Dear Diary, escrita por LiKaHua


Capítulo 13
Capítulo 13 — Não tenha medo


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas!
Segurem seus forninhos o/ o penúltimo capítulo de Dear Diary tá prometendo emoções *U*
Quero aproveitar pra agradecer aos lindos que recomendaram a história: A Mikawaii (kawaii mesmo *-*), o Storm Knight e a Bethaz, eu fiquei feliz e emocionada com essas palavras de carinho de vocês! Muito, muito obrigada! Amanhã tem capítulo final da história!
Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/648645/chapter/13

Querido Diário,

Recuperar as notas dos testes não foi nada fácil, passamos muito tempo estudando juntos ainda no hospital, por causa da minha condição física e das condições psicológicas de Ellen, a escola nos concedeu um parêntese. Acho até que facilitaram as coisas pra gente, mas ainda assim, nos esforçamos muito, Ellen me ajudou bastante, principalmente nas matérias que eu tinha mais dificuldade, era tão bom ter ela por perto, ouvir sua voz, sentir o cheiro do seu perfume, ver como ela sorria sem jeito quando percebia que eu estava olhando... me sinto um tolo apaixonado.

Recebi alta há dois meses já, passamos no vestibular da faculdade que combinamos, estou animado com isso, vamos fazer as matrículas daqui a duas semanas, sempre que penso que não vamos precisar ficar longe um do outro sou invadido por uma felicidade terna, tão grande que eu sinto que não cabe dentro de mim, decidi cursar direito, Ellen vai fazer bioquímica, ela realmente gosta disso, estou tão orgulhoso dela. Quando saí do hospital ela me visitava todos os dias em casa, meus pais se acostumaram a presença dela e eu me senti feliz por isso, fomos nos adaptando aos defeitos um do outro, as manias e fazíamos com que cada um deles fosse divertido, pois sabemos que é isso que nos torna especial. E eu amo a Ellen, a sua mania de querer fazer toda e qualquer experiência que a faça entender como as coisas funcionam, que lê os rótulos de todos os líquidos que bebe e faz a estruturação dos compostos, que é totalmente apaixonada por hidrocarbonetos — já disse a ela pra não me deixar com ciúmes —, que ouve música enquanto lê e, às vezes, tem que reler o parágrafo porque parou para cantar sua parte favorita. Que dorme em cima do caderno de anotações e tem o péssimo hábito de deixar as coisas espalhadas por todo lugar; e cada uma dessas coisas só me faz amá-la ainda mais.

Em contrapartida ela atura minha mania de deixar a toalha molhada em cima da cama, de não abaixar a tampa do vaso depois de usar, de ficar totalmente desatento quando ela está tentando me explicar reações, porque eu fico bobo com o quanto ela é linda e inteligente, de trocar de música bem quando chega o refrão que ela gosta só pra ver ela com raiva — porque fica uma gracinha —, o jeito que eu fico chato quando estou lendo mangá e ela quer conversar sobre a reação do detergente com o óleo, mas que acaba me fazendo rir por ver seu entusiasmo com uma coisa tão boba. A mania que eu tenho de ser teimoso mesmo quando estou errado, e sei que, assim como eu, ela também consegue amar cada um desses defeitos. As coisas com meus pais também melhoraram muito, minha mãe tem dosado bem o trabalho e agora passa mais tempo em casa, tenho visto como isso tem sido positivo em Charlie e também para o meu pai — sinceramente, acho que o mau humor dele era falta de sexo, fico feliz de saber que ele não ficava transando por aí como eu pensava —, sempre que olho pra Ellen e me lembro disso, eu a agradeço novamente por ter mudado a minha vida, tornado tudo melhor. Ela sempre diz que não fez nada e que é ela que tem que me agradecer, mas antes que ela termine a frase eu a beijo e digo com gestos o que as palavras são incapazes de traduzir.

