Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Muito obrigada por continuarem lendo Liars and Killers, apesar da retardada da autora não responder os comentários. Estou sem Wifi e meio que tenho que racionalizar o 3G. Mesmo assim, obrigada pelos comentários, favoritos e por continuarem lendo a fanfic.
AI MEU ODIN, ESQUECI DE AVISAR QUE EU JÁ TÔ ESCREVENDO O EPÍLOGO.
Pois é, está muito fofinho. Mas isso não significa que a fanfic esteja acabando, na verdade, foi a forma que consegui de fazê-la caminhar nos trilhos desejados: a meta é o epílogo. Esse capítulo está bem interessante até, vocês irão conhecer o outro lado da Katherine, a Kitty. Dito isso, quero lhes desejar uma boa leitura. Beijos.



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Estava escuro no começo, não estava ventando, não havia nem sequer uma brisa suave que pudesse indicar uma simples direção. Não sabia onde estava, olhei para os lados, perdida, na esperança de que alguém aparecesse e me explicasse o que estava acontecendo. Não havia ninguém, eu estava sozinha na total escuridão. Respirei fundo tentando não entrar em pânico,comecei a fazer uma lista mental de todas as pessoas que se importavam comigo, depois acrescentei nela os nomes das pessoas que eu só conhecia. Quando me senti segura o suficiente porque tinha a esperança que viriam por mim, comecei a caminhar.

Me questionava se aquilo era um teste da SHIELD, deixar os agentes na total escuridão até que encontrassem óculos de visão noturna, uma lanterna ou um sinalizador. Não, eu ainda era uma iniciante, eles não fariam tal coisa comigo ainda... Fariam? De repente uma luz forte de um holofote se acendeu acima de minha cabeça, e fechei os olhos com força tentando me acostumar à claridade. Um rápido flashback foi rodado em minha mente, quando senti as luzes brancas fortes machucando meus olhos enquanto tentava me livrar das tiras que me prendiam à maca. Instintivamente coloquei as mãos no rosto, protegendo-o, e só então notei um tilintar agudo quando movi os braços.

Olhei para as minhas mãos, meus pulsos estavam presos por algemas medievais e longas correntes que levavam até onde a luz não chegava. Mas que merda estava acontecendo? Vi um vulto do outro lado do lugar, ele parecia flutuar enquanto se aproximava sem nenhuma pressa de mim. Bom, pelo menos não se movia como a Samara do Chamado.

— Quem está aí? - Perguntei. Me senti uma idiota assim que as palavras escaparam por entre meus lábios; de alguma forma, sentia como soubesse a resposta para a pergunta que havia feito há séculos. O vulto apenas continuou se aproximando, até que parou a três metros de mim, me olhando fixamente nos olhos, medindo minhas reações. Seus olhos verdes cintilavam, suas vestimentas eram completamente brancas, a cor não combinava com seu tom de pele, fazia com que parecesse uma assombração. O longo cabelo negro característico parecia rebelde, suas mãos estavam atrás de suas costas, unidas suavemente. Arregalei os olhos, o que fez com que a criatura sorrisse amplamente para mim.

— Sou eu, Katherine. - Respondeu, e seu tom de voz açucarado fez um calafrio desagradável descer pela minha espinha.

— Kitty... - Sussurrei, completamente em choque. Eu devia estar alucinando, porque "ela" era fruto de minha imaginação, e simbolizava tudo aquilo que mais odiava em meu ser. Era como me olhar em um espelho, sua aparência refletia a minha. Já fazia um tempo que não a via, meu subconsciente estava quieto demais nos dias anteriores. "Kitty" era sempre o motivo de meus piores pesadelos, ela tinha a mesma aparência que a minha, mas era muito mais cruel. Poderia até dizer que ela era meu monstro interior, uma parte horrenda de mim que fora banida para o meu subconsciente que hora ou outra voltava para me assombrar. Ela sabia como me torturar psicologicamente, então eu sempre acordava perturbada e com medo de voltar a dormir novamente.

