Quando Bianca adentrou o salão ninguém a notou de imediato, segurando a pequena bolsa de mão com toda força que podia, tão nervosa estava, correu os olhos atentos a procura de Marcelo, o encontrou perto do balcão de bebidas, sentado em uma banqueta contemplava um copo com uma bebida transparente, whisky com toda certeza. Decidida andou até ele, enquanto percorria a pequena distância os olhos se pousaram nela, tentando parecer casual ela sorriu e acenou com a cabeça aos companheiros de curso.

Marcelo entediado, não queria nem ver ela chegar de braço dado com Iam, havia conversado com um dois conhecidos e se dirigiu para tomar alguma coisa, precisava ser forte para aguentar aquela noite, não iria beber muito mas o suficiente para anestesiar o que estava sentindo. Quando sentiu o toque suave em seu ombro se virou curioso, encontrando Bianca linda a sua frente, com o vestido que ele tinha comprado, ela nunca sonharia que no outro dia após passarem naquela loja ele foi até lá e comprou o vestido, na data não sabia bem o porque daquilo, mas essa noite era fato, estava apaixonado por Bianca.

–Bianca?- ele primeiro passeou os olhos pelo corpo dela que estava perfeito no vestido, o cabelo preso com algumas mechas soltas, a boca vermelha meio tremula, na sequencia olhou a sua volta e atrás na procura de Iam. –Onde está Iam?

–Nesse momento deve estar com muita raiva... Mas onde eu não sei.

–Como assim? – ele ficou atônito, preocupado com ela. – Ele fez alguma coisa para você?

–Não, não fez nada só não ficou nada feliz com o que eu falei para ele.

–Posso saber do que está falando?

–Tenho duas notícias para te dar uma boa e uma péssima... Qual você quer saber primeiro?

–Bianca estou ficando apavorado... Diz a péssima que dai a boa vem para animar depois... – ele sorriu nervoso.

–Bom a péssima é que com toda certeza desse mundo, Iam não vai nos dar o dinheiro para salvar a empresa... Estou muito mal com isso, mas não tive como seguir com essa farsa...

–Pelo amor de Deus seja direta meu amor. – ele colocou as mãos envolta do rosto dela para que ela olhasse diretamente em seus olhos.

–Na noite do jantar ele me disse que ia dar o dinheiro, fiquei toda animada, e do nada ele lançou isso de acompanhante, e quando fiz menção de não aceitar ele fez o tipo inocente dizendo que na verdade ele tinha decidido dar o dinheiro, no entanto precisava da aprovação do conselho financeiro e que isso podia indicar que não teríamos a ajuda... Fiquei com tanta raiva dele, só que analisei a situação toda e resolvi aceitar ser a bonequinha de luxo dele, me exibindo vitorioso.

–Esse babaca! Cadê ele vou arrebentar...

–Não Marcelo, está louco, não vai arrebentar ninguém, vamos terminar essa noite sem maiores problemas, certamente ele vai agir como se não tivesse acontecido nada...

–Lamento que tenha passado por isso... – ele já tinha largado o rosto dela, e com delicadeza afastou uma mecha de seu rosto. –Tem uma boa notícia não tem?

Ela sorriu e segurou a mão dele.

–Tem... Eu acho que é boa pelo menos...

–E qual é?

–Agora você tem uma acompanhante!

Um sorriso malandro surgiu nos lábios dele.

–Verdade, agora eu tenho! E está linda e maravilhosa que ninguém vai chegar a seus pés nessa festa.

–Claro estou provavelmente com o vestido mais caro de todos os que estão aqui! Não devia ter comprado, mas eu gostei, na verdade eu amei, e amei o seu cartão e também amei que me chamou de meu amor agora pouco... Amei tudo!

Marcelo ficou encabulado e baixou os olhos, ela rapidamente ergueu seu queixo e o beijou nos lábios, gesto que o surpreendeu e o fez quase cair da banqueta se equilibrando de novo ainda no beijo.

