A vida corria.Renato e Alice estavam ficando cada vez mais próximos,mesmo quando não percebiam.Também estavam cumprindo com o acordo de sair às noites e colar os panfletos nos postes,e por enquanto não haviam sido pegos pela polícia,e os pais de ambos não haviam descoberto nada sobre isso.

Em uma tarde,resolveram sair para algum lugar,precisavam se divertir,e tudo o que acontecia deixava suas mentes muito ocupadas,e precisavam fazer algo que descontraísse suas mentes.Renato foi à casa de Alice e bateu no portão,e quem a atendeu foi a mãe da mesma.

— A Alice está no quarto dela,quer entrar?— convidou.

— Se não for incômodo para vocês.

Ele entrou e escutou que um som vinha do quarto.Era a música “É Proibido Proibir”,de Caetano Veloso.Entrou no quarto e viu Alice sentada na cama.

— Oi,Renato,estava te esperando.

— Estava ouvindo música enquanto me esperava?

— Sim,ouvi Caetano Veloso,Raul Seixas,Elis Regina e outros,você demorou um pouco.

— Eu estava me arrumando,pois um homem sempre deve manter a boa aparência.

— Podemos ir?

— Vamos.

Foram para o portão e se despediram da mãe de Alice,que estava varrendo a varanda.Os dois foram andando até a praça,e se sentaram em um dos bancos.

— Nós nem planejamos aonde vamos — disse Alice.

— Aonde você gostaria de ir?

— Eu devo decidir?

— O que você quiser para mim está ótimo.

— Eu gosto muito do parque.

— A gente podia ir lá.

— É uma boa ideia,faz algum tempo que não vou ao parque.

— Então vamos.

— Você trouxe dinheiro?

— Claro que sim,não trabalho apenas para ajudar nas contas da casa,também trabalho para poder me divertir.Você também trouxe dinheiro?

— Sim,eu também trabalho e você sabe disso.

— Vai com calma,hoje nós vamos nos divertir.

— Eu sei,então vamos logo.

Pegaram o ônibus,e foram deixados perto de seu destino.Continuaram o trajeto a pé,até chegarem ao parque.Era um lugar muito grande,e com muitas pessoas.Crianças com seus pais ou avós,grupos de amigos,casais namorando.Renato se imaginava formando um casal com Alice,e ela pensava o mesmo.Ambos se imaginavam naquela cena,e se entreolhavam.Ficaram alguns minutos assim,e depois olharam para outro lugar.

— Em qual nós podemos ir?— perguntou Alice.

— Vamos no tiro ao alvo — disse Renato.

— Bom começo.

Foram no tiro ao alvo.Compraram os bilhetes e começaram.Atiravam,mas não acertavam nenhum alvo.No final não acertaram nenhum,mas mesmo assim saíram felizes.

— Qual vai ser o próximo?— perguntou Renato.

— E se a gente fosse na roda gigante?

— Não é alto demais não?

— Vai me dizer que tem medo de altura!— disse Alice,rindo.

— Não,não tenho medo de altura.

— Você está falando sério?

— Sim,estou.

— Então pare de perder tempo e vamos comprar logo os bilhetes — disse Alice,puxando-o para a bilheteria.

Os dois compraram os bilhetes,e logo entraram na roda gigante.Ela sentou-se ao seu lado,e ele corou.Depois de entrarem e a porta ser fechada,a roda começou a se movimentar.Ela ficou muito próxima dele,e ele mais próximo ainda.Se esqueceram do resto do mundo e pensaram apenas neles,naquele momento.Renato ia falar alguma coisa,mas quis deixar para falar depois.Não estavam sentindo nenhum medo de altura,e estavam muito felizes ali.Ficaram ali até a hora de saírem,e foram caminhando.

— Ficou com medo?— perguntou Alice.

— Nem senti medo,se é o que você quer saber.

— Nossa,então o meu amiguinho é muito corajoso.

— Sou mesmo.

— Vamos em mais algum?

_ Claro.

Foram em outros brinquedos.Agiam igual a duas crianças que acabam de ganhar um brinquedo novo.Depois de ficarem a tarde inteira se divertindo,foram embora e se sentaram em um banco.Estavam cansados,mas tinha valido a pena.

Quando estavam sentados,ele olhou Alice.Ela olhava os carros que passavam na rua,e não percebia o olhar de Renato.Ele queria tentar dizer sobre seus sentimentos,mas tinha medo.Aquele medo que todos tem quando vão falar seus sentimentos para a pessoa amada,achando que vão fracassar.Mas resolveu ir em frente,se não nunca iria conseguir.

— Alice.

Ela parou de prestar atenção na rua e olhou para ele.

— O que foi?

— Eu queria lhe contar uma coisa.

— Pode falar que irei ouvir.

— É algo que quero te falar tem algum tempo.

— Agora fiquei curiosa,o que é?

— Alice,te admiro muito,desde que te conheci.Mas de uns tempos para cá,minha admiração por você tem aumentado,e,acho que você precisa saber.Eu te amo!

Alice se surpreendeu.Não esperava que ele diria tais palavras,mas aquilo era música para seus ouvidos.Queria seus sentimentos correspondidos,e era isso o que estava tendo.

— Renato,sinto o mesmo,eu também queria te dizer isso.Nós nos conhecemos faz tanto tempo,e me sinto segura ao seu lado,acho que não tenho palavras para descrever isso.Eu também te amo!

Logo os dois se aproximaram,e os dois se beijaram.Foi algo verdadeiro,com vontade,e sinceridade.Aquele havia sido um dos momentos mais marcantes de suas vidas.Logo que o beijo terminou,Alice sorriu,e Renato também.Tinha tido outras namoradas,mas nenhum beijo havia sido igual aquele.Alice também já havia tido outros namorados,mas tinha sido único.

— O que vai ser daqui para frente?— perguntou Renato.

— Quando duas pessoas se amam,elas devem ficar juntas,e nós devemos ficar juntos.

— Penso da mesma forma.

— Acho que vale a pena arriscar.

— Alice,você quer namorar comigo?

— Eu quero!

— Nós iremos falar para nossos pais?

— Ainda não,é melhor esperarmos um tempo.

Saíram do banco e andaram de volta para casa,felizes da vida por terem dito o que pensavam um para o outro.Estavam de mãos dadas,como casais normais faziam,sem medo nenhum.Se algum amigo visse e perguntasse,eles logo responderiam que estavam namorando,e com maior prazer.Queriam gritar um eu te amo na frente de todos,só não faziam isso porque tinham vergonha.

Enquanto andavam pelas ruas,dois policiais vieram para perto deles,e com certeza não era algo bom.

— Vocês estão presos!— disse um policial.

O coração de ambos gelou.Tentaram fugir,mas foram pegos.

— Pensaram que podiam fugir,revolucionários de merda?!Se enganaram!

Eles foram colocados no carro da polícia.O que iria acontecer?Conseguiriam sair vivos de lá?Sabiam que quem fosse contra qualquer coisa que envolvia protestar contra a ditadura,mesmo não fosse uma rebelião,pagava um preço.Agora só podiam esperar para saber o que aconteceria.