Ela sorriu, um sorriso que para muitos seria apenas um gesto doce, mas para mim era o significado de que ela iria começar logo. Engoli em seco não tirando os olhos dela em nenhum momento. A morena se virou e começou a caminhar para longe da luz, porém quanto mais ela se afastava, mais luzes se acendiam para que eu não a perdesse de vista. Olhei para as algemas que me prendiam - as correntes pareciam ser infinitas.

— O que vai fazer? - Perguntei, tentando me preparar para o que quer que fosse.

— Ah, você vai ver, querida. - Conseguia sentir o sorriso em sua voz, uma última luz se acendeu revelando uma silhueta que a princípio não reconheci, mas então percebi o cabelo loiro caindo sobre sua testa.

— Não... - Sussurrei, e Kitty riu, claro que ela havia me ouvido. Aquele era o território dela, não o meu. Ela podia fazer o que quisesse, eu não conseguia pará-la. - Deixe-o ir, Kitty. É a mim que você quer.

— Shh... - Ela se virou para mim, caminhou em minha direção até que ficamos a centímetros uma da outra. - Alguém já te disse que você fala demais? - Senti as algemas se apertarem ainda mais em meus pulsos, tão fortes que poderiam quebrá-los. Um gemido de dor escapou pela minha boca, o que fez surgir um sorriso sádico de satisfação nos lábios dela, um segundo antes dela me dar as costas e tomar alguma distância. - Ora, Katherine, você devia saber que eu viria. Já faz um tempinho desde a última vez que conversamos.

— Nós NUNCA conversamos, graças a você. Tudo o que você faz é me torturar em meus sonhos.

— "Sonhos"? - Kitty soltou uma gargalhada maléfica. - A partir do momento em que me faço presente, não se trata mais de um sonho, meu bem. Se torna um pesadelo. Pensei que a essa altura já soubesse a diferença, mas como sempre, você vive surpreendendo.

— Kitty, se fizer algo a ele... - Disse entre dentes cerrados.

— Isso é uma ameaça? - Ela riu com deboche. - Que bonitinha. Conseguiu ficar um pouco mais patética do que o normal. Parabéns, Kate. - Ela se virou novamente e fixei meu olhar na a volátil e perigosa que estava caminhando livremente pelo espaço, como se estivesse reforçando que aquele lugar pertencia a ela, e não a mim. Lucas gemeu com dor, o que me fez direcionar as orbes a ele. Não havia percebido antes, mas meu amigo parecia seriamente ferido. Seus olhos estavam fixos em Kitty, e de alguma forma sabia que ele não conseguia me ver. Eu sempre era invisível quando ela estava por perto. - Luke, querido. - Ela se aproximou dele, que se encolheu com o rosto contraído.

— Por que está fazendo isso, Katherine? Pensei que fôssemos amigos. - Havia medo em sua voz, e isso me feria profundamente. Ele estava com MEDO de mim. Kitty sorriu com sarcasmo:

— Bem, engano seu achar isso. Nós definitivamente não somos amigos. Nunca fomos, na verdade. Afinal, por que alguém como eu precisaria de alguém tão patético como você como amigo? - Ela soltou uma risadinha esnobe. - Até parece.

— Katherine, por favor, me deixe ir. Sabe que isso não é o que você é, você é muito melhor que isso, é uma pessoa boa. Por favor, Katherine. - Seus olhos suplicavam para Kitty, e o modo como ela o encarava com desprezo me fez cerrar os punhos, o que acidentalmente fez as minhas correntes tilintarem e um meio sorriso surgiu nos lábios de Kitty após ouvir aquilo.

— Está enganado, "velho amigo". - Ela sorriu e uma adaga surgiu em suas mãos. - Essa é quem eu sou de verdade. - Kitty rapidamente pegou a adaga e fez um profundo corte na bochecha de Lucas, o que o fez soltar um grito de dor. Meus instintos se ativaram e tomaram conta de meu ser quando comecei a correr na direção de Luke, até que caí de costas no chão. Merda. Havia me esquecido das correntes.

