Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 9
Verso 08: If I Ruled The World


Notas iniciais do capítulo

Para quem não viu, eu acabei pulando dois capítulos! (;-;)
Mil desculpas para todo mundo! Já estou postando os que faltavam!
Desculpa...



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Sam P.O.V.

– Foi mal pelo Hoseok. – Suga quebra o silêncio que surgiu depois que a esperança saiu. – Ele é emocional demais às vezes. E obrigada pelo que você disse, acho que eu precisava ouvir isso.

– Eu estava falando sério. Realmente, essa é a verdade. Sou eu quem precisa agradecer.

– É que às vezes eu sinto como se as fãs só estivessem ali por causa da nossa aparência. Todas essas dietas, maquiagem, as roupas. Muito disso não é o Yoongi de verdade. É algo construído para que as pessoas gostem de mim. De vez em quando eu me pergunto se as A.R.M.Y.’s gostam de nós pela aparência e veem as músicas apenas como brinde.

– Eu concordo com o Yoongi-hyung. Principalmente quando eu vejo os comentários sobre o Jimin-ie. Ele é um ótimo cantor e dançarino, mas só falam da aparência dele. E, o tempo todo eu vejo o cuidado que ele tem com a sua imagem... O Jimin-ie é um ótimo artista! Falem da voz e da dança dele também!

– Eu também já percebi isso. – finalmente encontro as palavras para falar. – Mas, pensem bem. A quantidade de grupos com garotos bonitos é enorme, não só na Coreia. O que faz as A.R.M.Y.’s gostarem de vocês é a música. É o que tira vocês do lugar-comum, então não precisam se preocupar. – encaro ambos com um ar de seriedade. Não desvio o meu olhar dos dois pares de olhos me fitando. – E para falar a verdade, vocês assim de cara limpa, com as roupas que querem, sendo vocês mesmos, são lindos. Vocês são bonitos.

Suga acha algo interessante no papel de parede enquanto tosse, desconfortável. Rap Monster para entrar num conflito sobre o que falar, quando finalmente se decide:

– Argh! Como você consegue falar essas coisas tão seriamente?! – ele esconde o rosto nas mãos. – Você me deixa envergonhado!

–Ah! Desculpa. – finalmente meu bom senso volta a casa e sinto o meu rosto queimar.

– Então, - Suga pigarreia. – Acho que já temos uma ideia do que fazer. Vamos escrever?

Ele tira da mochila um bloco de folhas pautadas e distribui igualmente as folhas entre os três. Cada um tira seus respectivos headphones/fones de ouvido da mochila e entramos em nossos respectivos mundinhos. Com certeza eles não esperam que esteja tudo pronto hoje, mas seria bom já anotar o que vou escrever, mesmo que ainda não saiba como.

Analisando melhor, a cafeteria é um lugar bem aconchegante. Aquele papel de parede de bolinhas coloridas, os sofás grudados às paredes, as mesas de mdf, tudo em tons pastéis. Deveriam dar uma gorjeta para o decorador. Uma hora se passa e nada de muito bom surge naquele papel. Ó grande fada da inspiração, eu sei que fui uma má menina te escravizando todos esses meses, mas eu só estou pedindo uma coisa agora! Eu realmente preciso da sua presença! Perdoe-me! Estou realmente arrependida! Juro que não vai acontecer de novo!

Fui trouxa. É claro que ela não me ouviria. Quando que ela já fez o que eu queria? Parece que essa música não sai hoje... Que droga! O tico briga com o teco e quem sai prejudicada sou eu! A minha mente não funciona de jeito nenhum! Nem adianta insistir, só vai fazer a minha cabeça doer, mas, como eu sou idiota, continuo a insistir: só rimas forçadas. Ninguém vai querer ouvir isso!

Droga! Isso é um trabalho, estou sendo paga para isso. Mas eu não queria entregar qualquer coisa... Isso já está me cansando! Largo-me sobre a mesa, toda esparramada. Cansei. Tiro meu celular do bolso. Vamos ver as últimas notícias do Brasil! Passo rapidamente pelas notícias de clima e algumas sobre com quem uns jogadores de futebol saíram na última noite. Depois de pilhas e pilhas de informação inútil, algo me chama atenção. “Mais um barco com refugiados da Síria vira e mata 257 pessoas”.

“Mais um”...

Parem de tratá-los como estatísticas! Cada um ali tinha sua história de vida! As pessoas que amavam, as pessoas que os amavam, as pessoas que perderam, os objetivos conquistaram, os objetivos que deixaram de conquistar, os objetivos que perderam... Eles são pessoas como qualquer um de nós. Eles eram... Foram 257 pessoas que morreram! Por que ninguém faz nada? Por que eu não faço nada?

