Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 32
Verso 31: School Of Tears




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O cabelo desgrenhado parecia nunca ter visto uma escova; a maquiagem roubada da minha irmã espalhada pelo o meu rosto em tons fortes e contrastantes, como uma pintura de art naive; os quilinhos a mais fazendo marcas na blusa, entregando os pequenos furtos de doces que eu costumava fazer; as espinhas começando a pipocar no meu rosto, anunciando que a temida puberdade estava para chegar; os óculos de bibliotecária do século passado e o pior: nas minhas mãos o CD da trilha sonora de Camp Rock 2.

Eu tinha dez anos naquela época, ainda não levava esse lance de ser youtuber a sério, muito menos esse lance de canto. A única resposta sobre o que era música para mim era cópia do que esses musicais infantis insistiam em repetir. Naquela época, isso já era profundo o suficiente para saciar as minhas perguntas.

— E aê, galerê? Como vocês vão? Tudo belê? – a antiga eu me cumprimenta.

Lembro que naquela época eu fazia de tudo para ficar “antenada”, até mesmo falar essas gírias que só  blogueiros anônimos usavam. Lia aquelas revistas de moda um tanto repulsivas e pegava as maquiagens da minha irmã para fazer com o meu rosto obras mais surreais que os quadros de Dalí. Pensei ter excluído todos esses vídeos idiotas antes de recomeçar o canal. Parece que um vazou.

— Eu vou falar sobre esse CD porque é muito importante para mim. Ele é muito profundo e é o melhor da música! – Por favor, eu, fica quieta! – É com essa música que o Shane se reconcilia com a Mitchie! Nela, dá para sentir todo amor entre os dois! Um amor eterno e verdadeiro! E foi essa música que eu escolhi cantar para vocês!

Não, por favor, não! Poucas notas já são o suficiente para muitos ouvidos racharem com aquela voz aguda de criança desafinada. Por favor, pare! Eu mal tinha começado a ter aulas de canto, minha voz não era nem um pouco melhor que unhas no quadro negro. E como eu pude dizer tanta asneira? Sempre fui tão burra assim?

POR FAVOR, PARE!

Não consigo assistir até o final. Por quê? Por que sempre me expus tanto? Por que fingia saber de coisas as quais eu não tinha a menor ideia? Eu fiz com que os outros me odiassem por causa de coisas assim! Pensei que já tivesse sido xingada o suficiente na época que lancei esse vídeo, mas parece que os meus colegas (argh, me dá até nojo de chama-los assim) da nova escola o redescobriram.

Como? Eu tinha excluído! Bem, isso não é importante agora, o vídeo já foi postado no grupo de TODA A ESCOLA.

“Feia desde sempre”

“ A voz dela mudou alguma coisa?

“ Ela ainda tem coragem de se achar superior com uma voz dessa? ”

“ Ridícula: ontem, hoje e sempre! “

“ E vcs postam isso aqui? Isso é perda de tempo. Naum deem ibope para essa youtuberzinha de merda. “

“ 5 min da minha vida no lixo. ”

Além desses, outras cartas marcas apareceram entre os comentários.

“ Chata pra k7”

“ Isso é facebook, naum privada. Tira essa merda daí”

“ Vadia”

Sei que não deveria me importar com isso, o vídeo nem viralizou, só está no grupo da escola no Facebook (e no Whatsapp também)... Mas meu coração se aperta mesmo assim. Sinto uma facada a cada comentário que leio.

 “É só não ler”, digo para mim mesma.

É muito fácil falar. Não consigo desprender os olhos da tela. Nem discordar dos comentários. Eles só perfuram tão profundamente porque sei que são verdade. Eu também só consigo ver uma fracassada naquele vídeo.

Sofia: Sammie, você está bem? Por que não me responde?

A mensagem surge na minha tela, tomando toda a minha atenção.

Sam: Sim, não é a primeira vez que algo assim acontece. Só tem uma coisa: perdi o meu caderno de composições, talvez esteja na escola. Pode dar uma olhada por mim?