— Kitty, pare! - Seu desprezível sorriso se ampliou e ela se virou para mim.

— Ora querida, mas eu mal comecei. - Ela cravou a adaga no ombro do loiro, que gritou muito mais alto.

— KATHERINE, PARE! POR FAVOR, POR FAVOR, PARE! - Não consigui lutar contra as lágrimas que começaram a escorrer, e gritei:

— KITTY, PARE! ELE NÃO TE FEZ NADA, É A MIM QUE VOCÊ QUER! - Ela soltou uma gargalhada zombeteira que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Ora, Kate, será que você não consegue entender mesmo? - A morena se virou completamente para mim. - Seu instinto protetor é a sua maior qualidade e sua maior fraqueza. Sendo assim, a maneira mais rápidola e eficaz de te afetar e de te torturar é através dele. - Ela indicou Luke com a cabeça, e eu engoli em seco. Não havia escapatória. Kitty sabia todos os meus segredos porque ela era parte de mim. Uma parte escura e sombria banida para o exílio de meu subconsciente, mas ainda sim, parte de mim. - E agora, vamos ao grand finale!

Ela deu alguns passos para longe de Lucas e de mim, para não correr o risco de eu atacá-la. Suas roupas mudaram em um instante, levei um segundo para perceber que ela estava com os trajes igual ao de Hill e Romanoff. Os trajes de uma agente da SHIELD. Sentia no meu âmago o que aconteceria. Sabia o que ela iria fazer. Mas mesmo assim, ainda senti o desespero, o medo e o pânico tomando conta e se misturando com a raiva e o ódio que sentia por ela quando a garota mostrou alegremente uma Glock em sua mão com um amplo sorriso infantil. Sim, esse era o joguinho dela, sua brincadeira favorita: me matar um pouco mais a cada vez que aparecia. Kitty carregou a arma sem pressa e desativou a trava de segurança.

Por alguma razão, em meio ao meu desespero, olhei em volta procurando ajuda. Sorri com alívio ao vê-lo caminhando em nossa direção, suas roupas eram em tons de preto, verde e dourado, sua expressão era tranquila embora sua sobrancelha levemente erguida lhe desse um ar de travessura.

— LOKI! POR FAVOR, ME AJUDE! NÃO PERMITA QUE ELA ATIRE! - Ele lançou um sorriso preguiçoso em minha direção, havia alguma coisa em seus olhos que me fez temê-lo um pouco mais que Kitty por um instante, e não gostei quando ele caminhou lentamente e parou à minha frente. Seus olhos estavam estranhos, não era como houvesse algo neles, mas sim como se algo estivesse ausente. Seus olhos estavam indubitavelmente vazios quando seguiu as correntes que me prendiam com os dedos até as algemas, em silêncio. - Loki...? - Ele se deteve em meu pulso e o apertou com força, me fazendo gritar. - LOKI!

— Ninguém pode te salvar, Kate. - Era a voz de Kitty. - O que esperava? Que esse mentiroso traidor a ajudasse ao ouvir seu apelo patético? Ele é um assassino. Assassinos não têm alma, nós duas sabemos muito bem disso.

— Loki, por favor... - O chamei, e ele apertou um pouco mais. - LOKI, ME AJUDA! - O empurrei com força, mas não surtiu efeito algum, porém suas feições se tornaram irritadas e em seguida ele tirou a mão de meu pulso e colocou em minha garganta, me sufocando. - LOKI, NÃO! POR FAVOR, LOKI! POR FAVOR... PRECISO QUE VOCÊ ME AJUDE! - Quando estava prestes a desmaiar, susurrei. - Você precisa salvá-lo... - O moreno me soltou abruptamente me fazendo cair no chão arfante à procura de ar, em seguida se virou e começou a andar em direção à Kitty. - Loki? - O encarei com lágrimas nos olhos, de alguma forma sabia o que iria acontecer. Luke estava apavorado.

