“Querida mamãe,

Primeiramente, gostaria de pedir perdão por demorar tanto para escrever esta carta. Nem ao menos tenho desculpas para usar.

A ausência de Moro tem se tornado menos dolorosa, mesmo que ainda acorde no meio da noite sonhando com aquele dia. A culpa pela morte de Evie parou de sufocar depois que Loke me perdoou, embora ainda não consiga levantar a cabeça em sua presença.

Esses últimos meses foram uma loucura. A Wolfblood foi desfeita pelo Conselho da Magia, mas não há como apagar as marcas ou retirar o sangue de lobo do organismo de todos os membros. Ou seja, é questão de tempo até que ela seja refundada, sob direção de Atsushi, pelo que me informou Gina.

Os membros não reagiram bem com a revelação sobre Elric e ainda pior quando Evie foi mencionada, mas não vi nos olhos de nenhum acusação por meus atos. Eles são maravilhosos. Tentaram me convencer a entrar para a nova Wolfblood, mas acabei por negar. Estava na hora de voltar para casa.

Queria poder dizer que não chorei ao retornar para Fairy Tail, mas ser recebida por todos os membros de braços abertos e uma festa muito barulhenta meio que não fez bem para o meu emocional. Ainda não voltei a fazer missões com a antiga equipe, mas é só questão de tempo. Lisanna veio conversar comigo sobre sair da equipe, mas disse que não havia necessidade. Ela nunca foi o problema.

Natsu, Wendy e Levy estão me ajudando muito nesse momento, já que Gina e Yamori arrumaram um apartamento para morarem juntos em Laforier. Depois de muitas discursões, os dois decidiram deixar a velha mansão e engatar de vez em um relacionamento. Deixaram um quarto extra para quando Maru retornar.

Falando nela, Atsushi ainda não a encontrou. Pelo que li em sua ultima carta, ele conseguiu pelo menos encontrar um rastro dela na cidade de Gallonstown*, que talvez ela estivesse indo ainda mais para leste, mas não consegui mais informações.

Sinto saudades dele e ainda mais dela. Sinto falta dos abraços dela, das vozes doces delas. Dos beijos dele, do calor aconchegante.

Tenho tanto medo de que ele não a encontre, ou que, se encontrar, seja tarde demais. Fico preocupada a ponto de passar noites em claro, sem poder fazer nada de verdade. Mas ele não me deixou acompanha-lo, disse que precisava fazer isto sozinho. Concordei porque sabia que, assim como eu precisei me isolar dos outros, ele precisava fazer algo para suportar a dor.

Mudando um pouco de assunto, esses dias na Fairy Tail tem sido uma loucura. Mestre Makarov voltou a organizar o exame classe S, do qual só fui saber agora, então a guilda está bastante vazia. Vez ou outra aparece um mago correndo para o quadro de missões, o que é bastante divertido de assistir. Um dia desses Gray surgiu só de cueca e quase foi morto por Erza. Juvia se jogou na frente dele e o drama começou.

É estranho voltar depois de mudar tanto. É como se o tempo não tivesse passado, mas ainda assim não é a mesma coisa de antes. Eles me aceitaram de volta do jeito que estou agora, cheia de cicatrizes e pecados. Sempre serei grata a esses malucos. Só me pergunto se quando Atsushi e eu nos casarmos ainda poderei ficar na guilda. De acordo com Natsu seria traição, mas não dá para leva-lo a sério com aquele sorriso maldoso no rosto.

Ele tem sido o melhor amigo que eu poderia desejar. Claro que a cada quinze minutos ele encontra um motivo para eu não ficar com Atsushi, mas sempre que me sinto sozinha ou triste, ele e Happy tratam de me animar.

Bom, acho que minha carta termina por aqui. Vou para o exame classe S porque me ofereci para ser parceira de Cana. Não se preocupe, quando voltar conto como foi.

Com amor,

Lucy.

PS: A marca nova cobre a cicatriz. É bom, porque mesmo ainda a sentindo quando toco minha mão, não importa mais.

PS2: Parei de beber. Dessa vez é sério.”

Lucy dobrou a carta, colocou-a em um envelope e guardou em seu baú. Amava conversar com sua mãe, mesmo que também doesse um pouco. Olhou para a janela, vendo o lindo dia que se nascia. Logo Levy apareceria convidando-a para a guilda, por isso decidiu tomar um banho rápido. Depois do banho foi pentear o cabelo quando ouviu alguém bater na porta.

