Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 23
Cápitulo 22


Notas iniciais do capítulo

Bom dia amores, como prometido aqui está mais um capítulo emocionante para vocês. Esperamos de coração que gostem.
Ps: Comente, amamos ler o que acharam e responde las é muito booom.
Não esqueça de favoritar a história ❤
* Entre no grupo da fanfic, lá interagimos de perto com as leitoras e leitores. Fora que temos um grupo no zap, acreditam?!
Hahaha
Bom, agora vou deixar las apreciando a leitura.
Jaci panda mandou um enorme beijo, disse que ama muito vocês. Faço as palavras dela as minhas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/648496/chapter/23


Isabella passou a mão pelo pescoço, massageando de leve a nuca. Olhou para o relógio pendurando na parede do outro lado do corredor; ficara três horas na sala de cirurgia, mais tempo do que planejara. Suspirou, passando a massagear o ombro direito. Caminhou devagar até a porta de saída do centro cirúrgico.
Ficou surpresa ao ver uma enfermeira, sentada em uma das poltronas da sala de espera, com um bebê no colo. Ele chorava, o rosto pequeno marcado pelas lágrimas que escorriam das bochechas ao queixo. As pequeninas mãos, fechadas em punho, estavam sujas de sangue, assim como o casaco branco que usava.
— O que aconteceu? — Perguntou a uma das funcionárias quando chegou ao balcão, jogando o corpo em uma das cadeiras.
— Uma das vítimas do acidente. O pai está em coma, a mãe morreu no local e o irmão mais velho está em estado grave — a mulher respondeu.
Isabella observou o bebê afastar de perto de si a mão da enfermeira que tentava consolá-lo. Os olhos claros dele vasculharam o ambiente em busca de algo e, não encontrando o que queria, chorou mais alto.
— Não há nenhum parente para assumir a responsabilidade?
— Não, infelizmente.
— Alguém já o examinou?
A mulher entregou o prontuário a Isabella.
— Sim, ele está bem. Arranhões leves, os rapazes da ambulância disseram que o irmão o protegeu com o próprio corpo. — Ela voltou a prestar atenção ao computador enquanto Isabella analisava o menino de cabelos brancos como a neve.
— A Assistência Social já foi acionada? — Isabella perguntou, devolvendo a prancheta.
— Amanhã, durante a manhã, ela virá para encontrar um lar temporário para ele.
Isabella assentiu, ainda contemplando a tentativa fracassada da enfermeira em acalmar o bebê. Foi até as poltronas a passos lentos. De perto, pode notar o conflito travado entre a pele alva dele e as manchas de sangue. Esticou os braços, indicando que queria pegá-lo no colo, e recebeu um olhar aliviado da enfermeira.
— Olá — ela murmurou. Usou a ponta dos dedos para afastar os fios brancos do cabelo dele da testa, ficando surpresa ao constatar que não estava sujo de sangue. — Qual o seu nome?
Ela tomou cuidado, mantendo o tom de voz baixo para não o amedrontar. O pobrezinho passou por um trauma grande o suficiente para durar pela vida inteira, não precisava ficar mais assustado.
— O meu é Isabella — disse, apontando para si mesma.
O menino não respondeu, mas começava a parar de chorar, os ombros balançando de leve com os soluços. Seus olhos azuis entreabertos, fixos nos dela. Os cílios molhados eram longos e tão brancos quanto seu cabelo.
— Eu acho que podemos nos livrar de toda essa sujeira aqui. — Ela abriu o casaco dele, o tirando de seu corpo e jogando na mesa de centro. — O que acha?
— Pode deixar que eu cuido dele por agora — avisou a funcionária com quem tinha conversado mais cedo, enquanto se levantava, o abraçando junto a si, e se dirigia ao banheiro.
O posicionou na bancada de mármore, oferecendo um sorriso amigável quando ele, finalmente, abriu os olhos por completo para ver o que ela estava fazendo. Isabella pegou algumas folhas do papel usado para secar as mãos e, depois de ligar a torneira, os molhou um pouco. Com cuidado, começou pelas mãos dele, limpando cada dedo até não haver vestígios de sangue. E então o rosto; os pequenos arranhões no canto do queixo, o canto da boca, que puxava o ar já que o nariz estava entupido de tanto que ele chorou.