Eu a acompanhei no dia do julgamento do pai, não foi fácil pra ela, por um momento temi que ela ficasse em choque de novo, mas não, ela se saiu muito bem e, novamente, eu fiquei muito orgulhoso. Também depus, e por um lado foi muito bom poder sentir na pele a sensação de estar em um julgamento, mesmo que como vítima, foi quando eu percebi que era o que eu queria fazer, levar justiça a pessoas como a mulher que eu amava, não permitir que ninguém, nunca mais, a machucasse de novo. Eu sabia que não seria fácil, mas eu me dedicaria com tudo que eu pudesse. O pai de Ellen foi condenado a 20 anos por tentativa de homicídio, mais 15 por maus tratos à esposa e 25 por maus tratos a menor (porque Ellen ainda não tinha 18 anos), totalizando 60 anos de prisão em regime fechado, o advogado dele disse que contestaria a sentença, mas pelas marcas no corpo de Ellen e da mãe dela e pelo estado que a polícia me encontrou eu achava pouco provável que ele conseguisse alguma coisa, e estava feliz em saber disso, dessa forma, Ellen e a mãe poderiam viver em paz e sem medo de serem perseguidas ou ameaçadas.

Eu não tenho escrito muito em você nesses dias porque quero aproveitar cada momento com ela, e porque estávamos estudando duramente para o vestibular e, quando não estávamos, eu sempre preferia dizer a ela tudo que sentia, mas não se sinta mal, diário, ou mesmo excluído, é que quando a gente encontra a pessoa certa quer contar pra ela até o mínimo pensamento, eu não tenho mais nada pra guardar, nada que eu sinta que precise esconder, porque ao lado da Ellen eu me sinto bem, eu mesmo, vivo... Mas, como última recordação, eu queria guardar aqui um dos momentos mais especiais da minha vida e da nossa relação.

Faz uma semana. Nós marcamos de sair para uma propriedade do meu tio avô, que agora era administrada pelo meu tio mais velho, Jonathan. Ficava no campo, era um lugar belíssimo e eu queria muito mostra-lo a Ellen, eu estava tão apaixonado que havia decidido que ali seria o lugar onde nos casaríamos, em meio à natureza, numa das criações mais belas de Deus. Ela estava atrasada. Eu estava esperando na sala, com a mãe dela que além de já estar habituada à minha presença, parecia feliz com a nossa relação e aquilo só me fazia mais feliz.

— Acho que não tive a chance de agradecer corretamente por tudo que fez por nós, Michael, de verdade, obrigada! — Disse ela, com um sorriso emocionado.

— A senhora me agradeceu há muito tempo sem saber, senhora... É graças a senhora que a Ellen existe e sou eu que nunca vou conseguir agradecê-la por essa dádiva tão perfeita na minha vida.

O sorriso dela foi de uma singeleza tão grande, tão lindo que ela não precisou dizer mais nada, falou com aquele sorriso. Antes que mais palavras fossem ditas, Ellen desceu com a mochila que parecia pesada, levantei prontamente e a tirei do ombro dela que me sorriu dando um beijo rápido no meu rosto. Nos despedimos da mãe dela e seguimos viagem de carro, passaríamos o fim de semana lá, meu tio era uma pessoa muito divertida e casado com um homem muito legal, tinham adotado um filho de um ano há alguns meses, chamava-se Edward, de toda a minha família materna, era o tio que eu mais gostava.

— Seus avós aceitaram numa boa a escolha do seu tio? — Ela me perguntou enquanto seguíamos.

— De início não, principalmente o meu avô que é meio que como meu pai, afinal, que pais levam numa boa a ideia de um filho gay? — Respondi. — Mas com o tempo se acostumaram, e o marido dele, o Andy, é um cara legal. Eu, particularmente, nunca vi problema nisso, afinal, é a escolha de cada um. Se eu pudesse escolher você em todas as vidas que eu tivesse escolheria, e tenho certeza que o meu tio faria o mesmo com o Andy, então, meio que entendo ele agora.

