Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas!
Tudo bem com vocês? Esperamos de todo o coração que sim!
Segue então mais um pedacinho da história desses personagens maravilhosos que nos envolvem demais.
Um beijão para todas.
Muito obrigada por continuarem acompanhando, lendo e comentando. Somos imensamente gratas. Sem mais delongas, boa leitura!
— Panda



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Isabella fechou a porta de casa com cuidado, encostando a testa e respirando fundo. Havia feito Jacob prometer que se tivesse que ir embora ou algo do tipo, que a avisasse antes para que não sentisse o mesmo que seis anos atrás.

Estava cansada, suas costas doíam pela posição desconfortável que tinha mantido enquanto dormia, mas não podia negar que se sentia ligeiramente feliz.

— Não dormiu em casa? — a voz inquisitiva de sua mãe a assustou. Virou-se, com a mão no peito, como se o simples gesto pudesse controlar as batidas aceleradas de seu coração.

— Não tenho mais dezesseis anos, Renée — respondeu, encarando a mais velha que se mantinha no meio da escada, a mão direita apoiada no corrimão.

Ainda era cedo, mas Isabella não ficou surpresa ao ver a mãe já completamente arrumada, como se estivesse pronta para aparecer diante das câmeras.

— Oh, Isabella, sei que não tem essa idade, minha querida. Por isso me preocupo. Se não cuidar de seu belo rosto, ganhará rugas antes do tempo.

— Sério? — a pergunta soa cheia de indignação. — Eu estou bem, mãe, obrigada por perguntar. E sim, dormi fora, o que na verdade não é da sua conta, não é mesmo?

Nem mesmo olha para o lado quando passa pela outra na escada. Continua subindo os degraus e vai direto para o quarto tomar um banho e se preparar para o trabalho.

Mesmo que poucos dias tenham se passado desde que o acolheu em sua casa, automaticamente, como fez nos outros dias, Isabella assim que está de volta no andar de baixo segue o caminho para o quarto de hóspedes onde o mendigo ficou.

Ao abrir a porta e se deparar com o mesmo vazio, sem nenhum sinal de que ele esteve ali com seu cachorro, a cama arrumada e tudo perfeitamente no lugar, seus ombros ficam tensos.

Ele tinha ido embora e ela esquecera disso.

Saiu dali e foi para a cozinha. Tomou apenas um copo de suco de laranja, mesmo que o café da manhã estivesse com um cheiro delicioso. Se ficasse para comer, certamente encontraria a mãe e não queria ter que passar por isso uma segunda vez. Já tinha decidido que não podia fazer muita coisa em relação à presença deles em sua casa, então faria tudo possível para evitar qualquer interação que pudesse.

— Bom dia, Srta. Swan — Phill a cumprimentou assim que ela saiu, mantendo a porta do carro aberta.

— Bom dia — respondeu, se acomodando no banco.

— Não vai ficar em casa hoje, senhorita? É véspera de Natal — ele a olhou rapidamente.

— Véspera de Natal? Já?

Phill sorriu. Era tão interessante observar como algo que o mundo todo prestava tanta atenção, conseguia passar tão despercebido pela jovem mulher, quanto triste.

— Sim.

Isabella ponderou por alguns segundos e saiu do carro.

— Vá para casa então, fique com sua família — comunicou, fazendo o caminho para a garagem. — Esteja aqui no horário certo semana que vem.

Ela não deu tempo para que ele respondesse, apenas continuou caminhando.

Escolheu o Bugatti, o mesmo modelo que Jasper havia usado no dia anterior, só que com uma cor diferente. Pegou a chave no painel de vidro e se apressou a entrar no veículo e sair da garagem.

Algumas horas mais tarde...

Chegar em casa depois de um longo dia de trabalho e encontrar pessoas correndo de um lado para o outro carregando caixas de vários tamanhos em seus braços, com uma aparência de completo cansaço, não era nem um pouco agradável. Isabella tentou, realmente tentou controlar a raiva que começou a borbulhar, mas já estava sem nenhuma paciência por ter tido que reformular todo o contrato de aluguel com uma das lojas do shopping.

Seguiu o fluxo caótico que suas empregadas faziam até a sala de estar. Trincou os dentes quando descobriu o motivo pelo movimento agitado de sua casa. Renée estava sentada em uma das poltronas, as caixas — que Isabella agora notava — cheias de enfeites natalinos espalhadas ao seu redor. Um enorme pinheiro verde escuro estava posicionado em um canto estratégico e os pisca piscas brilhavam como vagalumes.

— O que está fazendo?

— Ah, você chegou! — sua mãe desviou os olhos das bolas transparentes de vidro com detalhes dourados por alguns segundos. — O que acha dessas? Combinam perfeitamente com a decoração da sala.

— Pra quê está fazendo isso? Não é como se fôssemos uma família feliz.

— Mas ainda somos uma família, Isabella — Renée entregou a caixa que tinha no colo para a empregada ao seu lado e gesticulou para que fossem colocadas na árvore.

— Guarde essa fantasia apenas para você, sim?

— É necessário ser tão fria, filha? É Natal. Não podemos ao menos fingir ser felizes um pouco?

