Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 17
Capítulo 17 - Você é a melhor dupla!


Notas iniciais do capítulo

Dia 20 do mês passado a história completou um ano de Nyah! e eu não havia percebido até agora - literalmente.
Não notei pelo mesmo fato que tenho atrasado tanto: minha confusão ao perder-me completamente em meu próprio texto e ir deixando rolar.
Não notei os leitores novos, nem os comentários raros (mas altamente relevantes) que vez ou outra surgiam pedindo mais.
Não notei principalmente pelo meu relaxo.
Enquanto tentava me localizar e tentava não desistir de tudo, acabei por reler alguns trechos de capítulos passados. Me deparei com muitos erros, muitos trechos que claramente poderiam ser melhor reescritos e, principalmente, com ligeiras decadências na formação dos personagens.
Eu realmente sinto muito. Por tudo.
Espero que o que vem a seguir ainda valha a pena para vocês e, de coração, muito obrigado por ainda estarem aqui.
Pra mim, faz toda a diferença...



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Anna mostrou-me a lista de atividades que teríamos para a competição. A atividade de amanhã seria, além de continuar com os quartos organizados de acordo com o padrão (que ela também me mostrou através do celular) surpreender alguém próximo e tirar uma foto da reação dele(a). A foto mais espontânea/divertida ganharia os 250 pontos prometidos.

— Eu particularmente adorei esta. Prevejo muitas risadas, já que Anabeth é completamente assustável. – Anna riu com certa maldade.

— Esta dificultou um pouco… eu mal conheço Chad Beckerman. Como irei assustá-lo na esportiva?

— Você não precisa necessariamente assustá-lo… e por que precisa ser Chad?

— Bem, é a pessoa mais próxima da palavra “amigo” que eu tenho aqui, apesar de tudo.

— Faz sentido… bem, posso pedir à Bettie algumas dicas, se quiser.

— Aceito! Obrigado.

Ela sorriu:

— Não há de que. Te envio uma resposta antes das 20h.

— Beleza!

— Então é isso.

— É isso. Arrumou seu quarto hoje, moça? Anna virou o rosto para mim.

— Sim. E você?

— Já estava arrumado, então... – dei de ombros uma vez. Ela entendeu.

— Huum, que moço prendado você! Cozinha, arruma o quarto… lava e passa também?

— Talvez. Tenho que ir nessa, moça. Nos falamos mais tarde?

— Isso é um convite para uma conversa via internet? – ela me lançou aquele típico olhar de malícia e divertimento.

— Desta vez, sim. Preciso de dicas, lembra? – dei uma piscadinha.

— Ah, seu interesseiro! – brincou e nós dois rimos. – Até mais tarde então, moço!

~ * ~

Naquela noite, assim que cheguei da academia e acessei minha conta no Facebook, tive uma surpresa: Alguém tinha me stalkeado e o tinha feito descaradamente. Confirmei como sendo o perfil de Anabeth (também havia duas solicitações de conversas, uma de Piper e outra de um perfil ainda não adicionado).

Anna Goldson

Oi, moço! Você esqueceu de me passar seu número para eu te falar as coisas que Bettie me disse via Wpp. Enviado há 2 horas.

Passei meu número e enviei a ela uma solicitação de amizade. Então deixei o celular em cima da cama enquanto ia tomar um banho para depois ir jantar. Ao chegar à praça de alimentação mais próxima da MCU e começar a comer, observei o casal que havia feito o pedido na minha frente no fast food em que estávamos: A garota parecia preocupada e ansiosa para dizer alguma coisa pro cara, que também não estava em melhores condições. Eu vi quando ela tirou um aparelhinho pequeno e branco de dentro da bolsa e mostrou para ele, bastante temerosa. Então parei de prestar atenção.

Eu tinha tido a ideia perfeita para surpreender alguém cujo nome não era Chad. Seria muito mais fácil e a reação… seria épica, sem dúvidas. Peguei meu celular e disquei um número muito conhecido.

— Oi, Dryw! – ela disse, com o tom de voz esbanjando um sentimento bom.

