SeuSegredo. Com escrita por Panda Chan


Capítulo 3
Pessoas Fortes


Notas iniciais do capítulo

Olá bolinhos, vocês estão bem?
Eu estou meio tonta após assistir a primeira trilogia de Star Wars. Consigo ver sabres de luz por todos os lados.
Nhawn estou tão feliz com os comentários de vocês ♥ Acho que nunca recebi tantos comentários em apenas dois capítulos kkkk
Estou demorando um pouco para responder por falta de tempo, mas juro que respondo todo mundo.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/647889/chapter/3

Tenho um segredo para te contar: não existem pessoas fortes.

Sabe essa história de “sorrir quando quer chorar”? “Guardar tudo para si”? Não é força, é ser um bom mentiroso. Acredite em mim, eu conheço bem os bons mentirosos.

Ser forte é não esconder sua dor, ser forte é aceita-la e transforma-la em algo bom.

Ser forte é ser como a Clarissa Westerfall, ela engravidou do namorado babaca no ano passado e se tornou a escória da cidade por isso. O namorado a abandonou e fugiu. A pobre Clarissa terminou na casa dos tios extremamente religiosos que mal a olhavam nos olhos.

Clarissa sofreu por um erro que não cometeu sozinha e quando a Secret escreveu a matéria sobre sua gravidez, fez questão de destacar que o namorado babaca era tão culpado quanto ela e lançou uma campanha para arrecadar roupas, brinquedos e fraldas para o bebê que iria nascer.

A campanha foi um sucesso e Clarissa finalmente estava conseguindo superar os xingamentos e olhares tortos. Foi quando o namorado babaca a empurrou da escada e ela perdeu o bebê.

Clarissa ficou internada por quase duas semanas.

O namorado foi embora como se nada tivesse acontecido.

Depois desse episódio, ela entrou para o clube de teatro e se tornou a atriz principal de todas as peças da escola.

Estou te contando a história dela para que você entenda a ironia do destino. O casal Morx, o treinador pedófilo e a mulher adultera, são membros ativos da comunidade religiosa de Oasis e foram os primeiros a apontar o dedo para Clarissa e chama-la de escoria.

Agora, sentadas na arquibancada, estão Clarissa Westerfall e Mabel Morx, a filha do casal adultero.

Depois que a postagem da Secret foi lida, o treinador misteriosamente aceitou uma proposta de emprego para trabalhar do outro lado do país e a estrela do time de futebol feminino da escola foi transferida para um internato. Sobrou apenas a pobre e invisível Mabel para aguentar os olhares tortos e as risadinhas no corredor.

— Olá – digo me sentando na parte superior a delas.

Clarissa sorri para mim e leva um cigarro aos lábios antes de responder:

— Olá.

Mabel me olha como se fosse a primeira vez que estivesse me vendo e não posso dizer que fico surpresa por isso. Estudamos juntas desde a segunda série, mas eu sou invisível e ela não enxerga os números invisíveis.

— Oi – diz tímida.

Clarissa me oferece um cigarro e nego com um simples gesto de cabeça. Ela dá de ombros, movendo seu cabelo loiro de um lado para o outro, como se dissesse que eu sou uma idiota por recusar nicotina de graça.

— Todos nessa escola são babacas.

— Concordo – Mabel e eu dizemos juntas.

— Babacas seguidores de uma anônima imbecil – a voz doce e aguda de Mabel consegue deixar as palavras menos agressivas do que ela gostaria.

— Não ofenda a Secret – Clarissa diz de forma ríspida, me pergunto se foi intencional – Ela apenas revela os nossos erros, não tem culpa por nada.

— Eu sei – agora a voz de Mabel está chorosa – Mas quero ter algo para culpar. Sempre soube dos casos dos meus pais e nunca disse nada, talvez se eu falasse dos universitários que visitavam a mamãe antes...

— Nada estaria diferente agora – interrompo – Seus pais cometeram os erros deles, nada que você fizesse ia mudar isso. Agora eles devem aguentar as consequências.

Nenhuma de nós diz mais nada, ficamos apenas encarando o campo verde vazio até o final do intervalo.

