Jinx escrita por Bells


Capítulo 1
Prólogo - Os pés-frios


Notas iniciais do capítulo

Sejam muitos bem vindos à Jinx ♥
O prólogo é bem curtinho e único capítulo narrado em primeira pessoa, o motivo dos nomes não serem mencionados é porque inicialmente os personagem-narrador não os conhece, mas em breve vocês irão conhecer um por um, inclusive nosso narrador.
Espero sinceramente que gostem, nos vemos lá embaixo



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Uma garota antiquada perdida em delírios sobre uma época da qual jamais fez parte.

Um músico fugitivo sobrevivendo dos frutos de sua rebeldia.

Uma princesa pronta para brilhar sendo afastada do baile por um dragão que se diz o rei.

Um atleta marombado com dificuldade para se expressar tentando passar de ano.

Uma jornalista cética tentando ser notada.

Um artista reprimindo sua alma criativa.

Uma modelo prodígio e problemática em reabilitação.

Um idiota apaixonado tentando provar que é mais que o bobo da corte.

Uma donzela em perigo tentando virar a salvadora de todo o reino.

E por fim, um ninguém com uma caneta tentando acabar com seu tédio descrevendo seus colegas na detenção que fitavam o relógio com apatia. O ponteiro deste arrastava-se cruel e lentamente estendendo mais e mais a punição deles.

A jornalista de cabelos cor de rosa estourou uma bola de seu chiclete de goma de sabor tuti-frutti — creio eu, pelo cheiro enjoado e a cor azul que tingiu sua língua quando ela puxou de volta a goma mastigada para sua boca. O garoto apaixonado tamborilava os dedos de maneira ritmada sobre o tampo de sua carteira. O alvo de sua afeição dormia profundamente com baba escorrendo pelo tampo da mesa. Ele pensou em acordá-la, porém ela parecia tão adorável sem a carranca diária de “eu sou forte e não preciso de ninguém” que ele nem se atreveu a tirar os cabelos da boca dela, deixando a baba da menina se misturar aos fios vermelho cereja. Não que alguém além dele tivesse notado, estavam todos muito distante afogados no infinito obscuro da própria mente.

Finalmente o músico se cansou e puxou um baseado do bolso para afastar-se do tédio infernal. A super modelo reconhecendo o cheiro de imediato quando o rapaz soltou a primeira baforada correu até ele implorando que ele lhe liberta-se de sua miséria — também chamada de sobriedade —, porém a princesa gritou em protesto. A jornalista começou a gargalhar da discussão tola que se seguiu entre elas e cutucou o apaixonado que se entreteve juntamente à ela e eles começaram a debater como se apostassem quem iria ganhar. O músico soltou outra baforada que saiu em círculos e o atleta se irritou. Os outros três continuavam muito alheios no próprio mundo, ouvindo música, dormindo, ou no caso do artista, fazendo movimentos rápidos e precisos com o lápis de carvão sobre o caderno, indiferente aquela balburdia no fundo da sala.

Os gritos das garotas foram cortados pelo atleta que foi interrompido pelo músico e então quatro vozes começaram a se misturar umas as outras num caos maior. E então o cigarro voou, a princesa deu um grito, a modelo se jogou na cadeira insatisfeita. O atleta e o músico jogaram uma classe para longe fazendo a menina antiquada tirar os fones de ouvido e trocar sua agradável música de jazz por palavrões e sons de socos sendo desferidos. Ela saltou da cadeira e tentou apartar os garotos em vão.

— Façam alguma coisa! — Sua voz saiu uma oitava mais alta que o normal.

— Estou fazendo! — A jornalista riu, tinha uma daquelas câmeras instantâneas em mãos, focando na forma dos garotos rolando pelo chão — Documentando!

A modelo começou a rir com ela, a menina antiquada suspirou estupefata e empurrou o loiro atleta para longe do outro:

— Chega. — Ordenou.

— Pra trás, boneca, isso está prestes a ficar feio demais para uma garotinha tão arrumadinha.

— Ótimo, quebre a cara e fique de detenção pelo resto da vida, Alex, não dou a mínima.

O jeito que ela cuspiu desgostosamente o nome dele pareceu ter efeito suficiente para o loiro parar a briga. Todavia o músico não estava nem aí e partiu novamente ao ataque e por consequência de um golpe do loiro, a garota antiquada foi jogada com violência para trás com a cabeça atingindo uma classe. O garoto apaixonado que até então estava demasiado entretido com a luta saiu correndo ao auxílio da amiga. Farto o artista largou o lápis, comovido pela cara de exasperação e mágoa da garota — agora com um galo roxo na testa — e empenhou-se em finalizar o combate.

— Ei, caras, parem com isso — ele tentou separar os garotos, mas ambos eram maiores que o artista, ele acabou fora de combate com o nariz sangrando num golpe acidental em menos de dois minutos.

— Seus brutamontes! — A princesa resmungou amparando o artista com um lenço, eles não lhe deram atenção.

O sinal que até então o ponteiro parecia tentar atrasar, finalmente soou.

A donzela finalmente acordou e fitou o pandemônio.

O professor entrou na sala.

O baseado causador da discórdia continuava acesso e exalando seu aroma característico bem em frente à mesa do mestre. Nesse momento larguei minha caneta miserável no meu posto patético de vigília da velha biblioteca do andar de cima, ligada à sala de detenção por uma escada em espiral de aparência desgastada.

— O QUE DIABOS ESTÁ HAVENDO AQUI?! — O homem de meia-idade pareceu perder todas as estribeiras naquele berro ensurdecedor.

Gritos. Brigas. Drogas.

Era nosso fim.

No instante que os vi entrando naquela sala eu sabia. Estávamos condenados. Completamente ferrados.

Éramos a escória desse mundo. Delinquentes que logo seriam abatidos. Somos aqueles pra quem nada nunca dá certo. Um bando de adolescentes azarados.

Somos uns pés-frios.

Mas de algum modo naquela hora, fitando impotente o pandemônio que o contraste de suas personalidades causaram, eu sabia. Sabia que aquele não seria o epílogo da história deles, onde um acabava no reformatório e os demais retomavam sua vida sem contato. Não, aquele era o início de alguma coisa.

Não sabia o que na hora. Mas hoje sei, esse foi o prólogo da nossa lenda.


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? Deixem um review é importante dar sua opinião
Nos veremos em breve com o primeiro capítulo e vocês saberão o nome da nossa garota antiquada e bem do resto também...beijocas e nos vemos em breve ;)