— Quem é esse cara, Katherine? - A percepção pareceu cruzar seus olhos, o que o fez se encolher. - Como você o conhece? Katherine, por favor, pare com isso. - Fechei os olhos com força, e tentei abafar os meus soluços, que saíam incontroláveis. Ele iria matar o Luke. Bem na minha frente.

— Loki, por favor... - Implorei, porém ele não parecia ouvir, ou se ouvia, não se importava nem um pouco. - Loki, não... - Olhei em sua direção uma última vez, Kitty estava com a arma apontada para Lucas, e o deus andava calmamente ao redor dela com as mãos para trás. - Loki... Loki!

— Katherine... - Ouvi pela primeira vez a voz dele, achava que estava falando comigo, mas então ele se aproximou de Kitty e sussutrou em seu ouvido, alto o suficiente para que eu o ouvisse. - Apenas puxe o gatilho. - Um átimo de segundo depois, eu só ouvi o barulho do tiro.

NÃÃÃÃOOOO!— Gritei, e então vi que alguém me segurava. Ergui os olhos e encontrei duas orbes verdes me encarando com preocupação, ouvi um suspiro de alívio sair de seus lábios e então comecei a lhe deferir socos, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. - SEU MALDITO! VOCÊ O MATOU! VOCÊ A DEIXOU MATÁ-LO! VOCÊ DEU A ORDEM! VOCÊ O MATOU!

— Katherine, você estava sonhando. - Ele tentou segurar minhas mãos, mas eu continuei, estava furiosa, completamente fora de mim.

— A CULPA É SUA! SEU CANALHA! EU CONFIEI EM VOCÊ, ACHEI QUE IRIA ME AJUDAR, MAS VOCÊ O MATOU! - Ele conseguiu segurar minhas mãos, então comecei a me debater com todas as minhas forças. - ME SOLTA, SEU COVARDE! VOCÊ FEZ ISSO! VOCÊ O MATOU! VOCÊ FEZ KITTY MATÁ-LO! - Loki tentou me imobilizar colocando meus braços em xis contra o meu peito, mas continuei me debatendo e chutando-o o mais forte que conseguia.

— Katherine, me escute. Você estava sonhando. Não era real. Nada do que aconteceu lá foi real.

MENTIRA!— De alguma forma consegui avançar sobre ele e o ataquei, imobilizando-o abaixo de mim contra o colchão da cama. Havia surpresa em seu olhar, para dizer o mínimo. Coloquei minhas duas mãos em seu pescoço enquanto minhas lágrimas escorriam sobre minhas bochechas e eram derramadas no tecido de sua camisa. - A CULPA É SUA, VOCÊ FEZ ISSO! Por que... Por que fez isso? - Comecei a soluçar, mas minhas mãos continuaram firmes em seu pescoço, como se eu soubesse exatamente o que fazer e já tivesse feito mil vezes antes. O deus segurou meus braços e girou o corpo, invertendo nossas posições, apertando minhas mãos contra o colchão acima de minha cabeça e afastando minhas pernas com suas coxas, para que eu não conseguisse chutá-lo.

— O que é você? - Sua voz era firme e fria, seus olhos eram penetrantes e sérios. Minha mente não conseguia processar suas palavras, e continuei a me debater, o que o irritou. - Mas que merda, Katherine. - Rosnou entre dentes cerrados um segundo antes de me pegar em seus braços. Continuei me debatendo, mas seus braços eram firmes ao meu redor, e não permitiriam que eu conseguisse me soltar. Andou até o banheiro, me colocou no box e fechou a porta quase que no mesmo instante. Segui até a porta do box e comecei a bater com força.

