A casa de Jacob Black parecia pequena e reconfortante mesmo olhando-a de fora. O contraste de sua cor vermelha com as janelas, que eram pintadas de branco, trazia um ar de boas vindas. Tinha a impressão que já havia estado ali.

– Espero que não tenha ninguém – suspirou Jacob cansado. Eu deveria mesmo ter repensado essa história de dar aulas de monitoria em sua casa. Seria estranho ficar a sós com ele – As damas primeiro – Abriu a porta me dando passagem.

Espantei-me com a cena que vi assim que entrei. Paul, o garoto que queria me ver esquartejada, estava largado no sofá, assistindo TV. Eles eram irmãos? Ao me ver, ele sentou-se rígido e correu os olhos de mim para Jacob.

– O que ela está fazendo aqui?

– Eu que te pergunto: o que você está fazendo aqui? Esse é meu sofá, e minha TV!

– Pare de implicar com ele, Jake! – disse uma garota entregando para Paul um pacote de cheetos. Ela se parecia muito com Jacob. Tinha os mesmos olhos negros e intensos, e a mesma pele morena.

– E isso aí também é meu! – falou Black emburrado.

– Quem é ela? – perguntou a garota apontando sua cabeça levemente em minha direção.

– Rachel, esta é Aria. Aria, esta é minha irmã Rachel – disse ele nos apresentando.

– Nossa! Nem me lembro da última vez que Jake trouxe uma garota para casa. É sua namoradinha? – perguntou com um sorriso travesso. Eu realmente odiava ter a pele branca em momentos como aquele, porque eu sabia que estava corando.

– Ainda não – Sorriu Jacob da mesma forma. Convencido! – Aria...

– Campbell – corrigi-o.

– ...veio me ajudar com os estudos – continuou.

– Jacob! – gritou uma voz.

– Vem – disse Black, puxando-me pela mão para a cozinha.

– Garoto, quantas vezes eu já não lhe falei que... – falou um homem irritado assim que o viu, mas parou ao notar minha presença – Não me disse que teríamos visitas.

– Billy, esta é Campbell – apresentou-me Jacob mais uma vez, fazendo uma vozinha irritante ao pronunciar meu sobrenome.

– Pode me chamar de Aria – falei para o senhor, fazendo Jacob resmungar alguma coisa. Então, eu me lembrei de onde vinha aquele sentimento familiar. Aquela era a casa que eu tinha pedido informação no outro dia.

– Você é a moradora nova! – falou Billy apertando minha mão.

– E você é o senhor gentil que me ajudou! – disse alegremente. Não acredito que a primeira pessoa que eu tinha simpatizado em La Push era justamente o pai de Black.

– Vocês se conhecem? – perguntou Jacob confuso.

– Então você é a garota responsável por fazer esse rapaz sair de casa? – perguntou Billy ignorando a presença de seu filho – Você não imagina o quão insuportável foi, tê-lo que aguentar todos os dias.

– Na verdade, eu imagino sim! Ele não larga do meu pé desde que nos conhecemos! – falei dramaticamente – Ele é convencido e rabugento.

– Ignore isso, querida, ele no fundo é um bom garoto...

– Com licença! Mas eu ainda estou aqui, e estou ouvindo tudo! – disse Jacob emburrado. Billy gargalhou contente e ofereceu algo para comermos – Não temos tempo para isso – continuou Black – Vem!

Jacob me arrastou para fora de casa e levou-me para um galpão velho. Ferramentas estavam jogadas por todo lugar e manchas de graxa sujavam as paredes.

– Vamos estudar aqui? – perguntei.

– Quem disse que vamos estudar? – Sorriu malicioso. Arregalei meus olhos, surpresa. Se ele tentasse me atacar, eu juro que socava aquele rostinho bonito, até ele ficar parecido com o Shrek. – O que está se passando por essa cabecinha pervertida? Nossa Aria, você é pior do que eu imaginava!

– Se não vamos estudar o que vamos fazer?

– Provavelmente, não isso que você está pensando. A menos que queira, é claro... – O sorriso sarcástico dele me fazia, querer esganá-lo, e muito.

– Black!

– Vamos conversar! – disse por fim.

– Você está brincando, não é? Fez-me vir até aqui para conversar? – perguntei zangada.

– Qual é! Vamos nos divertir! Pode perguntar qualquer coisa sobre mim, e eu prometo ser sincero com a resposta – Ele se achava de mais. Não é como se eu tivesse qualquer interesse nele para querer saber sobre sua vida. Mas então, me veio algo à cabeça.

– Qual é a história com a garota, que Brad falou?

– Ok. Pode perguntar qualquer coisa, menos isso – respondeu chateado.

– Black, você não aparece no colégio há semanas, Billy contou que você passou este tempo todo em casa e Brad disse que isso tudo era por causa de uma garota. Sua reação apenas confirmou isso – Seus olhos pareceram surpresos com o que falei, mas ainda assim, permaneceu calado – Se não quer conversar eu vou embora – Levantei-me.