Nem espero a resposta. Bloqueio o celular, mesmo que ele apite incessantemente com mensagens da Sofia. Não quero ver mais nada, nada, nada, nada, nada... E como se eu entendesse meu pensamento, as lágrimas turvam a minha visão.

“Não é a primeira vez” sim, eu sei! Eu sou uma idiota por continuar chorando e chorando sobre isso! Sempre e sempre, eu nunca consigo me acostumar com essa tristeza! Como uma idiota, fraca como sempre. Sinto tanta inveja de quão legais as pessoas em filmes parecem quando falam “acontece o tempo todo, já nem sinto mais”. Por mais que anos e mais anos se passem, a dor é a mesma, a fraqueza é a mesma. Será que pessoas reais conseguem ser como essas dos filmes? Comigo nunca funcionou, tenho minhas dúvidas se já funcionou com alguém. É sempre essa dor dilacerante que flui pelas minhas veias...

Logo, os sintomas da minha desolação ficam mais aparentes. Minha cabeça é atingida com mil agulhas de dor latejante. Meus ouvidos são perfurados por objetos que, por mais que sejam imaginários, causam dor real. E minha pela é coberta por placas vermelhas, ligeiramente salientes. Elas não coçam, só me transformam num monstro. Quando eu era menor, costumava esconde-las a qualquer custo.

Claro, fico horrível quando elas surgem. Nada melhor que horríveis placas vermelhas cobrindo todo o meu corpo quando estou aos prantos.

No entanto, já faz tempo que elas não apareciam com tamanha intensidade. Não que eu tenha sentido falta. Pode ser até ridículo de se dizer, mas eu tenho alergia a tristeza. Não, não é só uma frase de efeito. Desde pequena, fico doente quando estou estressada ou triste. Eu odeio tanto essa “alergia”! Ela é a prova concreta da minha vulnerabilidade. Nem para ser alergia ela serve direito! Já perdi a conta de quantas vezes já desejei que ela agisse como uma alergia normal e me consumisse. É claro, depois me arrependia desse pensamento, mas o desespero ficava.

Apenas rastejo até a bolsa que está pendurada numa saliência da grade do mezanino. Cavo a procura do único remédio que já funcionou contra o meu mal: Tic-Tac. Viro duas balas na minha mão e ponho-as para dentro, sentindo o sabor de menta explodir na minha boca.

Assim como saí, volto para o meu lugar. Afasto os óculos molhados e apenas encaro deitada a beleza do céu estrelado que é o teto branco do hotel, esperando o açúcar fazer seu efeito.

Por quê? Não consigo pensar em mais nada (minha dor de cabeça não deixaria, de qualquer forma...) . Por que alguém desperdiçaria tanto tempo só para me deixar tão mal? Eles realmente não têm mais nada para fazer além de me relembrar o quão ruim sou?

Finalmente, desfaço a inútil repreensão, deixando as lágrimas rolarem a cada palavra que me volta a mente.

O quê?! Simplesmente, o que eu fiz para eles me odiarem tanto?

Mesmo na minha mente, minha voz soa chorosa...

Eu só quero que isso tudo acabe... Por favor... Eu suplico! Não aguento mais nada disso... Não consigo me acostumar, não consigo ignorar! Sou fraca... Eu só consigo... sentir meu coração doer dentro do meu peito.

Por favor! Se Alguém está me ouvindo agora, por favor, me diga! O que eu fiz para merecer isso? Eu fiz algo de errado para o Senhor? Me desculpa! Me desculpa por tudo! Me desculpa por nem ao menos saber porque estou pedindo desculpas! Sua filha pecou muito, mas não é forte o suficiente para aguentar esse fardo. Me desculpe, Meu Deus, por desapontar o Senhor. Por favor, ouça as minhas preces!

Todas as minhas palavras silenciosas não recebem resposta. Ele não vai querer me ouvir. Sou tão mesquinha... Só procuro a Ele em situações assim, não mereço uma resposta de qualquer maneira.

Permaneço chorando, soluçando por minutos, horas, eternidades. Toda energia do meu corpo se esvaiu com a luz do celular. Minha única companheira é uma mariposa do outro lado da suíte. Elas são as nêmesis das borboletas.

