Cosmos escrita por Deusa Nariko


Capítulo 1
Capítulo I: Sasuke


Notas iniciais do capítulo

Olá :)
Como havia prometido, cá estamos no primeiro capítulo de "Cosmos".
Como também já adiantei, Cosmos aborda o terma reencarnações, mais especificamente as duas vidas passadas do Sasuke que mais tiveram relevância no mangá: Madara e Indra.
...
Alguns personagens aqui são inteiramente meus, ok?
Eu quis escrever Cosmos tanto para mostrar mais um pedacinho da jornada de redenção do Sasuke, como também para abordar o peso dos atos das vidas passadas dele e todas as suas consequências.
Cosmos não será uma Fanfic grande.
...
Boa leitura!



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Cosmos

⊱❖⊰

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

— Sócrates.

⊱❖⊰

Capítulo I:

SASUKE

⊱❖⊰

AGORA:

Em algum lugar do País do Vento.

Minha jornada de peregrinação começou nos portões de Konohagakure no Sato, localizada no extenso território do País do Fogo, há exatos duzentos e cinquenta e três dias.

O nascer do sol dessa manhã, irradiando sobre os cumes disformes das escarpas agrestes, a leste, delimitou o início do ducentésimo quinquagésimo quarto dia. E este novo dia trouxe-me até uma imensa vastidão árida que os poucos que se atreveram a desbravá-la chamam “Deserto de Ossos”.

Não tenho certeza quanto ao epíteto ser adequado ou não; apenas uma verdade universal e incontestável assola-me agora: uma tempestade de areia testa as minhas resoluções. O mais agravante, talvez, seja que desconheço se sobreviverei a ela ou não.

Acuado em meu manto, em vão eu tento manter os meus olhos e boca protegidos dos grãos de areia; minha garganta está seca há horas e minha língua está com um textura áspera incômoda. Há um cantil com um pouco de água sob o meu manto, mas não me atrevo a fazer uma pausa, não agora.

Há um vórtice de areia sobre mim cujos ventos uivantes chicoteiam em todas as direções. As rajadas são como açoites sobre os meus ombros, são como punhos raivosos empurrando-me na direção oposta a qual tento prosseguir.

A areia sob os meus pés ainda está quente, preserva o calor do sol que refulge em algum lugar acima dessa tempestade desértica. Em meio ao desespero crescente de não encontrar uma saída da tormenta, meus pensamentos voltam-se para Konoha, para o meu lar. Para as pessoas que aguardam pelo meu retorno.

Talvez esta seja a minha primeira provação, o meu primeiro grande obstáculo: não a tempestade em si, muito menos as condições desfavoráveis a mim. Mas a escuridão que procuro erradicar do meu coração, o ódio que se arraigou tão profundamente ao meu cerne e cresceu como uma erva daninha ao longo dos anos, segundo o desejo de Itachi.

Este é, de fato, o meu primeiro tormento: encarar o meu passado e todas as minhas decisões equivocadas. Não tenho grande parte nelas, admito, afinal fui movido e manipulado como uma peça num jogo de tabuleiro por meu irmão durante anos da minha vida. A despeito de também não responsabilizá-lo totalmente por isso.

Na verdade, é difícil atribuir a culpa a uma única pessoa. A quem eu culparia, afinal? Ao meu pai por haver se fartado da segregação do clã? À minha mãe por sua subserviência e devoção a ele? A Itachi por haver escolhido a vila e a minha vida em detrimento de todo o restante do nosso clã, inclusive nossos pais? A Madara, talvez? Mas meu antecessor enlouqueceu devido à maldição do ódio como quase eu mesmo sucumbi uma vez.

Não, eu não culpo Madara que, no fim, se tornou mais uma vítima da violência do mundo e uma marionete de Kaguya. Talvez a culpa residisse muito mais fundo do que eu julgava. Havia Indra, aquele quem iniciou esse ciclo de ódio e me trouxe ao final de um decurso que causou as maiores e mais brutais guerras através das eras.

Mas Indra também havia sido vítima das ambições da progenitora do chakra, persuadido pelo Zetsu negro a travar uma disputa com seu irmão, Ashura, e, apesar de sua fraqueza ter sido o princípio de tudo, eu realmente não o culpava também.

