SeuSegredo. Com escrita por Panda Chan


Capítulo 6
Essa é a minha natureza


Notas iniciais do capítulo

Olá bolinhos, como vocês estão? Derretidos como eu? Abalados com as recentes tragédias em Minas Gerais e na França?
Confesso que estou um pouco abalada com essas últimos notícias, parece que sexta-feira treze atrai azar pra mais de um dia.
Estou muito apaixonada pelos comentários de vocês, até os surtos acompanhados de teorias malucas são apaixonantes. O capítulo atrasou por falta de tempo para escrever, peço perdão.
Espero que vocês gostem.
Boa leitura ♥



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Gustavo sorri para mim mostrando seus dentes cobertos pelo aparelho com borrachinhas azuis, ele parece mais magro do que da última vez que o vi e trocou os óculos de armação por lentes de contato.

– Você acha mesmo que o Bill pode estar encomendando as flores daqui? – ele pergunta pela décima vez e eu quase reviro os olhos novamente.

– Já visitei as floriculturas de Oasis e não encontrei nenhuma pista, só estou te pedindo para sondar se as flores não estão vindo de Sparks.

Sparks é a cidade vizinha e irmã de Oasis, antigamente elas eram apenas uma, mas foram divididas. Não que isso tenha mudado algo, ambas seguem as mesmas regras sociais e seus cidadãos possuem os mesmos estilos de vida.

Gustavo é um amigo antigo meu e de Lucca, mesmo sendo um gordinho viciado em jogos online e morar em outra cidade, conhece o meu segredo.

– Quem diria que eu seria usado como espião da Secret algum dia – ele balança a cabeça e sua imagem fica pixelada por alguns segundos na tela do meu tablete.

– A conexão está ficando ruim, vou ter que desligar – anuncio – Você entendeu o que deve fazer, certo?

– Claro, garota veneno. Depois te aviso se descobrir algo.

A imagem trava novamente e resolvo deslogar do Skype sem me dar ao trabalho de dizer “tchau” para ele.

– Hey, Anna Banana – Lucca se senta ao meu lado na arquibancada esquecida da escola.

Diante de nós, as líderes de torcida saltam e fazem acrobacias com suas saias curtas balançando e revelando ainda mais de suas pernas. Lucca não olha para a semi-nudez das garotas como os atletas no campo e isso é o que o torna especial para mim.

Ele me passa um saco para a viagem do fast-food próximo da escola e eu me sinto grata por ter um amigo com carta provisória de motorista. Caramba, como armar para capturar um anônimo nos deixa com fome!

– Você podia ter me convidado para ir até a lanchonete contigo – digo enquanto pesco algumas batatas-fritas que se espalharam pelo saco pardo.

– Eu sabia que você não ia matar a aula de literatura para ir comigo – ele dá um grande gole em seu milk-shake de flocos e sorri para mim – Estava conversando com o Gustavo no Skype?

– Sim – respondo e pego o hambúrguer para comer – Ele vai vigiar as floriculturas de Sparks para mim.

– E o cerco ao redor do Bill se fecha cada dia mais.

– Ele não me deixou escolha – não me preocupo na falta de educação que é falar de boca cheia, estou com Lucca e ele já me viu pior – Dessa vez, vou desmascará-lo.

– É sua última chance de fazer isso então faz sentido.

Paro de comer e olho para Lucca, questionando o que ele quis dizer com essas palavras.

– O que isso significa? – pergunto por fim.

Lucca me olha confuso por alguns segundos franzindo as sobrancelhas.

– Você não percebeu? – quando ele percebe meu silêncio prossegue com suas palavras – Anna, você já tem dezessete anos e está no último ano do ensino médio. Esse é seu último ano como a Secret, seu reinado de veneno se aproxima do fim.

Simples assim, perco a fome e sinto meu estômago se embrulhar.

– Eu não tinha percebido isso.

A expressão facial do meu melhor amigo se suaviza e ouso imaginar que ele sente pena de mim.

– Anna, isso ia acontecer um dia.

Lucca se vira e deixa espaço para que eu me acomode entre suas pernas, coisa que eu faço enquanto agarro meu hambúrguer e mastigo outra batata-frita. Posso até estar sem fome, mas não se desperdiça comida.

– Eu só não percebi que era agora – murmuro.

A questão é, nos últimos anos eu fui e respirei como a Secret. Não existe essa de “último ano como a Secret” porque eu sou a Secret.

Eu respirei, andei, pensei e vivi como a Secret nos últimos quatro anos, não posso deixar que essa parte de mim morra.