Ela não disse nada, mas quando a olhei por um segundo, vi que estava sorrindo e aquilo me fez amá-la ainda mais. Chegamos na propriedade no fim da tarde, meu tio Jonny e o Andy nos receberam muito bem e o pequeno Edward adorou o colo da Ellen, sei que é maluquice, mas novamente a imaginei com um filho nosso. Sempre parece que estou apressando as coisas, mas não consigo evitar pensar que eu e Ellen ficaremos juntos pra sempre, não quero evitar. Naquela noite, depois do jantar, meus tios — isso porque considero o Andy como tal — nos disseram que no dia seguinte seria melhor para começarmos a conhecer a propriedade, uma vez que estávamos cansados da viagem. Concordamos. Ellen e eu ficamos em quartos próximos no andar de baixo da casa, onde ficavam os quartos de hóspedes, era até melhor para a privacidade dos meus tios, como eu não estava cansado demais, peguei um livro qualquer na estante e comecei a ler, quando segundos depois alguém bateu na porta:

— Michael? — Sussurrou a voz de Ellen.

— Entre.

Ela apareceu no quarto vestindo um hobby de cetim branco, os cabelos presos com um elástico e parecia cansada.

— Pensei que estava dormindo, fiquei com medo de te assustar.

— Não tava não, tá tudo bem?

— Tá sim, só não consigo dormir... é a primeira vez que passo a noite fora de casa, sem contar o hospital, então é meio estranho.

Sorri. Ela era tão fofa que cada vez que eu a via me apaixonava de novo.

— Vem cá, vamos conversar um pouquinho, se você dormir eu te levo pro quarto.

Ela se aproximou de mim e eu a abracei, era tão natural nós dois ali, sentados juntos na cama, imaginei que fôssemos casados e que noites como aquela eram rotineiras, mas nunca cansativas, porque eu não me imaginava cansado de olhá-la, de ouvir sua voz, de sentir o cheiro do seu perfume... Ellen me dava tudo quando sorria, tudo que eu precisava para viver.

— Animada com a faculdade?

— Um pouco receosa... — confessou — só não estou mais porque sei que você vai estar por perto.

— E serei advogado, vou prender todo mundo que te encher o saco ou ficar paquerando você. — Brinquei.

— Você vai ser advogado, não policial. — Ela sorriu e eu me derreti todo.

— Ora advogados também mandam os outros pra cadeia. — Resmunguei. — Principalmente se eles ficarem dando em cima da minha noiva.

— Noiva? — Ela me olhou, surpresa. — Quando foi que evoluímos assim?

Ela deu uma leve risada e eu levantei, caminhei até a mala e tirei de dentro um livro, entregando a ela.

— Eu ia te dar isso amanhã, lá no campo de flores, é um lugar muito bonito, mas já que tocou no assunto agora...

— Michael... isso não é...

— Abre.

Era meu exemplar velho de I Wrote this for you, tinha um anel em uma das páginas marcadas, eu tinha comprado com a minha mãe duas semanas antes da viagem. Podia estar me precipitando, mas não queria esperar mais, queria oficializar o máximo que desse a nossa relação, terminaríamos a faculdade e depois, quando nos estabilizássemos, casaríamos. Vi quando Ellen olhou estática o anel na página aberta, uma lágrima pingou na página onde estava o marcador de texto na frase: Todos nós precisamos acreditar em filmes, às vezes. Eu sabia que ela ia entender.

— Sei que é meio precipitado, que a gente ainda tem muita coisa pela frente, mas eu não tenho mais dúvidas, não tenho mais dúvidas de que eu quero ficar com você o resto da minha vida. Não precisa ser agora, a gente pode terminar a faculdade, arrumar um emprego e ajeitar nossa vida devagar, desde que eu fique com você, não importa o quanto vai ser difícil, se você estiver comigo, eu enfrento qualquer coisa. Então... quer casar comigo?

Ela ficou em silêncio um momento, as lágrimas pingando na página do livro, os olhos fixos na frase grifada, vi quando ela ergueu a mão e levou ao braço na intenção de se beliscar, mas eu a detive, sabia como a pele dela era frágil, machucava e marcava com facilidade.

— Não, amor... — ergui o rosto dela e fitei seus olhos aquosos. — Não é um sonho. Eu te garanto. — Segurei a mão dela e coloquei o anel. — Agora não tem mais volta, vai ter que dizer sim.

— Ah, Michael... claro que é sim!

