Dear Diary, escrita por LiKaHua


Capítulo 3
Capítulo 3 — Será que se respira no paraíso, ou no inferno?


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Bom, tenho que dizer que fiquei muito feliz com os comentários de vocês nos primeiros capítulos da história! Obrigada mesmo pela chance! Quando a Cauane postou a foto no grupo eu sabia que a história seria clichê e é algo que eu gosto muito, então, quem abriu já sabia que o tema era esse. Hoje eu só vou conseguir postar o capítulo da Ellen, já está bem tarde e eu tenho faculdade amanhã. Mas prometo que posto o do Michael amanhã sem falta!



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Querido diário,

O primeiro dia de aula foi bem o que eu esperava dele, um monte de pessoas desfilando suas roupas novas de “veja, comprei isso no bucks”, o que não faz nenhum sentido porque por aqui todo mundo compra roupas no bucks. Os corredores estavam assustadoramente cheios, me causou um pouco da fobia que sinto todo ano, a sensação de estar sufocando, de que a qualquer momento todo mundo ia passar por cima de você e te matar pisoteado, mas eu respirei fundo, umas quatro vezes, e consegui superar. É o último ano do colegial e sempre que penso nisso me motivo para continuar firme, porque logo eu vou para faculdade, logo as coisas vão melhorar. Eu já tenho nota suficiente para ir para Nova Iorque, mas a verdade é que quero ir para Harvard ou Penny State, então, preciso estudar um pouco mais. O que para mim não vai ser muito difícil, estudar sempre me mantêm longe dessa realidade esquisita que é a escola.

Já parou para pensar que a escola é como um universo paralelo? Tecnicamente você precisaria se preparar para uma boa faculdade e conseguir se inserir na sociedade, mas quando paramos para analisar só o que realmente importa lá é com quem você transou na última festa, de onde vem a bolsa cara que a patricinha comprou ou quanto de bíceps um cara precisa para chamar atenção suficiente, não que Michael tenha problemas com isso, ele é o “Hércules” deles, então não havia como alguém tirar o posto dele, mesmo que muitos tentassem. Mas, pode ser só impressão minha, eu não acho que Michael goste da sua popularidade, embora isso pareça ridículo, quem não gostaria de ser uma estrela? Bem, talvez eu não... não saberia como lidar com toda aquela atenção que eu não saberia se era verdadeira ou não. A cerimônia de início do ano letivo é feita para acolher os calouros na frente dos professores, mas não impede que eles sejam vítimas do famoso trote dos veteranos, a menos, é claro, que você seja invisível, que você consiga passar despercebido enquanto todos os outros são obrigados a correr pelos corredores vestindo apenas camisetas brancas molhadas e a roupa de baixo. Acho que eu nunca vou entender para quem isso realmente tem graça, sempre que presencio esses rituais ridículos perco completamente a fé no bom senso humano, ou sequer consigo acreditar que aqueles veteranos tem algum neurônio funcionando realmente.

Michael nunca participa dos trotes. Acho que ele sabe que é uma estupidez, principalmente porque ele não escapou do trote dele. Eu posso dizer que tive sorte. Minha primeira aula foi de inglês avançado, meu professor, o senhor Cadman, era um careca gordo, mas pelo menos tinha um senso de humor bom, o primeiro livro que vamos trabalhar é o complexo Folhas de Relva de Walt Whitman. Lembro que já li esse livro por curiosidade no primeiro ano, vai ser um semestre difícil. Nas duas aulas de álgebra III, no segundo tempo, eu encontrei Michael novamente, ele sentou quase ao meu lado, mas algumas carteiras à frente. De onde eu estava eu conseguia vê-lo resolvendo as equações sem muito entusiasmo, como se aquilo fosse a coisa mais fácil do mundo, eu ainda me perguntava como ele conseguia, os outros jogadores eram seu total oposto, ainda estavam em matemática I ou pelo menos, na final das outras 2 matemáticas. Michael fazia aquilo parecer uma diversão, o que me fazia não entender o problema dele com química, que era onde eu realmente me divertia. Quando entrei na sala de química, nos dois tempos seguidos, quase não acreditei que ele estava lá, na carteira do final, olhando desanimado para o erlenmeyer à sua frente enquanto tentava introduzir a bureta pelo orifício, quase ri daquilo, será que ele tinha alguma ideia do que estava fazendo? Não percebi que estava parada como uma idiota olhando para ele e atrapalhando o trânsito da porta até Vanessa Clarke mandar eu “me mexer”. Aquilo pareceu ter sido suficiente para atrair a atenção de Michael que, por bem pouco, não quebrou o becker que estava ao lado do seu braço.

