Avatar - A Lenda de Asuz escrita por Hyrohn


Capítulo 3
Capitulo 03 - Preparação.


Notas iniciais do capítulo

E cada vez mais isso se torna mais maluco.



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Pessoas são capazes de mudar. Mas em geral isso só acontece devido a uma paixão; um romance. Confesso que não fui boa coisa no passado e me envergonho profundamente disso. E mesmo quando eu desisti, ela ainda me apoiava. Mesmo quando a batia por minha falta de sobriedade e a fazia sofrer dia após dia, ela ainda era capaz de me falar eu te amo. Mas que ser repugnante eu sou. Não, eu era, porque ela foi capaz de me fazer renascer, renascer e florescer para uma nova vida. Essa mesma mão que lhe esbofeteou tantas vezes... eu já não a quero mais. Deem de comer aos abutres, essa é a marca do meu arrependimento. É minha punição.

– Governante Joras.

– Você está maluco?! Não pensa nas coisas? Falta-lhe um parafuso na cabeça? – Joras falava cutucando as têmporas de Asuz. – Você deveria trazer a paz! E não propor guerras.

Asuz estava sentado num salão real. As janelas estavam encobertas por cortinas, de forma que ninguém de fora fosse capaz de ver o que se passava no interior do palácio. Além do governante, estavam quatro homens em armaduras e armados.

– Se atrairmos Kyromaggu’s iremos pegá-lo e fim de questão, libertamos minha família e aos habitantes de Ling.

Joras pareceu que ia pirar, estava prestes a explodir, mas pensou melhor, respirou fundo e se acalmou.

– Não é assim que funciona, garoto. O desordeiro não vai atacar Lykuh, ele não tem força pra isso, seria suicídio. Mas ele também não pode deixar um simples menino zombar da cara dele. Então, o que faria se fosse ele?

Asuz pensou por um minuto.

– Ele não pode me atacar aqui – recapitulou o avatar – mas ele tem que fazer algo, então ele atacaria minha cidade? – falou meio confuso – mas ele já fez isso.

Colocando a mão na testa o governante falou:

– O quanto você sabe sobre o mundo espiritual?

– Nunca entrei lá, então não sei muita coisa, só que tem espíritos.

– Bom, terei que lhe explicar o que aprendi com a avatar Kisha, preste atenção, é algo bastante abstrato, e claro, pode ser que as coisas tenham mudado por lá. – Asuz se reconfortou na sua poltrona e concentrou seus pensamentos em cada palavra proferida.

“O mundo espiritual realmente está repleto de espíritos, como você mesmo disse. No entanto, nem todos os espíritos são bons. Muitos enganam, e alguns até matam. Seus lideres supremos são Vaatu e Raava, o bem e o mal. Se olhar para eles saberá quem são. Eles emanam uma energia pura e poderosa, e vivem em constante briga. Estabelecer um equilíbrio entre o mundo humano e o espiritual é seu papel nessa historia. Kisha havia conseguido criar entendimento entre nós, porém Kyromaggu’s de alguma forma conseguiu acesso ao mundo espiritual, e tira proveito dos espíritos maus para fazerem depravações em terras humanas. E novamente o desequilíbrio surgiu.”

“Lá é uma terra gigantesca e cheia de mistério. As dobras se tornam mais fortes, mas ao mesmo tempo ineficazes. É um novo mundo, uma nova dobra, então teria que ser reaprendida, mesmo que usem os mesmo elementos, que por falar nisso, há boatos de que haja mais elementos dos que usamos aqui.”

– Está conseguindo me acompanhar? – Asuz fez que sim, e ele prosseguiu.

“Então não dependa da sua dobra por lá. Quanto às criaturas, existem inúmeras, mas nunca, jamais chegue perto dos coelhos. Eles são assustadores. E por ultimo, mas não menos importante, você terá que entrar nesse mundo logo.”

Asuz estava espantado com tanta informação e assustado por ser imposto a ir tão rapidamente.

– Ahn? Por quê?

– Não é obvio? Ele vai destruir você. Ou melhor, os espíritos irão, e sabem exatamente onde você está.

E puxou Asuz pelo braço, levando-o para fora do palácio. Os guardas abriram caminho e em pouco tempo estavam no jardim.

– Espera, espera, pra onde esta me levando? Se há espíritos me caçando, porque eu iria para o mundo espiritual? Vão me ach...

Asuz parou de falar. O que estava na frente dele era nada mais nada menos do que a Opirus. O garoto se aproximou silenciosamente, estupefato.

– Não achou que só existiam em Shykara, né? Tem varias como essa ao redor do mundo.