— Vai ficar tudo bem — ela sussurrou gentilmente.

Meia hora depois...
Isabella enfiou as mãos nos bolsos do jaleco e suspirou. Não gostava muito quando tinha crianças como pacientes, uma das grandes razões por não ter escolhido se especializar em pediatria. Lidar com adultos já era difícil, ver pessoas machucadas e doentes era, sem sombra de dúvidas, algo difícil de se fazer. E ela, apesar de exibir uma fachada fria, sentia o coração doer toda vez que tratava alguém.
Por isso dava seu melhor, gostava supervisionar cada passo de uma cirurgia, gostava de visitar os pacientes no pós-operatório de se certificar que eles estavam se recuperando, de saber que tinha feito uma diferença na vida daquela pessoa.
Suspirou mais uma vez, vinha fazendo muito disso ultimamente. Andando por corredores que pareciam intermináveis e perdida em pensamentos. Levantou a cabeça, reparando pela primeira vez aonde tinha chegado. Uma enfermeira pediu licença, fazendo Isabella levar um susto. Saiu da frente para que a mulher pudesse encostar o crachá no leitor. Ela empurrava um aparelho de radiografia e, assim que a porta abriu, acelerou o passo.
Isabella a seguiu, curiosa e preocupada. Situações inusitadas aconteciam diariamente na UTI, afinal, os pacientes internados ali ainda corriam riscos. Mas ela sentia o coração apertado, tinha mandado a criança que operara mais cedo para lá.
Quando o viu seu rosto pálido e a respiração vacilante, nem sequer cogitou a possibilidade de ofender o médico responsável. Pegou as luvas de látex — em uma caixa ao lado da maca que ela só notaria no dia seguinte — e as colocou o mais rápido possível.
— Pressão sanguínea continua caindo — alguém falou com urgência.
Isabella se aproximou, tirando o cobertor que cobria o corpo do menino.
— Faça o radiografia — comandou a enfermeira que encontrou ainda pouco. A mulher a olhou assustada, mas fez o que ela mandou. Isabella examinou a imagem por alguns segundos, suas pupilas contraindo quando identificou o problema. Como podia ter sido tão displicente? Como não pensou em pedir um exame antes? — Bisturi.
A mão direita aguardava a ferramenta enquanto, com a ponta dos dedos da esquerda, procurava o ponto certo entre as costelas para fazer a punção. Encontrou o lugar no momento que colocaram o bisturi em sua palma. Ela focou o olhar e começou a trabalhar.

Demorou quase uma hora e meia até conseguir estabilizar o quadro dele. Fez questão de realizar as suturas ela mesma e pediu mais uma bateria de exames na tentativa de evitar quaisquer surpresas.
— Doutora? — Chamaram-na assim que ela saiu do leito. Ela se virou enquanto alongava os braços. Um homem com a mesma altura que a sua, aparentando ser mais velho que seu pai, a encarava, com os braços cruzados sobre o peito.
— Sim?
— Não acha que foi rude de sua parte a forma como tomou de minhas mãos aquele bisturi? — Ele tentou controlar a raiva em sua voz, mas Isabella detectou.
— Primeiro, eu não o tomei, pedi que me dessem e o senhor, como o bom profissional que é, o entregou a mim — ela respondeu, tirando as luvas ensanguentadas e as descartando junto a outras coisas transportadas em um carrinho de metal. — Segundo, sinto muito por ter invadido seu turno, doutor. Meus instintos falaram mais rápido.
— Que instintos? Sua arrogância é palpável. — Ele reclamou.
— Os de médica, como os seus. — Isabella controlou a respiração. Não queria ser grossa com ele, já pedira desculpas. — Não foi arrogância que me fez salvar a vida daquela criança, como o senhor salvaria se tivesse sido mais rápido. Novamente, sinto muito por tê-lo interrompido.