Lucca não espera no meu armário e não aparece quando a nova postagem da Secret sobre o vício em maconha de uma professora sai no SeuSegredo. Decido ligar para ele e tenho que tentar quatro vezes até ele atender.

— Oi Anna Banana.

— Sem “Anna Banana” – reviro os olhos ao repetir em voz alta o apelido que ganhei aos sete anos de idade – Onde você se escondeu? Não estou te vendo no pátio.

— Ah, eu cabulei as últimas aulas para assistir a maratona de Star Wars. Quer ver comigo? Ainda dá tempo de ver o início da parte II.

Lucca é um cara popular e muito nerd, ele me fez assistir cada filme da franquia Star Wars sete vezes. Já conheço a história de trás pra frente e não tenho vontade nenhuma de ver novamente.

— Tenho que ir para casa hoje arrumar os meus livros – minto.

— Deve ser crime em algum país uma heresia como essa – Lucca parece desapontado – Como alguém pode recusar uma sessão com todos os filmes de Star Wars?

O problema do Lucca é que ele acha que Star Wars é uma religião.

— A ligação ‘tá ruim xiiiiiiiiii — começo a fazer barulhos com a boca – Vou ter que desligar. Tchau.

— Eu sei que isso foi a sua boca, Anna vol-

Aperto o botão vermelho e finalizo a ligação. Eu amo o Lucca, isso não significa que vou amar tudo que ele gosta.

Começo a caminhar sozinha para a minha casa, bem atrás de um grupo de calouras que comentam sobre como a Secret é incrível. Fico cansada de ouvi-las falando sobre mim e ando bem mais devagar para deixa-las longe.

Pego o celular da Secret para ver se tem alguma nova mensagem que possa ser útil sem imaginar o desastre que aquele simples gesto ia gerar.

— Cuidado! – alguém grita.

Viro-me a tempo de ver um skatista vindo em minha direção como um míssil.

Eu tenho meus segredos, um deles é que não tenho coordenação motora ou reflexos rápidos. O resultado disso é que mesmo sabendo que o garoto vem em minha direção, não consigo enviar a ordem “corra” para as minhas pernas e termino parada como uma bobona e sendo acertada por ele.

Gritamos juntos e caímos. Minhas costas batem ao acertarem a calçada e depois fico sem ar porque o garoto caiu em cima de mim como uma panqueca e ele pesa o suficiente para me deixar sem ar.

Não é bom ficar sem ar porque alguém caiu em cima de você.

— Droga, o skate! – ele grita e me abandona jogada na calçada, sem ar e dolorida, para buscar seu skate.

Respiro fundo algumas vezes buscando alimentar meus pulmões necessitados de oxigênio. Algumas pessoas passam perto de mim, olham e depois vão embora sem oferecer ajuda. Fecho os olhos com força contando até três e rezando para que isso seja um pesadelo e eu acorde em minha cama sem dor alguma.

— Ei, garota – ouço a voz do skatista míssil, mas não me dou ao trabalho de abrir os olhos. Ele deve querer me xingar por ter atrapalhado seu caminho – Me dê sua mão, vou te ajudar a levantar.

Gemo de dor ao erguer as mãos, sinto quando ele as segura e me puxa para cima. As mãos dele são ásperas e calejadas.

Abro os olhos, pronta para agradecer e depois ofender o garoto.

— Você está bem? – ele pergunta antes que eu possa fazer uma das duas coisas que pretendia.

O garoto é... Bem, não dá pra explicar. Ele é mais alto do que eu, cabelos loiros, olhos acinzentados com óculos preto da Rayban de grau por cima. Veste uma jaqueta de tecido xadrez azul, camiseta cinza, calças pretas e tênis da mesma cor. É desnecessário descrever tais detalhes, eu devia ir direto ao ponto e falar sobre a touca hipster escura.

Esse é o garoto que eu vi ser expulso da sala do diretor Gregory.

— Estaria melhor se não tivesse sido atropelada – respondo afastando minhas mãos das dele – Você devia olhar por onde vai quando resolve ser um míssil humano.

Ele sorri e mexe na franja que escapa da touca.

