Ponto de Impacto escrita por Além do Meu Olhar


Capítulo 9
Nostalgia - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Quando Bianca e Marcelo começam baixar a guarda uma conversa franca pode ser o começo de algo maior...

Boa leitura!!!



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Quando acordou pela manhã no dia seguinte, Bianca teve medo de encarar Marcelo novamente, mas não podia fazer nada, o gosto dos lábios dele não saia de sua cabeça, e se ficasse mais um minuto naquele beijo acabaria se descontrolando totalmente, sua sorte foi o pequeno espaço que ele deu para tomar ar, fugir foi a melhor maneira que encontrou para não sucumbir aos braços dele, estava tão confusa, a mensagem da mãe a deixou mais calma, mas ainda tinha dúvidas sobre o que estava sentindo e se não seria pior levar aquela relação para um lado mais íntimo.

Quando abriu a porta do quarto Marcelo estava fechando a sua.

—Bom dia. -ele disse com voz suave.

—Bom dia... Melhorou?

—Sim, hoje estou ótimo.

—E tomou seus remédios?

—Sim todos na hora certa.

—Que bom, assim faz o tratamento direitinho. –ela tentou parecer natural

—Vamos?

Ele estava cauteloso, tinha passado a noite repassando o episódio da noite anterior, em qual momento ela tinha ficado tão desprendida a ponto de beijá-lo...

No elevador, lado a lado, estavam estranhos, mas a atmosfera era bem mais leve que após qualquer briga que haviam protagonizado.

—Marcelo... - ela começou cuidadosa. -Ontem... Ontem eu me excedi, não sei o que me deu...

—Bianca?! Por que está tão nervosa, foi só um beijo... –ele falou rápido tentando parecer que não tinha sentido nada.

—Claro, um beijo por impulso, sem importância. - ele percebeu que ela tinha ficado magoada talvez achando que ele estava menosprezando ela.

—Eu quero dizer, que foi só o calor do momento...

—Tudo bem, foi só isso mesmo e não vai se repetir. - ela respirou fundo e saiu quando a porta abriu.

O que ele podia fazer além de tentar demostrar tranquilidade, precisava organizar os pensamentos, o que estava sentindo realmente por ela...

—_________

Quando a sexta-feira chegou, Bianca não pode recusar sair para jantar sozinha com Iam, ao longo dos dias, foi dando um jeito de escapar ou de colocar Marcelo junto, ele mesmo fazia questão de mudar o rumo dos assuntos e impedir que Iam tivesse chance de propor algo a sós com ela.

—Querida, essa noite as 7 passo te buscar!

—É uma ordem? - Bianca brincou.

Marcelo ao lado trincando os dentes por não poder fazer nada para impedir dessa vez.

—Claro que não, me ofende assim... É um convite.

—Então se é um convite eu aceito jantar com você.

—Podemos aproveitar e ir dançar num lugar lindo aqui perto.

—Não sei se terei disposição para tanto, mas o jantar está marcado as 7 estarei pronta.

Iam abriu um sorriso enorme, deu um beijo na mão dela e saiu quase saltitante.

—É dessa vez não deu para fugir...

—Fique tranquilo Marcelo, vou tentar falar da ajuda de custo no jantar e ver o que ele diz. Agora vamos, tenho que ligar para Juju.

—Agora?

—Sim, pode ser que chegue muito tarde e não posso acordar ela.

—Sim, tem razão. - ele disse desanimado pensando na possibilidade dela nem mesmo voltar para o hotel.

—__________

Marcelo estava no hall de entrada quando Bianca desceu se espantou como estava mais linda que o normal, estava sexy, com uma blusa amarrada no pescoço e uma saia preta colada.

—Está linda... -disse quando ela se aproximou.

—Obrigada. - ela disse encontrando sinceridade nos olhos dele.

Depois do beijo roubado no quarto e da conversa no elevador não haviam mais trocado nenhuma palavra sobre o acontecido, mas o clima entre eles melhorou, já se permitiam falar sobre amenidades que não fossem as tardes de reuniões.

—Iam, vai adorar. - ele não conseguiu evitar o deboche.

—Nem vou te responder, Marcelo, até porque ele acaba de chegar.

Ele a viu se dirigir até Iam, que esperava na entrada, dando o braço para ele e logo saíram deixando Marcelo tremendamente arrasado.

