Na segunda-feira Anna acordou com uma animação um pouco maior que o habitual e surpreendeu Anabeth - que ainda estava deitada, meio dormindo meio acordada - quando se despediu da amiga e colega de quarto.

Conforme anunciado no dia anterior, todos os inscritos na Disputa pela Casa se reuniram cedo na quadra poliesportiva da universidade bem cedo, pouco antes do café.

A moça não precisou procurar muito para encontrar seu par, que estava sentado na área de torcida, assim como os outros participantes.
Havia um lugar vago ao lado dele, onde ela sentou sem rodeios.

~ ♥ ~

— Bom dia! — disse aquela voz familiar, tirando minha atenção das explicações que eram dadas.

— Ei! Como vai? — saudei-a de volta.

— Bem, obrigada. E você? Começou há muito tempo? – referia-se à reunião.

— Estou bem também… Não muito. Talvez uns dez minutos.

Ela assentiu e começou a prestar atenção no que Robert - o carinha que explicava tudo sobre a competição - falava.

— Este ano fizemos uma parceria com os Amigos de Todos - uma instituição que ajuda portadores de várias doenças terminais ou incuráveis. Todo o valor arrecadado será doado para as instituições onde os Amigos atuam.

Ele fez uma pausa breve. Alguns aplaudiram baixo.

Depois Robert explicou como funcionaria o desafio em si: durante uma semana, a cada dia, haveria uma atividade diferente com pontuações diferentes uma da outra. No final dos sete dias - seguindo a lógica - a equipe com a maior pontuação ganha a casa.

O desafio de hoje iria valer por todos os dias da competição: deixar o quarto arrumado, seguindo os padrões da universidade (enviados para o e-mail de cada um, segundo Robert) até o fim da semana; todos os dias supervisores visitariam os quartos e dariam uma nota de 0 a 5 para cada integrante de cada equipe.
No final, a equipe com a maior pontuação ganharia um acréscimo de 500 pontos (o que daria uma vantagem ótima para quem fosse competir), além da pontuação diária, que era de 50 pontos por quarto arrumado.

—Uau! É um desafio fácil para o primeiro dia, mas talvez difícil de manter nos outros… ideia genial, essa! - disse Anna, assim que saímos da quadra coberta.

— É. A equipe que cumprir esse desafio vai se dar muito bem… - comentei.

— Pois é. Mas acima de tudo, fico feliz em termos começado com algo relativamente fácil - respondeu.

Concordei enquanto olhava as horas.

—Tenho que ir para a aula.

— Ah, é verdade. Estamos ligeiramente atrasados… Já vai direto?

— Sim. Você não?

— Preciso passar no armário antes... – explicou – Pegar umas coisas.

— Ah. Bem, se quiser, eu te acompanho. – falei.

Ela me olhou com expectativa e sorriu grata:

— Sério?! Obrigada!

— Sério.

— Beleza... Mas antes - ela se aproximou - seus cílios. - justificou nossa proximidade repentina.

— Espero que tenha deixado seu quarto arrumado, moça… - falei enquanto ela segurava meu rosto com uma mão e passava o polegar da outra sobre meu olho direito de forma delicada e suave.

—Hum… Não posso dizer que deixei, mas também seria mentira se eu dissesse o contrário – ela respondeu.

— E isso quer dizer que…?

Ela se afastou, observando o resultado.

— Talvez minha parte do quarto esteja na média.

Anna me observava com certa expectativa.

—Ainda bem que você tem a mim pra arrumar seus cílios. Chega a ser triste ver olhos tão bonitos com cílios desalinhados em volta. - falou casualmente.

—Olhos bonitos? Talvez seja para te ver melhor, moça… - respondi tentando brincar e prestei atenção.

A expressão de surpresa que se seguiu foi épica!

—Está brincando comigo, rapaz? - ela perguntou, meio rindo.

— Opa! Que som é esse? Acho que ouvi alguém me chamar… - falei, me virando para ela não ver que eu estava rindo também.