Pensou que fosse Levy, mas ao abrir a porta se deparou com o carteiro.

— Bom dia, Srta. Heartfilia.

— Bom dia. – Sentiu as bochechas queimarem quando percebeu que metade do seu cabelo estava devidamente penteado enquanto a outra formava um ninho de ratos.

O homem pareceu ignorar e entregou-lhe a correspondência. Lucy se despediu com um leve sorriso e analisou as cartas.

— Anúncio, anúncio, aluguel, anúnc– Parou de falar no momento em que leu o nome do remetente. Okamoto Atsushi. Abriu o envelope rapidamente e começou a ler.

“Minha Lucy,

Como andam as coisas por ai? Gina e Yamori já estão morando juntos? Os membros da Fairy Tail estão lhe tratando bem? Tem se alimentado de forma saudável?

Sinto sua falta.

Sei que não pode me responder, mas fico tão ansioso para saber como está que, quando noto, já preenchi quase todo o papel com perguntas. Guarde-as para que quando eu voltar possa ter minhas respostas.

Provavelmente quer saber sobre Maru, e sinto muito em dizer que ainda não a encontrei. Consegui pegar algum rastro dela, mas nada muito concreto.

Sinto sua falta.

Esse tempo sozinho não tem me feito muito bem. Alguns dias atrás pensei tê-la visto comprando docinhos numa feirinha aqui perto, somente para depois perceber que nem os cabelos faziam jus aos seus. As vezes vejo Moro passeando também, mas ela sei que é somente uma miragem. Estou em um trem para Beanstalk Village*, acho que Maru pretende sair de Fiore. Mando noticias caso a encontre.

Sinto sua falta,

Seu Atsushi.”

Lucy terminou de ler a carta e colocou a mão sobre o peito, segurando as lágrimas com toda sua força. Sempre era assim quando recebia uma carta dele. Passava minutos tentando voltar a realidade, como nas primeiras semanas sem suas gêmeas. Preparava-se para voltar a pentear os cabelos quando notou uma segunda carta dentro do envelope. Segurou-a e, prendendo a respiração, leu-a.

“Eu a encontrei!

Eu a encontrei, Lucy. Nossa garotinha, consegui alcança-la antes que atravessasse a fronteira para Seven*. Ela tentou lutar contra mim, tentou fugir, mas consegui pegá-la. Com muito esforço consegui convence-la a conversar comigo e voltar para casa. Creio que você irá querer ouvir os motivos dela.

Logo chegaremos, em no máximo uma semana. Logo estaremos juntos novamente.

Até breve meu amor,

Seu Atushi.”

Lucy deixou as lágrimas caírem livremente. Dessa vez eram lágrimas de alegria. Sua garotinha logo estaria em seus braços e Lucy poderia enfim respirar aliviada. Passou alguns minutos somente sorrindo para o nada, imaginando que em alguns dias estaria em paz.

Pareceu levar um baque ao lembrar que em três dias iria para o exame classe S como parceira de Cana. Lucy não sabia quanto tempo passariam lá.

Que tal pedir pra Cana encontrar outra parceira? Mas você prometeu ajuda-la. Ela está bastante deprimida com tudo isso e precisa de uma amiga. Droga!

Sentou-se na cama com uma expressão emburrada. Demoraria o que? Uma semana e meia, duas semanas talvez até encontrar Maru. Tanto tempo.

Está esperando há alguns meses já, uma ou duas semanas é um sacrifício que você pode fazer. Tem razão, eu aguento.

— Lu-chan! – A voz de Levy despertou Lucy de seus devaneios.

— Estou indo!  

Lucy terminou de ajeitar o cabelo, prendendo alguns mechas com um pompom e correu para porta.

— Vamos? Tenho tanto para te contar!

E as duas foram em direção a guilda, onde Gray brigava com Natsu, Gajeel se preparava para também entrar na briga, Erza tentava comer um bolo de morango, Happy dava em cima de Charlie, Wendy conversava com Mira e Cana bebia seu terceiro barril de cerveja.

Nenhum deles poderia prever os acontecimentos na ilha Tenrou, Lucy acima de todos. Estava tão imersa em alegria, que mal poderia imaginar que sete anos passariam antes que encontrasse sua alcateia novamente.