Distanciaram-se a tempo de ver Iam entrando no salão com um falso sorriso no rosto e de braço dado com Ariela, essa com um vestido vermelho decotado e semblante de quem havia ganho na loteria.

–Nossa ele já achou uma substituta...

–Sorte dele e dela, mas a sorte maior é minha que tenho você! - ele falou cheio de carinho.

____________

A festa correu tranquila, Bianca e Marcelo sentaram na mesa dos Irlandeses, e ficaram comentando os deslizes que Iam tinha cometido durante o mês, pois, era evidente sua falta de tato para reger nos negócios do pai. Riram, comeram e se divertiram mantendo um ar de amizade mesmo sabendo que todos tinham presenciado o beijo mais cedo.

Quando Iam subiu num palco improvisado para dar inicia a uma premiação para os melhores trabalhos apresentados a noite, todos se voltaram para ele, era evidente que estava tenso, mas era um showman, mostrando sua verdadeira aptidão.

–Teve um trabalho que ganhou três premiações, ganhou no quesito criatividade com uma das propostas mais inovadoras, também no quesito baixo custo, que demostra praticidade e aplicabilidade e ganhou como melhor proposta. Parabéns Marcelo e Bianca!

Os dois se olharam e com incentivo dos colegas se dirigiram ao palco.

–Esses dois não é mesmo? Quietinhos, chegaram e mostraram para que vieram! Vocês mereceram.

Receberam a placa com as premiações gravadas e sobre forte ovação de “discurso” Marcelo assumiu o microfone.

–Obrigado a todos pela confiança, sei que foram vocês que votaram, assim como nós votamos nos nossos favoritos, mas não é a premiação em si que importa e sim a concretização do trabalho de nosso pais, não mesmo Bianca? – ela concordou recusando com uma careta o microfone. – Essa moça é tímida, mas é a cabeça dessa dupla, Bia, seja bem vinda a empresa, de novata você não tem nada!

Ela ficou vermelha e ainda mais quando todos aplaudiram.

Voltaram aos seus lugares e Marcelo rindo falou.

–Achei que Iam ia pular na minha garganta.

–Parecia mesmo...

–Estou cansando dessa festa... Vamos embora?

–Temos poucas horas, logo sai nosso voo... – falou pesarosa.

–Então, fim de festa meu AMOR, vamos curtir os últimos momentos aqui.

–Vamos...

_________________

Foram de carro até uma praça perto do hotel, uma pracinha pequena forrada de árvores floridas e andaram de mãos dadas, o primeiro impulso foi irem para o quarto, mas algo na noite, fez com que ele estendesse a mão para ele e dissesse.

–Vamos? Quero andar como seu namorado... Mesmo que eu não seja...

Andaram em silencio, só o barulho do salto dela batendo no concreto, a lua alta no céu banhava quase que tudo a volta deles.

–Marcelo... Esses dias aqui foram muito especiais para mim...

–Para mim também...

–Sabe, outro dia você falou sobre a volta para casa, e como seria nós lá...

Ela falava devagar como que pensando cada palavra aproveitando o embalo da caminhada. não sei se vai ser possível.

–Você disse que queria até o fim da viagem para pensar...

–Eu sei... E já pensei.

Ele parou forçando que ela parasse também, mas ela não olhou para ele.

–Eu já pensei, mas ainda não sei a resposta.

–Não sabe? Como assim Bianca?

–Não... Tem a minha filha e ela está sempre em primeiro lugar na minha vida.

–Eu não quero disputar um lugar com ela. Não quero ser primeiro nem segundo! –Marcelo se aproximou dela. –Eu quero ter um lugar só meu. E quero que ela preserve o dela como sempre vai ser!

Bianca analisou as feições do rosto perfeito a sua frente, e teve vontade de ficar ali para sempre.

–Marcelo, tudo depende da minha filha, eu nunca namorei depois que o pai dela morreu, a reação dela pode não ser boa. Quero que entenda isso, não estou dizendo que não quero, só que preciso falar com ela, explicar e ver o que vai ser!

