Laços escrita por Arthur Queiroz


Capítulo 1
I: Miguel


Notas iniciais do capítulo

Introdução da história! Espero que vocês curtam =)



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Acordei às seis da manhã em um dia de sábado ensolarado.

Tomado por uma grande ansiedade, não perdi tempo e fui até o banheiro para escovar os dentes. Em seguida, desci as escadas e segui em direção à cozinha, onde meus pais estavam tomando juntos o café-da-manhã. Temos o hábito de acordar cedo, inclusive em fins de semana, pois acabamos nos habituando ao ritmo constante (de estudo, no meu caso, e de trabalho, no deles).

— Bom dia, filho! — Minha mãe me cumprimentou.

— Bom dia!

Meu pai estava concentrado demais lendo o jornal do dia, então decidi não atrapalhá-lo. Após terminar de se alimentar, mamãe se levantou para lavar a louça que havia acabado de utilizar para a refeição. Depois disso, esquentou no micro-ondas um pedaço do empadão de frango que comemos ontem e preparou um copo de suco, enquanto me sentei à mesa e fiquei esperando.

— Já arrumou as coisas? — Ela perguntou, colocando o lanche sobre a mesa e se sentando ao meu lado. — Deveria ter dormido um pouco mais. Assim, estaria mais descansado para passar o dia fora.

— Não consegui... Mas estou bem disposto.

E realmente não conseguia. Acreditava que, quando passávamos horas demais dormindo, abríamos mão de uma grande parte de nosso dia que poderia ser melhor aproveitada. Principalmente quando estávamos em um fim de semana.

— Miguel, tome cuidado e não chegue muito tarde. Fico preocupada quando você demora a chegar em casa.

Fiz um pequeno esforço para não bufar, pois sei que qualquer mãe se preocuparia com seu filho dessa maneira. Quando for pai, tenho a mais absoluta certeza de que farei exatamente o mesmo. Tenho apenas dezesseis anos e sou filho único, portanto, tento compreender sua visão.

— Tudo bem. Devo estar voltando antes das seis.

Subi para o quarto, preparando a roupa que utilizaria hoje e colocando os objetos necessários dentro da mochila. Uma garrafa de água, biscoitos doces e salgados, um Toddynho e um pacote de balas Freegells com sabor uva. Minha amiga, Tamara, levará Guaravita e alguns sanduíches, ou seja, nossos estômagos não terão do que reclamar.

Iremos ao nosso primeiro evento literário.

Os eventos literários dessa cidade normalmente acontecem em um parque grande, que é acessível às pessoas pertencentes a qualquer parte da cidade. Desde o início do ano, somos convidados pelo Facebook a comparecermos aos eventos, mas sempre tínhamos medo de não conseguirmos nos socializar ou fazer amigos que gostassem das mesmas sagas.

Após me arrumar, olhei para o espelho. Meu cabelo preto está bem penteado, meus óculos também pretos estão limpos e estou vestindo uma camisa laranja do Acampamento Meio-Sangue. Uma das sagas que mais amo de paixão é Percy Jackson e os Olimpianos, pois me trouxe uma visão moderna sobre a mitologia greco-romana, que conheci através de God of War. Além da blusa, coloquei uma bermuda de coloração bege e um tênis preto. Espero estar apresentável.

Quando me despedi dos meus pais, parti para o ponto de ônibus e fui diretamente para a casa de Tamara. De lá, iremos pegar outro que nos levará diretamente ao parque. Toco a campainha e envio uma mensagem pelo WhatsApp, aguardando sua descida.

— Oi! — Tamara gritou, empolgada com o novo dia que teremos pela frente. Ela tinha os cabelos louros escuros curtos na altura dos ombros e olhos castanhos. — Tá ansioso?

— O que você acha? — Eu pergunto, esboçando um sorriso. — Espero que a gente faça novos amigos e novas companhias para ir ao cinema. Vão lançar tantos filmes novos!

— É verdade... Será que são pessoas legais?

— Não vamos saber enquanto não formos, não é? Ainda bem que dessa vez não vamos adiar, como nas outras. Se não gostarmos de lá, não voltamos mais. Simples e eficiente!

O ônibus demorou um pouco menos do que uma hora para nos conduzir até o ponto certo. Descemos de frente para a entrada do parque e esperamos até que o belíssimo sinal de trânsito finalmente fechasse e permitisse nossa passagem.

Um cenário quase que completamente verde, com um extenso gramado espalhado por todo o terreno. Ruas de asfalto foram feitas para permitir o acesso dos carros aos estacionamentos próximos e o livre trânsito pelo ambiente. Em um lado, havia campos de flores com as mais diversificadas cores, onde pessoas se posicionavam para tirar fotos ou casais se sentavam em bancos de madeira para contemplar a paisagem.

