Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 5
Verso 04: Born Singer


Notas iniciais do capítulo

Dicionário dos termos musicais em negrito nas notas finais.
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Sam's P.O.V.



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Todos saímos. Do lado de fora, percebo o que eles estavam digitando tanto: Google Tradutor. Eles são mais humanos do que eu imaginava.

– Você foi para o nosso show no Brasil? – Jimin quebra o silêncio.

– Sim. Eu fiquei bem lá na frente, completamente amassada. – faço uma mímica de como estava e todos caem na gargalhada.

– Brasileiros são estranhos... – Jungkook entra na conversa. – Estava muito cheio, mas eu via até que bastante espaço no fundo porque todo mundo se espremia lá na frente para chegar mais perto! Se dessem um passo para trás, todos viam o show e não ficava tão apertado assim...

– Os brasileiros são muito calorosos! – RapMon relembra o show. – Todos nós estávamos muito cansados por causa da turnê, do fuso horário, das entrevistas, de tudo. Eu subi naquele palco não esperando nada. Mas, cara, vocês cantaram tudo! Vocês pulavam, gritavam, cantavam! Como vocês conseguem ter voz para aquilo tudo? Até o rap, mesmo que algumas partes estivessem erradas.

– A gente se esforçou. Mas, um segredo: só uma dúzia de gente ali deveria realmente saber as letras. O resto só foi no embromation. – respondo.

– Embromation?

– É uma gíria brasileira. É quando você não sabe uma língua e fica tentando imitar os fonemas, mas não dá muito certo...

– Vocês tem uma gíria para isso?

– Essa é uma das especialidades dos brasileiros!

– Nós também aprendemos algumas frases em português! – J-Hope se mete na conversa. – Se bem que foi meio que um “embromation” como vocês diriam.

– TÁ LECAU? – Jimin grita, assim como ele fez no show.

Nossa, só de conversar um pouco eu já me sinto mais confortável. Há quanto tempo eu não me divirto tanto conversando com alguém? Nem tenho tanto tempo para aproveitar o momento pois sou chamada de volta a realidade pela grave voz do V.

– Eu lembro que vocês fizeram uma coreografia para Heungtan Boys! – ele balança os braços por cima da cabeça de um lado para o outro, devagar, assim como nós fizemos. – Aquilo foi incrível! Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo! Foi insano! Milhares de pessoas do outro lado da música se juntaram e fizeram uma coreografia para a nossa música! Eu fiquei espantado!

Então J-Hope começa a cantar a parte do V em Heungtan Boys e o grupo todo faz o passinho brasileiro. Resolvo ensinar outras partes da coreografia que o WTF Bangtan criou. Logo, J-Hope já está misturando os passos com popping e break, fazendo uma mistura entre passos sérios e aquele sorriso brilhante que só ele tem. É hilário!

– Mas vocês são grandes estraga-prazeres, sabiam? – digo em meio a risadas.

– Por quê? – Rapmon responde, enquanto os outros tentam processar o que estraga-prazeres significa.

– Todo mundo aprendeu o refrão de Born Singer para cantar quando vocês estivessem saindo. – enquanto eu explico, Rap Monster deve ter traduzido ao que a expressão que eu usei para estraga-prazeres se refere. – Mas você saíram cantando I Need U! A gente nem teve chance!

– Sério? – V disse em coreano.

– Nós nem imaginávamos... – Jin completa, em inglês. – Eu prometo que na próxima a gente espera um pouquinho mais, ok?

– Ok! Eu vou cobrar, tá?

– Tudo bem. Mas agora a gente tem que ir treinar. – Jin se despede. – Se bem que tem gente que preferia não ir.

Ele aponta com a cabeça para Suga lá no fundo, bocejando. Ele ficou quieto a conversa toda... Será que ele não quer falar comigo ou é só o jeito dele? Pelo menos ele está com um ligeiro sorriso nos lábios, o que já me deixa mais feliz.

Todos desaparecem por trás da porta de madeira que se fecha. Ao me virar, os meus olhos encontram os da Stella.

– Eles são assim o tempo todo?

– Mais ou menos. – ela ri. – Geralmente eles estão bem mais cansados. Acho que eles querem que você se sinta à vontade. Ou simplesmente estão animados por ter gente nova por aqui. Sabe, não é muito comum encontrar com uma brasileira que faz cover de K-Pop e é famosa mundialmente.

– Sério? Encontrei com umas cinco ontem.

– Idiota... – ela gargalha enquanto dá um soco fraco no meu braço.

– Para onde vamos agora?

– Aula de canto. Vai ser meio problemático se você for participar da aula com os garotos. As vozes são muito diferentes, entende?

– Sim. Só uma pergunta: eu vou ter que dançar também. – engulo em seco.

– Só se você quiser. Ai meu Deus! Você tinha que ter visto a sua cara! Também não sou lá muito fã de dança e os treinos são muito cansativos... E eu ainda tenho que te agradecer! Graças a você minha agenda foi afrouxada e eu posso ficar te seguindo por aí fingindo que estou fazendo alguma coisa de útil.

– De nada.

– Vem logo! – ela me puxa pelo braço. – Eu estou cercada de idiotas...