Sou tão impotente... Me desculpem... Eu ainda vou mudar isso. Aguardem.

Rolo a página ao perceber a minha inutilidade. Outra reportagem salta aos meus olhos. “Grupo de menores assalta e mata senhor de idade no Rio de Janeiro”. E junto com isso vem todo debate sobre a maioridade penal...

O movimento de Rap Monster me traz de volta para a realidade confortável até demais. Ele se levanta para cobrir com o casaco que estava pendurado um Suga profundamente adormecido num dos vértices da cafeteria. Eles são realmente amigos...

Tenho inveja. Queria uma amizade assim.

Ele percebe que eu o observo e se vira para mim:

– E aí? Já desistiu?

– Sem inspiração nenhuma. – balanço a cabeça com uma expressão descontente. – Então eu resolvi me deprimir um pouco lendo o noticiário. Parece que deu certo.

– O que você leu? – ele se senta ao meu lado.

– O mesmo de sempre. E nada muda. As pessoas não aprendem.

– Ainda acredito que temos salvação.

– Sério?

– Sim. Assim como somos cruéis, somos caridosos. Vamos apenas torcer para que os caridosos estejam no poder.

– Eu não quero te encher com mais histórias chatas.

– Eu gosto de histórias. – ele sorri para mim. – Elas me inspiram. Pode contar! Eu juro que não ficarei entediado.

– Se você diz... – reviro os olhos, entrando na brincadeira. – Para falar a verdade, eu não sou tão apaixonada pela música quanto vocês. Eu sou apaixonada é pela humanidade. Não importa o quanto errem, pessoas são bonitas. Suas histórias de vida, seus defeitos, suas qualidades. Eu quero mudar o mundo, a começar pelo meu país.

– E como você pretende fazer isso? – ele ri.

– Eu estou falando sério! Não ria!

– Não estou rindo de você. É que é incrível o quanto você me lembra a mim mesmo quando mais jovem. Não ligue para mim, continue. – ele apoia o rosto no braço fixo à mesa.

– No Brasil, a educação pública é muito precária. Essa é a raiz de todos os problemas. Um povo burro não percebe as asneiras que seus governantes cometem. Vejo isso como uma ditadura não anunciada, porque o povo não questiona, não por ser diretamente censurado, mas, por desde pequeno ter suas opiniões restringidas por uma educação ruim. Uma censura indireta. E, os que estudam em escolas melhores estão preocupados demais com uma grande prova chamada Enem, que todos têm que se submeter para entrar na maioria das faculdades, e perdem de vista o verdadeiro objetivo disso tudo. São apenas robôs que não mais que um palmo a frente. Nós estudamos para poder criar opiniões, pensarmos por nós mesmos. As provas são apenas consequências disso. Uma nação de pensadores será a mais evoluída do mundo.

– Você ainda não respondeu a minha pergunta. Como você vai mudar isso?

– Fazendo a única coisa que eu sei fazer: compondo. Eu quero que as minhas músicas abram a mente das pessoas para que elas lutem pelos seus direitos. É pouco, mas, se eu me esforçar, posso trazer grandes mudanças para o meu povo. O Legião e o Cazuza já conseguiram uma vez... Não custa tentar.

– Legião? Cazuza? O que é isso?

– Poetas, autores de algumas das músicas que eu estava cantando mais cedo. Eles conseguiram conscientizar uma geração inteira com as músicas. Eram gênios.

– Uau. Você realmente está conseguindo me deixar curioso sobre essas músicas! Se não for muito trabalhoso, você poderia traduzir as letras para mim?

– Claro. Eu não tenho muita coisa para fazer de qualquer maneira. Talvez eu deva fazer algo útil. E então? Acha que eu sou louca por ter um objetivo tão impossível?

– Sim.

– Ok, por essa eu não esperava... – respondo, surpresa. – Era para ser uma pergunta retórica...

– Mas eu também sou louco. Tenho o mesmo sonho. – ele pronuncia sonho como se a palavra derretesse em chocolate na sua boca. – É bom saber que alguém quer fazer a mesma coisa no outro lado do globo. E que influenciei alguém. Sinto que o meu esforço não é em vão. Ter esperança pode até parecer infantil ou fantasioso, mas eu ainda acredito que é melhor do que não ter. O mundo vai melhorar. Ah! O som dessas palavras é maravilhoso.

Aquele brilho nos olhos do Rap Monster, por algum motivo tão familiar. Ah é. É o mesmo que sempre aparece quando me olho no espelho. Acho que é esperança o nome disso. Anda sempre em falta esses dias, então até esqueço o nome de vez em quando. Porém, crianças e sonhadores sempre me lembram da existência do último presente da caixa da Pandora.