Asuz tocou a madeira da arvore com a palma da mão. Era uma sensação forte que sentiu. Como um chamado.

– Olha, sei que é arriscado, mas acredite, qualquer lugar é mais seguro do que aqui, agora. Nada pode te defender dos espíritos, a não ser talvez, os próprios espíritos. Você declarou guerra, Asuz, tem que estar preparado para as consequências.

– Então tenho que ir lá... sozinho? E me esconder como um menino chorão? – o que era irônico, porque seus olhos marejaram ao ver a Opirus, e novamente ter que partir. Dessa vez para um novo mundo.

Joras se ajoelhou e ficou ao seu lado.

– É um fardo grande, avatar, mas é o seu destino. Mas não pense nisso como uma fuga, lá aprenda como sobreviver, veja as outras dobras, fortaleça seu corpo e não dependa apenas daquele seu joguete de fogos ou agua. Kyromaggu’s é incrivelmente forte, você não tem ideia, confie em mim, não quero ver outro avatar morrer, não desperdice seu talento. Isso certamente não é uma fuga, é uma preparação.

Asuz estava confuso com toda essa conversa.

– Mas como irei para o mundo espiritual?

– Bote a mão naquela fenda – falou o governante indicando a arvore. – Você deverá sentir alguma coisa esférica e áspera. Bom, no momento que dobrar alguma coisa, vai entrar no mundo espiritual. Essa é a forma mais fácil.

Asuz estava abatido. No momento em que fizesse sua tão adorada dobra deixaria tudo para trás, para um mundo desconhecido, para um novo mundo.

– Posso fazer uma pergunta?

– Pergunte Asuz.

– Porque seu símbolo são essas duas mãos?

– Governante! Graças aos céus que o encontrei – falou um guarda arfando. Vendo que não estavam sós, baixou o tom de voz de modo que o garoto não pode ouvir o que falavam. Mas a expressão do governante era muito seria. Ele volveu o rosto na direção do menino e esboçou um sorriso.

– Volte vivo, Asuz. E lhe contarei o que quiser. – O avatar confirmou firmemente com a cabeça. Ele estava pronto. Se isso era o necessário pra derrotar o desordeiro e libertar Ling das garras do inimigo, ele estava preparado para enfrentar o que quer que fosse.

Com alguns simples movimentos, Asuz dobrou a terra. Foi a primeira que aprendeu e era a que mais gostava. Já que no outro mundo perderia seus poderes, que essa seja sua ultima dobra.

Instantaneamente o ambiente ficou turvo, fosco e ondulante. Brilhante e escuro tudo ao mesmo tempo. Asuz olhou para trás, ainda conseguia distinguir as coisas. Era o governante apertando seu símbolo com toda sua força, e chorando como se fosse um bebê. Seria tudo imaginação? Quem há de saber. Olhou para frente e se deparou com a mão enfiada entre rochas. A relva era verde resplandecente. O céu era lilás e a terra cheirava a framboesa. Desprendeu a mão das pedras e olhou ao redor. Nada a vista, apenas arvores e mato. Tentou dobrar terra, e nada aconteceu; fogo, idem. E o mesmo foi para o ar. Não havia agua por perto, então não pode testar a dobra de agua. Decidiu ir andando e ver o que encontrava.

Uma estranha sensação perseguia Asuz, como se algo o vigiasse. Dobrou aqui e ali, e começou a correr, até que se deparou com um lugar aberto, com um simpático coelho. Ele saltitava de um lado para o outro com uma cenoura na mão.

A viagem para o mundo espiritual é perturbadora. Asuz já não mais se lembrava dos avisos do governante, tudo isso parecia ter acontecido há milênios.

Parece estupidez, mas resolveu falar com o coelho.

– Olá?

E parece mais estupidez ainda, mas ele respondeu:

– Quem é você?

– Bem, eu me chamo Asu...

– Voce é um idiota mesmo, não é?

Uma pequena garota aparece, seus traços familiares e seu jeito grosseiro. Não podia ser verdade. Olhos claros, cabelo ondulado e ruivo. Até mesmo o chacecol... era tudo igual.

– Penora? – perguntou espantado, como se tivesse visto um fantasma.

– Quem?

– Esquece, confundi você com alguém – falou desnorteado.

– Onde estávamos, mesmo, Asu?

– Porque me chamou de idiota?

– Porque é isso que você é. Jamais confie em um coelho, ele ia matar você.

