Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 15
Verso 14: Outro - Does that make sense?




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– Não foi nada demais. – Stella traduz para mim. – Tem alguns cortes mais profundos aí, mas nada que precise de ponto. Por enquanto, deixe enfaixado para não esbarrar ou infectar, porém, sempre que der, deixe o machucado descoberto, vai cicatrizar. E também tem alguns nomes complicados de umas pomadas aí que ele falou. Está escrito na receita de qualquer forma.

– Ufa! Ainda bem que você não se machucou tanto. Eu ia me odiar se você tivesse que levar ponto porque eu deixei você continuar a jogar. - Jin se encolhe um pouco.

– Não precisa se preocupar. – eu odeio vê-lo assim. – Foi escolha minha continuar lá. Olha só! Estou perfeitamente bem! – balanço meu braço pra frente e para trás, a fim de mostrar que não foi nada demais.

Meu deus! Deu muita merda! Agora está doendo tanto que nem dá para disfarçar! O máximo que consigo fazer é exagerar um pouco mais, talvez eu arranque alguma risada deles. E deu certo. Para eles, não para mim.

– Você é um jegue, Sam! – Stella, ao contrário do Jin, nem tenta disfarçar o quanto está se divertindo com aquilo.

– Acho melhor alguém imobilizar esse braço! Ou você vai acabar precisando levar ponto mesmo! – Jin já ri como uma criança a essa altura.

Eu sou uma idiota mesmo. Mas isso tem lá suas vantagens.

Depois de termos passado na farmácia (eu comprando remédio sozinha daria uma cena digna de filme de comédia), nós voltamos para a empresa. Tudo correria bem se...

– Que barulho é esse? – Jin se assusta.

... Meu estômago não roncasse bem no caminho.

– Você está com fome, Sam?

– Eu... Sabe... – pigarreio. – Acabei esquecendo de almoçar. Eu fiquei muito ansiosa com a partida de basquete...

Jin finca seus pés no chão. Stella nem percebe, continua para o infinito e além...

– E o café da manhã?

– Também não tomei. – sussurro, como medo de sua reação.

Talvez se o Batman com um sabre de luz surfando num tiranossauro rex aparecesse aqui, ele ficaria menos chocado.

– Você está se sentido bem? Quer que eu ligue para uma ambulância. Alguém aguentar tanto tempo sem comer pode ser o sintoma de uma doença grave... Comida é vida!

– Ei, vocês dois! O que vocês estão fazendo aqui? Eu já estava quase atravessando quando percebi que vocês não estavam comigo. – parece que a Stella finalmente se tocou que a gente ficou para trás.

– Stella! É um caso de vida ou morte! Essa garota não comeu desde de manhã! Vamos achar um restaurante antes que ela morra!

– Vocês estão exagerando...

E nem me dão atenção... Eles só continuam a me empurrar na direção do restaurante mais próximo.

– Ei, ei, ei! Esperem! Eu não sei comer com chopsticks!

– Sério? – ele está genuinamente surpreso, não está sendo um dia fácil para o pobre Jin. – Mas é tão fácil!

– Isso é um problema... – finalmente a Stella me ouve! – Tive uma ideia! Vamos comer comida brasileira!

– Boa! – Jin concorda, um tanto receoso. – ... Só tem uma coisa: eu não conheço nenhum restaurante assim por aqui. E você?

– Também não...

– Se vocês me ajudarem, cozinho. Que tal?

– Perfeito! Eu estou morrendo de saudades de um brigadeiro.

– Desculpa por causar problemas para vocês. – Eu devo estar parecendo uma criança inútil que nem consegue comer sozinha agora. – Eu realmente tenho dificuldade em comer com chopsticks.

– Desculpa? Por quê? Eu vou experimentar comida brasileira! Eu que deveria agradecer, Sam! Quando quiser, eu posso te ensinar a comer com chopsticks. Não é tão difícil quanto parece.

E é nessa hora que eu pergunto: como é que alguém consegue ser tão legal com os outros? O Jin deve ser algum tipo de espírito elevado, só pode.

– Mas você não vai continuar com fome, Sam? – Stella percebe a falha no nosso plano infalível. – Vai demorar um pouco para o brigadeiro ficar pronto.

– Sem problemas, eu faço um sanduíche para você. Não é o ideal, mas serve.

– Obrigada, Jin! E então algum de vocês sabe como fazer brigadeiro?