Ela deu um sorriso leve e se dirigiu a bancada onde as secretárias ficavam.
— Me comuniquem caso aja alguma mudança com aquele paciente — pediu, anotando em um pedaço de papel o número de seu celular. — Qualquer coisa que acontecer com ele,, quero ser informada.
Subitamente sentiu vontade de ver o pequeno de cabelos brancos,, de falar para ele que seu irmão tivera um problema, mas que logo poderia vê-lo. Começou a caminhar mais rápido sem se dar conta, deixando a UTI para trás.
O pequeno Marco, como descobrira que ele se chamava, estava deitado numa cama grande demais para ele, em um dos quartos privativos para onde ela o levou mais cedo, quando terminou de limpá-lo. De sua boca ligeiramente aberta saía um ronco suave. O rosto delicado não estava mais tão vermelho agora que parara de chorar. Ela ficou olhando para sua forma encolhida, fazendo-o parecer ainda menor; para as meias azul escuro cheias de âncoras brancas espalhadas, para a calça jeans que cobria suas pernas — ela ficou encantada pela peça.
Suspirou ao se aproximar. Puxou o cobertor felpudo com desenhos de animais, característico dos leitos infantis, e o cobriu. Afastou a franja dele da testa e com a ponta do indicador, acariciou de leve entre suas sobrancelhas, desfazendo as pequenas rugas que se formaram em seu cenho enquanto ele sonhava. Não se virou quando ouviu as batidas na porta, nem mesmo quando a ouviu ser aberta e depois o estalar dos saltos contra o piso. Continuou tocando a pele quente do rosto do bebê.
— Doutora? — A voz da mulher era tranquila e em tom suave. — Sou Maria Campbell.
— Apesar das circunstâncias, Senhorita Campbell, é bom conhecê-la — Isabella murmurou, arrumando o cobertor melhor ao redor de Marco.
— Ele está muito machucado? — Maria perguntou.
Isabella sentia o olhar da outra mulher sobre si, mas ignorou. As pálpebras do pequeno tremeram e ele chorou baixo, fazendo-a passar a mão em sua cabeça.
— Não, está bem, teve apenas alguns arranhões. — Ela se afastou, girando o corpo. Maria Campbell ainda estava parada perto da porta, a mão direita segurando a alça da bolsa. — Já tem uma ideia de onde eles irão ficar?
— Enquanto o pai se recupera, vão para um lar temporário. Daniel, o mais velho, terá que permanecer aqui alguns dias a mais, de acordo com as enfermeiras, não é? — Isabella assentiu. — Então procurarei por uma família que possa abrigar os dois. O que vai ser difícil, mas não podemos perder a esperança antes mesmo de começar.
— E se já tiver encontrado? — Isabella falou, indicando para que saíssem do quarto. Receava que acordassem Marco. As últimas horas já haviam sido estressantes demais para um bebê.
— Como assim? — Maria a seguiu até estarem do lado de fora. Percebeu o cuidado com que Isabella fechara a porta. — Tem alguém em mente? Se tiver, seria de grande ajuda.
— Tenho sim — ela olhou para o nome do pequeno na plaquinha informativa presa à parede. — Eu fico com eles.
A assistente social arregalou os olhos, um sorriso congelado pela surpresa em seus lábios. Parecia não acreditar no que acabara de escutar. Isabella deixou que ela levasse seu tempo para se recompor, trocando o peso do corpo de uma perna para a outra.
— Desculpe, isso é tão raro de acontecer que eu... — Maria murmurou, estudando-a com maior atenção. — Eu ainda não sei seu nome, doutora.
— Isabella Swan, mas pode me chamar apenas de Isabella, caso prefira.
...
— Bella! — Jasper cumprimentou, observando com admiração a sócia, que mesmo depois de uma noite de plantão, parecia tão forte.
— Bom dia. — Ela sorriu, o olhando de relance. — Madrugou hoje?
— Bom dia. — Ele riu, balançando a cabeça, o cabelo louro perfeitamente no lugar. — Muita papelada para pôr em dia.
