As luzes coloridas da árvore de natal continuavam piscando, mesmo que não houvesse mais nada pra se comemorar. Com certeza, moscas já tratavam de se apossar do que sobrara da comida sobre a mesa, como sempre acontecia. Havia cozinhado demais, mais uma vez, esquecendo-se de que agora o banquete era para uma única pessoa e não mais para seis ou dez, como costumava ser.

Disseram que seria fácil. Que, antes que percebesse, se acostumaria...

Disseram tanta coisa...

Mas lá estava ela, sentada no sofá com os olhos vidrados na tv, onde passava o mesmo especial repetitivo de natal. Nada parecia ter mudado para ninguém ao seu redor. Pra onde olhava via costumes e rotinas intactas, enquanto sua vida tinha virado de cabeça pra baixo...

Era injusto, mas não podia fazer nada. Não podia fazer nada além de torturar a si mesma a cada final de semana que passava em casa ou a cada feriado, que antes sempre era marcado pela agitação das crianças correndo pela sala enquanto ela os perseguia tentando impor alguma ordem.

Sentia falta até mesmo de Jack, seu marido bagunceiro que sempre se atrasava pro jantar.

Se arrependia de não estar com eles no carro naquele dia.