Eu estava na ponta dos meus pés, tentava ser o mais silencioso possível, ao mesmo tempo que-lhe seguia. Toda vez que ela chacoalhava os cabelos para trás, num reflexo rápido, eu corria e me escondia atrás das paredes. Parecia estranho estar seguindo uma garota sem motivos aparentes, e todos me olhavam azedos, como se eu praticasse um crime, mas não liguei muito.

Desde o término da aula de Alquimia eu estava seguindo Evie. Quando li aquele bilhete de Chad, senti uma fúria incontrolável de arrancar cada fio da cabeça sem cérebro daquele panaca, mas fazer isso na frente dela seria constrangedor, e também seria mais um ponto negativo para meu histórico escolar.

Ela estava chegando ao campo de futebol o mais rápido possível, tanto que ficou um pouco difícil correr atrás dela sem ser visto. Ora ou outra ela me via e eu fingia olhar para os céus, ou me virava para o lado oposto, fingindo conversar com alguém invisível.

Em pouco tempo, ela já estava debaixo da arquibancada, e eu, com um ímpeto de escutar a conversa dos dois, estava sentando nela, um pouco acima de onde eles estariam, fingindo observar o treino de futebol.

Nos minutos seguintes em que Chad não havia chegado, Evie se contentava em arrumar apressadamente os cabelos, passar maquiagem e olhar para seu pequeno espelho, como se estivesse ansiosa demais para simplesmente esperar quieta. Andava de um lado pro outro, e quando justamente eu tive a idéia de ir conversar com ele, Chad chegou caminhando, como se não quisesse nada, e se juntou á Evie.

Fiz o possível e o impossível para ouvir o que os dois estavam falando. Chad com certeza estava enganando Evie para que fizesse o dever de casa dele, já que percebera que ela é inteligente. Ela tentava de todas as formas se esquivar do fato que demonstrara ter massa cinzenta o suficiente para sambar na cara do professor em intuito de arrancar informações de Chad, o que era bem curioso. Ou ela estava querendo arrancar um beijo dele, o que me atingiu de forma estranha.

–Bem... Escutei que a varinha mágica está no museu... -Começou Evie. -Ela está lá há muito tempo... Ela não sai muito de lá? ... Quer dizer... -Tentou disfarçar seu interesse repentino e isso me despertou uma idéia estranha.

–Eu.. Realmente... Não sei. -Cortou Chad, deixando sua atenção recair em seu relógio. -Olha a hora! Eu realmente tenho que ir... er... Ellie?

–Evie. -Sussurrou com um semblante entristecido.

–Até mais, Evie. -Deu uma piscadela, e saiu correndo na direção oposta.

Sem paciência, simplesmente joguei-me a uma das travessas da arquibancada e, tomando uma grande coragem, iniciei uma conversa com Evie.

–Olha, não pude deixar de escutar que-

–Você está me seguindo? -Vociferou Evie, como se o limite de fracassos se excedera para ela.

–Olha... Tecnicamente, sim. -Declarei, me arrependendo pela imagem que eu passaria. -Mas acho que seu entusiasmo com a varinha me despertou o interesse. -Disse, tentando chamar mais sua atenção, o que - graças á deus! - deu certo. -Ben será coroado, e a Fada Madrinha usará a varinha na coroação de Ben. -Ela abriu os olhos numa expressão surpresa e me coagiu á continuar. -O que você acha de sentarmos e conversarmos sobre os diversos atributos da varinha e as várias classificações em que ela ocupa dentre os regulamentos da magia? -Falei, de supetão, sendo um pouco verdadeiro, porque eu gostava realmente de estudar aspectos de objetos mágicos.

–Você está querendo dizer que... A varinha estará na coroação? -Disse ela, com um olhar audacioso sobre os meus olhos.

–Sim.. E estou te chamando pra sair. -Falei, sem ao menos pensar, com, provavelmente uma expressão bem babaca no rosto.

Ela deu um sorriso para mim, deu meia volta e se retirou. Mirei a pensando no que ela tanto queria saber sobre a varinha e é claro, o que ela usava no cabelo para parecer tão radiante?

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Era quase no final do dia quando eu estava ensaiando com a banda. Eu não era o que se pode chamar de líder, mas toda vez em que o dito líder faltava, eu ficava no comando, o que era sempre. Então, sempre me acostumara a levar a liderança a sério e, para melhorar as condições da banda, dei-me a tarefa de ensinar mais um pouco da música em toda oportunidade que tiver, e isso deu grandes resultados. Seríamos convocados a tocar em um evento beneficente em um orfanato perto da nossa escola. Eu tenho estado ensaiando-os como um louco.

Esse tipo de coisa só acontecia por que eu compunha as músicas da banda. Mesmo o líder sempre se esforçando, todos preferiam a minha e ele logo deixou claro que eu seria o compositor. Sorri um pouco ao ler meu caderno de rascunhos na hora do intervalo. Eu sempre escrevia de acordo com minhas emoções, e tive muitos registros na época da Rebecca e Chad, o que me fez novamente remoer o passado, e aquilo era uma tortura para mim.

Peguei minha mochila, meu caderno e avisei á todos que o ensaio tinha acabado. Me encaminhei ao pátio da escola, quando começava a escurecer o céu. Sentei-me debaixo da grande árvore e comecei buscar inspirações.

Todos aqueles eventos que ocorreram, tanto no passado como agora, tem me deixado com uma baita dor de cabeça. Era evidente que, mesmo após Chad e Rebecca virarem as costas para mim, eu sentia falta da diversão, das brincadeiras, e do antigo trio de amigos. Estranhamente comecei a pensar muito nisso, e agora tem sido um grande pesadelo em minha cabeça.

Peguei meu lápis, ajustei meu óculos, e comecei a escrever.

I'm just waiting
At this end of the world
You appear to me
I'm just waiting
That all has not happened
In my mind a distorted dream

"–Você sabe Doug... A coisa entre nós estava difícil... -Rebecca dizia entre soluços. Não entendia, não compreendia.

–Rebecca? O que aconteceu? -Dizia um pouco aflito. Senti uma dor em minha espinha e minha pernas fraquejarem.

–Você sabe Doug! Eu e Chad! Você sabe que eu... Sempre gostei... -Chorava em prantos, enquanto meu queixo desabava. Cai de joelhos. Senti tudo aquilo cair sobre mim como uma avalanche, meus olhos ardiam, meu rosto ficava cada vez mais pálido. Senti duas facas em meu coração. Eu não esperava."

The three go their separate ways
But its essence remains
Why run away from yourself?
Why destroy their promise?
Confidence
Fidelity
All broken.

Senti a brisa passar por meus cabelos, descobertos do meu chapéu, como um abraço consolador. Senti os olhos úmidos e logo tratei de enxugar as lágrimas, pegar meus materiais e seguir para meu quarto.

Demorei a dormir, pensando ainda em tudo. Minha cabeça doía e eu estava desesperado para esquecer aquilo. Ainda machucava.