Nas áreas mais abertas, de grama lisa, crianças corriam alegremente, acompanhadas de seus pais e de seus cachorros de estimação. Os animais se deliciavam, correndo uns atrás dos outros, aproveitando o espaço inteiro à sua disposição. Somente então me lembrei que estávamos em um feriado. O dia das crianças.

Seguindo por uma das ruas, encontramos placas indicando o exato local onde seria feito o evento. Contornamos construções arquitetônicas, que consistiam em museus e teatros e chegamos a um campo espaçoso e vazio, próximo a um lago. Ali, encontramos à distância pessoas que utilizavam as mesmas roupas que as nossas, pois Tamara também estava com uma blusa laranja. Os que não as usavam, estavam com blusas normais ou roxas, que simbolizavam o Acampamento Júpiter, dos romanos.

— Isso é perfeito! — Gritei, entusiasmado, esquecendo-me um pouco da insegurança que sentia. — Olha quantos são!

Parecia mágico.

Atividades eram feitas. Garotos altos carregavam espadas feitas com material plástico e espumoso e duelavam, como se estivessem em um verdadeiro campo de batalha. Um pequeno grupo de fãs observava a cena, gritando palavras de torcida em nome dos dois jogadores.

Mais para frente, havia uma barraca branca, onde provavelmente ficavam os organizadores do evento. No interior da barra, sobre uma canga, inúmeras blusas de símbolos de sagas como Jogos Vorazes, Harry Potter, As Crônicas de Gelo e Fogo, As Crônicas de Nárnia, Crepúsculo, Os Instrumentos Mortais e Divergente foram colocadas para serem vendidas. Observo o campo com atenção, para conhecer bastante tudo sobre o evento em que estamos.

— Pretende comprar alguma? — Tamara me perguntou, sem tirar os olhos da tenda.

— Não trouxe muito dinheiro... Ficará para outro dia.

— Então vamos!

Encontramos um local para sentarmos e forramos uma canga, colocando nossas mochilas sobre ela. O encontro ainda estava começando, portanto, nenhuma atividade oficial tinha sido feita. Assim, pudemos observar com calma o que estava acontecendo ao redor.

— Miguel, vamos participar das atividades?

— Mas ainda nem sabemos quais são!

— Mesmo assim... Vai ser legal! Vamos? — Tamara sabia ser insistente quando queria, afinando a voz de uma maneira que me deixava nervoso. Éramos melhores amigos desde o primeiro ano do ensino médio. Agora, estávamos perto de completar o segundo. Uma das poucas amigas que tenho, já que possuo dificuldades para confiar nos outros. — Diz que sim!

— Tá bom! Para de falar! — Falei, tentando expor falsa seriedade. Sem obter sucesso, comecei a rir. — Temos que esperar as inscrições começarem. Parece que muita gente vai querer participar.

— Chegaremos antes deles. — Ela sorriu maliciosamente.

A fila se formou e, sem perder tempo, corremos até chegar nela. Com rapidez, muitos fizeram o mesmo. Nem sabíamos quais as atividades que seriam feitas, mas lá estávamos nós prontos para aprontar.

— Essa fila é para o quê? — Decidi perguntar à uma menina que estava na minha frente. Simpaticamente, a jovem se virou para me responder, o que me trouxe uma boa sensação sobre os amigos que eu poderia fazer ali.

— Para o Caça-Bandeira!

Eu e Tamara nos entreolhamos, decidindo que estávamos dispostos a participar daquilo. Sabíamos como funcionava o Caça no universo dos livros, mas seria algo completamente diferente em um evento. E já tínhamos uma noção básica do que seria.

Os nomes foram chamados após o fim da inscrição. Muitos não conseguiram fazer parte da lista, pois os números eram limitados. Eu e Tamara fazemos parte desses muitos, ou seja, ficamos encostados em uma árvore enquanto as pessoas eram convocadas para entrar no campo.

Não prestamos muita atenção em quem estava falando, já que não seríamos chamados mesmo. Voltaríamos a nos focar apenas quando o Caça começasse, pois queríamos entender como funcionaria e quem venceria. Até que, de repente, o organizador falou em alto som um nome:

— Tamara Arruda!

Aquele não era o sobrenome da Tamara, minha amiga. Era o de outra Tamara, mas esta não apareceu. Provavelmente havia se inscrito e perdido a vontade de participar. Quando me dei conta, reparei que Tamara (a minha amiga) não estava do meu lado e foi se apresentar ao organizador, como se fosse a própria candidata. Fiquei boquiaberto, sem acreditar que ela tinha feito isso.

