Diário Virtual escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 23
Papéis da Minha Vida


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem não conseguiu dormir de noite e resolveu stalkear os leitores? Isso mesmo, euu kkkk

Vick e Alasca:-O esse capítulo é pra vocês.




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Depois do intervalo da escola, voltei pra sala e quase todos aqueles meus clientes estavam lá na porta, com dinheiro na mão, prontos pra me pagar pelos trabalhos que fiz pra eles.

Foi bem engraçado as negociações, a contagem pelo troco, a conferência do trabalho. Nessa parte eu gelei, enquanto eles supervisionavam os trabalhos. Por sorte, fui salva pelo Jordan, da outra sala, que disse :

— Estudei com ela ano passado, mô nerd essa menina aí. Ela só tira dez, pode fica tranquilo.

Aí eles começaram a cantar um trecho de uma música chamada "Ta tranquilo, ta favorável", e até eu dei risada.

Fui na sala de aula dos que faltavam e acertei tudo, anotando o nome de quem ainda me devia, alguns só pagaram a metade. Faturei quase trezentos contos e juro, NUNCA na minha vida toquei em tanto dinheiro assim, e fiquei gelada de medo. Escondi a grana na mochila, não querendo chamar atenção, e tentei ficar quieta na minha.

Só que alguns alunos ficaram tirando sarro o resto das demais aulas por conta disso. Quando a professora de sociologia perguntou, por exemplo, que nenhum jovem de classe média teria dinheiro o suficiente pra comprar esses aparelhos tecnológicos de última geração que saíam todo ano, Wesley apontou pra mim e disse :

— A Cassie teria, essa mina tem a maior grana.

No começo, achei chatinho esse tipo de comentário, que fazia geral rir e a professora tentar entender o que estava acontecendo. Mas percebi que eles não estavam fazendo daquelas zoeiras pra me magoar nem nada, eles estavam brincando comigo. Não rindo de mim, rindo comigo.

Quando minha caneta caiu no chão, duas garotas se abaixaram pra procurar ela. Quando eu disse a professora que não tinha a parte inicial do texto porque faltei ontem, me emprestaram o caderno sem eu nem pedir.

Pela primeir vez, as pessoas me chamavam e falavam comigo, como se eu realmente estivesse ali e fosse como todos eles. Não uma garota invisível, uma garota normal.

E quando tivemos que fazer um trabalho em dupla, e vários alunos se ofereceram pra fazer comigo? Escolhi ficar com a Beatriz, uma garota que sentava.nos fundos que vivia calada, ela só conversava com os amigos dela. Bia, assim que ela me pediu pra chamá-la, disse que sempre tentou falar comigo, porém, tinha receio de se aproximar e eu não gostar. Eu era muito na minha e ela não gostava de invadir a privacidade dos outros.

Esse podia ter sido um dia que começou com o pé esquerdo, mas estava indo por um bom caminho. Falta apenas uns cinco minutos pra bater o sinal, e não via a hora de poder ir embora e me encontrar com o David.

Os alunos estão guardando os materiais deles, e alguns estão se levantando. Estou prestando mais atenção aos meus colrgas de classe, e tenho achado fascinante seus hábitos, como o fato de em toda troca de aula eles irem para a porta.

O professor Jean acabou de entrar na sala, boa coisa não é. Ele só costuma visitar salas que não tem aula dele pra cobrar trabalhos ou entregar detenções.
Merda, ele está me chamando, vou lá ver o que ele quer. Talvez queira pedir desculpas pela forma com que me tratou na última aula, eu não teria levado uma advertência se não fosse por ele.

♥ ♥ ♥ ♥

Detenção? Como um professor ousava me dar um papelzinho por escrito dizendo que eu teria que cumprir uma detenção? Pensei que minha mãe tivesse resolvido isso, mas ao que parece, ninguém escapa do "regras são regras" desse professor chato

— Uma lástima o que aconteceu naquele dia, realmente... Mas anotei seu nome no meu caderninho, e é inevitável... A detenção continua valendo. Não pra hoje, claro, você deve estar passando por um momento difícil... Quarta-feira que vem você cumpre.

Quanta baboseira em um período de tempo tão pequeno, e mais uma mancha na minha reputação. Nunca, em todos esses anos escolares recebi tamanha afronta dessas, totalmente injusto. Só não vou contar pra minha mãe porque não quero ter que ver outro debate na escola por minha causa ou arranjar outra confusão.

Mas caramba, como vou fazer pra inventar uma desculpa e ir nessa merda de detenção? Não é como se todo dia eu chegasse na minha mãe e dissesse :

— Posso passar a tarde toda na escola?

Eu vou ter que pensar em algo bem criativo pra isso.

Ah, o sinal tocou. Se tivesse batido mais cedo, talvez tivesse fugido do professor Jean. Poxa vida, é só eu falar que está tudo bem que algo ruim acontece.