– Não. – Foi um perfeito uníssono.

Durante o caminho, procuramos uma receita na internet e compramos os ingredientes. Resolvemos fazer comida para todo mundo, assim não vai ter gordo reclamando que foi excluído.

– Tem certeza que nós podemos fazer isso no refeitório da Big Hit?

– Claro! Desde que... você sabe, – ele pigarreia, desconfortável – ocorreu aquele incidente nos dormitórios, eu acho mais seguro cozinhar aqui.

Ah, é, eu lembro. Como uma foto em que uma camisinha aparece no fundo pôde causar tanta polêmica? Isso não faz sentido. O pior é que ele se preocupa com esse tipo de coisa...

– Ok, eu confio em você. Só não quero que, se a gente explodir isso daqui, o dinheiro saia do meu bolso.

Cozinhar é um dom. Isso está nítido para mim agora. Os cheiros dos ingredientes se misturando, a textura dos respingos de massa na minha mão, de repente tudo parece arte. Não costumo cozinhar (com o meu talento, eu poderia queimar água), mas quando tento, sinto esse sentimento doce tomar conta de mim. Acho que endento como o BTS conseguiu fazer uma música sobre comida agora. Há beleza nisso.

Jin toma as rédeas da cozinha. Antes que eu estrague todo o esforço dele, me retenho a apenas misturar os ingredientes. A princípio, a Stella até ajudou, mas ela acabou se perdendo em meio às receitas no site, revivendo cada refeição típica de seu país natal já provou.

– Ah, cara! Pão de queijo! Quanta saudade! Eu comia isso de lanche! Arroz com feijão! Era isso todos os dias! Como é que eu não enjoei disso? A minha mãe ficava um tempão na cozinha preparando isso. Em compensação, durava a semana toda. E, se eu não comesse, era uma briga daquelas! Têm pessoas passando fome e blá, blá, blá.

Do tom saudosista em que falava, Stella foi para um entrecortado por respirações rápidas, desesperadas. Cada palavra doía ao sair, mas contê-las não dava. A cada memória que voltava sua mente, um batimento cardíaco era pulado.

– E teve aquele aniversário meu. As minhas amigas do colégio foram lá para casa. Elas ficariam comigo a tarde dançando, cantando, fofocando sobre qualquer coisa minimamente interessante. Nós paramos de nos falar depois de um tempo. Só que o que mais me marcou naquele dia foi o strogonoff de frango que comemos no almoço. Mamãe ficou a manhã toda fazendo. Todos estavam comendo e conversando. A Mari, a Clarisse, a Bia, a minha irmã, a minha mãe, o meu pai, até mesmo meus avós foram ao Brasil para a data. Foi um dia feliz.

Jin e eu desaceleramos o que estávamos fazendo a cada palavra. Era uma memória feliz, por que sua voz era tão sofrida? Se a história fosse um pouco mais longa, duvido se sua barragem seguraria o dilúvio que viria. O silêncio rouba todas as nossas falas, sem querer constrangendo Stella por sua demonstração de tristeza não calculada.

– Eu acho que nós deveríamos fazer mais um prato. Brigadeiro só não enche o bucho de ninguém – ela tenta disfarçar, sem jeito. – Já sei! Vamos fazer um pavê!

Ela remexe inquietantemente no celular até achar a receita que procurava.

– Aqui! – Ela vira o celular para a gente. – Vão dando uma olhada na receita enquanto eu compro os ingredientes. Já volto!

E ela põe o seu plano de fuga em prática. Nunca vi alguém correr tanto para comprar ovos.

Jin apenas continua a cozinhar em silêncio, e eu o imito. A tensão continua mesmo depois de ela sair. O som só volta ao cômodo quando Jin se pronuncia:

– Nunca entendi muito bem a relação da Stella com a família. O Jungkookie nunca fala nada sobre isso.

– Era por isso que ele estava assim no jogo hoje?

– Talvez. Você percebeu também, né? Eu não deveria estar te falando isso, mas depois do que aconteceu hoje, eu sinto que você já foi arrastada para o meio dessa confusão. Foi mal por isso.

– Não foi culpa sua. Eu tenho esse dom para me meter aonde não sou chamada. Os dois se gostam, né? Por que eles não ficam juntos?