Kaguya poderia facilmente ser responsabilizada pelo estado atual do mundo, afinal — segundo Madara — a humanidade esteve amaldiçoada desde o momento em que a princesa colheu o fruto da árvore e o comeu, adquirindo os poderes de uma deusa a partir disso e transmitindo a herança danosa de geração em geração até que esta tivesse infectado todo o mundo: o chakra. Infelizmente, não estou em posição de julgar estes preceitos como verdadeiros ou não.

Minha jornada tem como base um autodescobrimento inerente ao meu ser, ao modo como depreendo o mundo — ou ao menos, como sei que posso depreendê-lo. O mundo que Naruto acredita que possa existir em que as pessoas possam se unir através de sentimentos compartilhados, do desejo da paz.

Este, explicou-me ele um dia, era um mundo no qual seu mestre Jiraya acreditava.

Não sei ao certo no que realmente Orochimaru acreditava, mas acredito que seus sentimentos mais estejam relacionados à busca pela imortalidade, à eternização da sua existência, mesmo hoje.

Naruto acredita que se as pessoas se unificassem, tratassem umas às outras como seus verdadeiros companheiros e semelhantes, então a humanidade seria capaz de, algum dia, alcançar a paz. Controversamente a isso, somos criaturas forjadas a partir do nosso próprio egoísmo, da necessidade que temos em buscar nossos objetivos, a partir do querer que nos molda e nos rege.

Eu sei disso, pois já fui cegamente movido pelas minhas ambições; escapei do abismo no qual meu ser se perdeu pela luz de Naruto. Esta me guiou para um futuro cheio de esperança e sonhos, um futuro no qual Sakura, paciente, me aguardava ao final.

Claro que este futuro nada significará se eu não for capaz de transpor essa tempestade. Por isso, continuo avançando tormenta adentro.

Em certo ponto, arrisco-me a dizer que estive certo em ter esperanças: aos poucos, a noroeste de minha posição, os contornos de uma grandiosa construção ganham vida, tão fustigados pela areia quanto eu.

À medida que avanço, reconheço as características arquitetônicas únicas: o aglomerado de construções e seus telhados com bordas curvadas para cima; os alpendres que decoram varandas e balaustradas, sustentadas por inúmeras colunas, o frontão que abriga o único acesso ao santuário. Um templo budista.

Subindo os degraus de pedra apressado, abriguei-me do vento tempestuoso e dos açoites de areia, parando às imensas portas de pau-ferro. Com minha única mão, empurrei-as, de repente cegado pelos grãos arenosos que se debatiam contra as minhas pálpebras.

A porta negra gemeu em protesto antes de ceder ao meu apelo. Abri apenas o suficiente para que meu corpo a atravessasse e em seguida esgueirei-me para dentro. Vento e areia seguiram-me, maculando o santuário antes que eu conseguisse fechá-la, bloqueando-os.

Uma vez que estava a salvo da fúria da tempestade que uivava lá fora, permiti-me perceber o entorno, apesar da semiescuridão a qual meus olhos ainda se habituavam. Busquei sob o meu manto o cantil quase vazio e bebi o que ainda me restava de água com goles generosos.

Virei-me para o interior do pavilhão principal e vi uma extensa galeria ladeada e dividida por treliças de madeira nobre. Colunas sustentavam o teto alto e abobadado, decorado por gravuras sagradas. Sinos de vento tiniam sob a menor corrente de ar, preenchendo o silêncio com uma melodia etérea casual. O piso de mármore branco com veios dourados estava impecavelmente limpo e o odor doce de incensos queimando enchia o ar pesado.

Aproximando-me um pouco, consegui distinguir um altar mais à frente e era lá que os incensos eram queimados em pratos que reluziam como ouro, junto a uma estátua de Buda. Atravessei a galeria cauteloso e parei diante do altar, contemplativo.

Alguém pigarreou de leve, o que me levou a buscar minha Kusanagi, debaixo do meu manto, e adotar uma postura ofensiva:

— No que posso ajudá-lo, jovem?

Voltei-me para a silhueta diminuta e frágil que surgia de um corredor adjacente e me senti constrangido de repente — se por haver desembainhado uma espada para uma velha monja ou se por haver sido surpreendido dessa forma, mesmo com meus reflexos de Shinobi, para ser honesto eu não sei.