Sua mente se abriu de um turbilhão, lembrara-se do aviso do governante: coelhos são terríveis. E exatamente quando Asuz ia se afastando, o coelho investiu contra eles, jogando sua cenoura com uma inacreditável força. Asuz era rápido, mas o golpe lhe pegou desprevenido. Seu reflexo não foi veloz o suficiente e a cenoura lhe atravessou como uma peixeira atravessa queijo. O golpe pegou em sua mão, deixando um oco, e atravessando também três arvores que estavam atrás.

Os olhos do coelho se encheram de fúria. Asuz gritou como nunca tinha feito antes. A garota ao seu lado fez alguns movimentos. E o coelho ficou ao chão, derrotado.

– O que você fez?

– Se chama dobra. Vem comigo, temos que consertar essa mão.

Ambos correram por suas vidas, o coelho agora se levantara, mas já não podia fazer nada, os garotos saíram de seu território. Todavia, a sombra da morte ainda assolava o avatar.

– Aqui está bom.

Pararam ao lado de um riacho. Rapidamente a menina pegou a mão de Asuz e colocou na agua.

– Você é bem forte, já vi alguns levarem esse golpe, e todos caíram no chão com a dor.

– Eu teria caído – confessou Asuz – mas não podia, tenho coisas a fazer.

A menina meneou a cabeça. Catou algumas plantas a beira do rio e enrolou no ferimento. Asuz virou a mão de um lado para o outro. Já não sentia mais dor.

– Obrigado por me ajudar... qual é mesmo seu nome?

– Melia. Porque veio pra este mundo, avatar?

– Como sabe quem sou, Melia?

– Bom, sua aura diz isso pra mim, acho que você não é capaz de ver, por isso não sentiu o perigo naquele espectro em forma de coelho.

– Bom Melia, o que vim fazer é algo meio complicado de explicar...

– Veio ficar mais forte por ter declarado guerra ao submundo?

O queixo de Asuz caiu.

– Basicamente – falou ele desconcertado – o governante me botou aqui. Como sabe de tudo isso?

– É um segredo meu – riu a menina – mas posso lhe contar, depois. – Ela se levantou e convidou-o a segui-la – Eu sou guardiã dessa terra, toda essa floresta é meu recanto, teve sorte de aparecer por aqui, em qualquer outro lugar não teria sido bem acolhido. – virou à esquerda e caminhou de encontro a uma arvore. – como vai a mão?

– Ótima, já não sinto mais a dor. – Sabia que aquilo era bobeira, mas tinha que perguntar – Escuta, por que você é igual a uma amiga minha?

Melia começou a rir.

– Eu sou? – e riu maliciosamente – bem, com o que lhe pareço?

– Não consegue ver? Da minha altura, minha idade, pele branca e cabelos vermelhos ondulantes.

Dessa vez Melia riu tão forte que bolou no chão.

– O que é tão engraçado assim? – perguntou zangado.

– Cada pessoa me enxerga de uma maneira diferente – explicou. – Voce ainda não é capaz de me ver como sou, pois ainda não é capaz de enxergar aura, ai você tenta assemelhar com o que acredita ser mais próximo de mim.

– E qual a sua forma? – perguntou curioso.

– Eu sou o amor.

Asuz enrubesceu.

– Ei, ei, ei, não precisa ficar vermelhinho, temos que tratar logo da sua mão.

– Mas já lhe falei que ela está ótima – falou contente por mudar de assunto. – Veja! – e girou a mão, para mostrar a Melia.

– Perfeito, a anestesia fez efeito. Já podemos amputa-la.

Asuz cambaleou para trás.

– O que?

– Cenouras são venenosas. Se não cortar o mal pela raiz, bem, você irá morrer.

– Mas não existe outro jeito, um antidoto, feitiço ou coisa parecida.

– Existe, mas não serve pra você. Olhe, o veneno não se alastra com rapidez, com essas plantas medicinais, tardei o efeito de morte em umas seis luas. Se você pudesse manipular sua aura, conseguiria expulsar o veneno de onde ele entrou.

– E se eu aprender a fazer tudo isso nesse tempo? Não teria que arrancar minha mão por nada.

– É arriscado, avatar. E se não conseguir? Vai perder sua única vida, para proteger apenas uma das mãos? Agora você pode achar que consegue, mas o efeito das plantas vai passar. A dor se tornará sua companheira, menino de lua minguante.

– Eu consigo. – seus olhos pareciam iluminados – não vim aqui por nada, e precisarei dessa mão quando voltar de onde eu vim. Para enfrentar Kyromaggu’s terei que dispor de tudo o que eu tenho. Eu não vou morrer, já prometi isso a alguém.

– Bom, se estás certo disso, não irei me opor. Avisei-lhe das consequências. Ah, já que está querendo ficar mais forte, siga este caminho – apontou para o leste – lá encontrará as pirâmides de Glast’n Heim.

