Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Talvez vocês terão vontade de nos matar. E estarão completamente cobertas de razão. Podem usar bastante capslock se quiserem, briguem, desabafem. Demoramos muito para trazer de volta essa história.
E sim, sabemos que todo mundo tem problemas, mas infelizmente, os nossos nos trouxeram bloqueio criativo, falta de computador, estudo, trabalho, e tantas outras coisas que não queremos jogar em cima de vocês, que não tem nada a ver com a encrenca que nossas vidas são. Sentimos muito que tenham tido que esperar tanto assim.
O capítulo de hoje é mais curtinho, mas estamos tentando conciliar os afazeres para ao menos ir trazendo de pouco em pouco a história. Muito obrigada a quem continua acompanhando, a quem não perdeu a fé nessas duas autoras malucas aqui, a quem não perdeu a fé em Chuva de Lágrimas e que nos vem dando tanto amor.
Aproveitem



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Tentar foi exatamente o que Isabella fez. O bagunceiro de quatro patas havia se comportado bem por algumas horas, dando a ilusão de que aquela noite ia ser tranquila, mas a realidade era completamente diferente. Ela perdeu a conta de quantas vezes respirou fundo para controlar o temperamento. 

Já não fazia ideia de como aguentaria os olhares inquisitivos dos funcionários ao limparem seu quarto na manhã seguinte. Esfregando o rosto com as mãos, numa tentativa falha de afastar o cansaço, ela observou Jake deitado no meio da cama, entre as patas e os dentes estava o que um dia fora um travesseiro de pena de ganso.  

— Olha, vou dizer de novo — Isabella manteve a expressão o mais séria possível enquanto era ignorada por ele —, nada de fazer bagunça.  

Ele levantou a cabeça deixando-a em um impasse, sem conseguir decidir se ficava irritada ou se tirava um foto da cena mais encantadora que presenciava. Jake parecia congelado olhando a pequena pena equilibrada em cima de seu nariz. Talvez estivesse tão indeciso quanto Isabella naquele momento. Cachorros ficavam confusos? Imaginou que sim, mas não gostava de ser presunçosa. Ter ele em casa já ia contra tudo que escolheu para sua vida. O que era bom, de certa forma. 

No final, decidiu fotografar o momento e depois sentou ao lado dele na cama.  

— Sabe, nós dois temos que aprender a vivermos juntos — com a ponta dos dedos retirou o "objeto estranho" do focinho dele e o acariciou atrás da orelha —, somos só você e eu.  

Ele latiu e deu um grunhido ao voltar a abocanhar os restos mortais em cima do colchão.  

— Certo, meus pais também, obrigada por lembrar — ela sorriu. — Continue a cometer o crime então.  

Levantou e caminhou até a escrivaninha. Se teria que ficar acordada por mais um tempo, pelo menos estaria estudando antes de sair.  

— Bella — a voz a fez encolher os ombros por dentro. — Não vai ficar para o café da manhã? 

Proposital, talvez? Não. Duvidava que fosse. Se não tivesse dormido mais que a própria cama, talvez tivesse conseguido evitar o desagradável encontro logo pela manhã.  

— Não posso, Renée. Tenho que trabalhar — soou seca demais até para seus ouvidos.  

— O hospital não vai cair aos pedaços se você demorar algumas horas para chegar, filha. 

 Isabella analisou a ternura que brilhava nos olhos verdes da mãe como se estivesse estudando o raio-x de um paciente. Renée tinha razão, o hospital não ia entrar em colapso se ela demorasse ou até mesmo faltasse, mas não achava que fosse engolir o que quer que tivessem feito para o café da manhã.  

— Obrigada pela preocupação, mas você e o papai podem aproveitar.  

Suas costas deviam ser uma visão mais corriqueira para Renée do que seu rosto. 

Algumas horas depois... 

Seu humor começou a mudar na horário de almoço, acompanhado de uma bela dor de cabeça que pulsava entre suas têmporas. Sua próxima reunião tinha sido cancelada, então ela podia aproveitar aquele tempo de pausa sozinha.  

O sol estava livre da cobertura das nuvens, a luz refletindo na neve que caíra durante a noite, transformando todo o estacionamento em um tapete branco. Isabella abraçou o corpo, se aproximando das grandes janelas, estava frio. Seus olhos ardiam, mas ela se forçou a ficar olhando para o mundo de gelo por mais alguns minutos. Parecia tudo tão silencioso e sereno lá fora, completamente o oposto do que realmente era.  

— Dra. Swan? — a batida leve na porta soou antes da voz. — Seu almoço está aqui.  

Ela não se virou. Ouviu os saltos de Sue enquanto ela cruzava a sala, ouviu o tilintar do metal contra o vidro da mesa, os saltos novamente e depois a porta se fechando. Respirou fundo, sentindo o cheiro leve de molho de tomate e manteiga.   

Spaghetti à bolonhesa. Ela sorriu depois de já estar sentada com o garfo na mão. O estômago roncou, protestando contra a tortura de ficar muito tempo sem receber alimento. Enquanto comia, não conseguiu deixar de pensar se naquele exato momento, o dono de Jake, estaria comendo algo também.  

Mandaria Phill investigar mais profundamente. O cachorro devia voltar para seu dono e ela tinha que arrumar um jeito de terminar o tratamento do homem. Se sentia culpada por tê-lo deixado ir embora, a incomodava. Seu estômago reclamou mais uma vez e ela voltou a comer.  

Washington, DC 

Esme usou as costas das mãos para limpar do rosto as lágrimas que não paravam de cair. A realidade se parecia tanto com um sonho que era difícil acreditar até em seus próprios olhos. Tinha vontade de mantê-lo em seus braços, com medo de que a qualquer segundo seu filho, seu Edward, pudesse desaparecer novamente. Mas poderia assustá-lo se fizesse isso, então tentou se contentar em estar sentada ao lado dele no sofá, segurando sua mão calejada e áspera entre as suas.  