— Olá, Dothy! Não posso demorar, então serei breve: preciso de uma ajudinha sua para um evento da universidade.

— Só falar! - ela respondeu. Seu tom de voz agora estava carregado de algo parecido com responsabilidade.

~ * ~

— Andrew! Conseguimos os 500 pontos! – Anna exultou assim que me viu.

Estávamos em uma das áreas verdes quando ela me achou.

— Sério?! Nossa, isso é demais! – comentei, animando-me ao vê-la tão alegre.

— Me disseram que você preparou uma surpresa das grandes. Me conta como foi isso!

Dei um sorriso meio modesto.

— Bem, que tal eu contar enquanto almoçamos?

Anna se impressionou.

— Está me convidando, moço?! Lisonjeada, mas estou com Anabee e Gina...

— Chame-as para vir também!

— Está bem, então espere aqui; já volto.

Ela se virou para ir em direção às duas amigas, que a esperavam há alguns metros. Então, Anna parou subitamente e se virou de volta para mim.

—Ah, e você vai ter que me contar o motivo de estar assim, todo animado, de uns dias pra cá... – ela piscou e se virou novamente, sem que eu pudesse argumentar ou perguntar nada.

— Não acredito que você fez isso! - espantou-se Anabeth, assim que contei para as três a brincadeira que havia feito com minha mãe.

— Andrew, isso foi terrível, de certa forma. Nunca pensei que você pudesse ser assim... – completou Anna. Gina ficou calada, me repreendendo com o olhar, apesar de parceria estar se divertindo também. Dei de ombros.

— Depois explicamos que era brincadeira e tal. Ela levou um baita susto, mas está bem…

— Você tem o vídeo aí? – perguntou Anabeth.

— Sim.

— Mostra pra gente! – pediu Anna.

Acessei a galeria do celular e mostrei o vídeo a elas. Anna me reprovou com o olhar, apesar de ser visível seu divertimento; Anabeth vacilava entre o riso e o comedimento e Gina permaneceu inexpressiva.

— Andrew, sua mãe é uma gracinha! Não sei como você teve coragem de assustá-la assim. – disse Anna, assim que guardei o celular.

— Foi só um sustinho de leve. Minha prima preparou o terreno também, então não foi tão terrível como pareceu.

— Hum. Eu não levaria só um sustinho desses se meu filho me ligasse do nada dizendo que ia ser pai. – comentou Anabeth.

— Mas eu vou ser pai. Um dia…

Anna revirou os olhos com minha piada fajuta e Anabeth torceu um canto da boca. Então Gina disse que tinha um compromisso e pediu licença.

Depois almoçamos e me despedi das garotas. A terceira atividade era um tanto mais difícil pelo simples fato de que requereria tempo. Tempo que eu não tinha, já que, para ganhar impressionantes MIL pontos, deveríamos visitar uma das instituições em que os Amigos atuavam e passar um tempo com os pacientes em tratamento, depois tirar fotos junto deles. Teríamos dois dias para cumprir a tarefa e enviar as fotos para a coordenação do evento e talvez, se eu tivesse sorte, conseguisse negociar com Barney um pequeno atraso no meu expediente ou uma saída antecipada… E foi exatamente isso que eu expliquei ao meu chefe naquela tarde.

— Hum... Uma competição da universidade, você disse?! Vou pensar no assunto e mais tarde te dou uma resposta, pode ser? – ele disse, ponderando.

— Claro. Obrigado, senhor Barney!

Voltei ao trabalho logo em seguida. O movimento na loja aquele dia estava um pouco mais tranquilo, apesar do fato de que se eu vacilasse, parecia que meia dúzia de clientes surgia instantaneamente.

Rashley estava quieta num canto lendo uma pilha enorme de papeis. Não vi a hora que chegou e ela tampouco fez questão de anunciar. Estava cada vez mais distante de mim, e eu ainda não sabia o que pensar disso... Por volta das três, Barney me chamou em sua sala e disse que eu poderia sair mais cedo no dia seguinte, naquele mesmo horário. Aquilo me animou, já que eu estava começando a cogitar a hipótese de dizer a Anna que não poderia participar desta vez – e logo em uma atividade que  realmente tinha me interessado.