— ME TIRA DAQUI! - Comecei a bater com mais força enquanto olhava nos olhos de Loki, cujas mãos seguravam a porta da cabine fechada, depois tudo aconteceu muito rápido: escutei a porta do banheiro ser trancada sozinha, o deus abriu a porta do box e entrou e, quando fui tentar fugir, me agarrou pela cintura e me puxou junto a ele na direção do chuveiro; em seguida a porta do box foi fechada sozinha e o chuveiro ligou. Voltei a me debater em seus braços quando senti a água fria bater sobre meu corpo, porém ele se manteve firme me segurando debaixo da ducha. - ME SOLTA, LOKI! EU TE ODEIO! A CULPA É TODA SUA, SEU COVARDE! EU TE ODEIO! - Mais lágrimas caíam, e quanto mais caíam, mais fraca me sentia. Tão fraca que parei de me debater, e senti a dor tomar conta de mim. Estava soluçando de novo, mas não fiquei em silêncio, logo as palavras eram o único resquício de minha fúria. - Eu te odeio, Loki. - Sussurrava. - Você é um covarde. Você o matou. A culpa é toda sua.

Shh...— Ele me interrompeu, com os lábios ao lado da minha orelha. Sussurrou. - Está tudo bem, Katherine. Foi só um sonho. Nada do que você viu foi real. - Suas palavras me fizeram soluçar mais alto, logo minhas forças pareciam ter se esvaído de meu ser, e me deixei deslizar até o chão; mas os braços de Loki ainda seguravam minha cintura firmemente, o deus não me deixaria cair. Bem, não se eu não dissesse que era aquilo que eu desejava.

— Estou cansada, Loki. - Sussurrei, e ele pareceu compreender, pois parou de me segurar tão forte. Deslizei ao chão em um estado de torpor, parecia estar fora de meu corpo, uma mera expectadora assistindo minha própria ruína. Deitei-me no chão e continuei soluçando cada vez mais forte, deixando-me ser engolida pela dor e pela escuridão. Loki se sentou atrás de mim com as costas na parede, segurou-me pelos braços, me ergueu e me puxou, me abraçando e afagando minha cabeça.

Shh... Está tudo bem, Katherine. Você está segura. Nada daquilo foi real. Ninguém vai te machucar.— O deus sussurrava em meu ouvido enquanto afagava minha cabeça. Deitei minha cabeça em seu ombro, segurei sua camisa encharcada como uma criancinha que busca um porto seguro para se segurar e permiti-me soluçar, sentindo toda a raiva pela minha impotência, pelo medo e pela dor, e pela primeira vez me dei conta que Loki era a única pessoa que conhecia que realmente sabia como eu estava me sentindo. Não sei por quanto tempo ficamos assim, eu soluçando e ele me consolando dizendo que tudo não havia passado de um sonho e que eu ficaria bem; mas em um momento parei de soluçar e as lágrimas pararam de cair. Quando isso aconteceu, ambos ficamos em silêncio, e só então percebi que havia mudado de posição: estava em seus braços, minha cabeça estava encostada em seu peito, meu corpo se encolhia contra o dele, minhas mãos se recusavam a soltar o tecido encharcado de sua camisa. Os dois estavam imersos em seus pensamentos em meio ao silêncio, o único barulho que preenchia o recinto era a água batendo em nossos corpos e sendo escoada pelo ralo. Mas então, eu espirrei.

— Desculpe. - Me apressei em dizer.

— Tudo bem. - O deus ergueu sua mão e desligou o chuveiro, em seguida olhou para mim. - Vamos, não quero que você fique doente. - Me levantei e estendi a mão para ele, mas logo ele se colocou de pé à minha frente, a distância entre nós era relativamente pequena, não me importei com ela porque podia admirar seus olhos mais de perto, e fiquei aliviada por não encontrar os olhos vazios que o Loki do meu sonho possuía. O moreno ergueu a mão e colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha com seus dedos longos e hábeis, o que me fez dirigir-lhe um pequeno sorriso.

— Obrigada. - Um minúsculo sorriso se mostrou em seus lábios.

— Disponha. - Ele segurou meus ombros com suas mãos e olhou no fundo dos meus olhos. - Você está bem? - Franzi os lábios abafando uma risada enquanto olhava em seus olhos, e claro que ele percebeu. - O que foi? - Soltei uma risada de leve e olhei em seus olhos, abrindo um grande sorriso:

— É que você fica bem bonitinho quando está preocupado. - Ele fechou a cara, mas, se meus olhos não me enganavam, poderia jurar que ele havia corado um pouquinho com o comentário.