— Pense pelo lado positivo — ela disse, colocando a mão em seu ombro —, se você fizer isso terá mais tempo livre para focar em outras coisas.
— Assim espero — concordou com Isabella. — Você comeu?
— Acredita que eu esqueci?
— É a correria, faz com que nos esqueçamos das coisas simples, tipo comer. — Justificou, entregando a Isabella uma sacola de papel. — Já prevendo isso, trouxe a você algo para forrar o estômago. Que tal pegarmos um cappuccino? É a combinação perfeita para essas torradas.
— Obrigada, Jasper. — Ela sorriu, grata, aceitando de bom grado o pacote. — Seria uma boa ideia, vamos?
— Vamos. As damas primeiro — ele faz uma meia reverência, indicando o caminho.
Jasper olhou ao redor, vendo a correria dos funcionários de um lado para o outro, fez uma nota mental de separar um tempo maior para descobrir se estavam satisfeitos com o trabalho. Eles pareciam tão dedicados mesmo depois de passar a madrugada acordados trabalhando.
Isabella se virou, seus olhos curiosos encontrando os dele.
— E você, comeu antes de vir? — Perguntou ao se aproximar das escadas. Tinham que descer apenas um andar para chegar até a cafeteria, não havia necessidade de pegar o elevador. Jasper, como o bom cavalheiro que era, abriu a porta para ela enquanto respondia.
— Não. Meredith não foi hoje, o que significa, nada de café da manhã gostoso. — Ele manteve uma expressão triste por alguns segundos, mas logo sorriu. — Pensei que seria melhor comer depois que terminasse aqui.
— Compreendo — Isabella murmurou. Tinham terminado de descer os últimos degraus, Jasper novamente abriu a porta. – Aproveite e se junte a mim. Não pode ingerir apenas a cafeína durante a manhã, vai ter problemas no estômago.
Ele faz que sim com a cabeça, ouvindo-a com atenção. Caminharam em silêncio até chegarem ao seu destino, Jasper foi pedir as bebidas enquanto Isabella o aguardava em uma das mesas redondas perto da parede de vidro. O calor ameno, que os poucos raios da manhã produziam, não era o suficiente para aquecê-la, mas somente de sentir a luz em seu rosto, ela já ficava feliz.
— Jasper, tenho uma dúvida... — Ela começou, abrindo o saco de papel e pegando as torradas. — Processos de adoção são difíceis?
— Adoção? — Ele estava confuso. Em todos os anos de parceria com ela, Isabella nunca fez uma pergunta daquele tipo. Geralmente, quando queria a opinião dele como advogado, era sobre contratos e processos contra fraudes. — Depende do caso.
Ela mordiscou um pedaço do pão e ficou em silêncio. Jasper examinou a expressão pensativa dela com minúcia.
— O que está planejando, Bella? — Ele se inclinou sobre a mesa, apoiando os cotovelos na superfície de metal.
— Eu? — Os olhos dela faíscaram quando encontrou os dele. Ela respirou fundo, endireitando a coluna. — Não estou planejando nada, Jasper. É apenas uma dúvida.
— Certo...
Jasper preferiu não forçar a barra, esperaria ela se sentir confortável o suficiente para partilhar suas ideias. Por isso, pôs um sorriso no rosto e tomou um gole do cappuccino. O que quer que ela decidisse fazer, era seu dever, como amigo, ajudá-la.
— Muito bem, senhorita Swan. Que horas acaba seu turno?
— Em exatamente meia hora. Deixei a minha pausa para perto do final do plantão para sair mais cedo, vou encontrar minha mãe — Jasper parecia incrédulo quando ouviu a última parte, fazendo-a rir baixo.
— Se quiser, posso acompanhar as duas, o que acha? — Ele piscou para ela. — Sua mãe gosta bastante de mim.
Isabella gargalhou, atraindo os olhares de alguns funcionários e acompanhantes de pacientes que estavam espalhados pelo espaço da cafeteria. Ela comeu mais um pedaço da torrada e bebeu o cappuccino, admitindo que o amigo tinha razão quando disse que aquela era uma combinação muito boa.