Anna disse estar contente que eu tinha conseguido quando a avisei, e ela me disse que, como sabia que eu conseguiria (já que, segundo ela, eu “era um bom garoto, exemplar e essas coisas”), havia desmarcado todos os compromissos e deixado a tarde do dia seguinte livre, ou seja, tudo pronto para a nossa saída.

Acabamos por aproveitar a deixa e nos preparar para a atividade prevista para sábado: arrecadar dinheiro para os Amigos de Todos.

— E então, quer começar por onde? – perguntou Anna, encostada ao carrinho do supermercado enquanto segurava sua parte da lista de ingredientes.

— Pelo que estiver mais perto. Deixa eu ver... Acho que é o trigo. – respondi olhando em volta, procurando as plaquinhas de informação dos produtos.

— Beleza então. Vamos lá! – e saiu, deixando-me com o carrinho.

Enquanto andava, Anna cantava uma música baixinho – a mesma que veio cantarolando durante todo o trajeto até aqui – e se não era impressão minha, parecia meio melancólica.

Paramos em frente às mais variadas marcas de farinha de trigo, e percebi que ela catava em português.

— “[...] a mamãe gritou: ‘Quá, quá, quá, quá’. Mas nenhum patinho voltou de lá. Três patinhos foram passear...”

Enquanto ela escolhia qual farinha de trigo comprar, quis tirar a dúvida. Aquilo estava me incomodando de alguma forma:

— Anna?

— Hm? – respondeu sem olhar para mim e parando sua cantoria.

— Está tudo bem? – perguntei.

Ela olhou para mim, depois para o lado por um rápido instante e com uma expressão ligeiramente confusa antes de tornar a olhar em meus olhos e devolver:

— Tudo ótimo, e com você?

— Ah... estou bem. Você... tem certeza né?!

Ela sorriu bem rápido:

— Tenho, Andrew. Por quê?

— Desculpe se estiver me intrometendo em algo pessoal seu, é que você veio de lá até aqui cantando essa mesma música e me parece, sei lá, meio melancólica. Mas pode ser impressão minha também... – ela me ouvia atentamente – Bem, se precisar desabafar ou algo do tipo... Estou aqui.

Eu não costumava ficar embaraçado ou envergonhado com facilidade, mas por um motivo, não foi tão fácil quanto deveria ser proferir aquelas palavras.

            Ela se levantou.

— Own, está preocupado comigo? – surpreendentemente, seu tom não era jocoso como de costume. Ela... estava achando aquilo bonitinho, ao que parecia.

— Bem, eu me preocupo com os meus amigos... – respondi. Se continuasse assim, ia corar. O que estava ocorrendo?

Anna sorriu com os cantos dos lábios, soltou as farinhas de trigo – que só então me dei conta de que a estava segurando – no carrinho e disse:

— É que essa música me faz refletir bastante. Ela é da minha infância no Brasil e de uma cantora que eu gostava, além de contar uma história até meio pesada para crianças. Mas estou bem sim, obrigada por se importar.

— Ah... História meio pesada? – acabei deixando escapar.

— Sim, é a história de uma mãe que deixa os filhos irem passear e brincar, mas toda vez que eles saem voltam com um irmão a menos. Até hoje tento encontrar a interpretação correta da música.

— Eita! – foi o que respondi.

Anna se surpreendeu.

— O que foi que disse?!

— Eu? “Eita”. Há algo errado? – eu estava confuso.

— Você roubou minha fala! – ela me disse, desta vez com o ar brincalhão de sempre.

— Você quem fala isso?! Eu estava mesmo tentando me lembrar de onde tinha tirado essa expressão... É uma expressão, né?

— Sim – ela ria –, de surpresa. Acho que estamos passando um tempo considerável juntos, moço. Já está roubando minhas falas!

Dei de ombros, sorrindo também.