Atravessamos o longo corredor de paredes brancas e portas da mesma cor até chegar numa pequena sala com isolamento acústico. Duas garotas (magérrimas) já estavam lá nos esperando. Nossa, elas são tão parecidas que eu acho que vai passar um mês e ainda vou confundir as duas. Pelo menos eu não tenho esse problema com a Stella e seu cabelo vermelho sangue.

A professora chega um pouco depois. Uma mulher alta, com um jeito mais despojado. Bonita não seria a palavra certa, única se encaixaria melhor naquela mulher. Ela me cumprimenta rapidamente, dizendo seu nome e dando boas vindas. Park Yang Mi, belo nome. Não tarda a começar com os vocalizes e eu tenho que me esforçar para acompanhar o ritmo delas. Elas fazem aula de canto todos os dias! Depois dessa maratona, a professora me pergunta:

– Qual cantora é a sua inspiração? Demi Lovato? Taylor Swift?

– É... Não. Eu prefiro Nina Simone.

Ela fica séria por um minuto, então levanta, me abraça e grita:

– É disso que é estou falando! Canta aí uma música para eu ter uma ideia de como é a sua voz. Já que você falou Nina Simone, que tal Feeling Good?

– É pra já.

Começo a cantar a música eternizada pela deusa do canto e todos na sala ficam em silêncio. Elas devem estranhar uma voz escura vir de alguém como eu mesmo que eu seja apenas mezzo-soprano. O piano de Yang Mi cresce junto com a minha interpretação. É claro que eu não consegui nem chegar perto da minha deusa, mas fiz o meu melhor. No final a professora expira com força e diz:

– Quem imaginaria uma voz dessa vindo de você! Mandou muito! Faltou apoiar um mais nos agudos mas foi provavelmente porque você estava nervosa. Vamos trabalhar isso depois, ok?

Aceno com a cabeça concordando. As outras vão cantar as músicas que elas já estão treinando há mais tempo. Todas têm vozes naturalmente metálicas, como eu esperava, mas a voz da Stella se destaca. Ela com certeza é a vocalista principal. Sua voz é tão limpa, clara, há beleza na sua simplicidade. Chega em nos agudos com uma facilidade impressionante, tão leve como uma pluma. Parece um anjo cantando... Enquanto as outras têm vozes mais comuns, mesmo que afinadas. A professora vez ou outra empurra a barriga de uma advertindo para apoiar mais ou avisando que precisa de mais espaço na boca. A aula passou voando. Quando saímos, pergunto:

– Vocalista principal, não é?

– Como você adivinhou? – Stella ironiza. – Mandou muito lá dentro. Sério.

– Obrigada, você também. Não fique me elogiando muito, ou vai criar um monstro. E agora? Aonde vamos?

– Eu tenho que te mostrar o edifício. – ela finca os pés no chão e começa a apontar. – Aquela área para onde os meninos foram são as salas de dança. Por aqui são as salas de canto e rap. A sala do Bang Sihyuk PD-nim você já sabe onde é. E o mais importante: o refeitório fica no segundo andar junto com os estúdios e tudo relacionado à produção de música. Os outros andares são de pura burocracia, não são importantes. Têm banheiros em todos os andares. Agora que eu já te apresentei o prédio, vamos fazer algo interessante! Ainda falta muito para os garotos ficarem livres!

– Bom trabalho! – respondo.

– Não enche. Depois de tanto tempo eu também fico cansada!

– Tem alguma praça aqui por perto?

– Sim, a algumas quadras daqui. Por quê?

– Toca algum instrumento?

– Violão. Por quê?

– Pega lá.

– POR QUÊ?

– Ué, você não está com saudade da música brasileira? Vamos logo!

Ela ri ao desaparecer entre a infinidade de portas à frente enquanto eu espero. Depois de alguns minutos, Stella volta com o violão em mãos e diz para a secretária para onde vamos. Ela se vira para mim quando pergunto:

– Vamos?

– Vamos.


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Notas finais do capítulo

Termos de canto:

Vocalize - exercícios de canto para aquecer as cordas vocais.
Mezzo-soprano - voz feminina entre o soprano e o contralto, com uma extensão maior na região central-grave.
Apoiar - nesse contexto, apoiar tem um significado diferente. Quer dizer controlar o diafragma para que as notas agudas saiam sem grande dificuldade e sem ferir a garganta.
Voz metálica/brilhante - vozes agressivas, penetrantes, perfurantes, o que não quer dizer que essas vozes sejam ruins, este é apenas um tipo de voz. Exemplo: Jin, Jimin.
Em contraparte, existem as vozes escuras/aveludadas, que são mais macias ao ouvido. Exemplo: V.
Os cantores que eu listei têm vozes que são naturalmente assim, porém, com técnica e treino, é possível utilizar ambos os tipo de voz, assim como eles mesmos fazem. O ideal para um cantor é saber equilibrar as duas. Lembrando que esse é um conceito complicado e é bem provável que eu não tenha explicado exatamente ou com total clareza.
Mais espaço na boca - abaixar a língua enquanto canta para que ela não interrompa a passagem de ar e prejudique o som.



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