Jungkook POV

Não pode ser.

Isso faz algum sentido?

Ela.......não está mais aqui.

Nem consigo prestar atenção no caminho. Ponho um pé a frente do outro a esmo, esperando que o acaso me leve para casa. Mas que casa? Para onde eu devo ir agora?

A resposta vem do meu inconsciente: o dormitório que divido com os outros. Até o meu cérebro me prega peças. Nada a minha volta tem importância mais. Sou absorto de tudo, apenas eu e o nada à minha volta. O que eu vejo é o tudo e o nada, o branco, o preto, o absoluto. De todos os pensamentos na minha cabeça, nenhum é compreendido. E um fluxo aquático que só se observa, não molha. São as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

                “Stella não vai voltar”, isso é só um fantasma, um eco vazio em minha cabeça. Voltando e voltando, insistindo e insistindo. Um pensamento não concretizado... não é? Porque logo, logo ela vai voltar, nunca é uma palavra muito forte. Ela sempre esteve aqui, por que não estaria mais? Todos aqueles dias, sorrindo, brincando, até mesmo brigando um com o outro, ela está ali sempre.

Amar Stella já faz parte da minha rotina. Por isso sei que ela vai aparecer a qualquer momento. Afinal, ela me avisaria antes de qualquer um se algo assim acontecesse. Isso tudo não passa de um sonho. Ou melhor um pesadelo muito, muito ruim. Ela nunca me largaria, não assim, não é?

                Não.

                Ela não vai voltar nunca mais.

                Ela não estará aqui sorrindo aquele sorriso irônico, ou implicando sem magoar, ou brigando comigo por discordar, mas sempre torcendo silenciosamente pelas minhas desculpas. Mas isso nunca mais vai acontecer. No entanto, sua presença está tão impregnada em minha rotina, em meus pensamentos, em minha vida. Ela está tão impregnada em mim que surreal é seu desaparecimento.

                É sufocante.

                As lágrimas agora fluem de meus olhos como os rios, ou melhor, cascatas. Tão naturalmente... Tranco a porta com a réstia das minhas forças. Não quero que ninguém venha ter piedade à minha situação.

                Mas eu queria que alguém viesse atrás de mim, mesmo que fosse para só discutir. Ninguém veio.

Pelo tempo que demorei para chegar aqui, eles teriam me alcançado. Porém ninguém ao menos tentou. Não valho esse esforço. Talvez eles até quisessem que eu fosse embora mesmo. Nem eu me quero por perto.

É tudo culpa da Stella! Ela prometeu! Ela prometeu que assim que voltasse iria namorar comigo! E arrumou toda essa confusão do nada!

Não... O que raios eu estou pensando?

Por... por quê? Por que isso tudo está acontecendo? Será porque eu demorei demais para me apoiar por mim mesmo e pus muito peso sobre ela? Ou será que... Será que eu deveria ter ido com ela? Será que ela mais precisou de mim, eu não estava lá?

TAEHYUNG! Você... você me fez acreditar que estava certo! Você, TODOS VOCÊS! Vocês só pensaram em si mesmos! Vocês me enganaram para conseguirem seus próprios objetivos! Vocês nunca pensaram em mim ou na minha felicidade! Foi tudo culpa sua!

Até você, Sam!

Sam?

Oh, não...

Eu não queria fazer aquilo... Os ombros dela tremiam sob as minhas mãos. Os olhos dela, geralmente confiantes, estavam arregalados de medo. Pareciam enxergar um monstro. Enxergavam um monstro. Enxergavam eu.

Ela tão assutada quanto estava, parecia que não iria reagir. Então eu apenas continuei gritando e gritando e gritanto e berrando e gritando. Era tão fácil. Ela não conseguia dizer o quão errado eu estava, ela não conseguia reclamar do quanto seus ombros doíam. Eu poderia culpa-la de tudo o que eu fiz que nada ela ira fazer.

Mesmo vendo seus olhos marejarem, eu continuei

Por quê?

Por que eu fiz isso? Por que eu pensei isso?

Eu não mereço estar aqui.

Eu não mereço o amor da Stella.

Eu não mereço a amizade deles.

Eu não mereço a idolatria das armys.

Por que eu ainda estou aqui?

Qual é a minha para continuar com uma respiração atrás da outra?

Por que não enfim parar?

Não, não. Não quero continuar com esses pensamentos assustadores.

Droga!

Droga!

Droga!

POR QUE ESTÁ TUDO DANDO ERRADO? O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO? NÃO TEM SAÍDA!

É CULPA DO BANGTAN! É CULPA DO JIMIN! É CULPA DAS ARMYS! É CULPA DO HOSEOK! É CULPA DO BRASIL! É CULPA DO YOONGI! É CULPA DAQUELA BRASILEIRA! É CULPA DO JIN! É CULPA DO CELULAR! É CULPA DO NAMJOON! É CULPA DO SEJIN! É CULPA DO TAEHYUNG! É CULPA DA SAM! É CULPA DA STELLA!

É minha culpa.

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Sam POV

O silêncio reinava no hall de entrada. Os espectadores curiosos, já se tinham ido para espalhar a notícia para a pessoa mais próxima à essa altura. No entanto, lá, no olho da tormenta, não havia essa agitação. Não conseguíamos falar nem uma palavra, todos olhavamos para dentro de nós mesmos. Jimin e J-Hope desobedeceram V, partiram há pouco tempo para o dormitório, mas era tarde demais. Jungkook já se foi há muito tempo, deixando para trás apenas o silêncio.