– Eu ainda me lembro daquela música que você fez no seu pre debut, aquela sobre votação... Me pergunto porque você não escreve mais letras com temas políticos.

– Não posso. – ele ri. – É como uma regra não dita. Eu e o Yoongi-hyung já pensamos em escrever letras assim, mas isso poderia criar polêmica e prejudicar os outros membros, então desistimos. Esse é o preço por abranger um público maior. No entanto, eu ainda acho que, se com as minhas letras as pessoas pensarem mais sobre si mesmas e se entendam, talvez elas possam mudar o ambiente ao redor delas. Uma mudança de dentro para fora, entende?

– Você acha que a gente consegue? – não desvio meu olhar nem por um segundo ao perguntar. – Mudar o mundo, você acha que a gente consegue?

– Mas é claro. – ele me devolve a mesma determinação que utilizei na pergunta. – Por qual outro motivo nós estamos aqui?

Alguns segundos se passam por uma eternidade. Trocamos olhares por mais tempo que eu desejava enquanto digiro tudo o que acabei de ouvir. Quando finalmente consigo desgrudar a minha visão daqueles antigos e sábios olhos negros, sinto seu olhar cair sobre a minha confusão. É, realmente. Nós nascemos para melhorar o mundo, não é? É para isso que estamos aqui. Para deixar uma marca. Não somos uma estatística.

– Já está tarde. – sua voz me tira da tempestade de pensamentos que ele mesmo provocou. – São quase dez horas da noite. Vamos embora.

Ele (muito, muito, muito) cuidadosamente acorda o Suga, que o amaldiçoa baixinho algumas vezes antes de efetivamente abrir os olhos.

– Parece que vocês não fizeram nada de produtivo durante essas duas horas... Essas letras estão uma bosta, todas forçadas, sem ritmo. – Suga reclama enquanto folheia o que escrevemos. Ao que parece, seu humor piora drasticamente ao acordar.

– Disse a pessoa que ficou dormindo esse tempo todo e só produziu folhas rabiscadas e amaçadas para jogar no lixo. – retruco.

– Mais respeito aí, garota. A fada da inspiração não vem sempre quando eu quero.

Exatamente! Pelo menos ele me entende... Aos poucos, o mau humor dele vai se esvaindo.

– Acho que a gente termina a tempo. – ele afirma, um pouco mais calmo. – Não se preocupe. Temos bastante tempo, umas duas semanas. Não precisa correr, faça do jeito que você acha que vai ficar bom, ok? E não venha com uma porcaria dessas. Eu sei que você consegue fazer algo muito melhor que isso. O que eu falei vale pra você também, Rap Monster.

– Ok! Vou fazer o meu melhor! – me animo ao responder. Acho que esse é o jeito dele de encorajar as pessoas. E se o poeta fala que eu posso fazer isso melhor, é por que eu consigo.

Eles se oferecem a me levar até o hotel já que escureceu, mas todos nós entramos no consenso de que isso geraria uma polêmica, então melhor não. Mesmo assim, eles pedem para uma maquiadora que já estava de saída que me leve também. Eles acenam até que eu desapareça no horizonte, como dois idiotas. Tão refrescante é o ar noturno de Seul. Inspirador, eu arriscaria. A moça ao meu lado parece exausta, talvez até irritada pela tarefa extra. Foi mal, senhorita Maquiadora!

Ao chegar no hotel, compro um suco de uma daquelas máquinas de bebidas para ela e seu rosto se ilumina um pouco. Deve ter sido um dia difícil. Agradeço no meu coreano improvisado – já que ela não fala inglês – e faço uma reverência, o suficiente para que ela se alegre. Obrigada pelo favor e pelo seu sorriso, senhorita Maquiadora!

O quarto que eu estou hospedada fica lá nos últimos andares. Após pegar o elevador, abro a porta com a minha chave e me deparo com a minha irmã arrumando a bolsa para amanhã. Ela conseguiu um intercâmbio de três semanas numa faculdade de moda aqui em Seul. Sortuda! Nem perdeu aula e ainda vai melhorar o currículo! Sem falar no inglês que ela vai ter que usar aqui! Até que ela se adaptou bem a essa situação inesperada. Ela sempre foi o tipo de pessoa que transforma problemas em oportunidades.

– Eles são mais incríveis pessoalmente? – ela pergunta enquanto me jogo na cama, exausta. Se alguém conseguir me acordar amanhã, essa pessoa vai merecer um prêmio.

– Sim. Principalmente porque eles são mais humanos que eu imaginava.


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