The Movie of Our Lives escrita por Heosphoros


Capítulo 3
Circo dos Horrores


Notas iniciais do capítulo

"Senta aqui ao meu lado e deixa o mundo girar, jamais seremos tão jovens..."

— William Shakespeare.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/650289/chapter/3

ATO IV

Em menos de meia hora, o humilde e pequeno apartamento de Clary e Simon se transformou em um Circo dos Horrores ou, como a matriarca da família Fray (vulgo, vó de Clary) gostava de chamar, uma "reunião amistosa em família".

Os membros da família Morgenstern foram chegando em um intervalo de cinco minutos, o que deixou Clary surpresa. Havia anos em que os quatro não ficavam reunidos sob o mesmo teto por conta de diferentes acasos no mundo da rotina e do trabalho - Valentim, com suas reuniões no mundo empresarial; Jocelyn vendendo e pintando seus quadros; Jonathan com sua vida de artista e Clary batalhando por um emprego depois da faculdade. Nenhum Morgenstern tinha tempo para o outro.

No entanto, até Valentim conseguiu um intervalo na negociações que fazia por Los Angeles e foi o último a chegar na casa da filha. O pai ainda vestia um terno preto bem cortado e estava sentado na poltrona de veludo, ao lado do sofá de três assentos, com a postura de um lorde inglês.

Jonathan também apareceu por lá, porém contra a sua vontade. Estava encostado na parede, fumando, e olhando para o nada com uma expressão entendiada e irritadiça. Clary procurou manter-se longe dele, continuando sentada no sofá ao lado de Simon.

Jocelyn estava a ponto de matar alguém. Naqueles 30 minutos seus cabelos passaram de bagunçados para eletrocutados, de tanto que ela passava as unhas pelo rabo de cavalo mal feito. Ela olhava para cada pessoa naquela apartamento com os olhos verdes cheios de fúria e Clary não a culpava.

Simon era o único que parecia estar se divertindo. Havia assistido a pouca reuniões da família Morgenstern e sempre saía revigorado de cada uma delas. Ás vezes ele se amaldiçoava por não estar com um gravador de som próximo a ele quando acontecia.

– No que você estava pensando, Jonathan Christopher? - ela perguntou, rosnando, depois que andou de um lado para o outro feito uma louca por uns dez minutos.

Jonathan soprou da fumaça de seu cigarro, sem perder a calma.

– Eu deveria estar assustado por ser a segunda vez que falam meu nome completo hoje...? - indagou, meio que para si mesmo.

– Jonathan, responda sua mãe - Valentim disse, também entendiado, sem cerimônia alguma.

– Para mim era só mais um papel, Jocelyn - ele explicou, dando de ombros - não tinha nenhuma pretenção de destruir a carreira de Clary. Para falar a verdade, eu nem sabia que ela faria aquele papel!

– Claro que não! - Jocelyn era extremamente parecida com a filha quando ficava irritada - você não escuta NADA do que eu falo!

– Isso vai ser péssimo para o nome Morgenstern, Jonathan, espero que saiba disso - disse Valentim.

– Ninguém sabe que Clary é minha irmã! Ela usa o nome Fray.

Era verdade. No mundo dos artistas, você escolhe o nome que vai te definir. Em todos os testes e pequenas apresentações, Clary sempre apresentou-se como Clary Fray e nunca usou o nome do pai. Depois do divórcio dos pais e do surpreendente e novo relacionamento de Jocelyn com Luke, padrinho dela, a menina até mesmo pensava em mudar o nome para "Clary Graymark", mas não ficaria legal.

– Você está sugerindo o quê? - Clary perguntou com as sombrancelhas arqueadas.

– O óbvio, irmãzinha! - ela odiava quando ele a chamava assim - nós vamos fazer esse filme e manteremos nosso parentesco no anonimato.

– Não mesmo! - o berro veio das fortes cordas vocais de Jocelyn - vocês querem fazer um par romântico para todos nos Estados Unidos verem vocês? E os nossos amigos? E conhecidos?