— Você precisa se aquecer. Vamos sair logo daqui antes que a água fria lhe faça mal. - Loki abriu a porta do box, pegou uma toalha grande que estava pendurada e colocou sobre os meus ombros como uma criança.

— Fala como se a água fria não fosse te fazer mal. - Ironizei, mas para minha surpresa sua postura enrijeceu, então ele respondeu:

— Eu ficarei bem. - Sua voz era ríspida, e franzi o cenho. O que havia acontecido? Achava que estávamos nos dando bem, porém sua atitude demonstrava o contrário. Alguma coisa havia acontecido para ele mudar de postura tão de repente.

— Eu disse alguma coisa errada? - Seu olhar se direcionou ao meu, parecia que ele estava pronto para começar uma briga, mas quando percebeu que eu estava apenas observando-o sem julgá-lo, suspirou.

— Vamos sair logo daqui. - Ele pegou uma toalha menor e começou a secar o meu cabelo, e espirrei mais uma vez.

— Droga, acho que já fiquei doente.

— Você é mortal. "Doente" é uma característica que te define. - O deus disse no mesmo tom de quem apenas solta um comentário sobre como o tempo está nublado; com naturalidade. Fechei a cara, tomei a toalha de suas mãos com um puxão forte e o encarei com frieza:

— Obrigada pela ajuda, posso assumir daqui. - Meu tom de voz era glacial. Seus olhos pareciam não compreender certamente o porquê da minha mudança de atitude, e não precisava saber ler mentes para ver que Loki tentava desvendar o motivo daquilo.

— Desculpe. - O moreno se apressou em dizer. - É só que meu pai costumava dizer isso para mim quando eu era mais jovem. - Olhei em seus olhos. Conseguia sentir que ele estava falando a verdade.

— Isso foi rude. - Reclamei; conseguia sentir suas orbes fixas em mim. Dirigi as minhas orbes às dele. - Vou deixar passar porque você é novo por aqui e porque me ajudou a me acordar do pesadelo. - Ele acenou com a cabeça uma única vez.

— Certo.

— E também... Desculpe pelo que aconteceu. Eu não estava muito bem. - Minhas bochechas ruborizaram quando ele fixou seu olhar em mim. - E... Obrigada de novo por me salvar.

— Te salvar? Eu apenas te acordei de um sonho ruim. - Havia certo sarcasmo em sua voz, porém me mantive firme.

— Não, Loki. - Prendi sua atenção naquele instante. - Acredite quando eu digo, você definitivamente me salvou. Obrigada por isso. - Seus olhos retornaram à frieza de sempre, provavelmente eu havia visto mais do que deveria, um lado dele que ele não queria que as pessoas vissem.

— Não sei porque está me glorificando tanto. Foi você quem me chamou. - O encarei.

— Como?

— Foi isso mesmo que você ouviu. Você chamou o meu nome enquanto dormia. Gritou, para ser mais exato. Repetidas e repetidas vezes. - O olhar que ele lançou a mim fez com que eu corasse ainda mais.

— Ah. Entendi. - Desviei o olhar do seu e me movi desconfortavelmente no lugar, só então notei o quanto a camisa estava colada em seu corpo. - É melhor eu voltar a dormir. Com licença. - Me apressei em sair do banheiro, estava quase entrando no meu quarto quando ele me chamou:

— Katherine. - O olhei por cima do ombro. - Troque de roupa e vá até a sala para conversarmos. - Ergui uma sobrancelha em objeção. Ele estava me dando uma ordem? Que mesquinho. - Se quiser. - Acrescentou rapidamente. - Posso fazer um chá. - Loki obviamente estava tentando me compensar por seu comportamento usual. Fiquei em silêncio por um momento, avaliando se permitiria que ele me compensasse. Ele era um assassino frio, porém depois do que fez por mim, merecia um certo desconto. Pelo menos só por aquela noite.

— Okay.