– Mas eu pensei que iria me ajudar!

– Eu irei, avatar. Mas não irei desperdiçar meu tempo com alguém que irá morrer em seis luas. Se mudar de ideia, basta escalar essa arvore, e lhe acolherei novamente. Ou então volte com olhos capazes de enxergar e irei treina-lo. Até lá, você estará sozinho.

Como num passe de magica, ela desapareceu. Asuz estava aterrorizado. Olhou para sua mão, já começava a formigar. “É melhor ir andando”, pensou; “eu sou capaz de enxergar essa garotinha estupida”.

– Mas que treco engraçado!

Asuz avistou as pirâmides ao longe. Seu solo arenoso dificultou a travessia do menino, mas não se deu por vencido, caminhou e em pouco tempo já estava na entrada. Se tratava de uma pequena abertura nas pedras, o suficiente para uma pessoa se arrastar. Já haviam se passado uma lua, o tempo estava correndo para Asuz.

– Onde pensa que tá indo?

Asuz se virou e viu a uma coisa apavorante. Era um corpo humano nu, com estacas atravessando os braços e pernas musculosas. Seu cabelo era branco e liso, e de seus olhos saiam duas faixas verticais, que iam até o queixo. Não deu nem tempo para explicações e partiu para cima da criança.

Asuz desviou.

– Calma, só queria entrar, não quero causar probl...

Outro golpe. Em situações normais, Asuz teria dado cabo dele, era nisso que queria crer, mas sem sua dobra, tornou-se uma tarefa impossível. A criatura repetia “esse é o lar de Anubis, ser inferior, não ouse entrar!”. Mas Asuz já nem pretendia entrar, estava tentando fugir. Já levara dois golpes dele, sabia que não resistiria a um terceiro.

“eu não posso morrer, não posso mesmo”. Mas suas pernas já não obedeciam a mente com a costumeira agilidade e o terceiro golpe veio.

Nesse momento algo de natureza estranha aconteceu. Tudo parecia lento. Olhou para a criatura e já não via mais um maluco pelado, aquilo era o sofrimento. Olhou para trás e viu que a pirâmide nada mais era que um laboratório. Olhou sua mão e viu a corrosão que o veneno aos poucos causava. Após isso, apenas sentiu dor.

O terceiro golpe lhe acertou em cheio, e jogou o avatar para longe. Suas condições não eram boas, o sofrimento não iria o perseguir, mas três costelas se quebraram e sua mão ardia como se estivesse no fogo de dragão. Essa fora a quinta luta de Asuz desde que chegou ao mundo espiritual, e também sua quinta derrota.

Refez seu caminho para a floresta de Melia, mas não a encontrou. No lugar estava agora um castelo gigantesco, a terra não lhe cheirava a framboesa e o tom lilás fora substituído por cinza. Aquilo era a verdade.

Quando reencontrou Melia ela se preocupou com o veneno. Estava se alastrando e comprometera parte do braço. Mas Asuz não deu bola, ele era capaz de ver agora e quem sabe o que mais ele aprenderia.

– Desistiu do seu braço?

– Não. – Respondeu seco. – Eu posso lhe ver. Agora me ensine a tirar o veneno, já se passaram quase três luas.

Melia pareceu surpresa, jamais vira alguém aprender tão rápido. Aproximou-se e viu que os olhos do avatar pulsavam em cores vivas e veloz como um raio.

– Você é linda – falou de repente – A coisa mais bonita que já vi. As coisas por aqui são terríveis. Este mundo é caótico. Preciso que me ajude, Amor. Só com você poderei ficar mais forte.

– Estou surpresa que realmente tenha adquirido os olhos em tão pouco tempo. – falou o Amor – irei lhe dar o que busca, mas não será nada fácil, e muito menos indolor. Será algo bem maluco – completou.

Não houve um dia em que Asuz não gritara de dor até que perdesse a voz. A dor ficava mais forte, mas o avatar também. A cada dia que passava era como se suas memorias fossem aprisionadas no fundo de um baú e trancadas a sete chaves e depois enterrado. Pouco a pouco ele se esquecia do seu passado. Por doze anos Asuz enfrentou aberrações que só existiam em sonhos, conhecera de tudo o que o mundo tinha para lhe ofertar. Esquecera-se de quem era, e de seus objetivos, para ele parecia que jamais tinha saído de lá. Mas uma pessoa ainda lembrava.

– Está na hora, Asuz – falou Melia – o mundo humano clama por sua volta.


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Notas finais do capítulo

Um time skip de 12 anos acontece. Proximo capitulo Asuz retorna ao mundo humano.
See ya!



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