— Sinto muito, eu ainda gritei tentando te avisar que estava vindo – fico surpresa por ele não me dar uma resposta grossa como estava esperando – E por te deixar jogada na calçada como uma folha de papel. Isso não foi muito cavalheiro da minha parte, certo?

— Nenhum pouco – murmuro.

— Eu sei – ele parece envergonhado – Acontece que esse skate é de um amigo e eu estaria ferrado se perdesse.

— Se você não atropelasse garotas na rua, não ia correr esse risco.

Ele estende a mão para mim e sorri novamente.

— Eu acho que devo me apresentar par a garota que atropelei. Meu nome é Icaro, prazer em te atropelar.

Icaro. O nome não em é familiar e isso deve significar que ele é um novo aluno e também é um número invisível. Vou pesquisar sobre ele quando chegar em casa.

— Sou a Anna e dizer “prazer em te atropelar” ficou horrível.

— Estou meio nervoso, não atropelo garotas todos os dias – ele mexe na alça da bolsa carteiro, sinal de nervosismo.

— A população feminina de Oasis agradece – me abaixo e pego o celular que caiu da minha mão no meio da confusão. A tela do smartphone está rachada e tudo que consigo ver é a tela de bloqueio – Droga – resmungo baixo.

Icaro percebe e olha para o aparelho.

— Caramba, acho que não vai ter conserto – dou um olhar mortal para ele que se encolhe – Se quiser eu pago o conserto do seu celular.

— Não preciso da sua caridade, Icaro. Vá voar com suas asas coladas com cera de abelha e não se preocupe comigo.

Viro de costas para ele e começo a caminhar.

— Ei, você conhece mitologia grega! – ele corre até mim e começa a me acompanhar – É difícil encontrar garotas que conhecem esse mito.

Pelo amor de Blair Waldorf, esse garoto gosta de pessoas grossas?

— Eu vou para a minha casa, Icaro – tento deixar claro as entrelinhas de “não me acompanhe”.

— Tudo bem, eu também moro para esse lado.

— Sozinha – digo entredentes.

Icaro fica desapontado, sua expressão facial revela isso. Ele diz que precisa passar em algum lugar para comprar algo e me deixa seguir meu caminho.

Quando tenho certeza de que ele não vai me seguir, ligo para Lucca e explico a situação.

— Você é uma imbecil – ele diz após rir – Foi muito grossa com o garoto.

— Ele estava amigável demais para alguém que eu não conheço.

— Se o Icaro for mesmo novo na escola devia estar tentando fazer amizade – ele conclui – Amanhã vou levar meu celular antigo pra você usar até consertar essa tela.

— Valeu Lucca.

— De nada, grossa.

— Não fui grossa – resmungo.

— Também não foi simpática, você precisa ser mais legal com as pessoas. Deixe o veneno para a Secret.

Nos despedimos e eu guardo o telefone na mochila onde estará mais seguro caso alguém me atropele de novo.

Assim que chego em casa vejo o carro da minha mãe estacionado e tenho que controlar minha vontade de fugir.

Quando algo ruim acontece, sempre traz coisas piores juntas.

“Pague por seus erros, mas só pelos seus.

Sabe o que eu acho ridículo? Culpar alguém por algo que outra pessoa também tem culpa.

É, estou falando sobre o caso da Clarissa Westfall, a grávida que foi abandonada. Vocês acham que ela fez o filho sozinho? Pois guardem bem essa lição de biologia, são necessárias duas pessoas para gerar uma criança.

Clarissa não é uma vadia por ter engravidado, foi uma tola iludida pelo amor. O vilão na história é o namorado e só porque a abandonou.

Ao invés de julgar a pobre moça, ajudem-na. Doem brinquedos, roupas e fraldas para que a criança que ela está esperando tenha um futuro.

Guardem o veneno para quem o merece.

Sejam solidários.

Beijinhos, Secret.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Curtam a page da fic: https://www.facebook.com/NatchuFics
Pode-se dizer que a partir de agora vocês vão ter menos introdução e mais história.
O que acharam do Icaro? Eu sou apaixonada por ele e pelo Lucca ♥
Meus crushs literarios que eu mesma criei kkkkkk
Estou ansiosa pela opinião de vocês.
Beijos jovens bolinhos de morango.