— Nossa, como foi que chegamos a este ponto da conversa mesmo? Quero dizer, estávamos comprando trigo! – ela brincou – Precisamos ir atrás dos outros itens da lista...

— Tem razão. – Inspirei e expirei – O que vem agora?

— Hum... Açúcar. – respondeu olhado a lista novamente.

— Vamos atrás de açúcar, então!

Anna foi na frente, passou por mim e percebi que estava falando algo, novamente em sua língua-mãe, mantendo uma expressão divertida no rosto:

— Roubando minhas falas! Que safado!

— O que foi? – perguntei. Não tinha conseguido entender nada.

— Disse que não podemos nos esquecer dos ovos!

— Mas a receita não leva ovos...

Ela parou por um momento.

— Tem razão. Então, não podemos nos esquecer da manteiga. É, foi isso que eu disse.

— Hum. Então tá...

~ * ~

            De volta à cozinha da sala de SD, tiramos as compras do saco de papel e começamos a preparação das tortas.

            Anna havia dito logo que não faríamos cookies porque era a coisa mais óbvia de todas, apesar de vender bem. Ela estava certa de que outras equipes fariam exatamente isso para vender e de fato, três das cinco equipes que estavam na cozinha aquela noite preparavam cookies.

            Ela sorriu vitoriosa para mim quando descobrimos isso.

            — Meus parabéns. Bela sacada!

            Ela deu de ombros com um ar convencido.

—A maioria dos universitários em competições é previsível. Essa prova é nossa!

— Certo, senhorita convencida, me alcance aquela forma ali então, por favor.

Nesse momento, Vivian Lannister e Liu Wasanabe entraram na sala carregando sacolas. As duas dirigiram-se à bancada vizinha e só então perceberam minha presença e a de Anna ali.

— Goldson, Andrew! Olá! – cumprimentou Vivian.

— E aí, casal 1!

— “Casal 1”? O que isso significa Liu? – perguntou Anna enquanto eu acenava de volta.

— Fiz um ranking dos melhores casaizinhos desse ano aqui na MCU. Por enquanto, vocês estão em primeiro lugar.

— Ah... – Anna estava visivelmente desinteressada no assunto – Legal. Estão participando da competição também?!

— Aham. Decidimos entrar no grupo da Beladona, senão teríamos de dividir um apartamento por conta própria, caso as outras ganhassem. – respondeu Vivian.

— Entendi. Bem, e pretendem preparar exatamente o quê? – Anna sondou.

— Os Cookies Especiais da Fraternidade das Garotas. – respondeu Liu orgulhosamente.

Anna lançou-me um olhar rápido de cumplicidade antes de desejar boa sorte às nossas colegas de classe e novas concorrentes.

— Viu só? Mesmo que famosos, os cookies das Beladona continuam fazendo parte da massa. Vamos caprichar aqui para nos destacarmos!

Ouvi-la cochichando daquela forma, com aquela animação e malícia quase infantis – como uma criança que espalha a notícia de um passeio próximo aos colegas – era engraçado e ao mesmo tempo motivador.

Até que, de fato, estava sendo uma experiência divertida. Aliviava o estresse, em todo o caso. Talvez um pouco mais de empenho tornasse tudo ainda mais interessante.

— Vamos, vamos sim. Vamos botar pra quebrar! – respondi.

Anna adorou aquela resposta imensamente. Pude ver pelo brilho em seu olhar e no sorriso maroto que deu.

 — Você é a melhor dupla, moço! Contigo tenho certeza de que vamos ganhar! – ela disse por fim, sorrindo com gratidão.

Sorri com aquela frase tão sinceramente bela expressa por Anna, embora ela tenha usado a palavra “ganhar” no calor do momento. Mas eu me permiti entrar no clima:

Juntos, conseguimos sim. – pisquei para ela ao mesmo tempo em que levantei meu punho direito.

Ela entendeu imediatamente e deu o soquinho, unindo seu punho fechado ao meu, alegre feito... a Anna.

Fist bump!


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Notas finais do capítulo

Bem, feliz um ano de EdLedI para nós! :')



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