– Éramos amigos desde a infância – disse baixinho – Quando ela se mudou para Forks, passamos a ficar mais tempo juntos, e eu acabei me apaixonando. Ela se tornou o meu primeiro amor, mas...

– Mas? – incentivei para que continuasse.

– Não era recíproco. Eu fiz de tudo. Tudo para que ela admitisse seus sentimentos por mim; contudo, não foi o suficiente. No fim, eu só levei um chute na bunda. Fiquei em casa, sem sair durante dias, até...

– Até? – Engoli em seco. Seus olhos negros estavam cravados em mim. Sentia meu coração bater descompassado, tamanha a intensidade com que me olhava. Porém, isso não durou muito. Jacob sorriu sem graça, desviou seu olhar e disse:

– Até que deixei de ser fresco e fui para o colégio.

– Mas ainda gosta dela!

– Não diga bobagens.

– Se não gostasse, não ficaria tão abalado quando fala sobre isso. Precisa resolver as coisas com essa garota! Dar um ponto final nisso! Só assim, vai poder abrir seu coração de novo para outra pessoa – falei convicta. Eu não sabia bem porque estava tão interessada naquilo tudo, e porque de repente estava tão frenética e ansiosa.

– Obrigado, Aria – Jacob sorriu. Sorriu como eu nunca tinha visto antes, mostrando pela primeira vez a fileira de dentes brancos perfeitos. E mais uma vez naquele dia, senti minhas bochechas esquentarem – Agora é minha vez!

– O quê?

– De perguntar alguma coisa sobre você. Por que está em La Push?

– Queria um lugar calmo para morar – falei dando de ombros.

– Não quero a resposta mecânica que você dá para todo mundo. Quero a história real – Espantei-me com o que ele disse. Jacob sabia que eu estava mentindo, mas eu não podia contar. Não era algo que um reles humano, ou qualquer um poderia saber. Nem mesmo Edward sabia o motivo de minha chegada a La Push.

– Você que se comprometeu a responder as perguntas, Black. Não eu – disse nervosa. O melhor era mudar de assunto – Minha vez de perguntar. Que cor de cueca você usa? – falei rapidamente. Não é como se eu tivesse interessada, mas eu fiquei curiosa, e Vince me mataria se eu tivesse essa oportunidade de descobrir e deixasse passar.

– Como?

– A cor da sua cueca. Preta, branca? – perguntei. Jacob soltou uma gargalhada divertida e alta.

– Quanto mais tempo eu passo com você, mais eu me surpreendo Aria.

– Já disse que é Campbell. Não me entenda mal, mas eu ganharia um bom dinheiro com essa informação – disse fazendo uma careta – E você ainda não respondeu minha pergunta.

– Cinza – Deu de ombros – Posso te perguntar pelo menos uma?

– Manda ver.

– Por que você não me deixa te chamar de Aria? E por que você não gostou de mim quando me conheceu?

– São duas perguntas Black – falei – Respondendo à primeira, não somos íntimos o suficiente para me chamar pelo primeiro nome.

– Podemos mudar isso se você quiser... – disse pervertido. Revirei meus olhos teatralmente. Ele não iria desistir de ganhar sua aposta tão fácil – Qual é? Você já sabe a cor da minha cueca! Somos íntimos!

– Seremos íntimos quando eu passar a te chamar de Jacob, e isso não vai acontecer tão cedo – Dessa vez, ele revirou os olhos. Era irritante.

– Não vai responder minha outra pergunta?

– Infelizmente, suas duas horas acabaram, Black. Tenho que ir. – Ele pareceu chateado quando eu disse isso, mas sorriu.

– Eu te levo então.

– Não precisa. Tenho que fazer uma coisa antes de ir para a casa.

– Eu vou com você!

– Tchau, Black – Revirei os olhos e saí, deixando-o com um sorriso bobo no rosto.

Passar o dia com ele não foi assim tão ruim. Jacob Black era exatamente igual e ao mesmo tempo diferente do que eu imaginava. Mostrou-se o mesmo convencido e pervertido de sempre, mas também era divertido e doce.

Caminhei floresta adentro sorridente. Tinha ficado mais próxima de Jacob hoje. Próxima até demais. Ainda me arrepiava ao lembrar o contato de seu corpo com o meu, de sua pele quente e seus lábios úmidos em minha orelha. Ele estava me ganhando e eu ia ser somente o troféu do que ele queria provar: que podia conquistar qualquer mulher. O sorriso de antes tinha se desfeito. Eu estava agindo feito uma idiota.

De repente, ouvi passos leves na floresta – alguém estava se aproximando. Senti meu corpo se enrijecer, seja lá quem fosse estava muito tranquilo. Até que eu o vi.