atual situação de rejeitado pelo pai. Então ao contrário de cada aluno, eu não estava dando a mínima para a chegada do time de Declato, que vinha de algum lugar para disputar contra o time daqui. Por isso, me sentei na maior calma na minha mesa de sempre no refeitório. Sozinho como sempre. Eu estava mexendo na salada se fruta sem muito interesse, pensando se Mike algum dia ia voltar a falar comigo. Quando uma voz familiar demais se fez presente:

– Então quer dizer que sem nós, a sua vida é um verdadeiro vale de solidão?

Assustado levantei minha cabeça e encontrei uma Kate segurando uma bandeja com lanche e sorrindo pra mim com ironia.

– Kate? – soltei confuso, sem acreditar que ela pudesse estar mesmo aqui.

– A primeira e única, querido. – respondeu e se sentou à minha frente.

– O que faz aqui?

– Viemos te ver, já que você nunca liga nem escreve. – respondeu alguém a minha esquerda, olhei pra lá e vi Derek se aproximar. Ele se sentou ao meu lado.

– Não diga isso. – E logo Daniel entrou no meu campo de visão. O gêmeo de Derek se sentou ao lado de Kate, ficando de frente para o irmão. – Agora o ego dele vai ficar maior do que nunca.

– Estão mesmo aqui ou eu estou louco? – perguntei, ainda não acreditava que meus amigos de LA estavam mesmo aqui, na escola, em Dickson.

– Não. Você está doidão por causa dessa salada batizada. – Derek respondeu e logo em seguida Daniel empurrou minha testa com a ponta do dedo indicador.

– Claro que estamos aqui, Noah. Não seja idiota. – ele disse e nós quatro rimos.

– O que fazem aqui? – me dirigi a Kate, ela sempre foi a mais séria do grupo.

– Viemos derrotar seu time de Declato na competição. – respondeu convencida.

– Não é meu time. – expliquei. – É o time da escola.

– Ué, achamos que você fazia parte do time. – Daniel comentou e comeu um pedaço do seu empanado. – Nossa. Isso é incrível! – elogiou.

– Não ando com vontade de fazer parte do time. – disse e comi um pouco da salada Até que não estava ruim.

– Menos mal. – Derek se apressou em dizer. – Eu já estava com a consciência pesada só de pensar que íamos competir contra você. Sabe, ia ficar um clima estranho depois que derrotássemos você.

– Ninguém ia me derrotar coisa nenhuma. – defendi. – Vocês tem que agradecer que estou fora da competição, pois agora vocês tem alguma chance.

– Rá rá. – Daniel fingiu uma risada. – Sempre modesto.

Então vi Kate levantando o braço e acenando pra alguém, olhei pra onde ela acenava e encontrei Bianca vindo em direção a nossa mesa. Voltei meus olhos pra Kate.

– Explique.

Ela bufou.

– Você saiu do time e precisávamos de alguém. – ela falou.

– Ela passou nos testes. – Daniel disse.

– Agora ela faz parte do time. – Derek completou.

Baixei os ombros. Fala sério.

– Oi, Noah. – Bianca me cumprimentou assim que chegou a mesa.

– Oi. – ecoei.

E ela se sentou ao meu lado direito e pelo canto de olho peguei um olhar de testa franzida de Will pra cima de mim, uma certa confusão misturada com alguma outra coisa que não soube identificar no seu olhar.

Ia ser uma longa semana.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hum... a parti do nome já dava pra ter uma ideia sobre o que era o capitulo, ne.
Quem foi que ficou com dó do Noah???? Eu sei que o Mike reagiu de um jeito que vcs não esperavam, mas ele é um pai e eu tipo tentei me colocar na pele de um pai que descobre que o filho é gay... e ele não rejeitou o Noah, não gritou com ele nem nada. O Mike só está confuso no momento, então tenham paciência com ele.
Ah, e podem ficar com raiva do Matt e da Liz mesmo. Eles estão sempre olhando pra si e nunca em volta.
E olha só, tem gente nova na escola. A turma do Noah chegou pra dá uma animada nessa cidade e a ex do Noah também apareceu.
Até o próximo.
PS: vou responder os comentários hj a tarde, ok?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Antes que novembro acabe..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.