— Tudo bem — concordou —, contanto que você consiga mais torradas como estas todas as manhãs para mim.
— Fechado.
Jasper sorriu, apertando a mão dela depois de firmar acordo.
...
Isabella bateu com a ponta do pé no piso do elevador em claro sinal de inquietação. A porta abria e fechava, com mais pessoas entrando a cada parada. Quando, por fim, chegou ao térreo, respirou aliviada por não estar tão atrasada. O lobby estava cheio, como costumava ser por ali, então ela foi até a bancada da recepção. No entanto, não chegou a falar nada ao notar, há alguns metros de distância, um rapaz alto segurando no colo, com muito cuidado, um bebê enrolado em um cobertor. Isabella apoiou o quadril na lateral da bancada, observando a dupla. Eles estavam de costas para ela, mas foi possível ver como as mãos pequenas do bebê agarravam a roupa do homem.
— Doutora, posso ajudá-la em alguma coisa? — Uma das secretárias, Elena, como estava escrito no crachá, lhe perguntou, tocando de leve em seu ombro.
— Jasper Hale disse que estaria me esperando aqui na recepção — respondeu, sem desviar a atenção do rapaz e do bebê.
— Dra. Swan? — Elena chamou-a novamente. — O Sr. Hale pediu para avisá-la que em cinco minutos estará descendo.
— Tudo bem, vou esperar — ela murmurou. — Você pode verificar algo para mim? Mais cedo, dois homens de sobrenome Cullen estiveram aqui, pode verificar se já foram embora?
— O paciente que eles acompanhavam já foi liberado, um dos dois Cullens, o levou embora. O outro, nos deixou em sobreaviso que fazia questão de esperar.
Elena gesticulou com a mão na direção que Isabella observava há pouco. Ela virou ao mesmo tempo que o rapaz, seus olhares se encontrando. Ele não segurava mais o bebê. Isabella inclinou a cabeça de leve, suas pupilas se estreitaram por breves segundos. Estava um pouco surpresa por ele realmente ter ficado a noite inteira no hospital e também brava consigo mesma por tê-lo feito aguardar tanto tempo.
Ela percebeu que ainda o encarava quando ele abriu um sorriso, primeiro levemente torto, depois se expandindo até expor todos os dentes brancos.
Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo, livrando os fios escuros do coque, deixando-os cair soltos por seus ombros em ondas, aliviando as pontadas de dor que começava a sentir nas têmporas.
Ele começou a se mexer, andando com calma até ela. Cada passo seu transmitia confiança, algo que não possuía antes, e que o deixava orgulhoso de si mesmo agora.
— Senhorita Swan? — disse. — Sou Edward Cullen.
— É um prazer conhecê-lo, Senhor...
— Edward, me chame apenas de Edward.
— Pois bem. Edward. — Ela meneou a cabeça, seu tom de voz cordial. — Sinto muito tê-lo feito aguardar por tantas horas.
— Então... — Ele girou no mesmo lugar, com os braços estendidos. — Não está me reconhecendo?
Ela se sentiu mal ao negar, mas o fez assim mesmo. A sensação de familiaridade que tinha quando encontrava os olhos dele a deixava inquieta, como se tudo que precisasse saber estivesse na sua frente, mas não podia alcançar. Talvez ela também devesse evitar cafeína durante as manhãs.
— Nossa! Mudei tanto assim? Nossa! — Repetiu, rindo baixo, jogando a cabeça para trás, como se não acreditasse. E então a olhou, usando um pouco mais de seriedade na voz. — Sou eu, o mendigo.
Edward não tirou os olhos da figura de verde, esperando sua reação ao mesmo tempo em que estudava a Isabella médica, sem joias adornando pontos estratégicos, sem vestidos de marca, sem maquiagem alguma. O vislumbre que tivera dela na emergência não lhe deu a chance de notar como ela estava ainda mais bonita do que quando ficou em sua casa. Seu anjo de cabelos escuros. Ele sorriu, vendo-a começar a se mexer.
