A sala era grande, os móveis na cor mogno uma vidraça enorme atrás de uma das mesas com a cidade no fundo.

–Nossa é lindo...

–Então, desse lado é a minha mesa, meu arquivo, minha samambaia, fotinhos da família... Desse lado é a sua mesa... Teu arquivo, e coloquei uma fotos já...

–Colocou? – ela foi até a mesa que ele indicava e pegou um porta retrato com a foto dela e da filha numa viagem com a família na praia, Bia rodopiando a menina, as duas de vestido branco de renda sobre o biquíni florido.

–Pedi para seu pai me passar algumas fotos entre muitas achei essa, seu sorriso está perfeito, e a carinha da Juju faceira então... Achei que era a melhor.

Ela pegou outro porta retrato na foto os pais sentados numa cadeira de balanço numa viagem que fizeram à Suíça.

–Esse foi seu pai que sugeriu, disse que você adora essa foto...

Sem olhar para ele, ela pegou o terceiro porta retrato e se surpreendeu ainda mais, era uma foto dos dois em Paris, na frente da Torre Eiffel, tinha sido feita por um turista a quem eles pediram para registrar o momento, foi no primeiro domingo que saíram juntos, ainda não tinham nenhum relacionamento, mas a foto era linda, ela lembrou que no dia o turista pediu para fazer mais uma foto porque a primeira tinha saído errada, ali estava a foto errada, Marcelo em vez de olhar para a câmera olhava para ela, que sorria um tanto quando forçada para foto, mas o detalhe estava no sorriso no canto nos lábios dele.

–Achei que essa foto servia para perceber o quanto admiro você!

–Marcelo nem sei o que te dizer...

–Não diz nada... Olha a Cida disse que essa plantinha aqui sobrevive a pouca luz e ambientes internos de casas e escritórios é da família das suculentas, escolhi para dar um pouco mais de vida para sua mesa.

Falou mostrando a plantinha de folhas gordas num vaso no canto da mesa dela.

–Você pensou em tudo! Obrigada!

–Pensei em tudo mesmo... – o olhar dele ficou divertido. - Fecha os olhos!

–Não Marcelo, o que vai fazer?

–Confia em mim, vou te mostrar a melhor parte dessa sala inteirinha!

Sorrindo ela fechou os olhos e deixou ser conduzida por ele, que a guiou ao lado esquerdo da sala, longe das janelas e das mesas e se posicionou atrás dela.

–Pode abrir... – sussurrou perto do ouvido de Bianca.

Na frente dela estava um sofá de corino preto, o sofá era grande, quatro lugares, almofadas espalhadas sobre o acento.

–Um sofá?

–Um sofá cama!

–Marcelo! – ela riu entendendo onde ele queria chegar. – Você só pode estar brincando se acha que...

Com rapidez ele a virou de frente.

–Não estou pensando nada, você que pensou... Isso quer dizer que também está com saudades!

Falando isso avançou sobre os lábios dela com intensidade, fazendo com que ela se desiquilibrasse, mas os braços dele tomando conta da sua cintura não permitiram que ela caísse. Ela pensou em resistir, não conseguiu, se entregou ao beijo dele, espalhando suas mãos sobre a nuca e o cabelo de Marcelo.

Ele desceu a boca sobre o pescoço dela, deixando uma trilha de beijos.

–Marcelo... Aqui não... Estamos no trabalho! – ela falou mole sentindo os beijos dele e as mãos que passeavam em seu corpo.

–Bia! Não estamos fazendo nada errado! – ele parou a olhando nos olhos. – Você não disse que é minha namorada? Que outra maneira vou ter você nos meus braços se não assim?

–Alguém pode chegar, ou pior desconfiar!

–Cida é a melhor secretária do mundo, só vai passar algo com a minha permissão e sabe que não gosto de interrupções. Poxa Bianca, estou com saudades...

–Olha só, final de semana a Juju vai dormir na casa de uma amiguinha, podemos ficar juntos, mas aqui...

Ele ficou olhando o rosto perfeito dela, os olhos que analisavam o rosto dele, ansiosos e cheios de desejos.

–Tudo bem... Final de semana?

–Sábado! – ela disse ainda nos braços dele, mas sentindo que ele diminuía a pressão do abraço.

–Sábado, então... – ele ficou chateado, mas entendeu, era tudo novo para eles.

–Desculpa... – ela passou a mão no rosto dele.

–Certo, bom vamos trabalhar então. – falou dando um último beijo nela e se afastando.

Bianca sentiu o vazio que os braços dele deixaram no seu corpo, refletiu um momento sobre o que estava prestes a fazer, e chegou à conclusão que não podia refletir agora e sim agir.

–Marcelo. – segurou o braço dele, fazendo com ele virasse novamente para ela. –Estou com saudade também!

E se lançou sobre ele voltando a colar os seus lábios aos dele.

Em pouco tempo estavam no sofá aos beijos e caricias.

–Isso é uma loucura! – ela disse quando ele se posicionou sobre ela.

–É loucura eu te amar tanto e não poder te tocar, mesmo que estejamos na mesma sala, isso sim!

E voltaram a se beijar aproveitando o momento e esquecendo todo o resto.

***

Em casa

Juju deitou na sua cama enquanto Bianca arrumava todos os ursinhos ao seu lado.

–Pronto, agora está protegida.