Elas significam a morte.

Sinto meu corpo pesado demais para se mover, minha mente pesada demais para pensar, meus olhos cansados demais para se abrirem. É quase como estar morta.

Depois de tanto tempo, o celular me desperta com mais uma mensagem. Não estou com humor para mensagens preocupadas da Sofia.

Espero mais alguns segundos... Não há insistência, não deve ser ela. Minha curiosidade me vence. Por mais fraca que eu esteja, alcanço o aparelho. Uma mensagem nova do Kakao Talk

Suga: Você está acordada?

Largo o celular de volta na cama, mas por um segundo de loucura (talvez carência), respondo.

Sam: Estando acordada ou não, essa mensagem me acordaria.

Suga: Era uma pergunta retórica.

Sam: O que foi?

Suga: Você já escreveu a sua parte da música?

Sam: Não... ;-;

Suga: Ufa! Então não sou o último! XD

Suga: Estava pensando em fazer algumas modificações na melodia. Se você quiser fazer alguma, pode falar comigo.

Sam: Estava pensando em dividir vozes na ponte e dar algumas partes a mais para o V e o Jin.

Sam: Toda vez que eu tentei falar com os produtores, eles disseram que não era seguro deixar partes tão difíceis para os dois.

Sam: Eu já os ouvi cantando, sei que eles conseguem. Esse é um presente para as A.R.M.Y.’s, então eu quero apostar mais neles. Tenho certeza que vão conseguir.

Suga: Entendi o que está tentando fazer. Não sou muito de apostar, mas vou concordar com você. Sim, vou tentar encaixar isso que você pediu.

Sam: Obrigada.

Suga: Por que você está demorando para responder? Aigoo... Eu odeio esperar por mensagens.

Sam: Só estou com medo...

Meus dedos digitam antes da minha cabeça pensar. Droga!

Suga: Medo de quê?

“De pessoas”

Sam: Só... Do escuro mesmo. Eu sei que é tosco.

Suga: Concordo, é bem tosco mesmo.

Sam: Ei! Você não deveria concordar!

Suga: Quer que eu minta? Só é comum. Por mais que eu fale que isso é tosco, eu convivo com o Hoseok há anos! Se eu falo que o seu medo é tosco, o que eu falo para ele?!

Sam: Kkkkkkkkkkkkkk

Suga: São em momentos como esse que você me lembra que tem 16 anos. Eu quase sempre esqueço. Mas por que você está com tanto medo assim? Você não sempre dorme no escuro?

Sam: Sim, mas...

Sam: Hoje, as sombras estão particularmente assustadoras. Como se roubassem toda a esperança dentro de mim para elas, deixando apenas um recipiente vazio. Ah... Medo é uma coisa inexplicável. Você pode só ficar conversando comigo? Eu fico com menos medo assim.

Suga: Era o que eu ia fazer de qualquer maneira. Fui eu que te acordei, lembra?

Sam: Afinal, por que você está acordado a essa hora? Não deveria estar dormindo ou algo assim? Soube que vocês estão bem ocupados por aí.

Suga: Só estou preocupado por ainda não ter escrito a letra e estou sem inspiração.

Suga: Não quero entregar qualquer coisa para as armys, elas são muito importantes para mim. Então eu pensei que nada melhor que falar com uma para ter inspiração! Sou um gênio, não?

Sam: Ah, então você poderia me ajudar também?

Suga: Sim, sim. Mas eu tive a ideia primeiro!

Sam: E foi cara de pau o suficiente para me mandar uma mensagem às 02: 43!

Suga: Alguns inconvenientes devem ser superados quando se quer alcançar um grande objetivo!

Sam: Bonito, muito bonito... Você só fala assim porque não é com você!

Suga: XP

Suga: Eu deveria parar de usar esses emojis. Estou até ficando com nojo de mim mesmo.

Suga: Parece que os outros membros estão certos, estou fazendo tanto aegyo na frente das armys que essa doença está me consumindo profundamente! Alguém chame uma ambulância!