–Como assim? Todas se apaixonam por mim ela vai me adorar! – brincou vendo que os olhos dela começaram a tremer acusando que estava prestes a chorar.

–Bobo! Ela é bem agarrada a mim, tenho medo que sinta que estou trocando ela... Ela está numa fase complicada questionando muito sobre o pai, cada dia me liga quer saber quando eu volto, ficou até doente você lembra?

–Mas e se ela gostar de mim? – ele falou segurando um braço dela mais perto dele.

–Seria bem mais fácil... Por que eu... – ela respirou fundo. – Eu gosto muito de você!

–Está apaixonada? – sorriu curioso.

–Estou entendo o que estou sentindo... Não achei que iria ser sério sabe, achei que ficaríamos e depois cada um seguiria normal sua vida, achei que isso ia ficar aqui sabe, tentei não me envolver mais do que quando estamos na cama... Mas não consegui.

–Ainda bem! Eu quero você de verdade, quero ser seu namorado, quero fazer parte da sua vida e se a Juju deixar fazer parte da dela.

–Marcelo a minha vida é ela... Sem ela não existe nada entende?

–Então eu preciso conquistar ela?

–Talvez... – disse pensativa.

–Para ter você tenho que conquistar ela? É uma pergunta séria Bianca me responda.

–Acho que de uma certa forma sim... Mas não quero que seja obrigado a gostar dela para ter algo comigo.

–Não vou ser obrigado, já gosto dela, afinal ela é um pedaço de você e eu amo você, mesmo que você não diga nunca que esse sentimento é reciproco.

–Marcelo...

–Não, não quero que seja obrigada a dizer que me ama, quero que quando acontecer seja espontâneo e verdadeiro.

Ele a beijou novamente a deixando quase sem fôlego.

–Eu vou ter você! Vou conquistar a Juju!

______________

Depois que voltaram ao hotel trocaram caricias, num momento mais tranquilo sem presa, sem urgência, mesmo que em pouco tempo estariam em casa, aproveitaram o toque um do outro, como que para guardar na memória cada detalhe.

***

Em casa

Anita preparava os últimos detalhes da festinha de recepção da filha o marido cochilava no sofá, segundo ele tinha trabalhado feito escravo dela e da neta em função de enfeitar tudo com faixas e mais faixas que a menina fez, todas com frases de carinho para a mãe: A melhor mãe do mundo; Seja bem vinda; Mãe nota 1000; Demorou hein?!; Saudades mil!; Tudo com letras enormes que a avó ajudou a produzir. Juliana estava ansiosa quase quicava de tão faceira a cada cinco minutos perguntava as horas, sabia que a mãe iria chegar às 13 horas, mesmo assim perguntava.

–Vóooooo.

–Aqui Juju! Que gritaria seu avô está dormindo.

–Vó não achei aquele vestido de florzinha que a mamãe gosta que eu use que fico igual ela quando era pequena. – falou chorosa.

–Querida, deve estar em algum lugar, espere eu terminar de confeitar o bolo, já vou te ajudar.

–Vó você acha que minha mãe vai gostar do presente?

–Vai querida, sua mãe adora flore, adora roupa nova, adora livros e, sobretudo adora seus desenhos. – a menina tinha feito inúmeros desenhos praticamente um para cada dia em que a mãe esteve fora.

–Vó que horas são?

–Nove horas da manhã Juju!

–Falta muito?

–Juliana!

–Eu sei, eu sei, só que parece que está demorando tanto.

A vó olhou com carinho para a pequena e se abaixou na sua altura.

–Meu anjinho você foi tão maravilhosa esses dias, esperando a mamãe voltar, estou muito orgulhosa dessa minha princesinha. Mas seja forte só mais um pouquinho, essas horas já está voando de volta para casa.

A menina sorriu e deu um abraço na vó.

–Eu amo tanto a minha mãe vó, e amo você e o vovô também.

–Eu sei... Vem me ajudar a enfeitar o bolo e depois vamos achar esse seu vestido.

A mulher ergueu a pequena na pia para que ficasse perto do bolo.