{...}

Me aproximei sorrateiramente do balcão da cozinha para espionar o que o deus nórdico estava aprontando; porém não estava tão sorrateira quanto pensava, porque ele comentou, sem se dar ao trabalho de interromper seus afazeres:

— Se está preocupada em ser envenenada, garanto que não corre o risco. Isso não me traria benefício algum, e simplesmente não tenho interesse em você. Sigyn me proporcionaria uma enxaqueca insuportável se te matasse, uma bem maior do que a dor de cabeça usual que você me dá. - Baixei o olhar para minhas mãos, um tanto constrangida. Eu não era mais criança, não devia dar tanto trabalho, especialmente para ele.

— Olha, se é por causa do que aconteceu há pouco, eu...

— Não. - Loki me interrompeu, em seguida se virou para mim; depois de olhar em meus olhos, um suspiro exasperado ou de seus lábios e ele correu os dedos por seus cabelos ainda molhados, parecia refletir muito consigo mesmo, como se estivesse discutindo internamente os prós e os contras de continuar a conversa. - Eu... - Suspirou pesadamente e fechou os olhos. - Não é nada, esqueça.

— Loki. - O chamei, depois pisquei e o encarei com uma expressão confusa em meu rosto. - Por que eu sou a causa da sua dor de cabeça?

— Quer mesmo saber?

— Sim. - Ele franziu os lábios.

— Certo. - O moreno girou um botão do fogão fazendo o fogo se apagar, depois se virou para mim e cruzou os braços, me aliando. Meus olhos estavam fixos nele, aguardando sua explicação. Loki sem dúvida era uma figura notável, entretanto seu comportamento revelaria um pouco sobre seu passado para um bom observador. Ele não era daquela maneira, alguém o havia obrigado a ficar daquele jeito, essa era uma das razões dele refletir tanto antes de falar ou agir: alguém definitivamente havia mudado-o. O silêncio não era desconfortável, não sentíamos que ele precisava desesperadamente ser preenchido por palavras, nos contentávamos em observar e imaginar no que o outro estava pensando, já que Loki não conseguia entrar em minha mente.

— Tudo bem, então. - Dei meia volta, segui até a sala de estar, abri uma gaveta do rack e corri os dedos pelos títulos dos DVD's até parar no qual estava procurando. Um sorriso se abriu em meu rosto e puxei rapidamente a capinha como uma criança ansiosa para assistir seu filme favorito. Bom, aquele com certeza era um dos meus filmes favoritos, o assistia desde bem pequena, sabia todas as falas de cor e quando tinha um dia ruim sempre o colocava para recuperar o ânimo. Coloquei o disco no aparelho, fechei a gaveta e me levantei, um pouco saltitante e bastante empolgada para mostrar o filme a uma pessoa que nunca o havia visto antes (Não tinha mais graça em assistir com Sage ou com Luke, eles já estavam cansados de ter que ver milhões de vezes a mesma história). O deus estava me encarando sem entender mais nada, sua expressão denunciava que ele estava atônito, surpreso e confuso ao mesmo tempo, o que me fez rir de leve. Segui até a cozinha e lhe dirigi um amplo sorriso:

— Hey, Loki.

— Sim? - Ele respondeu com desconfiança.

— O que me diz de você preparar o chá e eu preparar uma pipoca para gente? Quero te mostrar uma coisa. - Loki arregalou os olhos, e então me lembrei que ele também era o deus da malícia, o que me fez rir mais alto. - Não, não, não é nada assim, prometo. - Suas feições foram cobertas por alívio. - É um filme que assisto desde pequena. Queria mostrar a você porque, bem, você sabe, agora está aqui em Midgard e tem que saber mais ou menos como as coisas funcionam. - Ele ergueu uma sobrancelha em objeção, exatamente como eu havia feito com ele, e acrescentei rapidamente. - Se quiser. - Loki não sorriu, mas havia certo humor brilhando em seus olhos quando ele respondeu:

— Okay.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Adorei mostrar um pouco desse outro lado do Loki. Muito obrigada por continuarem lendo Liars and Killers!