Dear Diary, escrita por LiKaHua


Capítulo 10
Capítulo 10 — Pequenos Passos


Notas iniciais do capítulo

Gente, sério, sem palavras pra todo esse carinho e atenção de vocês! Cada comentário me faz lembrar porque eu escolhi ser escritora! Obrigada, de coração, por me permitirem escrever pra vocês. Obrigada mesmo!
Dois avisos:
1. A história está acabando. Sim, era pra ser uma SHORT, mas de short ela não tem mais nada. Então, se preparem pra emoções tensas e intensas nos próximos capítulos. Eu infelizmente não posso prolongá-la muito porque além da faculdade eu estou finalizando meu terceiro livro e parei de escrevê-lo para me dedicar só a essa história.
2. Eu pretendo voltar ao Nyah assim que as coisas se acalmarem na vida. Queria que vocês me acompanhassem quando eu voltar. Ficaria muito feliz.
Boa leitura!



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Querido diário,

Se eu pudesse descrever a felicidade que eu estou sentindo agora provavelmente até você, em suas folhas brancas, seria capaz de sentir. Eu a beijei, não acredito ainda, mas eu a beijei e ela não me empurrou, não fugiu de mim, mas me beijou de volta, me mostrou sem palavras que também estava apaixonada por mim e nada será capaz de superar isso. Em contrapartida, descobri a verdade por trás do seu jeito retraído... e estou preocupado, preciso fazer alguma coisa, quero fazer alguma coisa. Por isso, eu chorei com ela, porque aquela dor também era minha, eu podia sentir cada hematoma daquela pele frágil impresso na minha própria pele, cada dor daquele coração machucado ardendo no meu coração; chorei pelas incertezas dela que, tão rapidamente, se tornaram minhas incertezas, chorei por me sentir impotente, pequeno, chorei porque a pessoa que eu amo está machucada e talvez eu seja incapaz de apagar essa dor, embora vá passar a vida tentando atenuá-la. Parado ali, abraçado a ela, eu tinha a vida nos meus braços, uma vida frágil e ao mesmo tempo tão forte que eu daria a minha vida para proteger.

— Me tira daqui... — Soluçou ela.

Quando eu beijei sua cabeça e conduzi-a para o meu carro, eu queria tirá-la não apenas da escola, mas de todo aquele mundo sombrio no qual ela vivia. Pela primeira vez, senti que ela realmente se abriu comigo, me colocou inteiro na sua vida, compartilhou comigo cada dor do seu coração, cada pedaço de sofrimento que aqueles hematomas significavam, cada “queda de escada” e “escorregão de banheiro” que ela mentiu, cada grito que ela tentou não ouvir enquanto ficava trancada no quarto sentindo-se fraca e impotente para proteger quem a estava protegendo. Deixei que ela falasse, deixei que ela colocasse pra fora tudo que estava preso pesando dentro dela, e desejei poder tirar tudo aquilo dela e pegar pra mim, porque eu queria ser mais forte, eu aguentaria qualquer coisa para não vê-la passar por isso. Tudo depois daquele momento parecia tão insignificante, que quando ela me disse que não podia ir ao baile comigo eu percebi que havia me esquecido da escola, das aulas que perdi e até mesmo dos problemas que eu mesmo tinha em casa ou mesmo do que meu pai ia dizer quando descobrisse que eu perdi o treino outra vez.

— Não me importo se não formos ao baile, desde que você saia comigo. — Propus.

— Por quê? — Ela me lançou um olhar confuso. Não consegui não rir.

— Por quê? Eu acabei de dizer que estou apaixonado por você e você me pergunta por que eu quero sair com você?

