Andava pelas ruas com desânimo, não havia conseguido o papel.

Pela primeira vez quis desistir. Não entendia o porquê de terem me recusado novamente.

O que fiz de errado?

Desafinei?

Tenho a certeza de que não.

Errei minhas falas?

Impossível!

O que desejam?

Eu farei.

Tenho talento!

Como não veem?

Não tinha vontade de ir para casa, sentir-me-ia ainda pior se o fizesse. Continuei sem destino, andando nas calçadas com que durante tantos anos sonhei.

Nos grades letreiros do St. James, vi o musical em cartaz, My Fair Lady.

Um estalo.

Uma ideia.

Corri algumas quadras à frente, procurando por algo que havia visto há poucos dias.

Achei.

Era um anúncio sobre aulas de etiqueta, teatro e gastronomia.

Entrei.

O dramaturgo andava no pequeno palco, sinalizando para as jovens que cantavam em tom errado. Observei-o por alguns minutos, parecia prestes a ter um ataque de nervos de tão vermelho que estava. Gritava com elas e mostrava como seria o certo.

Ele tinha uma bela voz.

Quando a aula acabou, decidi antepor minhas ambições ao meu orgulho, e perguntei-lhe se poderia ensinar-me.

Ele riu.

"Tens dinheiro?"

Aquela pergunta ofendeu-me, eu não o tinha. Mas, por enquanto, bastava uma mentira.

"O suficiente."