— Sim, podemos fingir. Fazemos isso há tanto tempo que já se tornou um hábito, não é mesmo, mamãe?

— Me ajude a decidir...

— Vamos começar mais tarde, ok? Estou cansada para fazer isso agora.

Ela deu as costas e voltou por onde tinha vindo, subindo as escadas e foi para seu quarto.

De onde será que todas aquelas coisas tinham surgido? Não se lembrava de ter comprado nada daquilo, então sua mãe devia ter tido um dia realmente divertido. Ao contrário do seu. Resolveu deixar os pensamentos em uma caixa no fundo de sua consciência e aproveitar todos os benefícios que um belo banho de banheira pudesse lhe proporcionar.

Quando terminou, colocou uma roupa confortável, que a mantivesse bem aquecida já que estava bem frio e a previsão alertava que a possibilidade de nevar aquela noite era bem grande. Se deitou na cama, com o corpo e o rosto virado na direção da grande janela e ficou observando o céu noturno.

Ela acordou com alguém batendo na porta de seu quarto. Se soubesse que estava tão cansada assim que acabaria dormindo sem nem ao menos notar, teria saído do trabalho mais cedo.

— Isabella? — a voz grave de seu pai a fez se sentar na cama.

— Entre — respondeu, meio rouca por ter acabado de acordar.

Charlie Swan não era um homem que frequentemente demonstrava suas emoções, se mantendo mais reservado e taciturno. Pouquíssimas pessoas conheciam um lado diferente dele, as principais sendo sua esposa e, em uma frequência menor, sua única filha.

E Isabella gostava bastante quando podia presenciar esse outro lado. Como agora, enquanto ele dava passos firmes até a cama, com seus olhos castanhos analisando o rosto dela.

— Você não está descansando o suficiente — ele comentou, se sentando e desviando o olhar para a janela.

— O empresa e o hospital não podem se cuidar sozinhos.

— Muito menos você — dessa vez ela o fitou. Seu pai parecia ainda mais cansado que ela, com rugas ao redor dos olhos e marcas de expressão provenientes de suas caretas irritadas ao redor da boca. — Sei que as coisas são difíceis, que foram muito difíceis, mas você não precisa mais agir assim, Isabella.

— E como é para eu agir, pai? Como se nada tivesse acontecido? Como se eu ainda fosse aquela garotinha de dez anos que a venerava? — Isabella cruzou os braços sobre o peito, jogando as pernas para fora da cama e afundando os pés no tapete felpudo que ficava ali. — Não dá, não agora, não depois de tanto tempo.

— Ela está se esforçando, Isabella.

— Eu também estou!

— Não, você não está — ela o olhou, pronta para respondê-lo. O brilho de advertência no olhar dele a parou. — O jantar vai ser servido em alguns minutos. Desça e jante com seus pais, certo? Tente com mais fervor.

Os lábios dele se repuxaram em um sorriso pequeno e raro. Isabella o observou sair do quarto, a coluna ereta, com seus ombros largos aparentes apesar do suéter azul escuro.

Não importava o que seu pai dizia. Ela estava sendo tolerante demais, paciente demais. Não havia nem mandado jogarem todos aqueles enfeites fora, deixando Renée montar sua pequena peça natalina com final feliz.

Mas... quem sabe, realmente estivesse sendo dura demais... A súbita dúvida a incomodou assim que surgiu.

Devia parar de pensar nisso e ir se preparar para descer. Levantou da cama e foi até o banheiro lavar o rosto para se livrar dos resquícios de sono.

Conseguiu manter uma paz significativa durante o jantar, evitando falar muito e focando sua atenção na comida — que de fato — estava deliciosa. Assim que os pratos foram recolhidos, Isabella pegou sua taça de vinho e o casaco e foi para o jardim respirar um pouco. Se sentia sufocada em sua própria casa e isso não a agradava nem um pouco.

Tomou um gole do líquido escuro e o saboreou por alguns segundos antes de engolir.

Já passava de meia noite, oficialmente Natal e mesmo assim ela não se sentia nem um pouco diferente. Era assim que as pessoas deviam se sentir quando comemoram com a família essa data tão importante? Tinha certeza que não, mas não havia como saber. Não se lembrava de já ter tido um Natal feliz, real e verdadeiramente feliz.

Um par de olhos azuis felizes e ao mesmo cheios de lágrimas, de repente surgiram em sua mente.

Será que aquele homem já tinha tido, algum dia, uma experiência diferente da dela em relação ao natal? Era bem capaz que sim, mas ele também não devia lembrar de nada. O que ele devia estar fazendo naquele exato momento? Isabella sabia que ele não tinha lugar nenhum para ir quando foi embora na noite anterior, mas não podia obrigá-lo a ficar em sua casa contra sua vontade.

O vento frio a fez fechar o casaco melhor ao redor do corpo. Tomou mais um gole de vinho e olhou para cima, tentando encontrar as respostas para as suas diversas perguntas no céu escuro. Esticou a mão quando viu um floco de neve rodopiando logo na sua frente. O cristal de gelo se aninhou na palma e lentamente derreteu.

