"-Doug. Você me ama mesmo? -Perguntei, um pouco afoita, com medo de que tudo aquilo fosse só uma brincadeira de mal gosto do Chad e Doug. Querendo ou não, minhas mãos ainda suavam com esses tipo de brincadeira.

–Sim. É verdade sim. -Doug disse um pouco inseguro, olhando pro chão com um sorriso torto e evitando encontrar-se com meus olhos. Até pra mim a grama parecia mais interessante, porém prometi á mim mesma de que seria mais madura do que isso.

Alguns segundos de silêncio que se seguiram foram insuportáveis. Não conseguia olhar para Doug sem sentir uma pontada no coração ou um certo receio, até porque nós eramos amigos de infância, quanto tempo passamos juntos? Tudo que imaginei é que nós nutríamos um amor fraterno, assim como Chad. Tudo é tão confuso... Parece tão errado.

–Olha eu... -Balbuciei tentando encarar-lo. Senti o vento frio daquela noite bater no meu braço e meus pelos enriçarem. Não sei em quem mais doeria.

–Eu sei Becca. Você não quer. Tudo bem. -Doug assentiu, e antes mesmo que eu pudesse fazer algo, virou-se e começou a correr, sem rumo, até que sumiu de minha vista. E eu estava ali, parada, sem tentar pará-lo, sem buscar a dizer o que eu realmente queria. Eu fui fraca."

~*~

–Rebecca... O que há contigo? Está parada olhando para este esqueleto fazem horas!

Quando acordei de meu devaneio, eu estava lá, na sala de Biologia. Sob aquele mesmo teto e com o odor de naftalina, eu encarava o protótipo de esqueleto que tinha no fundo da sala. Se fosse aula normal, talvez o professor me desse uma bela bronca por não fazer nada, porém a aula era livre, e ninguém ali fazia o que realmente importava para os professores.

Dei uma olhada em volta, fitando cada aluno que estava ali. Hannah e Yuri faziam várias pegadinhas com alguns novatos, e todos começavam a rir deles - não que fosse totalmente maldoso, pois os novatos se divertiam também. Armin estava um pouco nervosa, em um canto da sala, enquanto resmungava sobre "esses garotos deviam se envergonhar" e coisas do tipo. Olhei mais abertamente pela sala e meus olhos recaíram sobre Chad, na carteira da frente, conversando com Ben e Audrey, seus um pouco recentes melhores amigos. Observei cada expressão que ele fazia. Seu sorriso, os seus dentes perfeitamente alinhados e o seu corpo robusto, o jeito que o seu peito ia e voltava ao decorrer de sua respiração...

Mas tudo aquilo não me pertencia mais. Há pouco tempo Chad se apaixonou por Audrey, e mesmo que ela tenha ficado com ele por ciúmes, ele se esqueceu completamente de mim.

Acho que é por isso que ás vezes me encontro pensando no Doug, e como ele deve ter ficado depois que eu comecei a namorar Chad... Eu sou uma pessoa péssima.

–REBECCA! -Uma babuína grita no meu ouvido, me fazendo quase cair da cadeira no qual eu havia me sentado para pensar mais á fundo no que eu estava fazendo. Senti meu ouvido latejar e devolvi o seu olhar de fúria.

–O QUE VOCÊ QUER FREDDIE?!

–TALVEZ CONVERSAR! VOCÊ TÁ DOIDA GAROTA, TÁ FALANDO SOZINHA! EU JURO QUE NÃO JOGUEI FEITIÇO EM VOCÊ, VOLTA PRA REALIDADE! -Gritou de tal forma que todo mundo se virou para ver o que estava acontecendo. "Disfarçadamente" a fiz sentar-se na cadeira e calar o bico.

–Freddie, quer calar a boca? Eu estava pensando sobre... coisas! Eu não posso mais pensar sem ter você gritando no meu ouvido?! -Olhei para ela, como se esperasse a resposta.