♥ ♥ ♥ ♥

Assim que pisei os pés em casa, minha mãe me atropelou com os mais variados tipos de pergunta, querendo saber como tinha sido minha aula. Mencionei de relance o debate sobre o bullyng, que eu sabia ser o assunto que ela estava interessada, mas mudei o foco rapidamente.

Não foi tão fácil assim, mamãe pareceu não se tocar sobre o quanto falar desse assunto me deixava desconfortável. Aí lembrei que eu tinha uma novidade, e quando disse que tinha sido convidada pra ir um baile, ela simplesmente surtou e se esqueceu do que dizia.

— Você foi convidada?? Pensei que ninguém fosse te convidar... digo, estou tão feliz por você!

É nesses momentos que lembro a quem puxei. Mamãe é da época em que bailes, vestidinhos e passeios de mãos dadas com um cartãozinho de romance valia mais que muita coisa. Ela com certeza tinha visto cartazes pela escola ontem, mas não comentou nada com medo de que eu ficasse pra escanteio e acabasse não indo.

Como naquela vez, quando eu estava na sétima série, que teve uma festinha de despedida e os pais puderam ir. Começou a tocar uma música e os alunos foram indo aos pares para o centro, pra dançar. Adivinha quem foi a única que ficou em pé no canto, esperando alguém que não veio? Mamãe morreu de vergonha, e ficou muito sentida com isso.

Quero dizer, até parece que eu ia ficar chateada se não fosse convidada por ninguém nesse baile. Puff, fala sério. Não me sentiria nenhum pouco constrangida, e se um dia chorei por não ter sido convidada pra uma mísera dança no centro do salão, foi porque um cisco caiu no meu olho. Ou dois. Mas ficar sentida por isso é ridículo. Ta que eu sonho com um baile desde que assisti A Princesa de Rosa Shocking, mas fora isso, tudo certo.

Fiquei tão contente comigo mesma por ter desviado o assunto do bullyng que nem me importei quando ela torceu a cara quando eu disse que iria com o David. Se bem que, qual é, se meu namorado não me convidasse, quem me convidaria?

Depois disso o assunto girou em torno dos bailes que a mamãe foi na adolescência dela, que eram mais frequentes que os hoje em dia. Antes dela chegar no ensino médio, sua escola tinha oferecido mais bailes do que ela poderia contar, enquanto eu estava a caminho do meu primeiro. Ela falou que por mais simples que tivesse sido essas festinhas, ela tinha se divertido pra caramba. Não, ela não usou o termo "caramba", mas seria legal se ela tivesse usado.

— Nós vamos te deixar tão arrumada, querida, vai parecer uma verdadeira princesa! Assim que sair o tema do baile, me avisa que vou avisar a costureira, ela me conhece e pode fazer um precinho camarada.

O "nós vamos" me assustou um pouco, porque imaginei que a parceira dela nos experimentos em mim seria minha irmã. Que, aliás, entrou na sala nesse momento e me entregou umas folhas de papel, tudo bagunçado.

— Isso aqui é um guia completo para fracassadas como você. - explicou. - Achei na internet e imprimi, pensei que fosse gostar. Uma irmã minha sofrendo bullyng na escola, era só o que faltava. Eu te disse pra tomar cuidado na hora de escolher a tinta, eu te avisei.

Pra ela, a culpa de grande parte do meu fracasso como pessoa era por não seguir pequenos conselhos dela, como esse da tinta de cabelo. Até porque meus problemas escolares começa por uma coloração diferente de cabelo, fala sério. Olhei pra mamãe, pra ver se ela ia dizer algo ou me defender, mas ela estava ocupada no telefone.

— É, ela vai pra um baile e tudo. - dizia pra alguém do outro lado da linha.

Aproveitei essa oportunidade pra subir para o meu quarto, e mandei uma mensagem para o David, perguntando se ele já tinha saído. Depois do intervalo o treinador tinha chamado os jogadores do time para a quadra, e quando bateu o sinal pra ir embora David ainda estava treinando. Como ele até agora não me respondeu, pressumo que ainda está lá.

Agora estou aqui, me definhando no tédio, sem saber ao certo o que fazer. Se eu descer lá pra baixo, vou ter que ouvir minha mãe falando de bailes e minha irmã sobre "bullyng você leva na esportiva". Meu namorado não me responde, e mesmo eu sabendo que ele está no treino essa demora vem me irritando.

Não sou o tipo dr namorada ciumenta.

Não sou o tipo de namorada desesperada por falar com ele.

Não sou o tipo de namorada que...

Pelo menos eu tenho quase trezentos reais na mochila. Papel de dinheiro, papel de algo que minha irmã imprimiu de algum lugar e um papel de detenção.

E tudo que eu queria era uma mensagem do Bryan. Digo, do David.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí gosta de Harry Potter? Criei uma fic chamada De Frente com Rita Skeeter, cada capítulo vai ser uma entrevista com um personagem da saga.

Até quinta-feira o/

Ou segunda, vai saber.