Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, leitoras e leitores lindos e maravilhosos!
Já se foi um tempo desde a última vez que atualizamos, mas espero, de coração, que entendam.
Ana teve problemas de saúde e teve que ir ao hospital. Graças a Deus já está bem melhor agora e continua melhorando.
E eu tive problemas pessoais que deixaram meu psicológico um pouco abalado, sem contar no Enem, que acredito que algumas de vocês devem ter feito também.
De qualquer forma, aqui está mais um capítulo. Tentaremos atualizar a história com uma frequência maior agora que não mais tenho que dedicar 99.9% da minha vida para o Enem.
Boa leitura.
Com amor, Jaci.



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Demorou alguns minutos até que Phillip conseguisse abrir o pesado portão de ferro manualmente. Dentro do carro, protegida contra a chuva, Isabella nem notava o esforço de seu motorista. Seus olhos e atenção estavam concentrados na figura encostada no muro, com a cabeça baixa e o corpo tremendo. Sentia-se um pouco incomodada de ver que aquele homem certamente teria um grave problema de saúde já que não tinha como se abrigar corretamente da chuva.

A porta do carro abriu e fechou e logo Phill o colocou em movimento. Quando passaram, ele parou novamente e desceu para fechar o portão. A escuridão ao redor irritava Isabella não só porque lhe tirava o prazer de ver sua casa iluminada durante a noite, mas também porque era como se estivesse perdida em um lugar sem fim.

Quando finalmente colocou os pés dentro de casa, seus ombros relaxaram. Phillip tinha ido direto ligar o gerador, então ela ficou parada no lugar no meio do gigantesco hall de entrada. Teve que fechar os olhos com força assim que as luzes se acenderam, mas mesmo assim ainda sentiu um leve desconforto.

— Senhorita Swan? — ela abriu os olhos devagar.

Phill estava parado na porta que levava para a sala de jantar, os braços cruzados no peito e a olhava com curiosidade. Limpando a garganta, Isabella andou até a mesa redonda com base de aço escovado e tampo de vidro que ficava entre as duas escadas que davam acesso ao segundo andar da casa. Colocou a bolsa em cima e tirou os sapatos. O som dos saltos caindo no piso de mármore foi delicado e suave, mas ecoou pelo ambiente.

Havia um vaso com flores do campo em tons de laranja e amarelo, lírios, rosas, gérberas e algumas outras que Isabella não lembrava o nome. Elas já estavam começando a murchar, e provavelmente amanheceriam ainda mais murchas. Aproximou o rosto de uma das rosas e inalou o perfume. Era bom estar em casa.

A Mansão Swan, como muitos chamavam, era um edifício de dois andares, o terreno tinha mais de dezesseis mil metros quadrados bem distribuídos entre a casa principal, o pequeno estúdio onde ficava a bagunça, a piscina e os jardins. O estilo da construção foi escolhido a dedo por Isabella, moderno, mas com um toque do clássico vitoriano. Um dos detalhes que ela mais gostava era a enorme parede de vidro que ficava na biblioteca e a deixava ter uma das vistas mais linda de Forks.

Isabella respirou fundo mais uma vez e se afastou da mesa. Philip não estava mais parado próximo à porta da cozinha e sim perto da porta principal. Em um de seus braços estava um cobertor grande e escuro, e no outro o guarda chuva. Com apenas um aceno de cabeça para Isabella ele se virou e começou a sair.

— Philip, pode deixar que eu entrego. Você pode ir para casa agora.

— Mas senhorita Swan, está chovendo muito e...

— Usarei um guarda chuva assim como você. Agora pode me entregar e ir descansar — insistiu Isabella.

—Tem certeza? — Philip franziu a testa, um tanto surpreso com a atitude de sua patroa.

— Sim — ela olhou para seu motorista com um pequeno sorriso em seus lábios. — Deixe o cobertor em cima da mesa e vá.

Isabella se virou, prendendo o cabelo enquanto seguia até o armário onde os casacos ficavam guardados. O chão estava gelado contra seus pés, por isso a primeira coisa que fez ao abrir a porta do armário foi pegar um par de tênis que geralmente usava para correr e depois o guarda chuva vermelho.