—___________

Mais tarde quando Bianca colocou o cartão para abrir a porta, escutou um barulho e virou encontrando Marcelo de braços cruzados encostado na porta do quarto dele.

—Já? Achei que...

—Achou o que? –Bianca falou impaciente.

—Que passaria a noite fora. – falou o rapaz num tom baixo.

—Claro que não. –ela bufou.

—Não consigo adivinhar como se livrou dele. Estava certo que essa noite tinha te ganhado. – havia certo tom de magoa na voz dele, ela reparou.

—Fala sério, o que você pensa de mim? Que vou me vender para conseguir essa ajuda de custo? – ríspida deu alguns passos na direção dele.

—Não, claro que não, só fiquei preocupado, Iam sabe ser insistente, me desculpe.

—Tudo bem... –ela controlou o tom de voz.

—Como fez para se livrar dele? –havia curiosidade agora em sua voz.

—Eu tenho meus truques. –Ela deu um pequeno sorriso.

—Truques?

Ela encostou-se à sua porta, braços cruzados.

—Combinei com a Juju, para ela me ligar a exatamente meia hora atrás e insistir para que eu contasse uma história inventada... Inventei a história mais longa e cansativa da humanidade. –Marcelo escutava atento o jeito moleca dela falar sobre o truque. –Quando olhei para o lado ele estava dormindo como um bebê...

Os dois riram.

—Não acredito!

—O motorista me trouxe e o levou para a casa dele, como diz a minha filha, eu sou a melhor “contadeira” de histórias inventadas para dormir! –um sorriso brincalhão surgiu no rosto dela e com uma piscadinha disse: -Boa noite Marcelo.

Ele ficou encarando a porta fechada com uma vontade imensa de bater e a beijar como ela havia feito no outro dia.

—_________

No sábado tinham participado de mais um jantar de negócios, mas Iam não pode estar presente então foi tudo tranquilo.

—A semana foi cheia. - Marcelo disse quando entrou no carro.

—É, estou acabada.

—Sorte que Iam, não apareceu, compensaria a noite anterior.

—Nem me lembre...

—Você estava linda hoje, linda como sempre, aliás.

Ela tinha escolhido um vestidinho preto bem básico e ficou feliz com o elogio sincero do rapaz.

—Obrigada Marcelo.

—Quer ir dar uma volta antes da gente voltar para o hotel?

—Uma volta?

—É. - ele a observou olhar para frente a respiração um pouco alterada.

—Tudo bem, vamos da uma volta. - o encarou sorrindo.

—_________

Marcelo estacionou e foram andando a pé nos arredores da catedral de Notre Dame.

—É muito linda não é mesmo?

—Sim... Linda demais. Deve estar fechada para visitação essa hora...

—Não tem importância, essa lua está linda e esse vento no rosto... Vamos sentar ali na frente?

Uma pequena pracinha se estendia próxima ao rio Sena.

—Parece mentira que estamos há duas semanas aqui e nem aproveitamos nada.

—Verdade... -Marcelo a admirava sem ela perceber.

—Paris, é muito linda a noite. Iam fica enfiado nesses restaurantes em vez de aproveitar essa paisagem. Deveríamos sair por ai a pé para conhecer cada cantinho desse lugar mágico.

—Iam não quer aproveitar nada Bianca, quer dinheiro, o pai dele sim era um homem a se admirar, papai conta que muitas vezes paravam tudo para fazer turismo no país que estivessem fazendo o encontro anual.

—Era mesmo admirável, meu pai também conta boas histórias do senhor Bigodão, como Juju o chamava.

—Falou com sua filha hoje? –ele perguntou ao perceber os olhos dela brilhando ao citar a filha.

—Falei antes de sair, está animada vai passar o domingo com os avós paternos.

—Eles têm contato com ela?

—Sim, a mãe e o pai de Júlio sempre foram presentes. Natal, aniversário e outras datas comemorativas fazem questão de estarem juntos e cada três semanas passa o domingo com eles, já estão com idade avançada, mas tem fôlego para aguentar a neta travessa.

—Ela é parecida com você né? Eu vi ela algumas vezes no dia da família na empresa, ou quando sua mãe vai visitar seu pai, mas não lembro direito.

Bianca sorriu grata ao rumo da conversa, falar sobre a filha era sempre prazeroso.

—Ela é parecida comigo sim, mas tem muitos traços do pai, na verdade o gênio dela é mais parecido comigo do que o físico em si.