– Eu sei lá! Se fosse pelo Jungkookie, eles já estariam até casados a essa altura! Aquele garoto pensa que me engana! Está tão estampado na cara dele que todos os membros (e mais alguns staffs) já perceberam. Talvez ele não queira namorar com ela agora por medo da reação dos fãs quando eles descobrirem, mas, do jeito que ele está agora, ele não deve nem ligar para isso.

– Eu tenho percebido que a Stella está meio estranha. Eu não a conheço por muito tempo, mas dá para perceber uma nuvenzinha negra trovoando sobre a cabeça dela de vez em quando. – digo, seguido de onomatopeias da trovoadas e mímicas de raios.

– Suas analogias são tão fofas! – Ele ri. – Como você consegue fazer uma coisa tão triste como essa ficar tão fofinha? Voltando ao assunto, ela está realmente estranha ultimamente. Ela sempre foi tão feliz, ou pelo menos parecia ser. O Jungkookie também está meio para baixo esses dias. E, sabe como é, o Bangtan é como uma máquina: se uma engrenagem falha, todas as outras são afetadas. Todo mundo está meio instável. Estou fazendo o possível para mudar isso, mas é difícil, muito difícil. Desculpa! Eu não deveria estar te falando isso! Finja que não escutou, ok?

– Não se preocupe, eu vou te ajudar. E não vou contar para ninguém.

– Obrigado, Sam.

O clima fica mais amigável e continuamos a preparar o brigadeiro. Enquanto isso, o Jin puxa assunto:

– Nossa, parece que foi ontem que a Stella chegou aqui. Ela era toda timidazinha, não falava com ninguém, nem parece com essa criatura que não respeita os mais velhos de hoje em dia. Acho que o Jungkookie simpatizou com ela porque ele foi logo puxar assunto. E puft! De uma hora para a outra ela já estava seguindo ele! Só que isso não durou muito e quando ela começou a se enturmar com as garotas do grupo dela a situação mudou. Agora, é o Jungkookie quem gruda nela como um carrapato.

– Uau. Eu não consigo imaginar a Stella seguindo alguém, muito menos tímida.

– Era um país totalmente novo, dá um desconto.

– Ok, ok – passo com a mistura perto dele e sem quere sujo seu braço.

– Ei! – Ele passa o dedo na beirada respingada de chocolate do pote e suja o meu braço.

– Vai ser assim, é? – Repito seu movimento ao sujar sua bochecha.

E a Terceira Guerra Mundial começou. Literalmente, choveu pingos de chocolate pela cozinha. Nós dois estamos cobertos de chocolate da cabeça aos pés, mas, por algum tipo de milagre, a mistura que o pessoal vai comer está intacta. Só cesso ataque quando Jin estende a bandeira branca:

– Trégua!

Ele passa a língua pelos lábios, pondera sobre o gosto e conclui:

– É muito bom! É muito bom mesmo!

Jin liga o fogão para terminar a sobremesa. Prefiro manter distância, antes que tenha prédio assado para o jantar. Só sento perto de uma quina qualquer, observando-o do chão. De repente, o sono de todas as noites mal dormidas vem voltando, e ataca a mim. Estou quase presa nas garras de meu predador quando o celular que a Stella esqueceu aqui começa a vibrar.

Não atendo a ligação, claro, mas, no final, a minha curiosidade vence e eu checo suas constantes mensagens:

“De: Pessoa Irritante

Deixa de ser babaca, Stella. O papai está doente! Vem logo para cá! Seu trabalho é mais importante que a sua família? ”

“De: Pessoa Irritante

Eu sei que você está com raiva, mas o papai quer muito te ver. Ele fica dizendo bobagens como ‘eu não quero morrer sem ver a minha filha’. Você não tem ideia do estado do velho. Você só precisa vir para casa! Eu tenho certeza que ele vai melhorar na hora. ”

“De: Pessoa Irritante

Quer saber? Foda-se! Eu não esperava bom senso vindo de você de qualquer maneira. Ele te criou e é assim que você agradece?! Se fosse por mim, nós ficávamos muito melhor sem você por perto, mas ele fica chamando o seu nome toda a hora. Viva com a culpa do sofrimento e da morte do nosso pai na sua consciência! ”

Largo o celular assim que termino de ler a terceira mensagem. Eu não deveria ter lido isso. Eu não li nada. Eu não sei de nada.

Durmo após alguns minutos. E tenho pesadelos horríveis sobre pais assombrando filhas.


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