Olhei-a embaraçado enquanto devolvia minha espada à sua bainha, avaliando-a a partir das suas vestimentas singelas, túnicas fluídas nas cores tradicionais dos monges budistas: vermelho e laranja; seus olhos de andorinha e suas sobrancelhas finas e ironicamente arqueadas estavam encimadas por uma cabeça completamente calva. As mãos pequenas estiveram unidas o tempo todo diante do corpo frágil, mesmo quando a minha reação inicial houvera sido feri-la.

Ainda envergonhado por meu mau comportamento — e por velhos hábitos dificilmente morrerem —, abaixei minha fronte em demonstração de respeito:

— Busco abrigo da tempestade de areia. Não pretendia invadir seu templo dessa forma tão grosseira.

— Está tudo bem — ouvi-a murmurar e tornei a fitá-la, talvez só um pouco ressabiado.

— Quem é você? — indaguei e não consegui me importar com a minha indelicadeza, não naquele momento, nem mesmo com o fato de eu não estar em posição de fazer perguntas ali.

Mas para a minha surpresa, a monja sorriu:

— Eu me chamo Hasu e esta é a minha casa, o Templo da Lótus — disse-me, estendendo os braços magros para gesticular para o entorno. — Você é muito bem-vindo neste santuário e será meu hóspede porquanto a tempestade durar, não se preocupe.

— Aprecio a hospitalidade — respondi-a monótono e impassível, mas mesmo a minha indiferença abrutalhada não arranhara o seu sorriso gentil, muito menos desencorajara os seus gestos corteses.

Hasu voltou-se para o corredor por onde viera e dera apenas alguns passos antes de se deter; suas túnicas sussurravam na semiescuridão a cada vez que ela se movia, abraçando sua forma mirrada frouxamente. Seu rosto, vincado pelos anos que já vivera, franziu-se para mim, expectante.

— Por que não me acompanha? Tenho chá de flor de laranjeira.

E dito isso, retomou as passadas de antes, fluindo pelo corredor quase como um espectro. Os sinos de vento dependurados no teto tilintaram ao meu redor, suaves. Mais uma vez compuseram uma doce melodia. Resolvi acompanhá-la, por fim, mas me certifiquei de me manter alguns passos atrás de sua figura intrigante.

Não pareciam haver outros monges no templo, então supus que Hasu era a única a habitá-lo. Tapeçarias elegantes forravam as paredes do corredor que atravessávamos e velas bruxuleavam tímidas nas sombras sobre suportes dourados. O piso ladrilhado, apesar de desgastado, ainda conservava o requinte de outrora.

Hasu guiou-nos até um recinto contíguo e modesto, apesar do grande altar onde mais incenso era queimado; ali, o pé-direito era significativamente mais baixo do que o restante da construção e o teto estava sustentado por quatro pilares. As velas perfumadas que derretiam nos suportes ainda eram nossa única fonte de luz. A única mobília do cômodo consistia em uma mesa baixa posicionada no centro, entre as pilastras, sobre a qual descansava um bule fumegante e dois copos de porcelana fina.

O cômodo estava abafado e o ar pesado cheirava ao incenso que queimava; na verdade, percebi que comecei a me sentir um pouco mais desatento devido à atmosfera pacífica do templo, talvez até um pouco relaxado... Quase em paz.

Hasu sentou-se no chão e serviu chá num dos copos de porcelana, depois no outro. Sem alternativas — e porque não queria lhe passar uma má impressão desnecessária —, repeti seu gesto e sentei-me no chão, oposto a ela. Vi-a apanhar seu copo e levá-lo até seus lábios murchos, bebericando da bebida quente lentamente para melhor apreciar o sabor.

Fiz o mesmo, mas com acanhamento; o chá estava agradável, só um pouco doce demais para o meu paladar. Certamente, eu não era o melhor hóspede para se ter.

Hasu pousou o copo na mesa e voltou a me encarar, sagaz:

— O que um jovem como você pode ter vindo buscar tão longe no deserto? Não é muito comum que viajantes se atrevam a atravessar esse deserto.

Sem pensar, eu a respondi com franqueza.

— Busco redenção.

— Oh! Eu compreendo — anuiu para mim, tornando a bebericar seu chá enquanto me fitava com seus olhos sagazes por cima da borda de porcelana do copo. — E você tem família?