–É claro que não.

–Já esperava por isso. Ok, o que quer saber? -Disse bufando.
Freddie era uma novata que chegou em Auradon Prep. Não só em Auradon Prep, mas em United States of Auredon. Sim, ela veio da Ilha dos Perdidos. Se não me engano, é filha daquele feiticeiro que enfeitiçou a minha mãe. É, a vida é ironica. Só pra constar, minha mãe é a Tiana, da Princesa e o Sapo... Essas coisas.

Freddie é morena, assim como eu, e tem algumas marcas tribais no rosto. Ela é chata, irritante, e com certeza irônica, mas tem me feito rir á beça esses últimos dias. Talvez uma amizade flua, tudo depende de Freddie.

–O que tem entre você e o Chad? Você não para de olhar pra ele! -Cuspi a água da garrafinha que eu tinha acabado de tomar. Como ela pergunta assim? Na cara!

–Freddie! Isso é coisa que se pergunte? -Disse incrédula e ela não esboçou nenhum entendimento.

–Ué! Então tem alguma coisa mesmo?–Seus olhos brilharam com uma expressão sacana no rosto e senti o rosto ruborizar. Desviei o olhar e comecei a murmurar comigo mesma. -Hmpf, depois não quer ser chamada de doida.

De repente alguém entrou na sala de uma forma exasperada. Todos se calaram e direcionaram os olhos para a pessoa que estava parada em frente á classe. Na verdade eram duas.

Uma eu reconheci como sendo Evie, uma das novatas, que provavelmente foi a que entrou do nada na sala, e a outra era a diretora, em sua rara expressão de preocupação e seriedade, encarando cada um esperando que todos a ouvissem bem.

–Nos desculpem pela repentina intromissão, mas venho dar um comunicado urgente e todas as informações que alguém tiver sobre isto deverão ser expostas agora. -Todos começaram a se entreolhar, com um certo receio em seus olhos. Meu coração falhou uma batida quando a diretora passou os olhos sobre os meus.

–Do que se trata diretora? -Perguntou uma menina que estava sentada no fundo. Provavelmente tão nervosa quanto eu.

–Um de seus colegas não compareceu ás aulas, e de acordo com Evie, ele não é visto em lugar algum.

O burbúrio de cochichos começou a se elevar, e todos começarão a encarar uns aos outros e procura o aluno perdido, assim como eu. Quem seria? Não é comum alunos sumirem assim sem mais ou menos!

–Por favor pessoal. Peço que nos ajudem! -Disse a garota, com uma certa preocupação refletindo em seus olhos e me perguntei se ele era assim tão importante para ela. -Alguém viu, ou conversou com o Doug antes ou durante as aulas? Eu não o vejo desde essa manhã!

Um bom tempo se passou até que eu caísse na real.

Primeiro olhei para os outros, esperando alguma reação ou alguma coisa que me fizesse lembrar sobre o que falavam. Uma neblina escura invadiu minha mente e minha visão ficou turva, só o que eu tentava lembrar era de quem aquela garota estava falando.

Depois aquele nome penetrou-se dentro da minha cabeça e começou a ecoar por todos os cantos que eu nem sabia que existia. Doug? Porque Doug? O que aconteceu? Porque ele?

Olhei para Freddie, que não entendia nada e tentava decifrar o que eu estava pensando. Imagino que minha cara não estava nada boa. Limpei o rosto de outras pessoas em busca de respostas até parar no de Chad, que estava perplexo.

Ambos de nós sabíamos que Doug não sai assim. Ninguém sai de Auredon Prep sem a autorização da diretora. Se alguém me disser que Doug matou aula porque queria eu nunca iria acreditar. Alguma coisa muito errada estava acontecendo.

Chad se levantou num pulo, como um reflexo. Demorou um bom tempo para que ele desfizesse aquela expressão e mudasse para uma indignada.