Sam: Kkkkkkkkkkkkkkkk

O incomum bom humor do Yoongi consegue arrancar uma singela risada de mim. Começo a sentir as lágrimas secarem no meu rosto, é uma sensação refrescante - e gelada.

Sam: Afinal, o que você quer que eu faça?

Suga: Só me pergunte qualquer coisa sobre como eu me sinto em relação às armys.

Sam: Hum...

Sam: Como você se sente em relação às armys?

Suga: É sério isso? Foi o melhor que você conseguiu pensar?

Sam: A minha inspiração também anda faltando esses dias.

Suga: Deixa para lá... Teria sido melhor se eu tivesse pedido para uma parede...

Sam: Ei! Espera!

Sam: Vou pensar em algo melhor, só me deixe pensar um pouco.

Suga: Ok.

Uma pergunta sobre as armys... Isso parece como um sonho. Ainda tenho minhas dúvidas se estou acordada, se não estou apenas tentando fugir da tristeza que me aguarda na realidade. De repente, um fio de inspiração surge da luz do celular que ilumina timidamente o quarto.

Sam: O que você pensa quando lê os comentários dos fãs nas redes sociais?

Suga: Está aí uma coisa que eu não tenho feito muito ultimamente. Deveria voltar a lê-los, isso sempre me fez bem.

Suga: Bem, eu não sei se é assim em todo o fandom, mas as armys são muito engraçadas! Às vezes, eu choro de rir lendo os comentários!

Suga: Elas também são bem... digamos... criaativas. Muitas delas ficam falando que eu e o Hoseok namoramos! WTF! Como assim?! Que motivos nós demos para elas pensarem assim?

Sam: Concordo, não faz o menor sentido.

Sam: Você combina muito mais com o Jimin! ♥

Suga: EI!

Sam: Calma, é só brincadeira rsrsrsrsrs

Sam: Queria estar vendo a sua reação agora kkkkkkkk

Suga: Só para deixar bem claro: EU SOU HÉTERO!

Sam: Aham kkkkkk

Suga: Olha, eu não posso responder pelos outros, mas eu tenho certeza que gosto só de mulher! Depois de conviver tanto tempo com aqueles seis, apenas tive certeza disso!

Suga: Conviver com seis homens jovens 24/7 não faz bem a ninguém! Nunca vou nem pensar em namorar alguma daquelas coisas!

Suga: Principalmente porque o Hoseok e o Jimin não são o meu tipo.

Sam: Você parece um avô falando kkkkkk

Suga: Vamos voltar ao assunto? Obrigado.

Suga: Eu fico muito feliz quando eu leio aqueles comentários falando “eu amo a sua música”.

Suga: Por mais que a maioria dos outros membros prefiram um “eu amo você” ou “você é bonito”, é um “eu amo a sua música” que me deixa mais feliz.

Suga: Eu sei que sou uma pessoa bem normal. Não fui escolhido para o BTS por causa da minha aparência, tenho plena consciência disso. Tudo o que vocês veem na TV, nas fotos e nos shows não passa de uma mistura de maquiagem, dieta e jogo de luzes. Eu, na verdade, tenho uma aparência bem comum, não sou aquele tipo de pessoa que as pessoas ficam olhando na rua quando não estou com toda essa máscara de ídolo.

Sam: Você é lindo. Eu já te vi de cara limpa pessoalmente.

Suga: E você precisa aumentar o grau dos seus óculos.

Suga: A mesma coisa também vale para a minha personalidade. Não sou interessante. O que os fãs conhecem de mim é algo filtrado e editado para ter algum apelo. Por mais que seja eu, não é 100% eu, são só as partes boas de mim. No entanto, na maioria das minhas músicas, tem mais eu que em qualquer entrevista, live ou Bangtan Bomb.

Suga: Nas músicas, sinto como se estivesse nu. Qualquer um pode ver quem eu sou de verdade se ouvir com atenção. Está tudo ali, sem filtros, sem edição, sem maquiagem, sem dieta, sem jogo de luzes. Só Min Yoongi, com todos os seus defeitos, com todas as suas qualidades.

