Capítulo 1 - Memórias
Rukia encarava sua própria sombra e os pés de Ichigo caminhando ao lado dela no chão tingido da luz laranja do pôr do sol, enquanto seus pensamentos voavam para o dia em que chegara ali, quando uma borboleta infernal a guiara da Sociedade das Almas para Karakura. A Sociedade das Almas também tinha pores do Sol bonitos, incrivelmente bonitos na verdade, uma vez que quase em qualquer lugar se tinha uma excelente visão do céu. Mas ela nunca tinha se sentido como agora, com o coração aquecido, e o peito preenchido por uma sensação de acolhimento e carinho. Era algo que ainda não conseguira entender perfeitamente, mas era bom.
Não sentia isso quando tinha tempo para observar a natureza na Sociedade das Almas. Ela tinha seu irmão e muitos amigos. Mas Byakuya era muito distante, sua relação com Renji ficara abalada desde aquele dia, há muito tempo, quando ela fora adotada pelos Kuchiki. Seu capitão, Ukitake, que tinha um dos sorrisos mais sinceros e uma das personalidades mais doces que ela já conhecera, talvez fosse seu amigo mais próximo, e com quem mais se sentia bem na Sociedade das Almas. E Rukia reconhecia que os anos tortuosos e difíceis fora dos muros da Sereitei tinham tornado sua personalidade distante e bastante reservada, ainda que ela e Renji tivessem um ao outro até certo ponto.
Mas depois de conhecer Ichigo tanta coisa ficou diferente. Ele era muito diferente, seus amigos eram muito diferentes. Todos muito mais sorridentes e alegres, apesar de Ichigo parecer estar constantemente emburrado. Rukia riu baixinho para si mesma pensando nisso, achava isso fofo nele, especialmente porque sabia que era só uma maneira dele de proteger os próprios sentimentos e esconder quem realmente era. Orihime e Keigo já haviam comentado que Ichigo passara a sorrir muito mais e ficar bem mais calmo depois de conhece-la. Rukia ignorou isso a princípio, ainda com muita dificuldade de aceitar o laço, perigoso segundo à Sociedade das Almas, que estava criando com o humano de força espiritual além do comum.
A questão era que... Nem Rukia Kuchiki tinha um coração de gelo, que em algum momento acabou sendo contagiado por toda a aura de carinho que sentia em volta dos humanos com quem estava convivendo. E agora, andando junto com Ichigo ao pôr do sol, e com seus colegas de classe minutos atrás, quando tinham seguido para suas casas, ela se sentia feliz, e o que ela achou mais estranho e difícil de admitir... Amada. Nem tinha lembranças de ter sentido isso algum dia em sua vida, por isso fora tão difícil entender e admitir. E novamente ela pensou me envolvi demais com esse mundo, mas já era muito tarde. E lutar contra isso doía, doía muito, sabia disso porque tinha tentado inúmeras vezes.
Sentiu o olhar de Ichigo sobre ela, e ergueu a cabeça para encará-lo. Os olhos castanhos pareciam preocupados e compreensivos. E mais uma vez Rukia sentiu aquela sensação sufocante e ao mesmo tempo maravilhosa, de ser querida e importante pra alguém. Ichigo nada disse, mas ela pode ler em seus olhos: Quando você quiser falar, eu estou aqui. Até pode ouvir em sua mente ele a chamando de anã, e até isso aqueceu seu coração. Nesse instante suas emoções formaram um nó em sua garganta, e Rukia quis chorar, mas ela sorriu, sinceramente, apesar de seu peito doer.
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Rukia estava cochilando no armário, após terminar todos os trabalhos recebidos na escola, quando foi acordada por uma discussão entre Ichigo e Kon.