–Mãe, mas eu quero dormir com você! – a menina fez beicinho.

–Querida, nós dormimos juntas o fim de semana todo, você já é uma mocinha e sabe que o certo é cada uma dormir em sua própria cama.

–Eu sei, mas ainda estou com saudades...

–Juju, como a senhorita está com saudades, desde que cheguei em casa do trabalho está feito um rabinho, onde eu vou vai atrás! – ela sorriu apertando o nariz dela.

–rabinho não mãe!

–Rabinho sim! Agora me dá um espacinho ai que vou te contar uma história...

A menina empurrou os ursinhos para o lado e Bianca deitou ao lado dela meio desajeitada na cama de solteiro.

–Vou te contar uma história de uma princesa... – ela começou. – Uma princesinha na verdade, ela era uma criança ainda... Essa princesinha morava num castelo junto com sua mãe, as duas ficavam sempre juntas, brincavam, colhiam flores, alimentavam os animaizinhos da floresta, ai um dia a mãe precisou viajar...

–Viajar? Mãe! Como chama essa princesinha? – perguntou desconfiada.

–O nome dela... Bom o nome dela era Juliana, mas só uma coincidência... E antes que você pergunte a mãe se chamava Genoveva, então para você ver que não tem nada haver com a realidade.

A menina riu e se aninhou no braço da mãe.

–Continua!

–Então ela precisou viajar para outro povoado, num lugar chamado Muito distante.

–O nome era esse?

–Sim, o nome era esse mesmo... Muito distante como o nome já diz era muito distante, então a Genoveva, a mãe, precisava ficar vários dias fora.

–Mas a princesinha tem quantos anos?

–Uns cinco, quase seis.

–Igual eu!

–É outra coincidência... Mas pára de me interromper que senão essa história não acaba nunca, bom à princesinha era muito educada, respeitava tudo que a mãe falava e ajudava a mãe, elas eram as melhores amigas no mundo todinho... Mas naquele dia que a mão precisava ir a Muito Distante a princesinha começou a chorar e agarrou no pé da mãe para que assim ela não pudesse ir. Coitada da mãe, não podia nem andar com a filha agarrada nela daquele jeito, e mesmo que explicasse que iria ter momentos na vida que mãe e filha precisam ter um espaço, a menina não entendia, então a mãe foi ficando triste e triste, e resolveu que não ia viajar, a princesa ficou feliz, cantou e dançou até de noite de tão faceira... Mas a mãe não dançou nem cantou estava triste, pois nessa viagem iria aprender coisas novas para ensinar para a filha e também faria amigos novos para que não fossem tão solitárias as duas...

–Mãe, você fica triste quando eu fico que nem um rabinho atrás de você?

Bianca sorri e virou de lado ficando de frente para a menina.

–Ter você perto de mim é a melhor coisa dessa vida, e isso nunca vai mudar, mas precisa entender Juju, que apesar desse mês que ficamos separadas nada mudou, não precisa dormir na minha cama ou chorar quando te deixo na escola, como fez hoje, e nem ligar para o vovô pedindo para ele me dar folga, quando nem comecei a trabalhar ainda... Fico triste que você ache que a mamãe não vai voltar para casa no fim do dia...

Bianca passou a mão no rostinho da menina com delicadeza, os olhinhos brilhando dela demostravam que estava entendendo onde a mãe queria chegar.

–Eu sei mãe... Só que eu queria ficar mais com você...

–Eu também quero ficar mais com você, mas não posso impedir que vá na escola, ou que fique com seus avós só para ter você só para mim...

–Verdade, dai eu vou crescer burrinha e todos os meus vôs e vós vão esquecer de mim...

–Muito bem, vamos ter nossos momentos juntas, como sempre foi! Não estou aqui te colocando para dormir?

–Verdade. Eu vou dormir no meu quarto então como mocinha. Termina a história mãe?

Bianca olhou para a pequena e agradeceu que não precisava de muitas coisas para conversar com ela, tinha medo de afetar a infância dela com a nova situação em que se encontrava, mas tinha fé que no momento certo a menina iria entender tudo.

–Sim, a princesinha percebeu que a mãe, a Genoveva, sabe, estava muito triste, e nem sorria mais, nem queria fazer nada que fazia antes, então disse para a mãe: “mãezinha, pode ir a Muito Distante, vou te ficar aqui te esperando e todos os animais da floresta cuidaram de mim, assim como os anjos, pode ir sei que vai voltar.” – Bianca fez uma voz de criança, Juju riu se aconchegando ainda mais na mãe com os olhos já sonolentos. –Então Genoveva foi a Muito Distante e ficou lá pouco tempo, quando voltou trouxe...

Bianca percebeu que a filha adormeceu, com cuidado levantou e ajeitou os ursos e cobertas da menina, se ajoelhou do lado da cama para dar um beijo e falou baixinho.

–Quando voltou trouxe um amigo, que queria apresentar para a filha, esse amigo, era importante para a mãe, e enquanto viajava tinha rezado para que a princesinha gostasse dele, tanto quanto ela.

Sorriu ajeitando os cabelos que caiam na testa de menina, deu um beijo.

–Boa noite, meu anjinho, eu amo você, mais que tudo na minha vida!

Bianca saiu do quarto deixando a luz auxiliar ligada e a porta encostada como de costume.