Suga: É por isso que eu fico tão feliz quando leio um “eu amo a sua música”. Porque, além dessa pessoa reconhecer todo o meu esforço, talento e amor pela música (por mais que eu saiba que ainda tenho muito a melhorar), ela viu quem eu sou de verdade, com todos os meus defeitos, e escolheu continuar sendo minha fã mesmo assim. Isso, para mim, é o que há de mais gratificante.

Sam: Por mais que, de alguma forma, eu já saiba disso tudo, é bom ouvir tudo de você. Sinceramente, eu adoro o BTS como um todo, mas o motivo por eu ter dito que você é o meu favorito é esse. Você é sincero, pensa muito sobre tudo ao seu redor, e (o mais incrível) erra assim como eu. Só que o que me faz te admirar tanto é como você lida com esses erros. Francamente, você é incrível.

Suga: Não acredito que, apesar de tudo, você ainda me acha tão incrível. Obrigada por tudo, mesmo.

Suga: Eu recebo tanto das armys... Mesmo que eu me esforce para retribuir, nunca vai chegar aos pés do que vocês fazem por mim. Eu não mereço, com certeza não, mas vocês não parecem se importar com isso. Apesar de tudo, é isso que faz o meu sonho valer a pena.

Suga: Quando eu estou no palco e vejo todos aqueles olhinhos me encarando, todas as gargantas que, mesmo sem preparo, se esforçam para cantar o mais alto que podem as letras que escrevi, isso tem um grande impacto em mim. Para aqueles milhares de olhos, sou alguém, sou alguém que vale a pena que todos eles estejam tão atentos.  No palco, eu não sou eu mesmo. Sou muito mais. Renasço ali, me sinto mais vivo do que nunca fui antes. Quando estou no palco, sinto que é ali onde pertenço.

Suga: Ah... Sinceramente... Parando para pensar agora, esses dias eu estive tão preocupados com coisas não tão importantes assim que deixei de curtir o que mais me faz feliz. Sempre achei ridículo esses artistas que não se divertem quando se apresentam. Por pouco não me torno um deles. Obrigado por me lembrar de quem eu sou, Samantha.

Sam: Dessa vez, eu realmente não fiz nada! Estava tudo guardado dentro de você, só isso. Se você deve agradecer a alguém, agradeça a si mesmo!

Suga: Em todo caso, obrigado por me escutar (no caso, ler :P). Acho que só consegui falar tudo isso porque sei que você me entende.

Sam: Quer que eu faça mais perguntas?

Suga: Sim! Estou animado agora!

Sam: Como você vê as armys?

Suga: Eu sei que você vai rir de mim quando eu responder isso kkkkkk

Sam: Hã? Por quê?

Suga: Sei lá, eu sinto como se elas fossem mães (pervertidas).

Sam: WTF?

Suga: Eu disse! Kkkkkk

Sam: Explica melhor isso aí.

Suga: A parte de pervertidas é fácil de entender. No início, eu até me assustei com alguns comentários, mas hoje em dia eu só rio. E sobre a “mães”, é que elas se preocupam o tempo todo. Se estou triste, se estou doente, se estou machucado, qualquer coisa já é motivo para deixa-las preocupadas. A resposta é quase maternal. Elas fazem de tudo para eu me sentir feliz e bem. Mas, ao mesmo tempo, às vezes tenho a sensação de que elas precisam me deixar ir um pouco, para arriscar mais, quebrar a cara e aprender por conta própria. Por causa disso, eu realmente sinto como se tivesse três mães.

Sam: Três?

Suga: É! A minha mãe biológica, as armys e a minha vovó. Ela é muito especial para mim. Quando eu tinha acabado de nascer, minha mãe teve que ficar no hospital por um tempo por causa de complicações causadas pelo meu nascimento. Nesse momento, foi ela quem cuidou de mim. Até hoje ela é muito importante para mim.

Sam: Deve ser uma senhorinha amável.