Rimos juntos, por um momento o mundo pareceu perfeito mesmo com todas aquelas imperfeições, e então eu a beijei de novo e de novo, e ela me abraçou, diário, pareceu que o cenário à minha volta tornou-se cor e luz. Eu finalmente havia encontrado uma razão para lutar, pois agora eu tinha alguém que queria proteger, estar apaixonado é uma sensação morna, como se cobrir no inverno e ficar olhando a neve cair com uma xícara fumegante de chocolate quente nas mãos, naquele momento eu sabia que tinha tudo que precisava. Quando cheguei em casa, meu pai me abordou e tivemos uma longa discussão sobre minha conduta nos treinos, descobri que o treinador havia ligado para perguntar se eu estava bem e a primeira coisa que meu pai quis saber era onde eu estava, eu o olhei por um longo tempo pensando em tudo que Ellen passava em casa, aquela expressão irritada do meu pai não me assustava como a do pai dela devia assustá-la. Só disse a ele que era coisa minha, dei boa noite e deixei que ele gritasse com a porta, pela primeira vez em muito tempo, me senti bem com isso.

Michael.

***

Querido diário,

Já faz duas semanas desde que Ellen e eu finalmente acertamos as coisas, ainda não estamos oficialmente namorando, mas pretendo pedir em breve. Eu ainda não consegui pensar em nada para fazer com relação ao pai dela, mas consegui achar algo especial. Eu realmente não entendo nada de vestidos (e acho que seria estranho se entendesse!), mas acabei passando por uma loja feminina no shopping quando saía da livraria onde havia comprado um presente para Ellen, e vi exposto um vestido verde alguma coisa (sério, eu sou incapaz de diferenciar um verde de outro, pra mim, é tudo verde!), ele tinha as mangas compridas e meio abertas nos punhos, era comprido e não muito justo, o decote era quadrado e tinha umas pedrarias, imaginei Ellen dentro dele, nenhum hematoma à vista, os cabelos presos e aqueles olhos azuis me olhando com doçura. Quando dei por mim estava com uma sacola de roupa feminina nas mãos, eu não sou o tipo que liga para o que os outros pensam, mas naquele momento torci para ninguém achar que eu era um travesti. Mandei tudo para casa dela com um cartão, espero que ela tenha recebido, só vou saber amanhã.

Passamos o almoço juntos hoje, o pulso dela está melhor, mas ainda está imobilizado. Pode ter sido impressão minha, mas ela parecia mais leve, me contou que o pai havia chegado bêbado novamente na noite anterior e que as coisas tinham sido ruins, mas ainda assim não havia aquela sombra tenebrosa no olhar dela, ao contrário, tinha um brilho diferente, foi quando eu percebi que ela sentia o mesmo que eu e a amei ainda mais. Estudamos também na biblioteca antes do treino e ela foi me ver treinar, parecia que com a expulsão da Vanessa as coisas haviam melhorado para ela um pouco, principalmente quando eu passei a andar de mãos dadas com ela pelos corredores. Engraçado que primeiro ela ficou preocupada comigo, com o que as pessoas iam pensar de mim, como se eu me importasse com isso. Eu ainda não podia protegê-la do pai, mas na escola aquela era minha garantia que ninguém, nunca mais, se atreveria a machuca-la outra vez. Cada dia que passo com ela é uma nova descoberta, Ellen não é apenas inteligente, é uma garota incrível, diferente de todas as outras que já conheci, bem que dizem que um dia você vai achar alguém que vai te fazer entender porque nunca deu certo antes. Ainda não tive coragem de dizer a ela que eu tenho você, sei lá, acho que seria meio estranho, principalmente porque eu não me negaria se ela pedisse pra ler. O baile é na semana que vem, estamos ficando até tarde na escola para organizar as coisas, me inscrevi no comitê só porque ela faz parte, e sempre que vou leva-la pra casa passamos na lanchonete e comemos algo juntos. Ela ainda não me apresentou a mãe, sei que ela tem medo que eu chegue em um “dia ruim”, não a culpo, eu ainda não contei ao meu pai sobre ela, embora imagine que ele desconfia de alguém e logo vá começar a pegar no meu pé por causa disso, mas estou firme, quando chegar a hora de enfrenta-lo estarei pronto.

