Diário Virtual escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 29
E o futuro?


Notas iniciais do capítulo

Gente, to super atolada aqui. E o que inventei de fazer? Postar outra fic.

Par Perfeito já está disponível



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Eu resolvi ter uma nova visão sobre a minha vida. Mudar meus lemas e definir meus objetivos e missões. Quando se é adolescente, você tem uma visão limitada da vida, mas o pouco que você vê é rico em detalhes que nenhum adulto perde tempo olhando duas vezes. Coisas pequenas são enormes. Sonhos são possíveis se você não desistir, mas tudo é difícil de fazer. Não basta querer, seus pais precisam autorizar. E poucos se importam com a opinião de um jovenzinho que mal viveu.

Eu não passo muito tempo pensando no futuro. E isso meio ruim, sei bem disso. Passo tanto tempo pensando no aqui e no agora que às vezes nem dou conta do quanto sou imprudente. "Às vezes", que piada, faço isso sempre. E até meu " sempre" diferente do das pessoas grandes. Pra mim é algo eterno, imutável, que nunca vai mudar ou sofrer alteração. Pra gente grande não, pra gente grande é "eterno enquanto dure". Acabou? Não durou, paciência.

Daqui a poucos anos eu vou ter acabado meus anos de escola. Sei que conto os dias pra me livrar dessa prisão, mas é essa prisão que esteve comigo por toda a minha vida. Desde que eu me lembre sou obrigada a entrar naquele lugar, sentar a bunda na cadeira e prestar atenção na aula. Quando isso acabar, o que vou fazer com a minha vida? Entrar na faculdade, me matar de estudar pra ter alguma profissão, e então... não sei. Arranjar um emprego, acho, pra pagar minhas contas.

Mas que curso eu vou fazer? Vou ter que trabalhar no que eu estudar pelo resto da minha vida? Como faz pra entrar na faculdade? Eu não tenho grana pra pagar mensalidade. Vou aguentar acordar cedo pra ouvir chefe mal humorado me mandando fazer coisas que eu não quero?

Não vou mentir, me bateu uma baita preocupação. Acho que é a bad me fazendo ter esses pensamentos pra me deprimir. E o pior de tudo é que não são apenas perguntas para se refletir, são pra te fazer chorar porque você vê tudo pela negatividade. Não ajuda o fato de que sou obrigada a ficar ouvindo essas músicas que minha irmã está colocando e uma pior que a outra. Não sei nem o que significam aquelas letras mas a melodia e o toque já é o suficiente pra te fazer chorar.

Tem algum caroço no meu peito me machucando. Alguma coisinha que quer me fazer gritar mas eu não consigo gritar e então essa coisinha me aperta mais ainda e... e... eu não sei. Só machuca. E não tenho ninguém pra conversar sobre isso exceto eu mesma, o que não é muito reconfortante.

E tem toda a questão do baile da escola, que já ta chegando, e eu não sei nem com que roupa ir. Minha irmã e minha mãe que deveriam estar me ajudando estão distraídas demais pra focar em mim. E pra ser bem sincera nem estou com vontade de ir, o que me assusta pra caramba porque eu queria muito ir e agora não quero. Mesmo assim, ainda estou ansiosa com essa data chegando porque serei obrigada a ir e não quero.

Quer saber? Essa deveria ser minha maior preocupação, essa bendita porcaria de baile. Que eu nem estava pensando tanto ultimamente mas olhei no calendário e levei um baita susto. Como que o tempo passou tão rápido? Por que esqueci dele assim? O que vou vestir? Que penteado fazer? Que desculpa inventar pra não ter que ir? Isso preocupação que importa. Por que raios estou pensando em faculdades e futuro? Ah, sim, por causa desse jantar. Esse jantarzinho do qual ninguém me falou nada.

Minha mãe convidou o Bryan e meu primo Ronald pra jantar. Que surpresa. E a novidade é que o Ronald está indo morar sozinho, uma péssima notícia para os meus tios mas maravilhosa pra Rebeca : agora ela vai ter um lugarzinho pra ficar quando não quiser olhar pra cara dos pais sem ter a necessidade de vir pra minha casa, o que também é boa notícia pra mim.

E então começaram a falar de futuro e tantas outras coisas que passei a maior parte do jantar calada na minha, passeando com minha colher pelo prato de comida. Já era bem desagradável ver o Bryan ali, mas ouvir aquele assunto foi terrível. Provas pra vestibular, entrevistas de emprego, etc. Porque o Bryan também está pensando em sair de casa pra morar sozinho e eu fiquei tipo, "como assim? Você só tem 19 anos", mas até minha mãe apoiou a iniciativa dele. E minha irmã, minha desmiolada irmã tem um lado sério e responsável : ela está se preparando para começar a ir em entrevistas de estágio.

Se até a Natasha está se preparando para estágios, eu não devia me preocupar com isso também? Procurar um jovem aprendiz, por exemplo? Pois é, Rosa começou a me alfinetar e senti uma tensão dentro de mim... Por um pequeno período de tempo me esqueci de que ela é minha avó, eu gostando disso ou não.