Por um segundo, pareceu que ele realmente me viu, mas eu sei que foi alguma alucinação da minha cabeça. Vanessa foi ao encontro dele e ocupou o lugar da bancada, tentando chamar a atenção dele, parei de olhar nesse momento e tomei meu velho assento junto a Janine que me sorriu. Ainda estava sob a emoção de ter dois horários seguidos com Michael, matemática e química. Quando o senhor Perk entrou na sala olhou em volta como se tivesse algo profundamente errado conosco. Arrisquei olhar à minha volta e, tirando alguns calouros, não vi nada demais ou fora do lugar. Foi quando ele falou “Tudo bem, pessoal, vamos fazer uma mudança por aqui a partir de hoje.” A tal mudança consistia em deixar um aluno com dificuldades na matéria, seguindo o padrão de notas passadas, com um aluno de melhor nota. Dessa forma, ele me colocou para sentar ao lado de Michael e Janine para cuidar de Vanessa, por bem pouco eu não tive um colapso e disse a ele que era um mal entendido, que eu realmente não podia ser parceira de laboratório de Michael. Mas tudo que ouvi foi um “Ellen? Por favor, tome seu novo lugar, preciso começar a aula.” Não faríamos nada nesse primeiro dia porque as aulas seriam reduzidas pelo jogo de abertura da cerimônia.

Me lembro de ter forçado minhas pernas a caminharem até ele, de sentar ao lado dele o mais distante que pudesse e não olhá-lo. Ele não me cumprimentou também, por que faria isso, era só eu, a nerd estranha. Ele era o capitão do time, a estrela da escola. Ficamos ali, em um silêncio incômodo e sob os olhares mortais de Vanessa. A voz do professor soava tão distante que tudo que eu conseguia realmente ouvir era o som do meu coração ecoando nos ouvidos como se estivesse batendo na minha cabeça, é uma maneira nada científica de explicar, mas acho que você fica assim, meio tolo, quando passa por algo assim. Quer dizer, quais são as chances de isso acontecer na vida real? Pela visão periférica eu percebi que Michael estava tão desconfortável com aquilo quanto eu. Pela primeira vez desde que entrei no colegial, eu não consegui prestar atenção em nada dito pelo professor. Quando menos esperei, o sinal bateu e levantei apressada, quase correndo para sair da sala, todos os alunos deveriam ver o jogo de abertura do início do ano, mas eu não queria ir, embora sempre que pensasse em ver Michael jogar ficasse tentada a ir. Estava me sentindo uma idiota. O corredor começou a encher, fiquei enjoada e, quando olhei para trás, meu olhar deu de encontro com o dele, diário, acho que estou ficando louca, mas por um momento todo mundo no corredor pareceu desaparecer e era como se ele olhasse diretamente para mim, o mundo girou quando eu procurei o banheiro o mais rápido que consegui me mexer, no momento em que molhei o rosto e repeti para mim mesma doze mil vezes que estava tudo bem, ao ponto de eu acreditar nisso, saí novamente para o corredor e ouvi o barulho de gritos vindos do campo. Todo o corredor estava vazio.

Posso te dizer que finalmente criei coragem para ver o jogo, mas não fiquei nas arquibancadas junto com todas as outras pessoas, escolhi um canto mais discreto, perto da grade de proteção. As líderes de torcida faziam sua dança de animação que, no meu ponto de vista, não animava nada, e eu me perguntava o que estava fazendo ali, havia apenas gritos, vendedores de batatinha e refrigerante e música ruim nos alto falantes. Estava quase para ir embora quando ele finalmente entrou em campo, junto do resto do time. Pais, alunos, professores, todos estavam ali misturados e unidos com o mesmo proposito: torcer. Me perguntava se o pai de Michael estava orgulhoso do filho naquele momento, se estava ansioso para vê-lo vencer o jogo com a mesma facilidade com que o fazia sempre. E, no meio do campo, senti novamente aquele encontro de olhares imaginário, foi quando Michael chutou a bola, ela cruzou o campo e golpeou a rede sem dó. Os gritos das arquibancadas fizeram minha cabeça doer, mas o olhar... eu queria acreditar que ele estava lá. Então fui embora, o mais rápido que consegui. Era melhor não ficar me enganando daquele jeito.

Cheguei em casa no início da noite, meu pai estava bem, mamãe e ele viam TV e mamãe me disse que havia comida no micro-ondas, não disse nada, apenas subi para o meu quarto e passei o resto da noite tentando entender as pessoas, tentando entender a minha mãe e o meu pai. Tentando entender o Michael e a dinâmica do universo, talvez não houvesse uma ligação que explicasse isso ou mesmo um teorema. Talvez, as pessoas só fossem o que eram sem nenhuma explicação. Então, porque elas machucavam tanto? Por que sentir machucava daquela forma?

Não quero ir à escola amanhã. Não tenho escolha. Será que dá para apressar as horas?

Ellen.


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Notas finais do capítulo

Então, o que estão achando? Curiosos para saber o que Michael achou de tudo isso? Vejo vocês amanhã!