Ao voltar para o hall de entrada, Phill já não estava por ali e muito menos o carro estava parado na frente. O cobertor havia sido deixado na mesa entre as escadas e mesmo que ele obscurecesse parte de sua visão quando o pegou, Isabella começou a sair de casa rezando silenciosamente para que não caísse.

O barulho da chuva contra o pedaço de plástico com armação de metal que a mantinha seca era tão ensurdecedor quanto antes e por alguns míseros segundos pensou em dar meia volta e ir direto para seu quarto, mas com uma sacudida de cabeça o pensamento se desfez e ela continuou andando. O gerador agora estava ligado e o caminho bem iluminado. Não fossem as grossas gotas que caíam e o vento frio, Isabella ficaria alguns minutos a mais no jardim e ao invés de estar calçando tênis, estaria com os pés enterrados na grama.

Entrou rapidamente na guarida assim que chegou até ela e depois de encontrar o botão certo, abriu o portão pequeno que geralmente era usado para acesso de entregadores ou seus funcionários. Com cuidado para não deixar que ele fechasse quando saiu, ela o deixou apenas encostado.

Não foi difícil identificar o local que o sujeito tinha escolhido para tentar se abrigar do temporal agora que tinha um pouco de luz. Ele estava encolhido no chão à sua direita, aproximadamente a uns três metros de distância, completamente encharcado e pelo que conseguiu distinguir, tremendo bastante. Com cautela para não assustá-lo, ela se aproximou e ficou ligeiramente surpresa quando de imediato ele notou sua presença e virou o rosto para encará-la.

Sua pele estava manchada, encardida de sujeira. As maças de seu rosto, mesmo um pouco escondidas pela espessa barba, eram magras e parecia não haver sequer carne ali. Rugas se formaram quando ele cerrou os olhos para tentar livrar suas pestanas das gostas de água e estas se juntaram as dezenas que escorriam por seu rosto. Ele parecia cansado e tão, tão velho.

O som alto de um latido soou e Isabella deu um passo para trás assustada, focando sua atenção nos arredores. Um pensamento secundário sobre o animal que devia estar próximo dali cruzou sua cabeça e logo desapareceu quando notou que o estranho a fitava com brilhantes e tristes olhos.

Algumas horas antes... ♦

Não era o fim do mundo. Não acabaram as esperanças. Mas há muito ele tinha aprendido a apreciar as coisas pequenas que lhe eram dadas e os aparentes milagres que aconteciam em sua vida. Tentou, com todas as suas forças, seguir outro caminho, abrir outras portas, mas ninguém se oferecia para dizer algo encorajador, apenas para dizerem que sentiam muito.

Pelo quê? Ele se perguntou diversas vezes. Por ele ter acordado um dia e não saber dizer qual era seu nome? Por ter tremores e suar frio toda vez que algum barulho alto soava perto de seus ouvidos? Talvez fosse por negarem a ele um emprego, para que conseguisse ao menos comprar um pão e um café quente a fim de acalmar seu estômago machucado pelas garras da fome. Talvez. Ele não tinha certeza.

Enquanto perambulava pelas ruas da cidade, pela qual não nutria nenhum apreço, via os carros passarem de um lado para outro durante todo o dia. As luzes dos faróis acesos a noite machucavam seus olhos e faziam doer sua cabeça, então ele se escondia em becos. Seus tímpanos vibravam quando as buzinas começavam, sua mente ficava turva, suas mãos tapavam as orelhas e seu corpo esquelético agachado ao lado de uma lixeira se balançava para frente e para trás.

Às vezes era uma tortura. Viver estava se tornando uma tortura constante.

Pensou frequentemente em forçar um acidente para poder voltar ao hospital. Lá ao menos ele teria o que comer, onde dormir sem acordar com baratas rastejando por suas roupas e pessoas, que mesmo com um olhar clínico e um tanto frio, ficariam preocupadas com ele.

Era errado pensar assim? Talvez.

A palavra “talvez” foi repetida muitas vezes em seus pensamentos.