É nesses momentos em que sinto falta da minha avó paterna. Rosa me metralhou por um bom tempo antes que eu pudesse voltar para o meu quarto choramingar as pitangas. Se minha avó... minha outra avó estivesse aqui... ela teria calado a Rosa com algum comentário do tipo " ela é nova, mal completou os 15 anos... Não tem que pensar nisso, tem é  que se divertir". Bom, é provável que ela erraria minha idade mas tudo bem, ela me defenderia e não me faria parecer alguém ingênuo que só está na terra por estar, que não tem objetivos nem metas nem nada.

Eu não tenho culpa se eu sou da geração... Como ela disse mesmo? Dos desmiolados? É, talvez as pessoas da minha idade se concentram mais em besteiras "que não importam" do que em estudar. Que inventam feriados e imendam pra semana toda pra não ter que ir pra escola. Que brigam por coisas pequenas como sua camisa roubada ou que ficam usam merdas, como cigarros e bebidas. Ta, esse último comentário não foi pra mim, mas com licença, se você junta todos num pacotinho não importa o seu sabor, você vai ser julgado pela embalagem.

Eu devia era virar uma pensadora contemporânea. Ser que nem esses filósofos de facebook e ajudar as pessoas com textões inspiradores. Ou então só criar um twitter e sair falando mal de um monte de gente. Quero dizer, qual a probabilidade da minha avó usar redes sociais e descobrir meu twitter? Ha, nenhuma. Eu posso descontar toda a minha raiva em várias caixas de 140 caracteres que ela nunca vai saber.

Tem alguém batendo na porta. Merda. Não se pode nem se lastimar em paz?

♥ ♥ ♥ ♥

Era o Ronald ♥

Eu devia me lembrar com mais freqüência sobre o quanto ele é legal. Ele só entrou e ficou batendo um papo, falando sobre músicas e filmes e séries e do quanto o trabalho dele era divertido. Atualmente ele trabalhava numa galeria de rock e ajudava pessoas a escolherem o que comprar de acordo com seus gostos. Ele basicamente passava o dia ouvindo música.

Depois ele mandou a Tasha tirar aquelas "musiquinhas frufru" só rádio e me deu um CD de uma banda chamada Walk the Moon. Rold é demais. Ele não forçou a barra me fazendo perguntas ou me criticando. Ele só diz o que tem que dizer. Ele até me disse pra eu não esquentar a cabeça pensando tanto no futuro porque senão eu iria surtar, e olha que nem reclamei de nada.

Como eu pude falar tão mal do Ronald durante todos esses anos? Espere, ele quebrava minhas bonecas, aprontava e colocava a culpa em mim e me irritava durante toda a minha infância. É, mas as pessoas mudam. Talvez a Rebeca tenha esperanças porque ela devolveu minha camisa e pediu desculpas por ter sido uma "vaca intolerante". Acho que isso também tem dedo do Ronald. Espero que ele tenha largado os cigarros, porque isso sim estragava ele.

Acho que eu devia conversar mais com a Rebeca. Ela não tem culpa por ter nascido numa família desequilibrada. E o irônico é que quando meu pai abandonou minha mãe ela que foi julgada pela família toda, mas olha só meus tios Leopold e Jema, pais dos dois. Vivem brigando, são pura aparência por fora mas por dentro são horríveis. Desde que a Rebeca se declarou vegetariana eles ainda tentam colocar carne escondido na comida pra fazer ela comer. Deus sabe que minha mãe nunca faria isso.

Ela não me deixou fazer  mechas no cabelo e disse que nem sonhando eu ia poder pintar o cabelo de novo, mas mesmo assim ela ainda uma boa mãe e faz tudo que pode pra isso. Não foi culpa dela se eu escolhi a cor de tinta errada e ao invés de ficar uma ruiva maravilhosa fiquei por meses com o cabelo cor de caldo de salsicha. Não vejo a hora desse ano acabar e poder dizer com toda a convicção que isso é passado.

E eu ainda tenho toda aquela grana dos trabalhos de compensação de faltas feitas. Como pude me esquecer disso??? Escondi tão bem que esqueci, mas eu ainda tenho *-*

Sério, quando estamos desesperados, só precisamos de alguém que sem dizer nada concreto te faça lembrar que a vida é boa pra ser vivida. Qual a graça se a gente só fica se lamentando pelo que aconteceu ou o que vai acontecer?

Eu sou uma adolescente de 15 anos no 1° ano do ensino médio. Eu não vejo meu pai a meses. Eu vou reprovar em matemática e ficar de DP ano que vem (certeza disso, nem estou sendo pessimista). Eu tenho uma família que tem seu lado podre e ruim mas eu ainda os amo. Eu estou dividida entre dois garotos e acho que gosto dos dois na mesma intensidade. Talvez não da mesma forma, mas gosto mesmo assim. Eu choro, eu dou risada, eu entro em crise e surto. Mas, ainda assim, talvez alguém por aí goste de mim e me ache legal.

Ou talvez só queiram me dar um belo tapa por ser tapada.

Mas quem se importa? Eu tenho dinheiro ♥



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