— Você está com fome? Sede? Quer alguma coisa?  

Carlisle perguntou, parado ao lado da janela. Seu marido conseguia controlar as emoções melhor que ela, já não tinha traços de que chorou no rosto, mas depois de tantos anos casados, Esme sabia que por dentro ele estava cheio de emoção. 

— E-eu estou bem, obrigado.  

Edward parecia tão deslocado ali, com os ombros encolhidos como uma criança. Ah, quantas noites ela tinha chorado, até mesmo enquanto dormia, por não ter nenhuma notícia de onde seu filho estava. E agora o tinha ali, pertinho. Ela sorriu, ainda chorosa, emocionada. Soltou a mão dele e se levantou, passando as próprias mãos na saia para arrumá-la.  

— Carlisle, fique com ele, sim? Vou preparar alguma coisa para comermos.  

— Sua mãe sempre gostou de cozinhar — Carlisle murmurou com um sorriso enquanto Esme desaparecia na cozinha. — Quando você e Alice nos visitavam eu me sentia em um restaurante.  

Edward levantou o rosto, deixando seus olhos se encontrarem com o do outro homem.  

— Não estou com fome, ela não precisa fazer nada, senhor.  

— Me chame de Carlisle, por enquanto. Você… Não se sinta pressionado.  

Ele assentiu de leve, se remexendo desconfortável no sofá. Uma moldura prateada, repousando entre uma vela e um jarro de margaridas em cima do piano do outro lado da sala, chamou sua atenção. Quatro pessoas estavam presas em um momento que aparentemente foi muito feliz, julgando pelos enormes sorrisos nos rostos de cada um. Carlisle estava no meio, com os braços de Esme ao redor de seu corpo. Uma garota de cabelos curtos, não muito alta, fazia um "v" com os dedos à sua direita. E à esquerda de Esme, um rapaz, de cabelos com tons de cobre e castanho. 

— Era o dia da sua formatura na faculdade — a voz tranquila da Sra. Cullen soou enquanto ela andava até a mesa com uma bandeja nas mãos. — Alice esqueceu de levar o presente que comprou e ficou irritada, mas você disse que já tinha sua própria Sininho então não precisava de nada.  

— Alice…  

— Sua irmã mais nova. Um furacão em miniatura — a voz animada de Jacob anunciou sua chegada à sala. A jaqueta tinha sido descartada, junto com a mochila de lona que Edward não havia notado antes, assim que entraram na casa. Ele teve que tirar sua jaqueta jeans também, e deixá-la pendurada ao lado da de Jacob no cabideiro atrás da porta.  

— Se prepara pra quando ela te ver. Aquela ali pode ser pequena, mas tem um par de braços bem fortes — Jacob bateu nos próprios bíceps para demonstrar. A risada leve de Carlisle fez com que a tensão em seus ombros diminuísse um pouco.  

— Não a deixe te ouvir falando isso, rapaz.  

— O senhor sabe que é verdade, tio.  

— Venham comer — Esme os interrompeu Carregava uma bandeja que parecia ter comida demais da cozinha até a mesa de jantar.  

As coisas naquela casa eram tão diferentes das da doutora. E por um momento ele sentiu falta do silêncio e de não ter pressão em seus ombros. O tratavam bem ali, sem sombra de dúvidas. Mas os olhares... Carregados de lembranças únicas, que ele se recusava a sequer imaginar. Tudo parecia tão irreal.  

Ele seguiu Jacob até a mesa, Carlisle na frente deles, olhando para trás a cada dois segundos. Como se tivesse medo que de alguma forma, Edward fosse desaparecer no ar. Talvez tenham sido aquelas pequenas ações que o fizeram perceber o quanto a família Cullen estava machucada.  

Esme sorria para ele ao colocar biscoitos e mini sanduíches em um prato decorado à sua frente. Era tão caloroso e gentil o modo como ela o tratava, como ela dava pequenos toques em sua mão depois de dizer que ele devia comer mais e oferecer mais suco de abacaxi — seu preferido desde pequeno de acordo com ela.  

— Nós trancamos Alice no armário uma vez — Jacob ria, espalhando algumas migalhas pela toalha de mesa. — Na semana seguinte, todas as nossas roupas tinham sido cortadas. 

Ele sorriu, apenas escutando a conversa.  

— Vocês três ficaram de castigo durante um mês — Esme se levantou e foi para a sala. — Carlisle e eu tivemos dificuldade de fazer vocês pararem de gritar.  

Ela voltou com um grande álbum de fotos, que como a bandeja de prata, parecia grande demais para ela carregar.  

São Petesburgo, Rússia. 

A criança em seus braços, respirando suavemente enquanto apertava um robô de brinquedo, era a pessoa mais importante de sua vida. Ele ficava maravilhado em observar e gravar na mente cada traço dela, como o pequeno nariz arredondado e salpicado de sardas, que ela mexia de um lado para o outro quando enfim conseguia parar de rir. Ele passou a mão pelo rosto, deixando seguir o caminho até seu cabelo bagunçado apenas para o despentear ainda mais. Não sabia o que fazer, estava mais perdido agora do que quando ficou sabendo que seria pai. Suspirou. E para seus ouvidos, soou mais desesperado do que cansado. 

O número do seu voo foi chamado e ele se levantou com um pouco de dificuldade. A mochila laranja com dinossauros verdes da pequena sendo equilibrada no ombro junto com a sua própria. Os passaportes em uma das mãos. A viagem seria longa.  


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado.
Mil abraços para vocês! ♥