– Vai ser bom para você deixar de ser uma anônima fofoqueira e viver um pouco apenas como a Anna – Lucca começa a fazer cafuné nos meus cabelos e eu sinto vontade de socar a cara dele.

– Anna e Secret são quem eu sou, Lucca. Não posso “viver um pouco” como uma porque sou as duas.

– Falei a coisa errada?

– Falou – encho a boca com batatas-fritas e fico com as bochechas cheias como as de um esquilo.

– Se você quer um amigo que leia a sua mente e só diga o que você quer ouvir, devia procurar um dos X-Men.

– Nerd – anuncio rindo.

– Nunca neguei minhas origens – ele diz com orgulho.

Balanço a cabeça vendo como a vida foi irônica com Lucca. Ele é um garoto lindo, filho de pais ricos e famosos que ao invés de ser um convencido desprezível é nerd, engraçado e amigo da garota que fala mal de todos da cidade.

Pelo canto do olho avisto Icaro do outro lado do campo nos observando com um livro em mãos.

– Aquele é o Icaro? – o pergunto para confirmar.

– A touca hipster não me engana, é ele mesmo – Lucca afirma – E acho que está segurando um exemplar de Desastre do S.G. Browne.

Afasto-me de Lucca e o olho assustada.

Que’ foi? – ele pergunta confuso.

– Desde quando você tem olho de tandera?

– Não tenho olho de tandera – ele revira os olhos.

– Tudo bem se você não quer assumir, Lion-O.

– Não me compare a um ThunderCat.

Soco o braço dele de brincadeira e sorrio para esconder meu nervosismo.

Esse é o último dia dos namorados que tenho para desmascarar o Bill.

A Secret não pode falhar.

“ Um pouco de cultura para vocês.

Por incrível que pareça eu tenho cultura e gosto bastante de fábulas, parábolas e contos com lições de moral em geral. Pensavam que eu lia apenas as fofocas que me enviam? Por favor, sou muito melhor que isso.

Como recentemente muitos vieram me perguntar porque escrevo sobre a vida de todos aqui no blog, resolvi compartilhar uma pequena história que gosto para deixar bem claro o porquê.

Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio e fez um pedido.

– Sapo, pode me levar até a outra margem do rio largo?
O sapo, vendo como o escorpião estava triste, queria ajudar, mas estava inseguro.

– Se eu levá-lo, o que garante que não vai me picar?

O escorpião retorquiu:

– Isso é ridículo! Se eu te picasse, ambos afundaríamos. Além disso, você estaria me ajudando então eu não teria motivo para te machucar.

O sapo resolveu ajudar o escorpião, afinal o que ele disse fazia sentido. Por que o escorpião picaria quem se dispôs a ajudá-lo?

No meio do rio, o escorpião cravou o seu ferrão no sapo que mal teve tempo para compreender o que havia acontecido.

– Por que me atingiu? – o sapo perguntou enquanto começava a afundar.

– Porque sou um escorpião e essa é a minha natureza.

Entenderam por que escrevo? Não? Certo, vou resumir para vocês.

Eu escrevo sobre todos porque sou um ser humano e essa é minha natureza. A vida não é um parque de diversões, ela está cheia de veneno. A única diferença entre eu e os outros venenosos, é que não nego minha natureza para parecer boa.

Escrevo sim mal de muita gente, mas só porque eu sou assim e nada pode mudar isso.

Sejam venenosos.

Beijinhos, Secret.”

Observo os ponteiros do relógio da sala de química se movendo lentamente, indicando que faltam poucos minutos para o final da aula.

Lucca, meu parceiro nessa aula, está concentrado na leitura de seu livro de medicina desde que terminamos a atividade nos primeiros quinze minutos da aula e terminamos ficando o resto do tempo a toa enquanto os outros alunos se esforçavam para fazer o que o professor pediu.

Olho para o relógio no alto da parede novamente, faltam apenas dois minutos então começo a guardar meu material.

– Vai ao banheiro? – Lucca pergunta em quase um sussurro sem desviar sua atenção da página cheia de ilustrações de músculos do seu livro.

– É o melhor local para saber as novidades – murmuro tão baixo quanto ele. Vejo um sorriso se desenhar nos seus lábios.

– Boa sorte.

O sinal toca e eu atravesso a porta da sala com minha mochila de guaxinins pendurada por apenas um ombro.

A multidão de alunos ainda não dominou o corredor e consigo passar por eles sem ser notada ou empurrada por ombros aleatórios. Chego até o meu destino e me escondo em uma cabine para não chamar a atenção enquanto gravo as conversas que escuto.