—Geniosa igual à mãe? –ele falou brincalhão.

—É sim... Mas não é mimada, nem eu sou viu? Por mais que ache que tenho mimos demais, saiba que não. – falou séria.

—Eu sei, mas sempre via seu pai falando tanto de você, que criei essa imagem de menina mimada. Me desculpe.

—Não vamos começar com essa coisa de desculpa para lá e para cá, está tão bom aqui, que noite maravilhosa. – Bianca fechou os olhos e pendeu a cabeça para trás absorvendo a brisa, tudo sobre os olhares de Marcelo.

Ficaram em silêncio sentindo a magia daquele lugar cada um com seus próprios pensamentos, até que Marcelo resolveu falar.

—Você sente a falta de ser casada?

Ela o olhou com curiosidade.

—Como assim?

—Sente falta de ter alguém com você, dividindo as coisas e tal...

Bianca buscou nele algum traço de arrogância ou ironia, mas não encontrou nada além de curiosidade.

—No começo sentia muito, saber que ele não voltaria à noite como fazia depois de um dia de trabalho, era horrível, quando Juju chorava de madrugada ele sempre ia correndo atender dela, de repente eu tinha medo dela acordar e eu não ver, meus pais sempre estavam lá, mas não era a mesma coisa. E tínhamos uma coisa gostosa de ficar juntos assistindo filmes até de madrugada e eu comecei a fazer isso sozinha, me acabava chorando e às vezes era uma comédia ou um filme de terror. – ela sorriu serena, lembrando-se do passado.

—Entendo... E agora já está acostumada?

—Acho que sim, eu me virei bem sozinha, claro que sinto falta de ter alguém, sinto falta do companheirismo dele.

—E porque não se casou de novo? Ou manteve um namorado mais firme...

—Primeiro era a Ju minha prioridade, depois foi passando o tempo, e fui ficando sei lá, estranha, esquecendo esse lado amoroso. E depois é difícil encontrar alguém que não fuja quando eu digo que tenho uma filha.

—E quanto namorados teve?

Ela sorriu olhando para o rio novamente.

—ZERO.

—Não entendi?

—Zero, nada, nenhum namorado.

—Não pode ser? Quantos anos a sua filha tinha?

—Recém completado 1.

—Mas não saiu com ninguém? –perguntou espantado.

—Sai, sai com uns rapazes, mas não deu em nada. Sabe a amiga, de uma amiga tem um amigo solteiro, lá ia eu jantar com algum desconhecido, ou então do nada meu pai aparecia com um jovem estagiário novo da empresa para jantar, até teu pai tentou me arrumar um namorado.

—Meu pai?

—É o tio Otávio, ficou uma semana insistindo para eu sair com um cara que ele queria me apresentar e no fim acabamos jantando eu e ele num restaurante japonês enquanto o candidato não deu as caras.

—Uau, acho que era eu que meu pai estava tentando te apresentar!

Ela o encarou com dúvida.

—Não pode ser, ele teria me dito.

—Meu pai logo que voltei a morar com ele e fui trabalhar na empresa disse que ia me apresentar uma mulher incrível e marcou um jantar num japonês.

—Sério? Nossa e posso saber por que me deu o bolo?

—Nem lembro direito, mas acredito que preferi ficar trabalhando. Sinto muito.

—Isso sem nem saber que era eu, se soubesse dai que não ia mesmo.

—Não fale assim, eu na época estava saindo de um relacionamento complicado e decidi ficar solteiro, então nem fiz muita questão e confesso que se soubesse que era você não iria mesmo, você tem razão. – ele riu sem graça.

—Nossa por que me odeia tanto? – Bianca perguntou triste.

—Não odeio, só achava você metida e mimada, mas garanto que se fosse hoje eu iria se soubesse que você estaria lá!

—Na época eu queria encontrar alguém, estava meio depressiva, solitária, todas as minhas amigas casando.

—Ainda não acredito que linda do jeito que é não encontrou ninguém.

—Eu dei uns beijos, não posso negar... Mas... Na verdade você foi o primeiro cara que eu acordei do lado em anos.

—E eu fui àquele babaca, sinto tanto. - falou sincero.

—Já passou a gente nem se lembra de nada mesmo.

—Eu lembro de algumas coisas.

Ela virou assustada.

—Lembra?

—Sim, poucas coisas, na verdade cenas desconexas daquela noite.

—Mas lembra da gente? Da gente junto?

 


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