Mal dei um passo e ela falou, com surpresa:

—Nossa!

— O que houve? - virei o rosto.

— Desculpa, mas agora que reparei: você tem uma bundinha que ó - ela fez o sinal de “O.K.”, unindo o polegar ao dedo indicador e deixando os outros erguidos.

— Obrigado! Agradeça à minha mãe e um pouco à academia por essa visão incrível - brinquei.

Esperei ela se aproximar.

—Se algum dia eu tiver a oportunidade, pode apostar que o farei! - ela disse assim que me alcançou.

Então é uma pena. Por que isso provavelmente nunca irá acontecer. Diverti-me com esse pensamento.  

Talvez fosse a convivência com ela, talvez fosse a onda repentina de bom humor que me ocorrera naquele dia… O fato é que alguma coisa estava diferente de um jeito bom.

De qualquer forma, agora era aula da Granma e precisávamos apressar o passo ou o atraso não seria justificável.

*

— E então, onde quer almoçar? - Anna perguntou, assim que nos encontramos.

— Vou ser cavalheiro e te deixar escolher. - respondi com uma piscadela.

— Ah, que fofo! Bem, o que acha de um sanduíche? Gostoso e saudável…

— Ótimo! - notei que Anna estava sozinha - — As outras não vêm? - perguntei, olhando ao redor.

— Ah, não. Charloth foi almoçar com aquele carinha da aula de SD, o tal Christian. Anabeth foi resolver umas pendências na agência para nós, Bettie saiu com o caubói e Gina... não sei. Não a vejo desde ontem.

— Entendi… mas espera, você disse algo sobre uma agência?

Anna pareceu levemente sem-graça.

— Vamos nos sentar e aí a gente conversa.

— E então? - digo, assim que me sento de frente para ela na lanchonete e logo após fazermos nosso pedido.

— Bem, estamos fechando contrato com uma agência fotográfica. Anabeth foi resolver a papelada dela.

— Agência tipo de modelos? - pergunto.

— Sim. - ela respondeu e sorri.

— Posso perguntar qual seria?

— Ultimate. – respondeu sem muita agitação.

Surpreendi-me.

— Está brincando?! Ouvi dizer que é uma das maiores do país!

Anna sorriu com modéstia:

— É… acho que já ouvi algo sobre isso também. Mas não é nada certo, ainda. Vamos fazer os testes na semana que vem e aí veremos no que dá.

— Boa sorte! – desejei com sinceridade.

— Obrigada. Mas e você? Como andam as coisas na livraria?

— Até que bem. Recentemente recebemos um carregamento bom de um best-seller que está mantendo as coisas um tanto quanto agitadas por lá.

— Imagino… Você lê bastante, não é?!

Nesse instante, a garçonete chegou com os nossos pedidos. Agradeci antes de respondê-la:

— Sim, ler é um dos meus hobbies favoritos… E já que estamos falando nisso, conseguiu entrar em alguma academia de dança? - perguntei de volta.

— Ah, sim! Anabee e Charloth entraram comigo. - ela falou enquanto se preparava para começar a comer.

—Fico feliz que tenha conseguido, finalmente. - respondi e então comecei a comer também.

Após um período curto de tempo, Anna falou:

— E nossas aulas? Se quiser ainda estou disponível aos sábados, com exceção deste próximo. - ela piscou.

— Para ser sincero, não pensei nisso ainda. Mas se você realmente quiser tentar me ensinar, por mim podemos começar.

— Fechou, então. Sábado que vem às? - ela perguntou, animada.

Pensei um pouco.

Por volta das 18h está bom para você?

— Está! Sorri.

— Então, sábado que vem às 18h. Está marcado!

Sábado que vem estava ótimo. Afinal, nesse próximo eu também estaria ocupado... com Rashley.

Parece que minha rotina estava começando a sofrer alterações... Estaria eu sofrendo algum tipo de processo de "desrotina"?!