Essa noite seria ainda mais fria que as anteriores e ele estaria lá fora, sem ter como se abrigar corretamente, piorando ainda mais sua saúde. Passando a mão pelo rosto, Isabella respirou fundo. Como sua vida podia ficar tão complicada em uma questão de dias?

Renée mantinha o olhar na figura da filha do lado de fora da casa. Seu coração estava apertado, doendo, mas Isabella conseguia ser mais resistente que um diamante quando queria e não havia nada que ela pudesse fazer a não ser esperar.

Charlie sabia que o que conversara mais cedo com a filha não seria algo que a mesma analisaria com cuidado agora, não enquanto ainda estava tão machucada. Seu maior desejo era que as coisas pudessem ter acontecido de forma diferente, que as duas mulheres de sua vida conseguissem conviver de forma mais pacífica. Mas isso era pedir demais, era querer demais.

Washington DC

— Se continuar bebendo assim acordará com muita dor de cabeça amanhã — a voz suave e carinhosa acalmou um pouco o coração inquieto dela. — Venha comer alguma coisa, você não descansou um segundo sequer o dia inteiro.

— Estou bem, Carlisle — ela sussurrou, colocando a taça no peitoril da janela e deixando o abraço quente dele reconfortá-la. — Estou bem.

Era mentira. Ele sabia e ela tinha consciência disso. Não estava bem, na verdade estava longe disso. Não tinha motivo para se banquetear com toda aquela comida quando seu filho podia estar passando fome em algum lugar do mundo. As lágrimas encheram seus olhos, mas ela não as derramou.

Estava cansada de chorar. Não queria mais ter que passar por esse sofrimento todo que era não saber se seu Edward continuava respirando ou não. Se perguntava o que ela e Carlisle deviam ter feito errado para que passassem por isso, por essa agonia.

— Venha, Esme. Vamos comer.

Ela se deixou levar por ele em direção à sala de jantar. Seus amigos estavam esperando e quando as risadas já podiam ser escutadas, ela enxugou os olhos e mascarou a tristeza que sentia com um sorriso forçado.

Forks

Ao mesmo tempo que o floco de neve caía na mão de Isabella, do outro lado da cidade, distante da mansão Swan, um cachorro de pelos dourados colocava a língua para fora na tentativa de capturar um dos cristais rodopiantes. Em meio a pulos, com seus latidos ecoando pela praça pouco movimentada, ele ia de um lado para o outro, sem se afastar tanto de seu dono.

— Está se divertindo, Jake? — a voz rouca do mendigo perguntou. Ele deu uma risada quando a única resposta do cachorro foi abanar o rabo rapidamente e continuar em sua missão.

Estava mais frio hoje, mais frio que nos outros dias. Seu corpo doía quando o vento batia contra ele e o nariz escorria.

Desviou o olhar da brincadeira divertida que Jake fazia, voltando sua atenção para as poucas pessoas que caminhavam por ali. As árvores da praça estavam enfeitadas com luzes coloridas e algumas esculturas do bom velhinho estrategicamente espalhadas.

Ele se deitou no banco, a cabeça apoiada na sacola com as roupas que a doutora tinha lhe dado. Seus olhos azuis cansados fitando o céu escuro. Antes que percebesse estava dormindo e sonhando.

No sonho ele não estava na rua, não sentia frio e seu corpo não doía. Estava em uma casa grande, bem decorada, que lhe passava a sensação de familiaridade.

— Acorda preguiçoso! — a voz de um homem o fez levantar a cabeça de onde estava deitada em seus braços. — Sua mãe passou a manhã cozinhando e você continua dormindo.

Ele sente os lábios se mexerem com a resposta, mas não escuta a própria voz e não consegue ver o rosto do outro homem direito. A imagem fica embaçada e logo desaparece.

Agora, ele está sentado de frente para uma mesa, consegue ver a geladeira, o fogão e as costas de uma mulher mexendo no mesmo a alguns metros de distância. Tem consciência de que estão conversando, sente seus lábios repuxados em um sorriso, mas não consegue ouvir nada do que falam.

Seu corpo se mexe por conta própria. Ele levanta, recolhendo os pratos sujos da mesa e os leva até a pia.

— Eu lavo e você seca — a voz do homem surge rapidamente de novo. Ele está ali, ao seu lado, usando a bucha para limpar a louça. A tentativa de ver o rosto dele falha.

Quando acorda do sono cheio de sonhos o céu já está claro, as luzes que iluminavam os galhos das árvores já são apenas um brilho fraco na competição contra a luz do sol. Sua garganta está doendo ainda mais do que antes e o corpo está rígido pela posição que dormiu. Jake durante a noite deve ter desistido de caçar a neve e está deitado em cima de seu peito.

O mendigo sorri e passa o braço em volta do cachorro. O cobertor que conseguiu no dia anterior em um dos centros de doações os protegendo contra o frio da manhã.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Esperamos que tenham gostado. Comentários, críticas construtivas e opiniões sinceras serão sempre bem vindos! Obrigada por lerem!
Um beijão e até mais ver.
Com amor,
Jaci & Ana ♥