– Ninguém vai falar nada - Jonathan naquele ponto já havia largado o cigarro e estava no meio da sala, obtendo toda a atenção que sempre gostou - conhecemos pouca gente e eu nunca falo de vocês para nenhuma das pessoas que encontro por aí. E por que diabos eu mencionaria minha irmã mais nova para algum amigo meu?

– Obrigada, Jonathan - ela disse com sarcasmo.

– Lembre-se que, nos estúdios, me chamo Sebastian Verlac - ele piscou um olho - e vocês dizendo que um pseudônimo era irrelevante!

– Acabou a discussão, Jocelyn, ou posso voltar para minha reunião com Pangborn? - Valentim indagou, com um suspiro cansado.

Jocelyn não estava convencida, Clary sabia. No entanto, sua mãe preferia tempestuar pelo tempo que fosse necessário e, depois, assistir o circo pegar fogo em silêncio - só para se vangloriar do sabor de dizer "eu avisei".

– Muito bem - ela disse, ajeitando os cabelos vermelhos como fogo - façam o que acharem melhor para vocês. Pode ir embora, Valentim. Jonathan. Clary. O trabalho de vocês fica por conta de vocês.

E assim se encerrou mais uma reunião de família produtiva na casa dos Morgenstern!

Uma hora mais tarde, Jocelyn havia ido embora junto com Valentim. Mesmo se odiando, não havia tempo para hostilidades entre os dois e o pai de Clary sempre lhe dava uma carona quando precisava. A menina jamais os entendeu e desejava nunca entender um dia.

Simon estava excluído na cozinha, falando ao telefone. Para seu azar, Clary ficou na sala com Jonathan, mudando os canais compulsivamente enquanto esperava pelo melhor amigo.

Jonathan a encarava. Os olhos eram verdes escuros, quase chegando no preto. Dependendo da luz, pareciam esmeraldas, ou as íris perversas de um corvo. Ele tinha essa mania se fixar o olhar em algum lugar, como uma âncora perdida no meio de um oceano imenso, e ficar parado até que a maré pare de se mover.

– Você fica com as sombrancelhas unidas quando te deixo nervosa - ele disse, depois de tantos minutos em silêncio total.

– Você não me deixa nervosa - Clary rebateu, sentindo o rosto queimar de raiva e contrariar exatamente o que seu irmão havia falado.

– Você mente muito mal.

Clary parou de passar os canais.

– O que você quer, Jonathan?

Ele virou os olhos para a TV, mas não antes daquelas íris verdes encararem o rosto dela; parecendo buscar naqueles olhos feitos de primavera alguma resposta mirabolante para a pergunta que ela mesma o fizera.

– O controle remoto - foi o que ele disse, por fim.

Sentindo-se com sete anos, Clary reclinou-se a dar o controle remoto para o irmão mais velho. Negou com um balanço de cabeça que fez os cabelos rubros voarem por um momento.

Jonathan não lutou pelo controle. Ficaram quietos assistindo 'O Poderoso Chefão' até que Simon retornasse da cozinha, com o celular nas mãos, e se deparasse com duas pessoas praticamente desmaiadas na sua sala. Os irmãos Morgestern debruçavam-se um sobre o outro, como se nunca tivessem se odiado na vida.

ATO V

Simon atendera o telefone com as mãos tremendo. O identificador de chamadas de seu smartphone mostrava um menino de sua idade, com cabelos dourados como ouro e olho reluzentes como o pôr do sol ou o nascer de um anjo. Seu meio-sorriso no entanto, era de um verdadeiro demônio adolescente.

– Jace?

A voz soou mais preocupada do que deveria do outro lado da linha.

– Simon! Onde está Clary?
– Na sala... O que houve?

– Não está sabendo?! Estão matando atrizes aqui em LA. Um serial killer... Estou preocupado com a segurança dela.

Simon se aliviou. Mas por alguns momentos.

– Venha aqui mais tarde, Jace. É preciso conversar sobre muita coisa, pelo visto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

AMOOOOOOOOOOOORES. Vi seus lindos comentários e logo responderei a todo com carinho.
Não sabia que a fic tinha ficado legal assim
Aproveitem!