Suga: E definitivamente é! É estranho falar assim da minha família. Fico me controlando nas entrevistas porque não quero me expor, muito menos expor a eles. Por mais que eu adore as armys, sei que tem gente muito louca por aí. Também não é bom sair falando de todos os problemas que tenho abertamente. Ainda quero guardar o pouquinho que me resta de privacidade.

Suga: Mas, é esquisito, eu confio em você. Os agentes e os outros membros ficam falando espalhando por aí que não devemos confiar plenamente em você por que você pode ser alguém ruim e vazar notícias para a mídia.

Pelo menos, ele é sincero.

Suga: No início, eu também estava pensando desse jeito, mas depois de tudo o que vi, eu confio no seu senso de honra. Você é honesta, eu acredito em você.

Sam: Obrigada, eu realmente não sei o que dizer.

Suga: Não precisa. Qual é a próxima pergunta?

Ele... confia em mim. Ele não tem nenhum motivo concreto para isso, fazem poucos dias que nos conhecemos pessoalmente, mas mesmo assim ele confia. Sinto meu corpo tomar seu calor de volta e um sorriso natural cismar de ficar no meu rosto. Por que mesmo que eu estava chorando antes?

Seu voto de confiança abre espaço para a minha mente se atrever a digitar essa certa pergunta. Releio antes de enviar. Não, melhor não. Contudo, quando vou apagar o que escrevi (merda!), acabo enviando.

Sam: Você considera as armys suas amigas?

Merda, merda, merda, merda. Que pergunta de merda é essa? Não tem como excluir? Ou desenviar? Ah... o que eu faço da minha vida agora?

Suga: Bem, de certa maneira, sim. Amigo é uma palavra importante para mim, não uso para qualquer um. Mas, de certa maneira, sim, as armys são minhas amigas.

Sam: Ah.

“Ah.”

Realmente, eu não podia pensar em algo melhor? Não tem nenhum buraco por perto para eu esconder a minha cabeça, tipo, PARA SEMPRE? Por favor, só muda de assunto, POR FAVOR!

Suga: Ah, como eu imaginei. Você estava se referindo a si mesma, não é? Se eu te considero uma amiga?

MERDA!!!!

De todos os momentos, por que a telepatia dele tem que funcionar justamente agora?!

Suga: É estranho usar a palavra amigo tão rápido.

Um pedaço do meu coração se despedaça, a parte que queria desesperadamente que ele dissesse que, sim, ele é meu amigo. Francamente, Sam, quem você pensa que é?! Vocês acabaram de se conhecer! Além do mais, ele é o Suga, um ídolo! Como você poderia ser amiga dele?

Suga: Não sou lá a pessoa mais sociável do mundo. Só converso com o pessoal da empresa porque estamos juntos há anos. E o Bangtan... bem, eles estão por perto mesmo quando eu não quero (e isso me deixa muito feliz). De alguma maneira, eu acho que os sete de nós se completam (só não conta isso para eles). Mas, estranhamente, você é mais fácil de se aproximar que os outros. Você é sempre muito sincera do tempo todo, então não tive que perder tempo com aquelas formalidades que a sociedade nos faz engolir. Em nenhum momento você escondeu quem realmente era e o que realmente pensava. É até estranho para mim usar a palavra amigo tão rápido, mas... Você é minha amiga.

Releio, releio e releio mais uma vez para ter certeza do que está escrito. Quase bato com a cabeça no teto durante o meu ataque de felicidade. Tenho que controlar meus gritinhos de histeria para não acordar a minha irmã. Mesmo assim, estou tão feliz! Primeiro, Jimin e J-Hope, agora Suga! Faz tanto tempo que não uso tão frequentemente a palavra amigo! Na minha boca, ela é mais deliciosa que qualquer doce, que qualquer pizza! Só quem passou tanto tempo sozinho sabe o valor da palavra amigo.

Sam: Obrigada, obrigada mesmo. Muito obrigada. Obrigada. Mesmo, mesmo, muito obrigada. Obrigada.