Isabella se afastou para analisar o mendigo, que na verdade já não se encaixava mais nessa descrição. O corpo dele estava diferente de quando se conheceram, mais robusto; os olhos, que antes eram tristes, agora brilhavam. Parecia mais saudável, o cabelo penteado com estilo e bem mais curto, não havia mais a barba emaranhada escondendo seu pescoço e os ombros dele estavam perfeitamente alinhados.
— Nossa! Por onde esteve? — As palavras escaparam apressadas por seus lábios, ao mesmo tempo que dava um passo a frente. — Me deixou preocupada.
De forma descontraída, ele colocou as mãos nos bolsos do terno e sorriu. Ficou alguns segundos em silêncio, pensando em como respondê-la, em como explicar o que tinha acontecido. Mas a história era longa e bem, ele não sabia quanto tempo teriam para conversarem. Respirou fundo antes de decidir o que falar.
— Encontrei minha família — ele murmurou, notando como os olhos dela percorriam seu corpo. Ela tentou disfarçar com um sorriso. Edward ficou feliz, tinha se esforçado muito para melhorar e ter alguém que não fossem seus pais notando essa diferença, era muito bom. — Na verdade, eles me encontraram.
— Sério? — Isabella exclamou, surpresa. O cabelo balançando quando ela se inclinou para trás. — E como foi?
— Muito emocionante, tenho uma família linda. — Ele sorriu, com os olhos cheios d'água. A imagem da primeira vez que vira os pais era vívida em sua mente.
— Tenho certeza que sim. Gostaria muito de conhecê-los um dia. — Ela estendeu a mão e, por instinto, limpou a lágrima que escorria pelo rosto dele rosto.
Seu toque suave fez com que ele segurasse sua mão. Os dedos de Isabella pareciam tão mais finos e pequenos que os seus, delicados demais. Ela sentiu a pele áspera contra a sua, lembrando de quando adormeceu a seu lado na cama quando teve um pesadelo. Ele a segurou do mesmo jeito daquela vez, como se ela lhe oferecesse algum conforto.
— Eles iriam amar, sem sombra de dúvida. Principalmente minha mãe — Edward comentou.
— Você está bem? — Ela perguntou, encontrando o olhar dele. Edward soltou-a devagar, com um pouco de relutância.
— Sim. — Passou a mão pelo cabelo, tirando alguns fios do lugar, sem danificar muito o penteado. — E você, como se sente?
— Ótima — ela respondeu, inclinando a cabeça de lado. Estava maravilhada com a evolução dele em um período tão curto.
— Senhorita Isabella? — Ela se virou ao ouvir a voz familiar.
Phill caminhava em sua direção com passos acelerados. Ele parecia mais jovem, havia tirado o bigode espesso que cobria seus lábios. Isabella se perguntou qual promessa a esposa dele tinha feito para conseguir fazer com que ele se livrasse do amontoado de pelos.
— Sua mãe a aguarda no carro — comunicou, parando próximo a ela, com as mãos para trás.
— Vá — a voz de Edward a interrompeu antes mesmo que ela abrisse a boca. — Já sei onde encontrá-la, doutora.
— Me dê seu celular — ela pediu, esticando o braço. Ele o entregou e ela salvou seu número rapidamente. — Quero saber o diagnóstico dos médicos que visitou sobre seu ombro e aquela tosse.
Edward riu, aceitando o aparelho de volta.
— Da próxima vez que nos vermos, levarei os exames — ele prometeu, notando os lábios franzidos dela com seriedade.
— Não esqueça — ela ordenou. — Até mais, Edward Cullen.
— Até, doutora — se despediu.
Olhou para a tela do celular, o nome dela, em preto, se destacando contra o branco. Levantou a cabeça, vendo-a fechar a porta de trás do carro e depois abrir a do passageiro. O jaleco escorregou de seu colo enquanto ela se ajeitava no banco, mas Phill pegou e o devolveu. Edward sorriu mais uma vez.
Sorrira demais em apenas cinco minutos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tem capítulo novo dia 20 e dia 30. Três vezes no mês, na página do facebook faremos uma live depois do dia 20. Espero que entre lá e participem.
Beijos ♡