— Me desculpe por isso. – Rap Monster toma coragem ao deixar tanto remorso transpassar sua voz. Por mais que a sua mente tivesse tomado a decisão de falar, seu corpo ainda era relutante. Sua cabeça está baixa, escondida atrás de seus dedos entrelaçados. – Como líder, eu deveria ter interferido antes, esse tipo de coisa não pode acontecer. Peço desculpas por mim e por ele. Estou realmente envergonhado por toda essa situação. – Sua frustração passou para os dedos, cujos nós ficaram brancos de tanta força que ele retinha. – Você se machucou em algum lugar?

Ele vira a cabeça ligeiramente para o lado, apenas o suficiente para olhar nos meus olhos. Os outros membros também me observavam, com olhos vazios. Eles não queriam pronunciar uma palavra porque não sabiam o que dizer, o que pensar. Os sentimentos eram os mesmo em cada par de olhos: vergonha, raiva, comoção, confusão, medo e uma profunda tristeza.

A dor latejante nos meus ombros reaparece assim que convocada. Levo a mão até onde arde, numa vã tentativa de abrandar essa dor, fingir que ela não existe. Contudo, a dor não estava só nos ombros. Esse machucado era só a representação de toda dor que estou sentindo, toda a culpa; toda a frustação; toda a culpa; toda a tristeza; toda a culpa; toda a preocupação; toda a culpa. Nenhum remédio, por mais forte que fosse, irá sarar isso.

— Eu estou bem. Não sou a pessoa que está machucada – falo, tão sincera que quase me convenço da minha própria mentira. Infelizmente, quase.

Mas o que disse era verdade. Bem, em parte. Comparado ao que está passando na cabeça do Jungkook, essa dor que sinto não era nada. Sou estúpida de até mesmo reclamar disso. O problema não é meu. Eu sei que não sou culpada sobre isso, mas, mesmo assim, sei que a culpa não vai desaparecer dos meus ombros.

É pura estupidez minha, pensar em tantas frases com “eu”. Tão egoísta, não é momento de pensar em primeira pessoa. Não sou eu que estou em grande problema. Autopiedade não iria ajuda-los. Pensar que não posso fazer nada, ou que sou culpada só iria piorar a situação. Eles não precisam de algo a mais para se preocupar.

Não só BTS, o grupo em si, mas todos seus sonhos se desmoronando. Acima disso, um amigo caindo de joelhos, com uma mancha vermelha como uma rosa no peito. Desistindo, já derrotado. Sei muito bem o que aqueles olhos vazios viam. E é por isso que ninguém falava. Pôr a verdade em palavras é sempre assustador e – pior ainda – faz parecer real.

Queremos puxar assunto, pensar em outra coisa. Porém, seria ótimo de as nossas bocas fossem um pouco mentirosas e ouvissem as ilusões do cérebro. Isso não aconteceu. Passados alguns minutos, Jin se aproximou silenciosamente do banco que nem percebi que havia sentado.

Ele põe no meu colo um ursinho de pelúcia de pelagem branca amarelada. Com cuidado, como se algodão fosse porcelana, tenho-o em mãos e viro seu rostinho peludo para mim. Sua expressão gentil me acalma um pouco. Uma estranha faixa de borracha atravessa sua testa. Seus olhinhos de acrílico são mais vívidos que os de todos nós nesse momento. Percebo logo que não era um ursinho qualquer. Ele veste uma blusa branca, com o emblema do BTS desenhado à mão na frente. Em seu verso, percebo, há sete assinaturas. E acima de tudo isso, há escrito em letras de imprensa “Warren”.

— O Jimin ficou enchendo o saco porque queria trazer alguma coisa para você de lá – a voz sem vida de Jin soa estranha aos meus ouvidos. – Aí eu dei essa ideia – ele sorri sem muita vontade. – Todo mundo participou. O Jimin e... Jungkook... eles desenharam na camiseta. Teahyung-ie e o Hoseok hyung ficaram olhando os ursinhos um por um para achar o melhor. Namjoon hyung escolheu o nome. E tá vendo essa pulseira estranha aqui? O Yoongi comprou depois que já tínhamos feito o urso e pôs na testa do pobre!

— Ela brilha no escuro. - Yoongi diz, um tanto indiferente por seus pensamentos pousarem irremediavelmente no maknae.

“Medo de quê?”

“Só... Do escuro mesmo.”

Ele lembrou. Ele lembrou de um detalhe tão pequenino... Ele lembrou de mim. Ele fez isso por mim. Arranco a “faixa” e a ponho no meu pulso. Ficou um pouco larga, mas serve. Há algo escrito em alto-relevo, mas não entendo esse alfabeto.

— O que significa? – Contorço-me no banco para encará-lo, mas é inútil. Seu olhar está preso nos próprios pés.

— Felicidade.

Uma única palavra me estremece: felicidade. Que irônico.

Antes que Jin consiga continuar a falar, Jimin irrompe pela porta da frente, esbaforido, seguido por um J-Hope tristonho que está mais preocupado em continuar andando que com a velocidade em si.

— PESSOAL! – Jimin grita. Em seu rosto, uma expressão que nunca vi antes. Como eu preferia nunca tê-la visto. – O Jungkook desapareceu! Ele não está lá e todas as coisas dele sumiram!

O murro que V dá no banco de madeira soa em uníssono com a última batida de nossos corações.