–Como assim ele desapareceu?! Não tem como sair assim de Auredon Prep! -O tom de sua voz era feroz, como se aquelas pessoas ali na frente fossem as culpadas por tudo.

Eu não tinha me recuperado daquele choque. Tremia todo o meu corpo, com um medo inigualável dentro de mim. Passei as mãos sobre meus olhos e notei que estavam umedecendo. Droga.

–Ele... não está no quarto dele? -Consegui balbuciar, com certo receio.

–Acha mesmo que viríamos de sala em sala buscá-lo se ele apenas estivesse no seu quarto?! -Retrucou Evie e senti um quente dentro do meu peito. Quem ela acha que era para falar comigo assim?

–Acalma senhorita Evie. Ele não está em nenhum lugar da escola Rebecca. Tememos de que ele esteja na Floresta. -Disse a diretora em tom solene e todos começaram a falar um por cima do outro.

Coisas como "Como ele pôde?!" "Isso é perigoso demais!" "Ele só quer atenção!" estavam passeando livremente pelas bocas dos alunos. Eu não os culpo. Eu não consigo engolir essa realidade também.

–Silêncio todos! -Ordenou a diretora, e logo todos os alunos calaram-se. -Isso é uma dedução, e estamos indo de sala em sala para descobrir por onde ele deve ter ido. Se alguém aqui tem informações, levante a mão.

Um tempo passou e ninguém havia levantado a mão. Evie, que estava exasperada, entristeceu-se, e pôs-se a sair pela porta da sala. A diretora agradeceu pela atenção, desejou uma boa aula, e foi atrás daquela aluna.

Tudo isso, essa verdade que recaiu sobre nossos ombros... Eu não consigo explicar o que eu sinto. Minhas duas perguntas principais são: Onde Doug foi se meter? Porque a Evie se importa tanto?

~*~

Sem POV

Em algum lugar distante de qualquer outro sinal de civilização havia um monte de escombros. Com sinais de queimada e embolorado pela chuva, a aparência era horripilante naquela hora da noite.

Corvos que voavam por perto cantavam sua marcha fúnebre enquanto uma fina chuva recaía sobre as árvores quase sem folhas nessa parte da floresta.

Um corpo cansado, irreconhecível, se arrastava pela trilha como um morto-vivo, com sede, fome e sérias feridas por suas pernas e braços. Sua roupa estava um trapo, e o rosto com hematomas e manchas de sangue. Quem o visse confundiria com um monstro, e sairia correndo na mesma hora.

O ser parou por um instante, e aceitando a fadiga caiu de joelhos apoiando seu corpo com as mãos calejadas. Qualquer um perguntaria o porque de ir tão longe por nada, e ele provavelmente não saberia responder.

–Merda. Eu estou horrível. -Suspirou e se jogou no chão, respirando descompassadamente. Ao longe, ouvia-se passos pesados, como mini terremotos, e logo após ouviu-se um urro grosso e feroz.

O garoto se arrastou até os escombros e se escondeu afim de salvar a sua vida... ou o resto dela. Tudo o que desejava era não estar ali, e nada podia fazer para escapar a não ser se esconder ali. E antes que percebesse, adormeceu sentado, sonhando com a sorte de sobreviver até o monstro passar.

"-Mãe? O que aconteceu com você? O-O que você... -Um menino que havia por volta dos 7 ou 8 anos se desmoronava em prantos, enquanto sua mãe disfarçava a tragédia estampada em seu rosto e principalmente em sua ferida. Tinha poucas forças até para respirar, mas fazendo um esforço, esboçou um sorriso e sussurrou algo para ele, que provavelmente ele não esqueceria por dias, meses e até anos. Vendo a mãe perecer diante de si, se desabou em cima do corpo dela e chorou como nunca chorou. O sangue, o cheiro e tudo aquilo se juntava á ele, mas ele não ligava. A única coisa que ele desejava era ter sua mãe de volta."

"Eu... sou uma bruxa."