Pensei no meu Time, na família que me aguardava em Konoha até que eu me sentisse finalmente pronto para deixar o passado para trás e recomeçar. Assenti para Hasu, que não escondeu seu sorriso deliciado por minha resposta afirmativa.

— Às vezes, a proscrição e o tempo são os melhores remédios para uma alma ferida, não concorda?

Pesei suas palavras e o significado incutido nelas; será que Hasu, por haver se isolado nesse templo, poderia compreender (mesmo que infimamente) a minha necessidade de exílio? Eu tinha muito a repensar sobre o mundo, muito para se ver e para se descobrir. E eu jamais conseguiria tal feito com a luz de Naruto turvando-me ou com Sakura se tornando uma distração mais do que desejável.

Também era parte da minha punição por haver cometido tantos erros no passado.

— O passado, por vezes, mostra-se um bom mestre para alguns homens — Hasu divagava enquanto mirava com fascínio a tênue fumaça que erigia do seu copo de porcelana. — Mas, às vezes, apenas o passado não é o bastante para nos fazer entender uma lição. O universo age de forma misteriosa e nossos atos inconsequentes, na maioria dos casos, desencadeiam ciclos sobre os quais não exerceremos controle.

— Do que você está falando? — perguntei-lhe, erguendo minha mão e usando-a para afastar um pouco a gola de minha blusa; estava um pouco abafado ali.

Hasu ergueu o dedo indicador para mim, pedindo tempo para explicar-se apropriadamente.

— Pense em um cascalho que é atirado de forma descuidada sobre a superfície de um lago sereno. As águas do lago deixarão o seu estado inerte e vão se agitar durante algum tempo. Por menor que seja o cascalho, ainda assim ele perturbará a superfície do lago e causará pequenas ondas que você não poderá controlar. Cada onda será menor e mais fraca do que a anterior, mas elas continuarão a surgir até que o lago retorne ao seu estado inicial de inércia.

“Assim é o cosmos. Nossas atitudes podem parecer pequenas e insignificantes, mas elas repercutem no imenso universo como o pequeno cascalho que é lançado ao lago. As ondas criadas a partir do cascalho representam, cada uma, o início e o fim de um ciclo cósmico. O universo sempre encontrará um meio de retornar ao seu estado inicial, mas você, por outro lado, jamais poderá voltar no tempo para impedir a si mesmo de lançá-lo. Terá que conviver com o peso e a consequência das suas decisões até que, um dia, o ciclo que você mesmo iniciou se encerre, se por suas mãos ou se por intervenção dos cosmos, bem...

Pisquei, aturdido e sonolento; as velas ainda bruxuleavam lentas e o incenso ainda queimava no altar. Rangi os dentes e lutei para reaver meu estado atento, mas meu corpo cedia a um torpor esquisito, omisso.

Hasu, a monja, olhava-me de cima, pensativa, e ainda me explicava as suas convicções acerca do modo como o universo trabalhava, mas sua voz soava dissonante, distante demais. Não compreendia por que não era capaz de resistir àquela sonolência repentina.

Ouvi-a sussurrar algo para mim, um pouco antes de cair em um sono profundo, mesmo sentado àquela mesa com o aroma do chá de flor de laranjeira envolvendo-me:

— O seu ciclo cósmico já se encerrou, não se aflija. E... boa sorte com a sua peregrinação, jovem Sasuke.

Um último pensamento atravessou a minha mente como um relâmpago: eu não havia, em nenhum momento, revelado à Hasu o meu nome.

⊱❖⊰

Hasu no Hana: Flor de Lótus. Seu significado mais importante para o budismo é a representação da pureza espiritual; de corpo e mente.


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Notas finais do capítulo

Cosmos está cheia de mistérios e simbolismos. E o primeiro mistério é a monja Hasu.
...
O primeiro capítulo pertenceu ao Sasuke, mas o próximo narrará a história de Madara. Pretendo intercalar presente e passado, então fiquem atentos, ok?
...
Sobre o romance, só o que posso adiantar é que vou trabalhar mesmo com o conceito de reencarnação e vidas passadas, inclusive com a Sakura! :D
...
Não deixem de dizer o que acharam, ok? Nos vemos nos reviews!
Até o próximo!



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