Um temporal se aproximava, a repórter tinha anunciado no jornal mais cedo, ele tinha vislumbrado na televisão de uma lanchonete qualquer. As autoridades recomendavam que as pessoas ficassem em casa, abrigadas e aquecidas. Mas e ele? E as outras centenas de pessoas que estavam na mesma situação que ele? Não havia casa para que eles pudessem se abrigar, se manterem aquecidos com cobertores de lã e o crepitar gentil de uma lareira. Abrigos comunitários já estavam lotados basicamente desde o dia que foram criados e os paralelepípedos dos fundos de um restaurante — que fortuitamente tinha um toldo — lhe pareciam suficientemente acolhedores.

A chuva veio acompanhada de seu consorte, o vento estava furioso e lambia seu rosto como facas afiadas.

A tosse e a dor no peito não tardaram a chegar. Seu corpo inteiro latejava e tremia e suava apesar do frio. O grande casaco de lona que encontrou há algumas semanas foi emprestado para o cachorro vira lata do qual cuidava. O chamava de Jake. Jake, o feliz. Seu rabo encharcado balançava alegremente até mesmo agora, enquanto ambos se encolhiam contra a parede, procurando proteger a maior parte de seus corpos contra as grossas gotas.

Os tremores, a chuva e a dor aumentaram e seu desespero também.

— Mas que diabos é isso? — o grito raivoso o assustou. O dono, ou funcionário, do restaurante mantinha a porta vermelha aberta com um dos ombros e os olhava com nojo e desprezo. — Fora daqui agora! Vagabundo!

E a luta contra seus músculos atormentados começou na tentativa de levantar. Caiu uma, duas vezes. Jake latiu e lambeu suas mãos.

Não, ele tinha pensado, estão sujas.

Ergueu-se e a caminhada teve início novamente, as botas velhas e furadas machucavam seus pés mais do que os protegiam. Carros passavam, faróis delineavam sua forma encurvada e ele continuava andando com Jake silenciosamente atrás de si. As casas e prédios perderam seus contornos, e mesmo assim ele seguiu em frente.

Quando não aguentava mais e suas pernas vacilaram, ele deixou o corpo sofrer o efeito da gravidade, caiu e ficou parado no meio fio, com as mãos apoiadas no chão. Sua cabeça pesava, latejava e uma leve tontura o fazia ficar desnorteado. Um sedan passou por uma poça o encharcando completamente com água mal cheirosa.

Acompanhou o percurso do elegante automóvel preto, mesmo que sua visão ficasse borrada e distorcida, e quando ele parou, seu coração pulou. Podia pedir ajuda, algo para afugentar o frio, algo para que conseguisse se manter vivo somente por mais uma noite, algo... Uma das portas se abriu e alguém desceu. Na loucura da febre que já se instalava em sua mente, uma risada baixa se formou. Quem era a pessoa que tinha a chance de ficar protegida dentro do carro e resolveu sair para a chuva?

Jake lambeu uma de suas mãos e ele retribui o carinho coçando atrás de sua orelha. Ambos não estariam com um cheiro agradável pela manhã, quando o sol surgisse e os aquecesse.

Levou algum tempo para que conseguisse se colocar sobre seus pés, escorregou uma vez e bateu o ombro esquerdo contra a calçada com força, resultando em um grito sufocado ainda em estado de formação dentro de seu peito. A dor irradiou até as pontas dos dedos e ele sabia que não poderia mexer o braço normalmente por alguns dias. Quem sabe agora poderia ir até o hospital. Como era tolo!

Com passos vacilantes e pontadas incômodas por todo o corpo, esqueceu Jake por alguns segundos e tornou a se movimentar. Dessa vez em direção à pessoa que se mantinha debaixo de toda aquela chuva propositalmente, de maneira totalmente displicente. Com um ato mais habitual que a necessidade de respirar, ele levantou as mãos e as juntou como os que creem o fazem em igrejas.

Seu coração parecia uma bateria completa. Tum! Tum! Tum!

— Senhora...


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Notas finais do capítulo

Até mais ver...