Suga: Você está comovida com isso, não é? Hehehe. Sabia que ficaria assim. É bom dar valor a essas coisas. Também fico feliz em ter mais uma amiga. Por mais que eu seja um ídolo, não é uma coisa que acontece todo dia comigo.

Suga: E então? Posso começar a fazer as MINHAS perguntas?

Sam: Hã?

Suga: Eu ia te ajudar também, lembra?                 

Sam: Ah, não precisa.

Suga: Mas eu quero. Pergunta número #1: Você está sentindo falta da gente?

Sam: “Não”...

Suga: Que seja. Eu também não estava sentindo a sua falta.

Sam: ...Eu estaria mentindo se dissesse isso. Por mais que eu não goste de falar essas coisas, sim, eu estou morrendo de saudades de vocês. Os corredores parecem estar vazios, sem vida. Só consigo conversar com a Hae Won, mas ela está sempre ocupada. Aí no almoço, os professores vêm sentar comigo porque mais ninguém fala comigo.

Suga: Estou até com pena de você.

Sam: Ei! Não é culpa minha! (Bem, é sim)

Sam: Mas é bem solitário. E o pior é voltar para o hotel tarde da noite. Eu já tenho medo do escuro e, na hora que eu estou voltando para cá, não tem mais ninguém nas ruas! Qualquer barulhinho e eu saio correndo! Eu moro de medo desse caminho da volta. Parece que vai surgir alguma coisa de cada esquina!

Suga: Ah... Então acho que fizemos a escolha certa.

Sam: Hã?

Suga: O Jimin ficou enchendo o saco a viagem toda dizendo que queria trazer alguma coisa para você daqui, mas não sabia o quê. Aí, o Jin hyung deu uma ideia que, na hora eu achei que não era boa, porém, pensando melhor, se encaixa bem com você. Espero que você cuide bem ele. Todo mundo se esforçou para esse presente!

Sam: Mas não precisava!

Suga: Nem adianta falar que não quer. É único no mundo, todo mundo personalizou o treco. Sem devoluções.

Sam: Obrigada.

Meus olhos voltam a ficar marejados, mas dessa vez é por saber que eles se importam tanto comigo. Isso é tão... tão... “Obrigada” é a única palavra que posso pensar.

Suga: Então vamos para a próxima pergunta! Por que você é fã do BTS?

Sam: Essa é clássica. Eu amo a música de vocês, como já disse antes. Ela sempre me faz pensar e me traz algo de novo. Vocês são carismáticos, legais e inspiradores. No entanto, eu acho que vocês têm um diferencial. Não apenas música (que já é bastante coisa), eu acredito que vocês podem mudar a maneira das pessoas pensarem. Eu acredito que vocês podem trazer uma Coreia melhor.

Suga: Eu... eu não quero te decepcionar. Mas talvez isso já seja demais para alguém como eu. Apesar de tudo, posso prometer que vou tentar. Também quero uma Coreia melhor, afinal, eu moro aqui. Obrigado, por tudo.

Sam: Eu que agradeço! Agora tenho inspiração para escrever a música! Já volto!

Suga: Ok. Se você tiver qualquer dúvida, precisar de ajuda ou simplesmente estiver com medo, pode mandar uma mensagem. Estou escrevendo também, então não vou dormir tão cedo.

Sam: Obrigada!

Suga: Que mania estranha que você tem de agradecer qualquer coisa!

Sam: Somos dois!

O sorriso permanece no meu rosto mesmo quando escrevo a música. Todas as palavras fluem tão facilmente pelos meus dedos! Poucos acertos e já está pronto! Nem sei se o tempo que passou rápido ou fui eu que me diverti tanto escrevendo!

Mando os versos prontos para o Yoongi para ver se está bom o suficiente. Ele aprova e eu finalmente posso me ajeitar na cama para dormir. Estou tão cansada, mas tão feliz. Sinto todas as minhas energias renovadas. Já aconchegada entre as cobertas, envio a última mensagem:

Sam: Boa noite.

Não custa muito e caio num sono profundo. Enquanto isso, o celular em minha mão anuncia uma nova mensagem:

“Boa noite”.


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