Nos abraçamos bem forte e nesse momento eu chorei de alegria, não imaginava que podia me sentir mais feliz que aquilo, eu a beijei e por um momento esqueci de todo o resto do mundo, de onde estávamos, do que seria de nós dali vinte e quatro horas, de tudo, só havia ela, eu e aquele momento, aquele beijo, aquelas palavras de amor que não precisavam ser ditas, que eram mostradas. Comecei a sentir uma necessidade de tocá-la, de toma-la pra mim e acho que isso é normal de todo homem, a gente sempre quer mais quando ama. Minha mão deslizou puxando o laço do hobby dela e senti seu corpo estremecer, parei de beijá-la e a olhei, foi como se toda a realidade tivesse voltado com violência sobre mim.

— Tudo bem? — Ela assentiu, mas ainda assim me senti culpado. — Rápido demais?

— Não... é só que...

— Não tenha medo, amor... eu não vou machucar você. — Acariciei o rosto dela. — Mas se não estiver pronta, eu posso esperar, eu sempre vou esperar por você.

Ela não respondeu, apenas sorriu e passou a mão entre os meus cabelos, voltei a beijá-la e, naquele momento, todo o mundo desapareceu novamente eu tirei o hobby, e ela não me parou, baixei a alça da camisola que ela usava e ainda assim ela não me deteve. Tentei fazer tudo com o máximo de cuidado, para que em nenhum momento ela se sentisse desconfortável, sabia que aquilo era tão novo pra ela quanto era pra mim, confesso que tudo que eu sabia sobre sexo vinha do meu vício adolescente por site pornô — que eu parei de ver depois que começamos a namorar, só pra constar. — e quando a despi até a cintura, parei para olhá-la, ela se cobriu com os braços e entendi porque, a pele frágil dela era quase toda coberta por hematomas, alguns suaves por serem mais antigos, outros um pouco recentes de até um pouco antes do pai ser preso, havia arranhões, cortes, marcas esverdeadas, roxas, algumas queimaduras pequenas, quando olhei pra ela, vi que escorreu uma lágrima pelo seu rosto.

— Shh... não precisa se esconder de mim, Ellen... — Eu a acalmei. — Você é linda, isso é parte de quem você é, são as cicatrizes da sua vitória, e eu nunca vou permitir que ninguém machuque você de novo, como eu não vou te machucar. — Deslizei os dedos sobre as manchas e cicatrizes e as beijei, devagar. — Essas marcas não me causam repulsa como deve estar pensando, elas só me fazem te amar mais, querer te proteger mais. Não se envergonhe delas, são a prova de que você foi mais forte, de que você venceu.

Quando voltei a beijá-la ela me abraçou retribuindo o meu toque com tanta devoção que me senti um escravo de sua beleza, de sua singularidade, do seu coração. Eu faria qualquer coisa, qualquer coisa que ela me pedisse, que ela me dissesse pra fazer, desde que eu tivesse certeza que ela estava feliz. Aos poucos, ela foi se sentindo mais livre, me ajudou a puxar minha camiseta e quando ficamos pele a pele senti meu corpo todo entrar em uma espécie de frenesi, como se eu não o controlasse mais, como se fosse ela. Pude tocar cada parte do seu corpo, ouvir cada resfolegar dela, cada tremor de prazer e quando finalmente nos unimos como um só ela me apertou com força e me senti meio culpado por não ter podido cumprir minha promessa, por tê-la machucado ainda por um segundo, mas logo nos perdemos em suspiros, beijos, em uma sensação voluptuosa de movimentos misturados com sentimentos, com a busca de saciedade, com a concretização máxima do amor que sentíamos.

Nunca vou esquecer aquela noite, não porque eu e Ellen dormimos juntos, mas porque ela marcou o novo início de nossas vidas, eu me senti capaz de fazê-la feliz, capaz de doar minha vida pra ela, e nada no mundo será capaz de fazer esse sentimento acabar. Não restavam mais dúvidas, medos, sombras sobre nós, nada. Só aquela felicidade silenciosa, tranquila em que nós dois estávamos, eu olhei para Ellen e ela sorriu pra mim, e o mundo pareceu certo, mesmo que tudo estivesse errado, enquanto ela sorrisse pra mim daquele jeito, sempre estaria.

Minha noiva, minha melhor amiga, minha vida.

Michael.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Digam, digam, digam!