As garotas entram, tagarelam e saem dando a chance para outras fazerem o mesmo e eu anoto cada palavra buscando a melhor fofoca para o blog.

Minha barriga reclama, ela quer ser alimentada e eu começo a imaginar se posso engana-la pensando em pizzas imaginárias que estão indo para ela.

Não funciona, minha barriga é esperta demais para cair em um truque assim.

Alguns minutos depois, estou sozinha no banheiro sentada na tampa do vaso sanitário digitando uma nova postagem para o blog. Meus dedos percorrem a tela com rapidez e pouco depois de apertar “enviar” ouço um bip indicando que mais alguém está no banheiro além de mim.

Gelo.

É difícil que alguém fique após as aulas em um banheiro sem ninguém por perto. Meu radar de notícia apita.

– Ainda bem que você chegou – diz uma voz feminina.

– Sentiu minha falta? – pergunta uma voz masculina que não reconheço.

– Você sabe que sim e o porquê de sentir. Acha que consegue fazer o que eu te disse, Cyber?

– Já disse que sim – o tal Cyber parece irritado – Vou dar um jeito de invadir o computador do seu ex e apagar os seus vídeos nua.

– Se você conseguir, será muito bem recompensado – reconheço a voz feminina, pertence a Larissa, uma aluna do primeiro ano – E vou te dar outro trabalho.

– Qual?

– Desmascarar a Secret.

E pela segunda vez no mesmo dia, perco a fome e sinto meu estômago embrulhar.

Lucca não se assusta quando invado o seu quarto e jogo a minha mochila de guaxinim no chão ao mesmo tempo em que desabo em sua cama.

– O que foi Anna? – ele não desvia a atenção dos três monitores que mostram cenas de uma batalha online do jogo Katsu!, no qual ele é viciado.

– Querem desmascarar a Secret – respondo com a cara enfiada no travesseiro dele.

– Isso não é novidade – não preciso olhar para saber que ele está com a expressão mais entediada do universo.

– Dessa vez é diferente.

– Por quê?

– Não conheço a pessoa que quer me desmascarar.

Ouço o barulho de uma explosão e de um feitiço de conjuração.

– Impossível – Lucca diz.

– É sério.

– Você conhece todos os habitantes de Oasis. Bem, menos o cara do mercadinho.

– Ele me assusta.

Perto da casa de Lucca existe um mercadinho com um dono indiano. Na primeira vez em que ele me viu usando short e regata quase teve um ataque e derrubou uma prateleira de incensos em mim sem querer.

– Quem quer te desmascarar?

– Um tal de Cyber a mando da Larissa do primeiro ano.

– Eu conheço o Cyber – ergo minha cabeça do travesseiro e vejo que meu melhor amigo ainda não tirou os olhos das telas – Ele estudou conosco há uns anos.

– Quem ele é?

– O Iago, lembra?

A imagem de um garoto nerd loiro invade a minha mente no mesmo instante.

– Mas ele saiu da cidade há anos e que eu saiba, nunca voltou.

– Essa parte é estranha mesmo – Lucca dá o último golpe e mata os inimigos restantes antes de se virar para mim – Talvez nós não tenhamos percebido a presença dele.

– Ou talvez ele tenha voltado com outro nome para nos enganar – sorrio.

– Ah, droga. Você está parecendo o Coringa.

– Talvez o Iago seja o Icaro disfarçado, o cara da touca hipster é novo na escola e ninguém o conhece.

– Anna, por que ele teria um nome falso?

– Talvez ele seja um assassino – levo as mãos a boca – Seria uma história perfeita para o blog.

– Você tem que parar de ler sobre teorias de conspiração – Lucca revira os olhos – Como pretende descobrir se ele usa um nome falso?

– É simples – pelo espelho do quarto dele vejo meu sorriso de Coringa – Você vai me ajudar.

Para que serve um amigo se não para descobrir se o cara novo da escola não é, na verdade, um serial killer?

Essa cidade é pequena demais para tantos anônimos.


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Notas finais do capítulo

Ser a Secret está deixando a Anna bem paranoica, não acham?
Curtam a fanpage: https://www.facebook.com/NatchuFics . É chato pedir isso, mas é MUITO importante para mim, galera.
Quanto mais likes a fanpage tiver, mais visibilidade a história tem e isso vai me ajudar quando eu tentar publicar. Viu? Vocês estão ajudando uma pessoa a realizar seu sonho apertando um único botão u_u
Estou aguardando suas teorias malucas e espero que não sejam tão conspiratórias e malucas quanto as da Anna kkkk
Beijos de amor verdadeiro jovens bolinhos de doce de leite.