— Se eu não fosse, nós dois perderíamos a chance! — Tamara deixou os seus pertences, inclusive o telefone celular, em minhas mãos, para que não os quebrasse durante a competição. — Tenta me filmar ou tirar fotos!

— Tá. — Falei, rindo. Não dei muita importância por não ter conseguido participar, pois aproveitaria esse tempo para tentar socializar com outras pessoas que estivessem por perto. — Vai lá!

Os times se formaram. Tamara ficou no time dos gregos, cujos membros tinham blusas diversificadas ou com a mesma coloração da nossa. O rival, composto pelos romanos, contava com blusas roxas como predominância.

Quando foi dado o sinal, finalmente se iniciou o Caça-Bandeira. Equipes se concentravam em impedir que membros do time rival passassem pela linha e chegassem à bandeira. Tamara se uniu a duas outras meninas para impedir a chegada de outra, derrubando-a. Pessoas derrubadas eram obrigadas a retornar a seus respectivos campos, precisando fazer isso se quisessem correr novamente até a bandeira. Logicamente, a partida acabava quando uma bandeira era capturada e levada ao outro campo.

Enquanto filmava, olhei um pouco para os romanos. Uma equipe concentrada em derrubar os adversários. Eram mais marrentos e durões, mas reconheço que sabiam o que faziam. Habilidosos, dominavam aquela prática e não deixavam que os gregos sequer se aproximassem da bandeira.

Um deles me chamou mais a atenção do que os outros. Seu cabelo bem cortado era louro e seus olhos brilhantemente azuis, possíveis de observar mesmo de longe. Um garoto que considerei perfeito desde o primeiro instante em que o vi. Senti uma grande vontade de puxar assunto assim que a competição terminasse, mas seria preciso ter coragem.

Tentei equilibrar o foco entre Tamara e o menino misterioso, mas não consegui fazer isso muito bem. Minha amiga estava sendo ótima na partida, sem ser derrubada em nenhum instante, até que ousou atravessar o campo, sem sucesso. O outro menino a observou, de longe, mas por pouco tempo, pois alguém havia chegado para tentar invadir o campo. Sem hesitar, reuniu seus aliados e o derrubou, mas sua camisa foi puxada e levemente rasgada na parte mais próxima do ombro direito.

Não percebi quando a partida acabou, mas o time de Tamara havia perdido para os romanos. Pessoas fúteis que não aceitavam que aquilo era apenas uma brincadeira discutiram com os vencedores, alegando que sua vitória acontecia na base de roubos e trapaças. Ignorando-os, nós dois seguimos de volta para a canga.

— Tô sem folego. — Tamara protestou, apanhando uma garrafa de água da minha bolsa para ingerir o líquido e se hidratar um pouco. — Mas foi muito bom! Você assistiu tudo?

— Sim, e filmei boa parte. — Eu respondi com sinceridade, prosseguindo com o assunto. — Olhei também para o outro time. Tem um garoto que eu achei lindo! Quer saber qual é?

Ela assentiu e eu olhei ao redor, à procura do sujeito. Quando o encontrei, fiquei o mais perto possível do ouvido de minha amiga e sussurrei da forma mais calma que consegui:

— É ele.

— Nossa! Ele é mesmo muito bonito!

— Tenho bom gosto. — Dei uma piscadinha para ela e continuamos a conversar. — Ele provavelmente faz cosplay de Jason Grace. Está com a camiseta do Acampamento Júpiter e tem uma moeda idêntica à dele nas mãos! Vamos falar com ele?

Silêncio.

— Você não quer?

— Chegar em alguém que nós não conhecemos do nada? Não! Não temos nem assunto!

Subitamente, fui tomado por uma pequena tristeza. Nem mesmo eu entendi o motivo daquilo, já que nem sabia quem era aquele ser humano. Mas estava tomado por uma profunda vontade de conhecê-lo, saber se era como eu e se seria uma boa companhia para os próximos eventos.

— Nossa... Eu não vou conseguir ir sozinho! Ele está cercado de amigos!

Moral da história: Realmente não fui. Não naquele momento. Tamara estava cansada demais para sequer se mover e, quando teve forças, praticamente implorou para que fôssemos embora. Eu me sentia pronto para puxar assunto com o cosplayer de Jason, mas não o encontrei quando estávamos para ir embora. Tentando pensar no lado bom daquele dia, afirmei para Tamara:

— Você vai me ajudar a encontrar o Facebook dele.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Estão ansiosos pelo próximo? Posso garantir uma coisa: Muitos personagens ainda virão e mostrarei o crescimento (físico e psicológico) de Miguel e Tamara conforme o tempo passa =)



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