Minhas notas melhoraram muito, principalmente em inglês e química por causa da ajuda da Ellen. Vou lembrar de salientar isso pro meu pai também. O treinador me disse que o time do campeonato não tem chance contra nós, mas tenho me perguntado se eu realmente quero jogar futebol profissionalmente, na faculdade talvez, mas não vou querer isso se for me deixar longe da Ellen, estamos vendo um jeito de não nos afastarmos na faculdade e estou cogitando até outros cursos como medicina, direito ou relações internacionais porque desde que conheci melhor a Ellen tenho em mim essa necessidade de ajudar pessoas. Direta ou indiretamente. O que me faz lembrar uma pergunta que ela me fez e que me deixou muito assustado no início:

— Você realmente gosta de mim ou só está com pena da nerd excluída que apanha do pai?

Por alguns minutos, te juro que não soube o que dizer, eu nunca havia parado pra pensar nisso, mas tinha certeza que nunca tive pena dela, porque desde sempre aprendi que só temos pena de alguém que não tem salvação, uma pessoa que é tão ruim que não merece sequer compaixão. Ellen não se enquadra em nada disso.

— Eu nunca tive pena de você, Ellen. — Fiz questão de afirmar. — Desde a primeira vez que eu te vi, na aula de física do primeiro ano, eu queria conversar com você, me aproximar, saber do que você gostava e como você era, mas você não parecia querer que alguém se aproximasse, tudo que eu sabia de você era te observando e perguntando pra uma ou outra pessoa que sabia tanto quanto eu sobre você. Ano passado você sorria pra mim quando eu te cumprimentava, mas não dava sinais que queria que eu me aproximasse e eu fui meio idiota por não ter feito isso, por não ter arriscado, me arrependo cada minuto por isso. Eu sempre te achei tão inteligente, e te admirava em silêncio, nunca imaginei que você passava por bullying, se soubesse teria intervindo na hora. Não quero nunca que pense que estou com você por qualquer motivo que não seja o fato de que eu estou apaixonado por você e cada vez que te conheço, me apaixono mais.

Eu não sei se eu disse algo errado porque ela me abraçou e chorou. Será que garotas choram muito? Eu não gosto de ver ela chorando, é como se alguém estivesse me rasgando com uma faca. Mas logo que eu ergui o rostinho dela e ela sorriu com os olhos parecendo oceanos transbordantes, eu vi algo inédito ali, tão nítido e tão real que eu me perguntei como ainda podia duvidar: amor. Nunca até então eu tive tanta certeza que ela sentia o mesmo que eu como nesse momento. Quero leva-la ao baile, diário, quero fazer ela ver o quanto é linda e ter uma noite de rainha, porque ela merece isso, até hoje Ellen tentou se manter à margem sem participar do mundo que a cerca, eu quero mudar isso, quero fazer ela conhecer o mundo e, ao mesmo tempo, conhece-lo com ela. Meu pai e eu não discutimos hoje, o que é um milagre. Tive minha hora de treino em casa, como sempre, e me recusei a falar com a minha mãe quando ela ligou para dar parabéns ao Charlie. Inclusive, só então eu percebi que não havia aberto o presente que ela me mandou, ganhei livros e um computador portátil novo. Será que ela acha que isso supre a falta dela?

Recebi mensagem da Ellen. “Você não existe! Obrigada, o tamanho ficou perfeito. Vou tentar falar com a minha mãe para ir. Te vejo amanhã.” Ela ainda não disse eu te amo, mas tudo bem, eu também não disse, acho que temos que esperar o momento certo pra isso. Mal espero para vê-la naquele vestido! Me sinto um idiota por ficar pensando nessas coisas, mas parece que já estamos juntos há anos e não semanas, não sei se é possível que primeiros amores — e digo amor de verdade — possam durar a vida inteira, acho que isso é uma escolha nossa, mas se puder mesmo escolher, eu quero a Ellen pra sempre, pra tudo. Posso dizer que hoje foi um dos dias perfeitos que eu já tive até então.

Michael.


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Notas finais do capítulo

A todo mundo, todo mundo MESMO que está lendo essa história (mesmo fantasma), aos que estão comentando e acompanhando tudo que eu posso dizer é muito obrigada e que eu estou imensamente feliz de escrever pra vocês! Realmente estou dando o melhor que eu posso no momento, mas vou sempre tentar aprender e melhorar mais!